- Já estou de saída, vou pegar carona com Breno.
- Eu te deixo em casa.
- Não estou mais na republica.
- Eu te deixo na casa onde você mora.
Ele parecia ansioso demais pra conversar e seria bom, assim definitivamente colocava um final em tudo.
- Breno, obrigado por tudo mais uma vez.
- Se cuida garoto e me mande notícias.
Dei um abraço nele e segui com Juliano até o carro. Nem bem entramos e ele seguiu em direção contrária a minha e diferente do caminho do apartamento dele.
- Para onde estamos indo, Juliano?
- Para o meu apartamento, lá nós podemos conversar com calma.
- Esse não é o caminho para o seu apartamento.
- Eu recebi o restante da herança dos meus pais e troquei o que eu tinha por um maior.
Seguimos e ele entrou num prédio padrão classe media alta. Descemos na garagem e fomos até o elevador. O apartamento ficava no oitavo andar.
Ele abriu a porta e pude notar a diferença gritante, observando pela sala percebia-se que era bem maior que o outro.
- Parabéns, seu apartamento é muito bonito.
- Obrigado, mas não foi pra falar sobre isso que eu te trouxe aqui.
- Eu não posso demorar.
- Quer comer alguma coisa?
- Não, vamos terminar essa conversa que eu preciso ir.
- Antes de começar, eu quero que você saiba que eu tentei me segurar para não ter essa conversa.
- Juliano, eu...
- Por favor, não me interrompe antes que eu perca a coragem.
Ele estava nervoso, passava as mãos nas pernas da calça mostrando visivelmente que não estava bem.
Tudo bem.
- Você lembra como tudo começou entre a gente?
- No meu aniversário de dezessete?
- Não, o Sandro que eu conheci com dezessetefoi bem diferente do garoto que admirei desde a primeira vez que o vi.
- Eu não me lembro muito bem, mas você já me falou.
- Durante anos eu pensei em encontrá-lo e naquele final de ano que você passou conosco na praia, vi que ali estava a minha chance.
- Juliano...
- Eu sabia que você estava confuso e mesmo assim arrisquei, lembro de cada detalhe principalmente da nossa viagem a Aiuruoca.
- Aonde você quer chegar?
Seus olhos se encherem de lágrimas, mas logo ele as limpou e seguiu.
- Muita coisa aconteceu de lá para cá, nos magoamos e erramos muito um com outro.
- Isso já passou, estou bem agora e o...
- Você falou que não ia me interromper.
Ele enxugou as lágrimas novamente.
- Desculpa, pode continuar.
- Eu errei e sei dos meus erros.
Meu telefone tocou, olhei no visor e vi que era o João provavelmente preocupado do meu atraso.
- Oi João!
- Oi amor, onde você está?
- Vou demorar um pouco estou me despedindo da galera da academia.
- Não demora muito, vou esperar por você.
- Daqui a pouco estou em casa.
Desliguei o telefone e vi que Juliano não gostou, seu rosto estava num vermelhão e ele só ficava assim quando estava muito nervoso.
- Porque você não joga limpo com ele e diz com quem está?
- O que você quer me dizer que até agora só enrolou e não disse nada.
- Era assim que você agia comigo?
- Você me trouxe aqui pra me ofender?
- Não, porque você mesmo deve julgar suas atitudes.
- Eu não estou entendendo, você ficou todo ofendido porque atendi uma ligação do meu namorado.
- Agora não é mais namorado, já fiquei sabendo que é marido.
- Eu vou embora, não vim aqui pra ser ofendido.
Eu já ia saindo quando ele me puxou e me fez sentar no sofá novamente.
- Chega de passar a mão na sua cabeça, você é muito mimado, sempre se achando o correto e dono da razão.
- Eu não sou assim.
- Aline não deixa de ter razão, você precisa crescer, olhar para dentro de si e ver que não é tão perfeito quanto imagina.
- Você acha que Aline tem razão em me tratar como um lixo diante de todos?
- Se você não se fizesse de vítima, ela te respeitaria.
