Pontualmente as 8:00 da manhã, Breno me pegou em frente a republica, Poliana o acompanhava. A viagem foi tranquila, ele era bem calmo para dirigir e antes do meio-dia já estávamos em minha cidade natal.
Breno e Poliana ficaram no hotel, não aceitaram meu convite de hospedagem, acharam que seria abuso, pois alguns de nossos parentes já estavam hospedados na casa do meu pai.
Depois que alugaram seus quartos e deixaram as malas, fomos a um restaurante para almoçamos. Quando saímos em direção a casa do meu pai Poliana mudou de planos.
- Sandro, onde tem um salão de beleza onde eu possa arrumar meu cabelo?
- Aqui no centro tem alguns, mas eu pensei que você fosse pegar uma piscina comigo?
- Está louco, imagina que vou deixar de me produzir pra uma festa pra ficar numa piscina cheia de cloro. – Breno riu dela.
- No final dessa rua tem um salão, quer conhecer?
- Eu quero.
Paramos em frente ao salão e ela decidiu ficar pra se arrumar pra festa.
- Breno fica de olho no telefone e a hora que eu ligar esteja aqui.
- Virei seu empregado por acaso? – disse ele rindo.
- Hoje não é meu o chefe que está aqui, é meu amigo e não vai me abandonar num salão de beleza de uma cidade que eu nem conheço.
- Isso é chantagem.
- Fique tranquila Poliana, liga pra mim que eu cuido seu horário.
- Viu só Breno, o Sandrinho não se esquece de mim.
- Até parece que alguém vai esquecer-se de você Poliana, deixa de ser dramática.
Deixamos a Poliana no salão de beleza e fomos pra minha casa, Breno não disse nada, mas eu senti que ele não estava à vontade quando chegamos.
- Vamos descer?
- Não é abuso?
- Nenhum, vamos comer uns petiscos em volta da piscina e aproveitar o sol.
- Você pretende entrar na água?
- Nesse horário é legal, dá para aproveitar.
- Estou achando frio para entrar na água, mas vou te fazer companhia.
Entramos e a casa estava lotada com meus familiares e o Breno totalmente constrangido, nem parecia um cara acostumado a lidar com público.
Apresentei Breno ao papai e aos meus familiares, minhas primas lançaram-lhe alguns olhares, mas ele não deu à mínima, achei muito engraçado.
- Está tudo bem, Breno?
- Estou louco por voltar pra casa. – disse rindo.
- Calma, a festa nem começou.
- Já estou quase arrependido de ter dito que vinha nessa festa.
- Vamos lá para o quintal você vai se sentir melhor.
- Você ainda vai pra piscina?
- Acho que sim, por quê?
- Queria que você ficasse comigo.
- Não acredito que um homem desse tamanho está com medo de enfrentar minha família e se tivesse que encarar essa situação na casa da namorada?
- Por isso mesmo que eu não tenho. – disse rindo e eu tive que rir também.
Resolvi atender ao pedido dele, escolhemos uma mesa e enquanto o Breno ajeitava o guarda-sol fui até a cozinha e arranjei alguns petiscos para comermos, também peguei um gatorade, pois ele não bebia bebida alcoólica e nem refrigerante.
- Está mais tranquilo?
- Aqui está melhor.
- Menos tumultuado?
- Também, mas é porque dentro de casa parece que todos me olhavam.
- Isso aconteceu porque eles não te conhecem, fica tranquilo que o pessoal é legal.
- Gostei muito do seu pai.
Ofereci os petiscos e o Gatorade a ele e alguns minutos depois tia Joana chegou e sentou conosco.
- Oi meu filho, tudo bem com você?
- Tudo bem e a senhora?
- Estamos bem graças a Deus, e o Tiago?
- Não o avistei, mas deve estar na casa dos pais de Paula.
- Tia, deixa eu lhe apresentar meu amigo, Breno, ele é o proprietário da academia onde trabalho.
- Prazer Breno.
Eles se cumprimentaram e logo ela manteve uma conversa agradável, que o deixou mais a vontade.
- A Laura faz ginástica na sua academia?
- Ela e o namorado, na verdade a Laura já frequentava academia desde quando namorava o Fabrício.
- Bom menino o Fabrício, pena que não deu certo, mas eu gosto muito do Giovane.
- Os dois frequentam minha academia, o Giovane é um cara bacana e gosta muito da Laura, os dois estão sempre juntos, um não faz ginástica sem o outro.
- Foi bom ter te conhecido, pois estou precisando fazer um pouco de musculação, o problema é que eu tenho dor na coluna.
- Quanto a isso não se preocupe, nós temos profissionais preparados para lhe atender.
Os dois seguiam conversando e eu prestando atenção na conversa, a simpatia da minha tia conquistou o Breno. Senti meu telefone vibrar no bolso da bermuda, olhei no visor achando que era Poliana, mas era o João Pedro. Levantei e saí para atendê-lo.
- O que você quer seu doido?
- Em primeiro lugar, oi.
- Oi!
- Já chegou à casa de sua família?
- Cheguei por volta do meio dia.
- Estou com saudades.
- Para com isso, João.
- É sério, da próxima vez quero ir, você me leva?
- Se você se comportar até lá?
- Vou caprichar no tratamento e você vai ver como vou fazer por te merecer.
- Não é por isso, você sabe o que eu sinto.
- Eu sei que você gosta de mim, mas tem medo de se envolver.
- Ficou maluco?
- Ainda não, mas eu liguei só pra dizer que estou com saudades.
Fiquei em silêncio sem saber o que dizer a ele, na mesma hora vi Juliano chegando à mesa onde estavam Breno e minha tia.
- Fala alguma coisa?
- Vamos com calma, estou ligado à outra pessoa e não quero te magoar.
- Você já me disse isso, mas eu não vou desistir.
- Preciso desligar agora.
- Tudo bem, mas não esquece que eu te amo.
Desliguei o telefone, me sentia preso ao João, mas a minha surpresa era saber que o Juliano estava ali e sem o Augusto era melhor ainda. Fui até eles e o cumprimentei.
- Oi Juliano, tudo bem com você?
- Tudo bem e você?
- Surpreso! Você veio sozinho?
- Vim com a tia Joana.
Breno e minha tia ficaram me olhando quando perguntei se ele estava sozinho, mas eu precisava saber por que o Augusto não o acompanhava.