- Você não sabe o que está dizendo.
- Você gosta que ela te trate como um lixo porque assim você se sente o coitadinho diante dos outros, digno de pena.
- O que você sabe da minha vida pra me acusar desse jeito?
- Vai dizer que não é verdade, hein Sandro? Você chama atenção para si e todos passam a mão na sua cabeça.
- Então a Aline é quem esta certa?
- Ela está errada, mas você também tem culpa.
- Eu, tenho culpa?
- Até quando vai se vitimizar?
- Eu não te devo satisfações da minha vida.
- Sempre foi assim até mesmo diante do Roger que você dizia amar.
- Não meta o Roger na nossa conversa.
Afinal, era amor ou não o que você sentia por mim?
- Para com isso!
- Não precisa me responder, eu sei que você nunca me amou de verdade, mas foi cômodo ter um idiota mendigando um pouco de carinho e correndo atrás feito um idiota.
- Eu nunca te enganei, no começo eu me aproximei pelo que você sentia por mim, mas depois veio o Augusto e nada mais foi igual.
- Eu admito meu erro, mas já o reconheci faz tempo, enquanto você jogou seus sentimentos numa gaveta e vive um mundinho de faz de conta com esse garoto.
- E quem disse que eu não gosto dele?
- Eu já discuti isso com você e não vou ficar insistindo em algo sem fundamento.
- Pois fique sabendo que você foi uma decepção na minha vida.
Ele ficou sem ação, falei coisas que não devia. Juliano foi para o banheiro e ficou um longo período lá dentro, eu não sabia se batia na porta pra ver se ele estava bem ou se pegava minhas coisas e ia embora.
Passou mais de meia hora quando ele saiu visivelmente triste. Não tive coragem de falar e ofendê-lo mais ainda, estava com raiva dele em me achar egoísta.
Ele voltou e sentou no sofá da sala estava mais calmo.
- Eu não te chamei aqui pra te ofender, só queria dizer que eu continuo te amando como sempre amei, mas também isso agora não importa mais, você está indo embora.
- Como você ficou sabendo?
- O Giovane me contou.
- Me desculpa pelo que falei.
- Você só me disse o que pensa, não sei nem porque eu te trouxe aqui, vou te levar pra casa.
Saímos e ele pediu que o guiasse até a casa do João. Ficou um clima estranho entre nós que eu dei graças a Deus quando chegamos.
Desci do carro e ele seguiu firme com seu olhar perdido e essa foi à última imagem que fiquei dele.
Em frente a casa tinha uma escada. Sentei ali e fiquei chorando, estava mal. Fui muito estúpido com ele, nos ofendemos mutuamente sem necessidade.
Fiquei sentado na calçada pensando em tudo que conversamos.
Se ele foi me procurar na academia era porque ainda gostava de mim, e o lance com Augusto? Ele disse que errou e reconhecia os erros, então porque nunca terminávamos uma conversa sem brigar?
Já mais calmo entrei, João dormia tranquilamente. Fiquei olhando pra ele e cheguei à conclusão que era a pessoa ideal pra mim. Peguei uma roupa e fui para o banheiro tomar banho.
No dia seguinte fui acordado pela empolgação do João com a mudança e no dia 26 de fevereiro de 2011 nos mudamos para Corrientes em Paso de los Libres na Argentina.
Nem bem entrei na cidade senti a diferença, era tudo muito calmo, cidade pequena, menor que minha cidade natal. Não falei nada para o João que estava muito empolgado, mas já na chegada senti o vazio, não conhecia ninguém, foi muito estranho.
A vó e a tia do João que já sabiam de sua sexualidade nos receberam muito bem e até reservaram duas peças nos fundos da casa para morarmos.
Eu gostei porque teria meu cantinho e não ficava tão dependente da família do João. No primeiro dia eu nem senti a diferença, arrumamos nossas coisas no lugar que era quase tudo da mãe dele. Marta ficaria na casa principal morando com a vó do João.