Fiquei apenas observando a conversa entre os três à mesa, na verdade quem conversava mesmo eram Breno e minha tia, Juliano apenas observava e às vezes me lançava uns olhares que não sabia definir o que era.
Durante o tempo em que permanecemos à mesa em momento algum ele falou no Augusto, até que o telefone do Breno começou a chamar, era Poliana pedindo para buscarmos no salão de beleza.
- Vou ter que sair disse Breno, interrompendo minha tia.
- A Poliana já se arrumou?
- Pediu para buscá-la, você vai ter que me acompanhar, pois eu não lembro o caminho.
- Eu posso buscá-la, disse Juliano.
- Que bom Breno, assim nós podemos continuar nossa conversa, disse minha tia.
- Não tem problema pra você, Juliano?
- Estou precisando dar uma volta, vem comigo Sandro?
Pegamos a chave com meu tio que conversava com outros familiares e saímos. Nem bem ele deu partida no carro, diminuiu a marcha.
- Agora longe deles você pode dizer como está de verdade?
- Estou bem, por quê?
- Essa semana eu fiquei sabendo que você está saindo com um dependente químico.
- Foi o Diego que te contou?
- O Diego sabia?
- É a única pessoa que sabe.
- Não foi o Diego. Porque Sandro?
- Porque, o que?
- Para de ser irônico.
- Irônico é você que anda pra cima e pra baixo com o namoradinho e vem querendo satisfações como se eu te devesse alguma coisa.
- E quem te disse que estou com Augusto?
- E não está, o que ele fazia na sua cama no dia que fui à sua casa e no aniversário da tia Joana?
- E por eu ter saído com ele algumas vezes, você acha que voltamos?
- Pra mim é a mesma coisa.
- Não abro mão da minha liberdade por tão pouco.
- Tão pouco? Não pode, você disse que ele tinha mudado?
- E mudou, mas eu não voltei em definitivo com ele, não da maneira que você está insinuando.
- Estou pouco me importando com vocês.
- Não foi o que eu vi na festa da tia.
- E você acha que o que acabou de me contar muda alguma coisa, esqueceu-se da humilhação que passei no seu apartamento?
- Eu estava com raiva de você.
- Pois agora quem está com raiva sou eu e fique com seu namorado, vocês se merecem.
- Você está envolvido com esse cara?
- Quem te contou?
- Seu colega de aula.
- Que colega?
- Christian, ele não teve culpa, acabou me contando sem querer.
- E desde quando você conhece o Christian?
- Lembra-se do show do The Cranberries, foi neste dia que você me apresentou seu colega e depois nos encontramos na formatura do Tiago.
- Você o procurou?
- Eu fui até o colégio te procurar, ele me reconheceu e disse que você já tinha saído, foi então que conversando acabei descobrindo que você estava muito próximo do coleguinha que te odiava.
- E daí?
- Na inocência ele me contou que você estava fazendo trabalho na casa dele.
- Não vejo nada demais em ajudar um amigo.
- Eu te conheço e sei que ele não é seu amigo, você mesmo acabou de falar que Diego sabe.
- A vida é minha faço dela o que quiser e você sabe que quando tenho que me afastar de alguém, eu me afasto, já fiz isso com o Roger e faço com qualquer um que queira comandar minha vida.
- Eu não sei por que ainda corro atrás de você?
- Corre atrás de mim? Você terminou comigo quando eu mais precisava de companhia e foi atrás daquele idiota.
- Fui porque você não dava a mínima pra mim.
- Pois saiba que o João Pedro tem sido mais importante pra mim do que qualquer coisa que envolveu meu passado, inclusive você. E a Poliana está no final da rua.
Depois da discussão ele se calou, não tinha nenhuma razão pra me tirar satisfações. Poliana estranhou que não era o Breno que foi buscá-la, expliquei a ela e seguimos pra casa novamente.
Ao chegar a casa encontro Aline acompanhada do Roger e dona Vera. Vê-los juntos não me surpreendeu, isso já era esperado, pois Aline deixou bem claro que lutaria para retomar seu casamento e o Roger jamais deixaria de agradar a mãe.
Passei perto deles com Juliano e Poliana, Aline e dona Vera vieram nos cumprimentar, Roger saiu de perto, fingiu que não nos viu e foi conversar com meu tio.
Depois fomos atrás do Breno que continuava conversando com minha tia e uma de minhas primas.
Depois das apresentações sentamos para conversar, Aline sentou conosco e dona Vera também. Não suportava ver aquela nojenta circulando pela casa que também era minha como se fosse uma pessoa de grande prestígio.
Tive vontade de sair de perto delas, mas não ia fazer uma desfeita com meus amigos por causa de duas intrusas que não foram convidadas a participar do nosso grupo. Breno alheio as minhas angústias, não deixou de elogiar a beleza de Poliana.
- Essa é a Poliana que trabalha comigo?
- Porque o espanto, Breno? Eu sempre fui linda.
- Você ficou diferente.
- Preciso arrumar um marido nessa cidade porque em BH está difícil.
Poliana foi muito engraçada e todos caíram na risada.
- Na minha época os homens cortejavam as mulheres, disse tia Joana.
- E hoje eles correm da gente não é mesmo, Breno?
- Me deixe fora disso, eu não sei de nada. – disse ele rindo.
- É a modernidade Poliana. – disse tia Joana.
- Os homens gentis são gays, eu os conheço de longe, se vem romântico e meloso pro meu lado, já desconfio e dou um jeito de cair fora que não vale a pena.
Aline ficou sem jeito, pelo visto as palavras de Poliana serviram como uma flecha certeira em suas feridas com relação ao Roger. Dona vera, dissimulada apenas sorria da situação.
No final da tarde Breno e Poliana foram para o hotel se aprontar para o casamento, Juliano ficou na minha casa com meus tios. Eu tinha certeza que ele estava querendo se aproximar novamente.
Nem bem entrei no meu quarto ele entrou atrás de mim.
- Posso ficar aqui?
- Não tem outro lugar mesmo, fica aí.
- Parece que você não está feliz com minha presença.
- As pessoas costumam me magoar e esquecer facilmente, eu me impressiono com isso.
- Vou tomar banho.
- Vai logo que depois eu preciso tomar o meu.
- Poderíamos voltar como antes, o que você acha?
Ele tentou se aproximar, mas eu me esquivei não sabia ao certo como estava a situação dele com Augusto.
- Toma o seu banho e depois eu tomo o meu.