No segundo dia convidei o João para dar uma volta pela cidade pra conhecê-la, fomos no carro da tia dele, ela me garantiu que não tinha problemas por minha carteira ser brasileira, disse que éramos parceiros no Mercosul, mesmo assim fui até a alfândega e peguei um documento pra transitar livremente entre os dois países.
Depois disso, fomos a costanera é uma praça muito bonita que fica as margens do Rio Uruguai. Eu como sou apaixonado por arquitetura fiquei encantado com o lugar. Ficamos sentados olhando para o nada, a cidade era tranquila, ouvia-se o barulho do vento e o canto dos passarinhos nas árvores.
Saímos dali e fomos à região central, encontrei uma bela praça em frente a igreja San Jose Church. Desci do carro, entrei e comecei a rezar. Enquanto rezava lembrei-me do Tiago e dos meus amigos. Comecei a chorar de saudade e pedi a Deus pra me ajudar a não fracassar na minha escolha já que tinha optado por morar ali.
João sempre ao meu lado me deu forças, ele era minha fortaleza para não cair de vez. Vinte dias após a mudança comecei a procurar trabalho na cidade, mas não encontrei. Já estava assustado, então Marta sugeriu que procurasse trabalho em Uruguaiana. Se fosse de carro, era uns quinze minutos que separava uma cidade da outra.
Peguei o carro da tia de João e fui para Uruguaiana, a diferença entre as cidades era visível, não que a brasileira fosse uma potência, mas era mais desenvolvida.
Fui ao sine e de lá me encaminharam para uma transportadora onde consegui uma vaga de auxiliar de escritório. Nem pensei duas vezes e aceitei. Era tanto trabalho que eu não tinha tempo de pensar em nada, passava o dia inteiro na recepção atendendo as solicitações de serviço por telefone, organizando e montando rotas de entregas, tinha um gerente chato que ficava me cobrando o tempo todo para não haver atraso nas entregas, longe do que era meu relacionamento com Breno na academia, mas eu não podia reclamar, pois era ali que eu ganhava meu salário para me sustentar.
Eu trabalhava a semana inteira, mesmo assim procurei um cursinho pré-vestibular e me matriculei pra fazer aos sábados, João também foi comigo. A mãe dele acabou nos dando uma moto pra nos locomover, durante a semana eu usava pra ir ao trabalho e nos finais de semana usávamos em conjunto.
Tão logo chegou à cidade, Marta abriu uma loja e João foi trabalhar com ela. Foi bom, pois assim ele ficou mais distante do vício e também ele estava muito empolgado com a mudança.
Nas minhas idas e voltas para Uruguaiana João me convidou pra visitar os avós por parte de pai. No pouco contato que tive com eles pude perceber que eram bem homofóbicos e não gostavam de negros. Eles nem sonhavam que o neto era gay, imaginei se soubessem a reação deles não seria muito diferente do que foi com o pai do João.
Pai que não dava pra dizer que era pai de verdade, pois desde a mudança nunca mais ele entrou em contato pra saber como o João estava. A saída de Marta de Belo Horizonte foi um alívio pra ele que se desfez do fardo pesado da responsabilidade de ter um filho que nunca foi desejado.
Os primeiros meses foram de adaptação, quase não tinha tempo pra pensar em nada, mas às vezes quando eu saía do trabalho, passava perto de uma praça próxima a empresa e via uma galera se divertindo, zoação entre amigos, dava um aperto enorme no meu peito e me fazia pensar sobre o que estaria fazendo a galera da republica, da academia, lembrava do meu irmão e não continha as lágrimas de saudade.
Por volta do mês de abril senti a diferença da temperatura, no sul é muito frio e eu peguei uma gripe forte e fui parar no hospital por cinco dias com pneumonia. Tive que fazer tratamento, mesmo assim seguia trabalhando não podia perder meu emprego.