Ele saiu frustrado, notava-se por sua fisionomia, mas eu não ia ceder facilmente depois dele ter terminado comigo e se atirado nos braços do Augusto.
Uns vinte minutos depois ele saiu do banho vestindo apenas a calça social preta que usaria na festa, seu olhar estava fixo em mim, mas eu não caí na tentação, peguei minha roupa e fui para o banheiro.
Quando retornei ele mexia no meu celular, apesar de achar um abuso não reclamei, na certa leu as mensagens do João. Ele ficou me olhando decepcionado e com um sorriso triste no rosto deixou o celular onde estava. Vestiu-se rapidamente e começou a guardar suas coisas na mochila sem falar nada.
- O que você está fazendo?
- Vou para o hotel.
- Juliano, as coisas não são tão simples assim.
- Você está namorando esse garoto e eu tentando me reaproximar feito um idiota.
- Foi você que terminou comigo.
- E você foi correndo para o primeiro que apareceu.
- Você queria que eu ficasse esperando o quê?
- Eu pensei que você estava em duvida em relação ao Roger, por isso me afastei.
- O Roger? Se eu quisesse teria ficado com ele há muito tempo, mas você me conhece e sabe que jamais aceitaria o estilo de vida dele.
Ele saiu e não me disse nada, pensei em ir atrás, mas eu não ia me humilhar mais uma vez e também não estava fazendo nada demais, era solteiro e desimpedido.
Arrumei-me pra festa e procurei não pensar em nada. Não ia chorar e nem queria tristeza no casamento do meu irmão, o Juliano tinha que aceitar que não era a única pessoa que existia na face da terra.
Já havia me dedicado ao máximo a pessoas que não deram a mínima importância aos meus sentimentos, agora eu tinha mudado e não viveria em função dos outros.
Breno voltou à minha casa e me levou até a igreja. Logo na entrada encontrei com Tiago. Tia Joana o acompanhava, ela iria conduzi-lo até o altar.
- Meus parabéns meu irmão, você está ótimo no papel de noivo.
- Para de brincadeira, estou nervoso. – disse ele rindo.
- O importante é que você está se casando com uma mulher maravilhosa e vai ser muito feliz, tenho certeza disso.
- Eu sei, mas é muita responsabilidade.
- Você está preparado e a Paula também.
- Obrigado por sempre me apoiar.
- Vou para o meu lugar.
Fui até a Fernanda e não me afastei dela, seriamos o segundo casal a entrar na igreja, já que os primeiros seriam os padrinhos da Paula.
- Sandro, onde você estava?
- Cheguei a pouco, falei com Tiago e vim te procurar.
- O Tiago está muito nervoso?
- Um pouco, mas é normal.
- Sandrinho?
- O que sua doida?
- Eu não tinha reparado, mas você está um gatinho.
- Você me assustou, sabia?
- Foi só para descontrair. – disse ela rindo.
- Achei que minha roupa estava desalinhada, mal costurada, sei lá, nem sei o que se passou por minha cabeça nestes poucos segundos.
- Foi um teste pra ver se você estava ligado.
- Você também, está linda, vai arrasar.
- Pena que beleza não serve pra nada.
- Ai amiga, porque essa tristeza?
- Não é nada, vamos nos organizar pra ficarmos lindos na filmagem.
Alguns minutos depois a mãe da Paula avisou que ela havia chegado e então fomos entrando de forma organizada, primeiro os padrinhos, em seguida papai acompanhado da mãe de Paula e depois o Tiago com tia Joana.
Ao chegarmos ao altar sentamos na primeira fila de bancos, os lugares já estavam reservados e em pé ao lado dos noivos, de um lado se colocaram papai e tia Joana e do outro a mãe de Paula que aguardava pelo marido assim que entrasse com a noiva.
A igreja estava linda, havia um caminho de flores até o altar. Os arranjos eram de rosas vermelhas, Paula tinha bom gosto e foi ela quem planejou tudo nos mínimos detalhes.
No altar assim como no corredor de entrada havia vários arranjos. O verde das folhas se destacava com o vermelho das rosas que combinavam com o tapete que cobria o piso da entrada até o altar.
Fiquei observando o Tiago, ele estava lindo e não estou me referindo à beleza física, mas em relação a sentimentos, meu irmão embora estivesse nervoso estava feliz. Pensei em mamãe, como seria bom se ela estivesse conosco, nos fazia muita falta e se estivesse ali tenho certeza estaria muito orgulhosa.
Por um instante meus olhos marejaram de lágrimas, Fernanda percebeu e me questionou o que estava acontecendo.
- Aconteceu alguma coisa?
- Pensei em mamãe.
- Eu não sei o que dizer, mas pensa que de onde ela estiver, está protegendo vocês.
- Eu penso assim, mas tem horas que vem um vazio muito grande.
- Eu entendo sua emoção, mas tenta se controlar senão o Tiago vai perceber e ele está olhando pra você.
Olhei para o altar e senti que meu irmão naquele momento pensava a mesma coisa que eu, mamãe deixou um vazio em nossas vidas, podia acontecer qualquer coisa, mas nunca seria igual sem a presença dela.
Tentei me acalmar para não estragar a festa e não queria pensar em coisas tristes. Nem deu tempo, pois logo em seguida Paula entrou acompanhada de seu pai. Ela ficou linda vestida de noiva e meu irmão estava com a felicidade estampada em seu rosto.
Depois da cerimônia, fomos para o salão que também estava enfeitado com os mesmos arranjos que enfeitavam a igreja. As mesas com toalhas brancas e o encosto das cadeiras em branco decoradas em vermelho com laços de fita. No arranjo de cada mesa tinha um vasinho com três rosas vermelhas combinando com folhas verdes, achei perfeito, Paula estava de parabéns.
Enquanto observava olhei para a entrada do salão e tive uma surpresa que pra mim veio como um sinal de que há pouco havia tomado à decisão correta de não ir atrás do Juliano, pois Augusto misteriosamente o acompanhava.
Fernanda e eu estávamos fotografando com Tiago quando Rafael e Letícia passaram a nossa frente, ele nos cumprimentou de longe, mas senti que minha amiga ainda estava muito ligada ao ex-namorado.
- Vamos dar uma volta, preciso respirar ar puro. – disse ela.
- Vamos! Eu também estou sufocado aqui dentro.
Fomos andar do lado de fora do salão e ela começou a desabafar, o problema é que eu também queria entender, como o Augusto foi parar na festa sem ser convidado.