Junho de 2011
Teve um dia que voltei pra casa, tomei um banho e fiquei sentado no sofá, João estava trabalhando até tarde, peguei meu note e comecei a mexer. Achei algumas fotos do papai, da mamãe, do Tiago e até mesmo Aline. Ela estava sorridente, comecei a chorar não conseguia entender porque nos odiávamos. Como pode dois irmãos que nasceram da mesma mãe se odiar ao ponto de um não querer saber do outro. Apesar da mágoa pelo que ela e Roger tinham me causado eu gostava dela.
Lembrei da última conversa que tive com Juliano, “Até quando você vai se fazer de vítima”ele estava com a razão, Aline tinha seus defeitos, mas porque eu não tentava entendê-la? Sempre achei que a morte da mamãe foi algo precipitado e fui injustiçado por não conviver com ela, invejava meus amigos que tinham suas mães e pensava o mesmo em relação ao papai, não tive tempo de poder afirmar o quanto o amava. Achava o João uma vítima do pai, que Juliano não era digno de perdão porque se envolveu com o ex e o Roger por quem eu tanto lutei voltou mais uma vez com Aline. Também se não fosse com ela seria com outra, além do envolvimento com minha irmã tinha o Vitor que vivia sempre com ele. Com certeza Roger era um egoísta e jamais pensou em mim.
Nesse dia, pela primeira vez peguei o telefone e liguei para o Breno.
- Oi Breno!
- Sandro?
- Sou eu, quanto tempo, né?
- Oh garoto, você não me apronta outra, não quero que fique sem me dar notícias por muito tempo.
- Como estão as coisas ai em BH?
- Você está fazendo falta na academia, ainda não encontrei alguém pra recepção que seja tão dedicado.
- Tenho saudade de todos.
- Sua voz parece triste você está bem?
- Estou bem, trabalho na recepção de uma transportadora.
- E como é a cidade?
- Bacana, diz que mandei um abraço a todos, agora preciso desligar.
Desliguei o telefone e me arrependi de ter ligado, foi muito triste, fiquei novamente com a sensação de perda, insegurança, saudade, era um misto de sentimentos que me tiravam a paz.
Neste mesmo dia Tiago ligou e me deu uma bronca sem tamanho, pois eu não liguei pra ele nesse período que estava fora, Breno deve ter passado o telefone pra ele. Pela primeira vez senti que meu irmão estava magoado comigo, ele perguntou se havia me esquecido dele. Como? Se eu pensava nele todo dia só não queria dar trabalho pra ele.
Rafael também me ligou e só então que eu percebi que estava descartando meus amigos. Neste dia falei com Fernanda e foi outra que me deu uma bronca, disse que Tiago andava triste e ia acabar doente se continuasse afastado dele, ela me contou também que estava namorando o Fernando e estava gostando muito dele.
Eu estava mal tinha chorado muito e nesse mesmo dia acabei sem querer brigando com João.
- Oi amor, o que houve?
- Não estou bem.
- O que você tem?
- Acho que é saudade dos meus amigos.
- Deixa de ser bobo amor, vou tomar um banho e depois quero você todinho pra mim.
- Hoje eu não estou a fim.
- Qual é agora você deu nessa, o que está acontecendo?
- Não estou me sentindo bem.
- Ultimamente você sempre arranja uma desculpa pra não transar comigo, qual é Sandro?
- Você não vai começar uma briga por tão pouco.
- Ficar com o homem que eu gosto é pouco?
- Eu não ando bem, João.
- O que você sente?
- Eu não sei o que está se passando comigo.
- Você se arrependeu de ter vindo pra cá?
- Não!
- Então porque não está comigo, porra?
- Estou cansado, sem coragem pra nada.
- Eu deixei do vicio por você, só Deus sabe o esforço que eu faço pra me controlar e não cair na tentação de fumar ou cheirar mais um.
- Está arrependido?
- Não, porque eu te amo e quero construir uma vida nova com você, mas parece que é somente eu que quero isso.
- Você não pode reclamar, estou tentando de tudo pra te fazer feliz.
- Eu sei amor, não quero brigar com você, me desculpa por tudo que falei.
- Tudo bem, de cabeça quente ninguém faz nada.
- Vou tomar um banho e já volto.