- Não pensei que o Rafa estivesse tão ligado a ela como está?
- Eu te falei, mas você não me levou a sério.
- Não consigo entender como alguém que diz amar, de um momento para outro esquece tudo como se nada existisse?
- Aconteceu e você tem que partir pra outra.
- Eu não quero nada que não seja o Rafa
- Esquecer não é fácil, mas você precisa sair desse sofrimento, isso não vai te levar a nada.
- Se existe alguma fórmula mágica para esquecer um amor verdadeiro me explica, por favor.
- Não existe, mas você pode conhecer outras pessoas, sair, se divertir.
- Eu já tentei aquela vez que esteve aqui, saí e não aconteceu nada.
- E nem vai acontecer.
- Que tipo de amigo é você?
- Não sou modelo pra ninguém, mas vejo que pra você pode aparecer um príncipe lindo e nem seria notado.
- Seria maravilhoso se aparecesse um príncipe, igual ao Rafa.
- Viu só, você só pensa no Rafael.
- O que eu posso fazer se ele é o amor da minha vida.
- Eu pensava assim em relação ao Roger e você viu no que deu.
- E você, como está?
- Um pouco melhor que você, mas chateado.
- Aconteceu alguma coisa?
Contei a ela tudo que aconteceu inclusive o aparecimento misterioso do Augusto.
- Alguém o convidou, ele não viria sem convite.
- E eu já imagino quem fez isso.
- Eu acho que se o Juliano estava a fim de uma reconciliação entre vocês, não faria isso.
- Então quem fez? Minha tia, meu tio, Laura, pra mim chega, não quero mais me iludir.
- É amigo, estamos mal.
- Vamos voltar, quero te apresentar um amigo.
- Você não está querendo me arranjar um namorado?
- E porque não?
- Não estou interessada, eu já te falei.
- Por favor, Fernanda, o Breno é um cara legal, seja pelo menos educada.
- Novinho?
- Não, um homenzarrão de vinte e tantos anos, dono de academia.
- Só você mesmo. – disse ela rindo enquanto voltávamos.
Voltamos pra festa e apresentei-a ao Breno, mas era incrível, ele parecia um ser de outro planeta, fugia das mulheres e Fernanda também não colaborava, pra ela não existia outro homem na face da terra, que não fosse o Rafael.
Depois da tentativa frustrada resolvi dar uma volta pelo salão, Augusto estava na companhia de Breno e eu não me sentia bem perto dele. Poderia ser implicância da minha parte, mas ele tinha um ar de superioridade que não me fazia bem.
Roger permaneceu o tempo todo sentado ao lado da mãe e de Aline com Sabrina no colo, muito diferente do cara de tempos atrás. Como as coisas mudam e pelo visto tomei a decisão certa ao me afastar dele, só não esperava que me ignorasse como estava fazendo, embora nossa relação chegasse ao fim, não fazia sentido aquela atitude.
Aproximei-me do Lucas e fiquei ouvindo suas palhaçadas, ele estava acompanhado de Marcelo, Pedro e também de seus irmãos até que alguém chegou por trás, tapou meus olhos com as mãos e falou:
- Está perdido?
- Diego!
- Já fui melhor nessa brincadeira. – disse ele rindo.
- É pra você ver como eu te conheço até de olhos fechados.
- Você estava tão distraído que resolvi fazer uma brincadeira, tudo bem?
- Estou, mas agora preciso resolver uma coisa.
- Aonde você vai?
- Eu já volto.
Diego não entendeu nada, mas avistei Juliano indo em direção ao banheiro e fui atrás dele. Nem me importei se alguém escutasse nossa conversa e falei com ele.
- É assim que vocês estavam separados?
- Que diferença isso faz pra você?
- Muita.
- Eu não sabia que ele vinha.
- Mentira!
- Estou sendo sincero com você, eu não sabia.
- E eu já estava acreditando, cheguei a pensar que você queria uma reconciliação.
- E quero, mas você não me deixa explicar.
- Explicar o que não tem explicação.
- Você também não me dá certeza de nada.
- Certeza de quê?
- Você está com envolvido com o colega de aula que te desprezava.
- Ele mudou enquanto que você resolveu voltar com ex.
- Eu não voltei com ele, Sandro.
- Não vamos começar a mesma discussão, esquece que eu existo.
Tentei sair do banheiro e ele veio atrás de mim e me puxou pelo braço.
- Escuta o que eu vou te dizer pela última vez.
- Eu não quero saber.
- Eu te amo, mas se você continuar assim, juro que desisto e pra sempre.
- Me ama e está com o ex no mesmo hotel e porque não no mesmo quarto.
- Não sei como Augusto veio parar nessa festa, não fui eu quem o convidei.
- E ele não te disse nada?
- Eu mal falei com ele.
- Para com isso Juliano, por favor, não me deixe como mais nojo da sua cara do que já estou.
Entrou uma pessoa no banheiro e eu saí, voltei pra festa, mas não foi a mesma coisa, embora quisesse que tudo fosse maravilhoso na verdade estava sendo uma grande decepção e terminei a noite na companhia dos colegas de republica e Diego.
Depois que terminou a festa Breno me deixou em casa antes de ir para o hotel com Poliana. Entrei no quarto e minha tia dormia com uma prima num colchão no chão. Tomei banho e me atirei na cama, estava muito cansado.
No dia seguinte acordei com o toque do meu telefone, era o João.
- Oi João!
- Oi, como foi à festa?
- Foi legal, pude constatar algumas coisas.
- Coisas boas ou ruins?
- Quando eu chegar a Belo Horizonte nós conversamos.
- Que hora você vem?
- O horário eu não sei por que estou de carona, mas vai ser tarde da noite.
- Vem pra minha casa.
- Não dá João, eu vou chegar tarde.
- Pega um táxi.
- Sua mãe pode não gostar, acho melhor eu ir amanhã à tarde.
- Estou ansioso, pedi pra minha mãe trancar a porta e a janela do meu quarto.
- Procura ocupar a mente com outras coisas.
- Eu só tenho você pra ocupar minha mente.
- Então vamos fazer assim, eu te ligo assim que chegar.
- Está certo então, mas não esquece.
Desliguei o telefone e fiquei preocupado com João, não era possível que o desejo pela droga o tornasse um prisioneiro dentro da própria casa, se ele quisesse melhorar teria que levar a sério o tratamento.