Ele me deu um beijo e saiu, fiquei na cama estava desanimado, sentia dor no corpo. Em seguida ele voltou e deitou por cima de mim, estava nu, me deu um beijo no pescoço e ficou roçando a barba naquela região.
Nessa época ele tinha uma barba rala e foi me animando. A cada roçada sentia um calafrio e me entreguei num gemido. Quando me ouviu gemer João ficou descontrolado e tirou minha bermuda.
João fez com que eu ficasse de frente pra ele na cama e deitou em cima de mim pelado, ficamos nos beijando e roçando nossos membros, a empolgação dele era tanta que virei na cama sem reclamar, João ficou louco de tesão, mordeu meu pescoço, balbuciou ao meu ouvido que me amava, se afastou um pouco e começou a colocar a cabecinha em mim, doeu bastante porque eu não estava no mesmo pique e ele foi introduzindo, nessa hora minha ficha caiu e vi que estávamos fazendo sem camisinha, sem lubrificante. Pensei em parar, mas deixei, ele entenderia como uma desculpa pra não ceder.
João me penetrou com vontade, soltei um grito de dor, ele tapou minha boca, beijou minha nuca e começou um vai e vem descompassado. Eu apenas gemia, e ele mordia meu pescoço, meus ombros, minhas costas. Respirava forte no meu ouvido e no ritmo intenso das estocadas a cama se mexia junto com a gente, pensei que a mãe e a vó dele fossem nos ouvir da casa da frente. Ele ficou um bom tempo bombando até que senti que ele gozou e caiu cansado sobre mim.
- Não devíamos ter feito isso.
- Está arrependido?
- João nós transamos sem camisinha e não gosto disso.
- Eu não tenho nada, pode ficar tranquilo.
- Mesmo assim, eu não gosto de transar sem camisinha com ninguém, mas a culpa é minha eu deveria ter resistido.
- Que droga! Nada serve pra você.
Ele levantou da cama e começou a se vestir rapidamente.
- Para com isso João, aonde você vai?
- Vou sair e dar uma volta pra esfriar minha cabeça.
- Desculpa João eu disse que não estava bem, volte aqui.
- Sai da minha frente.
Ele gritou e me empurrou sobre a cama, pegou a chave da moto e saiu, já passava da meia noite.
Tentei sair atrás dele, mas foi impossível. Voltei pra cama, minha cabeça doía muito, tinha a sensação que tudo rodava comigo, sentia meu corpo quente. Tive vontade de chamar a Marta, era mais de uma da manhã e João não havia voltado, mas me segurei, só ia preocupá-la, pois nada adiantaria contar a ela o que aconteceu.
Eu não conseguia levantar da cama, sentia tontura, calafrios pelo corpo e de repente veio à vontade de vomitar. Com muita dificuldade fui para o banheiro e vomitei até cansar.
Depois que tudo passou voltei à cozinha e fiz um chá. O mesmo que o Breno havia me ensinado tempos atrás e tomei com um antitérmico.
Deitei novamente, já passava das três da manhã e João não tinha voltado, eu não sabia o que fazer, mesmo assim criei coragem e bati na casa da frente, fazia uma noite muito fria e tinha muita serração, não sei até hoje como tive coragem, dei graças a Deus quando Marta veio me atender.
- Sandro!! – Ela olhou pra mim assustada.
- Oi Marta, desculpa eu te acordar.
- O que aconteceu?
- João saiu depois da meia noite e até agora não voltou.
- Não acredito que esse pesadelo vai voltar novamente.
- Eu tentei impedi-lo, mas ele não me escutou, achei que não fosse demorar. Estou preocupado!
- Entra! Você vai ficar doente.
- Vou voltar não estou me sentindo bem.
- O que você tem? Está branquinho.
- Eu não sei, começou com uma tristeza, depois dor de cabeça e agora a pouco vomitei muito.
- Volte pra cama, você não pode pegar friagem.
Deitei, mas eu estava gelado não consegui pegar no sono, mesmo assim permaneci na cama. Por volta das cinco da manhã ouvi o barulho da moto e tirei um peso das costas, era o João. Ele entrou em casa totalmente bêbado, logo em seguida a mãe dele veio ver o que tinha aprontado.
João mal conseguia falar, não sei nem como acertou o caminho de casa. Ele chegou se atirou no sofá e dormiu ali mesmo do jeito que estava.
No domingo João acordou no meio da tarde, eu já estava melhor, pela manhã peguei um sol e me revigorei novamente.
- Nós precisamos conversar.
- Eu fiz tudo errado, me desculpa amor.
- Não estou bem de saúde e essa noite eu não consegui dormir porque você simplesmente não me deixou.
- Desculpa.
- Sua mãe estava feliz que você tinha abandonado aquela vida. O que aconteceu, está a fim de voltar a ser como era antes?
- Eu fiquei nervoso.
- Onde você passou a noite?
- Num bar.
- Nenhum bar fica aberto a noite inteira.
- Eu não fiz nada demais, mas eu sei que você vai ficar chateado comigo.
- Eu já estou chateado, mas preciso saber onde você estava.
- Numa boate, mas eu não juro que não me droguei, só bebi.
- E a bebida por acaso não é droga?
Ele baixou a cabeça e começou a chorar. Eu estava sem paciência, peguei meu material do cursinho e fui estudar. Depois que passou mais de hora, ele foi até a mesa onde eu estava estudando e me abraçou.
- Eu prometo que isso não vai mais acontecer.
- É bom mesmo, porque senão eu vou embora.
- Se você fizer isso eu morro.
- Vai tomar um banho, escovar os dentes, você está horrível.
- Eu vou, mas fique calmo, eu te amo.
Depois daquele dia as coisas voltaram ao normal, João se acalmou após o susto que dei nele. Minha saúde seguia debilitada, sentia muita dor de cabeça, mas nunca deixei de trabalhar. Precisava do trabalho embora Tiago sempre depositasse um pouco de dinheiro na minha conta.
Já era Julho e o frio cada vez mais intenso, nunca vi um lugar tão gelado no inverno que naquela região. Eu atravessava a ponte de moto todo dia, chegava ao trabalho congelado, era horrível e só me aquecia ao meio dia quando pegava um pouco de sol.
Em meados de julho num domingo pela manhã fui acordado com uma bela surpresa, mal acreditei quando a tia de João me disse que tinha um carro estacionado em frente da casa e queriam falar comigo.
Saí para atender e vi que eram eles, Tiago, Breno e Rafael. O primeiro ímpeto que tive foi correr até eles e abraçá-los, era isso que eu precisava.
- Maninho que saudade, porque você veio pra tão longe?
- Eu precisava tanto desse abraço.
- Como você está?
- Estou bem. Peguei um resfriado fiquei ruinzinho, mas voltei ao normal.
- Tiago deixa um pouco desse garoto pra mim. – disse Breno com semblante sério.
- Vou te dar uma surra pra você aprender a ligar, lembra que eu pedi antes de você sair de lá. – disse o enquanto me abraçava.
- A ligação é cara e eu não gosto de ligar a cobrar.
- E eu reclamo se você liga a cobrar?
- Eu prometo que vou ligar mais vezes.
- E vai mesmo, se você não ligar eu venho aqui.
- Agora é a minha vez. – disse Rafael sorridente.
- Meu irmãozinho como você está?
- Os meninos te mandaram um abração, você está fazendo falta na republica.
- E a Letícia?
- Continuamos firmes, ela te mandou um abraço.
- Que história é essa de irmãozinho, o irmão aqui sou eu. – disse Tiago afastando o Rafael e me abraçando novamente.
- Mano você não tem noção da saudade que estou de você? Nada é igual, ainda bem que o Breno teve a idéia dessa viagem.
- Eu não esperava essa visita, mas fiquei feliz pela surpresa.
- Vamos dar uma volta pela cidade?
- Onde vocês querem ir?
- Só nós dois.
João ficou nos olhando senti que naquele momento bateu a insegurança nele, pois baixou a cabeça e não disse nada.