Antes de guardar o celular olhei as mensagens e tinham algumas que ele havia enviado durante a noite, João tinha razão ao dizer que estava ansioso. Numa delas dizia: “Não estou bem, preciso de você”, ”Estou trancado me sentindo sufocado”.
Guardei o telefone e coloquei uma sunga, o que eu menos queria era pensar em tudo que estava me acontecendo. Fui pra piscina e nadei muito até cansar.
Quando saí da água o almoço já estava sendo servido. Breno e Poliana não apareceram, mas o Diego ligou me convidando para dar uma volta pela cidade.
A casa estava lotada com meus familiares, avisei meu pai que daria uma volta e fui, encontrei com Diego na mesma pracinha que conversamos pela primeira vez.
- Como está à ressaca pós-festa?
- Mais ou menos.
- Desde ontem tenho notado você desanimado, o que aconteceu?
- Estou tentando fugir do assunto, mas você é o único amigo que eu realmente consigo me abrir.
- Então me conta o que está acontecendo.
- Ontem antes da festa Juliano me procurou querendo se aproximar.
- Isso é ótimo, não é o que você queria?
- Queria, mas não sei se quero mais.
- Então porque ele estava na festa com Augusto?
- Eu não sei, ele chegou à minha casa com meus tios sem o Augusto.
- E o Augusto?
- O Augusto apareceu no salão não sei como.
- Que história mais confusa.
- É por isso que eu não sei se posso confiar no Juliano.
- Olha Sandro, o pouco que conheço do Juliano me faz pensar que ele não iria te enganar.
- E como Augusto apareceu na festa se ninguém o convidou?
- O Juliano deve ter comentado e ele como viu que ficaria de fora deu uma de esperto.
- Já pensei nisso, mas não faz sentido.
- E o que você vai fazer?
- Pedi para o Juliano esquecer que existo.
- Desculpe, mas eu não estou te reconhecendo.
- Por quê?
- Vai desistir facilmente do cara que você gosta?
- O Juliano também se decepcionou com algumas coisas.
- Que coisas?
- Deixei as mensagens e ligações do João na memória do celular e ele acabou lendo.
- Esse lance com o João Pedro já deixou de ser brincadeira, estou achando que você está gostando desse cara.
- O João mudou bastante, disse que me ama e pra ser sincero, estou balançado.
- Eita!
Fiquei um bom tempo conversando com Diego e depois voltei pra casa e ele foi pegar suas coisas no hotel, disse que tinha outra festa mais tarde e não poderia se atrasar.
Não vi mais o Juliano que provavelmente estava com Augusto, só de pensar nos dois me causava ódio e ao mesmo tempo pensava na conversa que tivemos no banheiro. Fernanda e Diego foram categóricos em dizer que acreditavam nele e eu já não sabia mais em que acreditar.
Outra que também não avistei mais foi Aline, mas uma coisa eu notei, pela primeira vez Roger não me procurou e durante toda a festa ficou na dele, era estranho.
Tiago e Paula passaram a noite num hotel e pela manhã viajaram para Fernando de Noronha por quinze dias em lua de mel, enquanto isso, Fernanda cuidaria do mercado e papai ficaria com meus tios em Belo Horizonte.
No meio da tarde Breno chegou com Poliana, ele conversou mais um pouco com minha tia que ficou de fazer uma visita à academia e decidir se ia se matricular ou não, depois voltamos para BH.
Já era tarde da noite quando chegamos, estava cansado da viagem e quase não tinha dormido na noite anterior, mesmo assim liguei para o João.
- Oi João, como você está?
- Estou melhor e você já chegou?
- Cheguei há pouco.
- Só em saber que você está perto já me sinto outra pessoa.
- Você precisa caprichar no tratamento e seguir corretamente as orientações da psicóloga.
- Esse final de semana eu copiei todo o conteúdo que você me deixou e até estudei.
- Então porque você me disse que não estava bem?
- Tem horas que eu sinto vontade... Você sabe.
- Você fez certo em se trancar.
- É horrível, me sinto preso.
- No começo é complicado, mas depois vai melhorar e você vai conseguir.
- Prometi a você e minha mãe que vou conseguir e estou lutando.
- Que bom.
- Vem aqui pra casa, estou com saudades.
- Estou cansado da viagem e também dormi pouco a noite passada.
- Ainda é cedo, vem?
- Não fica chateado comigo, amanhã nos encontramos no colégio e a tarde vou à sua casa.
No dia seguinte João me surpreendeu ao me aguardar próximo ao colégio. Ele estava sentado no muro de uma casa, sua aparência estava ótima.
Ao me aproximar ele veio ao meu encontro e me abraçou, gostei da reação dele que sempre foi muito crítico em relação a sua sexualidade. Não passava de um abraço numa via pública, mas para o João fazer isso é porque estava mudando.
- Meu amor, saudade!
- Nos vimos na sexta-feira, porque tanta saudade?
- Estou me tornando dependente de você.
- Gostei da surpresa.
- Estou com vontade de beijar você aqui no meio da rua.
- Está maluco? – ele sorriu.
- Como é bom saber que você está de volta, tive um final de semana péssimo.
- Pois eu fiquei muito feliz em você vir ao meu encontro.
- Eu precisava de um abraço e no colégio não tinha como, a Adriana fica como um cão de guarda te cuidando.
- Porque ela não gosta de você?
- Porque ela me detesta.
- Não é só por isso, existe alguma coisa e você poderia me contar, já que agora somos amigos.
- Eu não gosto de falar sobre isso.
- Se você realmente quer algo comigo é melhor me contar a verdade.
- Tenho medo de você se afastar por causa das coisas erradas que eu fiz no passado.
- Se você não me contar vou acreditar naquilo que me falam e tomar decisões baseadas em informações dos outros.
- Hoje à tarde você vai à minha casa e eu conto tudo o que aconteceu.
- Fico feliz por sua atitude.
- Você está certo, se eu quero uma chance tenho que ser sincero.
- Oh lindeza, é assim que eu gosto.
- Você ainda vai se orgulhar de mim.
Quando chegamos ao colégio encontramos Christian que logo se juntou a nós, estava cheio de novidades, tinha começado a namorar uma garota do cursinho que já vinha paquerando a um tempinho. Nunca mais o questionei sobre sua curiosidade de ficar com um cara, se ele havia esquecido a ideia ou se ainda tinha em mente.