- Eu não demoro João, enquanto isso faça companhia ao Breno e ao Rafael.
Saímos de carro, Tiago me levou na costanera e sentamos para conversar.
- Como está a Paula?
- Está bem, ficou cuidando de tudo pra eu vir te ver.
- Vocês ainda não quiseram fazer um pedido pra cegonha?
- Por enquanto não, preciso resgatar um irmãozinho fujão que está me tirando à paz.
- Estou bem mano.
- Você está magrinho, branco, abatido, nem parece que tem sangue no corpo.
- Eu estranhei o inverno, mas isso passa.
- Você não tem necessidade de passar por isso.
- Não precisa se preocupar, eu estou bem.
- Dá pra ver em sua aparência que não está.
- Eu peguei uma gripe forte, mas já estou melhorando.
- Eu vim pra te buscar.
- Eu não vou.
- Por favor, mano, não teima comigo.
- Quando é que você vai entender que estou aqui por opção, por favor, respeita a minha vontade.
- Desculpa o que vou dizer, mas o que te liga ao João não é amor.
- Eu não vou abandoná-lo.
- Por quê?
- Eu gosto dele e vou ficar com ele.
- Juro que eu tento, mas não consigo te entender.
- Eu tenho passado por alguns momentos difíceis, mas o João me faz bem.
- Tem certeza que é isso mesmo que você quer?
- Tenho.
- Mesmo assim, se você precisar de algo, por favor, mano, me peça, eu não faço mais por você porque estou muito distante.
- Fica tranquilo, mal tenho usado o dinheiro que você me manda. Ganho do meu trabalho pra me sustentar e não pago aluguel.
- Eu ainda não posso comprar sua parte no mercado, estou pagando Aline, mas se você se precisar me liga, passa um e-mail que eu dou um jeito.
- E Aline como está?
- Acho que você não vai gostar muito de saber, mas ela está grávida.
- Grávida?
- Sim, ela está no quarto mês de gravidez.
- Pelo visto ela e Roger se acertaram de vez.
- Eles estão separados.
- Como assim, ela não está grávida?
- Eles vivem assim, já não é novidade pra ninguém.
- Pelo menos agora ela não pode me acusar de assediar o Roger.
- Semana passada estive com ela, me perguntou por você?
- Deve estar feliz em me ver pelas costas.
- Não foi o que me pareceu, mas a vida é de vocês. Acho que essa disputa entre vocês é pura ignorância.
- O Juliano já me disse isso.
- E ele estava certo.
Eu já tinha chegado a essa conclusão em algumas conversas com meus pensamentos, não tive coragem de contrariar o Tiago, pois sabia que ele estava certo.
Tiago, Breno e Rafael tentaram me convencer a voltar, mas eu jamais abandonaria o João, ele era muito importante pra mim.
Depois da visita deles, eu me senti renovado e no final da tarde quando eles retornaram para o aeroporto, fui até o João e o abracei.
- Pensei que você fosse me deixar.
- Porque tanta insegurança?
- Eu te amo demais, morro de medo de perder você.
- Você não vai me perder.
- Às vezes sou meio brusco, impulsivo, mas eu te amo muito. Obrigado amor!
- Porque você está me agradecendo?
- Por cuidar de mim.
- Preparei uma comidinha bem gostosa pra gente, vamos jantar?
- Bebê quer janta na boquinha. – disse ele brincando.
- Para com isso bobão.
Fomos pra mesa João parecia uma criança, ele insistiu tanto que dei um pouco de comida na boca dele, foi muito engraçado, ele fazia umas caretas imitando um bebê.
Terminamos o jantar, depois segurei em sua mão e fomos para o quarto.
- Vai colocar o bebê na cama?
- Esse bebê já é grandinho, não acha?
- Só não faço outro bebê porque você não engravida.
- Palhaço.
- Te amo!
Aquela fase ruim parecia ter acabado, João estava bem caseiro, mais paciente comigo e aos poucos tudo foi se ajustando.