Adriana também se juntou ao nosso grupo. De cara deu pra perceber que ela não gostou de minha aproximação com João Pedro, isso ela não escondia, mas também não se afastava de mim, os dois eram meus amigos e quem quisesse ser meu amigo teria que ficar ao meu lado mesmo que para isso tivessem que aturar um ao outro.
Ao meio dia já na saída da sala, João se aproximou de onde eu estava.
- Vamos almoçar lá em casa?
- Não dá João, vou depois do almoço.
- Por quê? Vamos agora.
- Não vou abusar da boa vontade de sua mãe.
- Ela nem se importa e gosta de você.
- Mesmo assim, prefiro almoçar na minha casa.
- Não está querendo minha companhia?
- Quero muito, mas também quero o meu espaço.
Então espera a galera sair que eu quero te mostrar uma coisa.
- Que coisa?
- Bobinho! Você é muito curioso.
- Sandro, você vai comigo até a parada de ônibus?
- Oi Adriana, eu nem tinha notado que você ainda estava aqui?
- Tem muitas coisas que você não vê, mas eu quero saber se tenho companhia até a parada do ônibus?
- Não posso, o João disse que vai me mostrar alguma coisa, deve ser conteúdo de aula.
Ela virou as costas e saiu sem dizer nada, deixando nítido que não gostou da minha resposta, fiquei chateado com a atitude dela, pois sempre fui gentil e a tratei com respeito.
Quando restou somente João e eu em sala de aula, ele fechou a porta, veio ao meu encontro e me deu um abraço que até me surpreendeu.
- Está chateado?
- Tem algumas atitudes da Adriana que não consigo entender.
- Adriana está apaixonada por você.
- Está maluco?
- Estou falando sério, ela está a fim de você.
- Você está enganado, Adriana é minha amiga.
- Pode ser que seja, mas acho que não.
- O que você queria me mostrar?
Ele sorriu e me envolveu num abraço
- Amor, eu só queria um beijo.
Não tive tempo pra ter reação e ele me beijou. João tinha uma pegada forte, beijava e ao mesmo tempo mordiscava meus lábios, já estava com a respiração ofegante quando ele interrompeu o beijo,
- Não demora muito, estou com saudades e também ansioso por nossa conversa.
- Estou gostando de ver essa animação, não esqueça que hoje você tem psicóloga.
- Fica tranquilo, não vou faltar.
Pequei minhas coisas ainda sobre o efeito do beijo e saí em direção a republica, João me acompanhou até o portão do colégio e depois foi pra parada do ônibus.
Almocei, tomei um banho e fui a casa dele que surpreendente atendeu a porta livre do vicio, embora eu soubesse que aquilo era temporário e logo viria uma recaída, mas eu estava gostando de ver a força de vontade dele.
- Estou gostando de ver, está animadinho.
- É ansiedade.
- Eu vim o mais rápido que pude.
- Vamos para o meu quarto, quero contar tudo antes que eu me arrependa.
- Achei que você tinha me enrolado pela manhã e não ia me contar.
- Estou convencido que depois que você souber, se me perdoar, passará a ter mais credibilidade em mim.
- É assim mesmo e até merece um beijo.
Fui até ele e dei um beijo rápido, mas segundo João foi especial.
- É o primeiro beijo que eu ganho de você de forma espontânea.
- Sinto em você uma carência muito grande e por isso sinto uma vontade muito grande em te proteger.
- Você é especial para mim e estou muito feliz que aos poucos estamos evoluindo.
- Você se aproximou e bagunçou minha vida, já nem sei mais o que pensar.
- Simples, eu amo você!
Beijei-o mais uma vez e lembrei-me de nossa conversa, então me afastei.
- Ainda quer me contar o que aconteceu?
- Agora que eu criei coragem vou até o fim.
- Então, pode começar.
- Eu me envolvi com uma prima de Adriana.
- Então a tal garota que Adriana falou era prima dela?
- Fiquei sabendo depois que começamos a estudar no mesmo colégio.
- Adriana me disse que você abusou da garota.
- Não foi bem assim que tudo aconteceu.
- E o que aconteceu?
- Conheci a Ana quando eu tinha 15 e ela quatorze, ela sempre ia na loja da minha mãe.
João estava sentado na cama, de repente levantou e ficou agitado, era algo que realmente tinha marcado sua vida, para que agisse de tal forma.
- Continua.
- Não é fácil lembrar essa história eu tinha jurado esquecer.
- Podemos fazer isso depois que você me contar.
- No inicio ela ia à loja da minha mãe com algumas amigas, ficavam mais de hora circulando sem comprar nada e depois saíam.
- Ficavam por ficar, que coisa doida.
- Muito, e assim foi durante meses, até já tinha me acostumado com a visita delas. Tinha dias que as amigas dela não iam, mas ela nunca faltava, até que começaram os bilhetinhos.
- Ela te entregava bilhetinhos?
- Muitos até que descobriu meu celular e passou a me enviar mensagens. No começo era coisa de paquera e eu fui gostando de tudo e me envolvendo.
- E?
- Um dia cheguei à aula e ela estava na minha turma.
- Ela mudou de turma?
- Mudou e começou a dar em cima de mim.
- Você já tinha se envolvido intimamente com alguém?
- Com mulher, não.
- E o que aconteceu?
- O inicio do meu pesadelo.
- As drogas?
- Teve um dia que ela me convidou para ir numa festa na casa de uma amiga e foi lá que fumei pela primeira vez.
- Nossa que doido, eu sempre achei que você tinha ido atrás de droga pela forma como convivia em casa com pais ausentes.
- Pode ter ajudado, mas não foi e começou numa brincadeira totalmente sem graça.
- Que brincadeira?
- Ela e seus amigos me desafiaram se eu teria coragem de fumar um cigarro de maconha.
- E você fumou?
- Fumei e gostei, senti uma sensação de paz intensa, vontade de colocar pra fora do meu corpo toda adrenalina que estava presa.
- E depois?
- Nesse dia fiquei com ela pela primeira vez e apesar de estar doidão não rolou nada além de beijos.
- Que loucura, você usou simplesmente por usar, não sabia que era prejudicial à saúde?
- Minha mãe sempre me orientou, mas essa garota exerceu um poder sobre mim que foi maior que qualquer conselho e também já estava elevado no álcool.
- Você poderia ter morrido, sabia?
- Aconteceu e eu nem percebi, fiquei tão doido que pra mim foi o máximo.
- Ela também era dependente?
- Mais do que eu.
- Que coisa doida.
- A festa foi apenas o início, depois passamos a fumar juntos e a droga aumenta a adrenalina do corpo. Eu fico doido e com muita vontade de transar.
- Com tudo isso que você disse eu acho que não compensa.
- Por isso eu quero me livrar, mas não é fácil.
- E o que aconteceu depois?
- Ela começou a me provocar e depois se fazia de difícil e eu muito bobo fui entrando no jogo dela.
- Eu pensava que você era esperto?
- Eu apenas era durão pra eles me respeitarem.
- Aquela turma que você andava com eles e se achava o líder?
- Sim, posso continuar?
- Desculpa sem querer acabei mudando de assunto.
- Às vezes ela aparecia no colégio com algum cara que eu não conhecia e ficava aos beijos com só pra me provocar.
- Que garota safada.
- Um dia cheguei ao colégio pela manhã e peguei-a com outro garoto, eles estavam praticamente fazendo sexo perto do vestiário. Eu tinha fumado cocaína pela manhã estava meio doido e ao vê-los o sangue me subiu a cabeça.
- E o que você fez?
- Fui até o garoto, dei uns esporros nele e ele fugiu.
- Você é louco... E daí?
- Não gosto de lembrar isso.
Ele levantou, pôs as mãos no rosto e deu um longo suspiro, levantei e segurei em seus ombros para incentivá-lo.
- Seja o que for eu quero saber, Adriana me disse que você estuprou essa garota.
- Não se afasta de mim por causa dela.
- Ninguém interfere em minhas escolhas, nem mesmo meus melhores amigos.
- Mesmo Adriana não gostando de mim?
- Se ela é minha amiga verdadeira vai aceitar porque você também é meu amigo.
- Amigo não, amor!
- Isso vai depender de seu comportamento e agora me conta o que aconteceu?
- Depois que o garoto saiu ela ficou revoltada, começou a me chamar de tudo que foi coisa, viado, broxa, pau no cu e eu fiquei muito nervoso e disse pra ela que podia provar que não era aquilo e levei-a pra dentro do vestiário e lá nós transamos.
- A força?
- Não, ela participou de tudo, até me chupou, se fosse forçado não ia me chupar.
- E depois?
- Ela era virgem e depois se arrependeu de ter se entregado.
- Vocês usaram preservativo?
- Você acha que eu ia ter um preservativo dentro do colégio?
- Seria o lógico.
- Eu não tinha e só depois fiquei assustado achando que ela poderia ter ficado grávida.
- Tinha muitas chances.
E foi por isso que conversamos e decidimos falar com uma professora que julgamos ser boazinha, mas não era e o caso foi parar na direção.
- Que coisa doida João, isso só prova que droga não leva a nada.
- A diretora chamou nossos pais, foi uma confusão porque ela e a mãe da Ana me acusaram de abuso.
- E seu pai? Ele tem jeito de ser bem severo.
- E é, exigiu que ela fizesse todos os exames para provar que tinha sido abusada.
- Que situação chata você se meteu.
- A Ana não quis, disse que éramos colegas e agimos sem pensar, mesmo assim acabei sendo expulso do colégio.
- E ela, também foi expulsa?
- Não, penso que ela se recusou a fazer os exames por medo que eu abrisse o jogo e contasse que estava envolvida com drogas.
- Mesmo assim essa garota é muito louca, imagina sair contando a todos que foi abusada.
- Foi a mãe dela que não acreditava que a filha se entregou por vontade própria, como também desacreditava até pouco tempo que Ana se viciava.
- E agora, você tem contato com ela?
- Agora não, mas nós transamos outras vezes.
- E ela não engravidou?
- A Ana me disse que a mãe dela obrigou-a a tomar uma pílula e depois ela foi num médico amigo da família.
- Você tem certeza que ela não interrompeu?
- A Ana me disse que não.
- Você sabe que errou feio, né?
- Eu errei, mas não a estuprei como Adriana disse.
- Ela também não é tão inocente como dizem, apesar de que isso não se justifica.
- Conheci as drogas através dela, daí você tira as conclusões.
- E desde quando você não transa com ela?
- Desde sua visita no hospital, minha mãe me apoiou e decidi lutar por você.
- Sua mãe é uma lutadora, gosto muito dela.
- Acho que é um sentimento recíproco, desde que ela descobriu que gostava de você passou a me incentivar, talvez na tentativa de me livrar do vício também.
Agora você sabe o que aconteceu e pode tirar suas conclusões.
- Você se envolveu com alguma garota além da Ana?
- Não.
- Adriana acredita que você estuprou a prima dela.
- Eu não sei se Adriana acredita ou é uma forma que ela encontrou pra me afastar de você.
- Não faz sentido, ela é tranquila e preza minha amizade.
- Ela está apaixonada.
- Que loucura João, ela apenas se preocupa comigo.
- Estou dizendo Sandro, Adriana é interessada em você e esse interesse surgiu já no primeiro dia de aula.
- Você não gosta dela, né?
- Não tenho nada contra, mas não permitirei que ela atrapalhe minha vida.
- Depois do Christian ela foi a primeira pessoa que se demonstrou amiga quando entrei no colégio.
- Ela quer o mesmo que eu quero e vou ganhar essa briga, porque estou jogando limpo com você e sendo honesto.
- Eu acredito em você.
- Mesmo que ela continue dizendo que eu abusei da prima dela?
- Como eu disse, sou responsável por minhas escolhas.
- Eu não tenho como provar tudo que falei, sé se Ana falasse, mas ela anda afastada de mim desde que me afastei da turma.
- Você não precisa me provar nada, estou vendo sinceridade em suas palavras.
- Você é muito puro, eu te amo.
Ele aproximou fazendo carinho no meu cabelo depois me abraçou e me beijou, mas eu me afastei dele logo em seguida.
- Estou louco de saudade de você.
- Não força uma situação João, deixa as coisas acontecerem naturalmente.
- Você não acreditou em nada do que eu falei?
- Acreditei, mas não é por isso.
- É porque então.
- Faz pouco tempo que eu saí de uma relação complicada e já magoei pessoas por atitudes impensadas, não quero que o mesmo aconteça com você.
- Eu não me importo.
- Não pode ser assim.
- Eu te amo e isso me basta.
Ele me abraçou novamente e ficou beijando levemente em meu pescoço, nossa relação estava indo longe demais. Afastei-me novamente e fui até a janela. Tentei abri-la para respirar um pouco de ar puro e só então me dei conta que estava trancada pelo lado de fora.
- Está trancada amor, eu te falei.
- Desculpe, eu esqueci.
- Vem aqui.
Ele me virou para si e me beijou novamente. A única lembrança que me veio à mente foi Augusto se divertindo no casamento do meu irmão, liguei o foda-se e me entreguei ao beijo que começou a esquentar. Ele estava sem camiseta, passei as mãos em seu peito nu e ele se arrepiou. João me prendeu contra a parede, sem interromper o beijo, levou suas mãos até minha bunda e ficou apertando minhas nádegas por cima da calça. Soltei um gemido baixo. Ele sorriu e desceu os beijos para o meu pescoço, me conduziu até a cama, deitou ao meu lado e ficou fazendo me acariciando.
Aproximou-se e começou a me beijar lentamente e depois foi aumentando o ritmo. Quando percebi, ele já estava em cima de mim. Passei minhas mãos por suas costas e com certeza ficariam as marcas de unhas. Ele me beijava com vontade até que rapidamente arrancou minha blusa.
– Não João! Isso não está certo! - Sussurrei em seu ouvido.
Ele ignorou e continuou a me beijar, tirou minha bermuda e jogou-a para longe, nossas respirações estavam ofegantes e descompassadas.
– Eu sei que você quer, mas a partir de hoje não vou te forçar a nada. – disse mordendo o lábio inferior.
- Não sei se estou pronto para iniciar algo com você, eu gosto... Ele colocou dois dedos nos meus lábios e me calou.
- Não precisa dizer nada, eu te amo!
Apenas o beijei, ele me virou na cama e foi beijando meu corpo, me envolvendo completamente. Toda vez que tentava falar algo João tomava meus lábios e beijava novamente. João foi acariciando meu corpo, fiquei maluco de tesão, ele mais que depressa ele chupou cada pedacinho da minha bunda e depois tirou sua calça. Sem as drogas ele era um cara muito carinhoso e decidi dar-lhe prazer também. Acariciei seu corpo, beijei seu peito e fui percorrendo um caminho e beijos até começar a chupar o seu pau.
Ele levantou abriu uma gaveta do móvel ao lado de sua cama pegou um vidro de gel e foi passando em mim, sempre me acariciando, bem diferente das outras vezes que havíamos transado. Em seguida colocou a camisinha e foi me penetrando lentamente e aos poucos foi se movimentando. Eu gemia alto e ele se movimentava num vai e vem delicioso e torturante. Comecei a me masturbar, ele aumentou as estocadas e senti apenas a pressão do gozo dele na camisinha quase ao mesmo tempo em que gozei.
João deitou ao meu lado, e por alguns minutos o que se podíamos ouvir no quarto era apenas nossas respirações, que estavam ofegantes.
Ele virou-se na cama, me beijou e depois se aconchegou em meus braços. Fiquei deitado pensando se agi correto. Estava quase dormindo quando meu telefone começou a chamar, tentei levantar, mas ele me impediu e acabamos pegando no sono.
Acordei já era quase hora de sair para o trabalho, fui para o banheiro tomar um banho rápido e deixei João dormindo. Quando retornei ele estava com meu celular na mão.
- O que você faz com meu celular?
- Calma, não vou fazer nada que te prejudique.
- Não gosto que mexam nas minhas coisas.
- Juliano é o cara que você gosta?
- Eu já não sei mais.
- Ele está te ligando.
- Você atendeu?
- Não, com certeza você não ia gostar.
- Você tem razão, agora preciso trabalhar.
- E eu tenho psicóloga.
- Não falte que é importante para o seu tratamento.
- O que foi, ficou arrependido.
- Preciso por minhas ideias em ordem, não quero magoar ninguém.
- Então, amanhã a gente se fala no colégio.
Ele veio ao meu encontro me abraçou forte e me beijou, depois saí para o trabalho, olhei meu celular e Juliano tinha me ligado três vezes. Não retornei as ligações, estava totalmente confuso com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo.
Trabalhei normal e a noite quando ia saindo da academia com Breno, ouço alguém me chamar.
- Sandro?
- Juliano, o que você está fazendo aqui?
- Quero falar com você.
- Agora não dá, estou de carona com Breno.
- Eu te deixo em casa.
- Tudo bem pra você, Breno?
- Não tem problema Sandro, amanhã a gente se vê.
Fomos em direção ao carro, ele estava calado, parecia triste.
- Quero te pedir desculpas pelo que aconteceu na festa, eu não convidei o Augusto.
- No mínimo comentou sobre a festa e isso já foi o suficiente pra ele dar uma de intruso.
- Eu não falei pra ele sobre a festa.
- Também não me interessa quem o convidou e como ele foi parar lá, o que importa é que ele só foi pra me mostrar que não sou nada perto dele.
- Esquece o Augusto e vamos recomeçar de onde paramos.
- Você só pode estar brincando comigo, eu não vou voltar enquanto Augusto não se afastar definitivamente.
- Eu não estou com ele.
- No dia da festa ele ficou o tempo todo à sua volta.
- A minha palavra não basta pra você?
- Não, porque você foi me deixou pra ficar com ele.
- Quantas vezes eu preciso repetir que não foi isso. – disse quase gritando.
- Não precisa ser estúpido.
- Me desculpa, estou nervoso.
Eu gosto de você, mas vamos dar tempo ao tempo pra ver como as coisas se resolvem.
- Você está envolvido com aquele garoto do colégio.
- Pra ser sincero, estou!
- Você está querendo me provocar, eu não acredito.
- Ele tem sido muito legal e foi à pessoa que me estendeu a mão quando você terminou comigo.
- E você vai ficar com ele por piedade?
- Quem disse que é piedade?
- Então você ama esse garoto?
- Eu não sei e não me pressiona, estávamos bem até você terminar. Presta bem atenção Juliano a culpa do que está acontecendo é sua.
- Eu sei que você está fazendo isso por raiva de mim.
- Eu não vou me afastar dele.
- Porque, o que você sente por ele?
Não respondi se tem uma coisa que odeio é magoar as pessoas, pra mim é muito difícil dizer um não sem sofrer.
- Vai Sandro, responde.
- Eu gosto de estar com ele.
Ele se calou o restante da viagem e quando chegou a republica permaneceu calado. Desci do carro e ele saiu sem dizer nada.