Em agosto no aniversário dele preparamos uma festinha, foi muito bacana estava toda a família dele por parte da mãe dele.
Uma semana depois do aniversário do João fiquei bem doente, passei mal no trabalho, comecei a sentir tonturas e vomitar. Eles me encaminharam para o médico que pediu uma série de exames, o qual constatou tratar-se de uma virose, tomei alguns remédios e uma semana depois estava me sentindo bem novamente.
Eu já estava ficando preocupado com minha saúde, no inicio achei que estava estranhando o clima e o lugar, me depois começou a me chamar atenção. Tiago pediu pra avisá-lo de tudo que estava acontecendo, mas como se tratava de uma virose eu não avisei e nem dei importância.
Quando João chegou com a mãe dele eu já estava deitado, ele veio deitou ao meu lado e me deu um abraço, estava gelado, era setembro e a temperatura ainda era fria.
Como você está amor?
- Melhor, agora que tenho você aqui.
-Sabe que essas loucuras que eu faço com você me fazem bem?
-Ah é?
-Você mudou muito, foi o melhor que me aconteceu nos últimos tempos.
-Obrigado!
-Quero mais um abraço.
- Nem precisa pedir.
Ele me abraçou novamente e deitou comigo. Foi muito bom, acabamos adormecendo, mas não por muito tempo, pois a mãe dele ia nos chamar para jantar com ela, naquela noite, pois era seu aniversário.
Uma hora depois abri os olhos e avistei João olhando pra mim, assim que ele me viu acordado foi acariciando meu rosto com seu nariz quase colado ao meu.
- Coisa mais gostosa esse meu namorado, dormiu bem, amor?
- Bem demais e você?
-Não dormi, fique acordado velando seu sono.
- Mentiroso.
- É sério, me preocupo com sua saúde, você é especial demais pra mim.
Fiquei sem reação, dei um selinho nele e o abracei bem forte.
- Já está quase na hora da mamãe nos chamar.
- Está tão gostoso embaixo desse edredom que estou sem vontade de sair.
- Vamos tomar banho?
- Juntos?
- Sim, por que não?
- Então vamos!
Fomos tomar banho, o banheiro era pequeno, João aproveitou para deixar nossos corpos quase unidos.
- Está quentinha a água, amor. – ele disse beijando meu pescoço.
- Está gostosa, mas o que você está pretendendo?
- Quero te dar um banho bem gostoso.
Ele pegou o xampu e passou em meu cabelo, em demasia, pois encheu de espuma o chão do banheiro e claro que com isso aproveitávamos pra trocar carícias. O mais engraçado foi quando deixamos o sabonete cair.
- E agora? – disse João rindo da situação.
- Quem pega?
- Você pega, amor.
- Como você é safado, João.
- E então?
Acabei pegando o sabonete e ele aproveitou pra passar seu pau com espuma de shampoo no meu rosto e eu pra brincar com ele fiz cara de nojo.
João caiu na risada, mas não deixei barato, o encostei à parede do banheiro, prensei seu corpo e ele deu um pulo que me assustou devido ao contato com as costas no azulejo gelado e dessa vez foi eu que comecei a rir.
Ele me segurou com força e quis me beijar. Fechei meus lábios e no final o banho virou em bagunça.
- Amor, sua mãe.
- Ah não, estou com um tesão danado.
- Sinto muito, aniversário da mamãe.
- Cacete, depois eu te pego.
- Vai nada, é fraquinho.
Provoquei-o bastante e depois saí do chuveiro e fui me secar.
Eu estava me secando e ele veio como um cão sem dono, enrolado numa toalha querendo sexo.
- Amor, quebra esse galho pra mim.
- Já estamos atrasados pra ir à sua mãe.
- Você não vai fazer isso comigo?
- Já fiz, na volta eu te compenso em dobro.
- Malvado.
Passei a mão na barriga dele e saí rumo à casa da frente e ele ficou esbravejando no quarto.
O jantar da mãe dele estava magnífico, ela caprichou, fez estrogonofe que o João adorava e depois de sobremesa nos serviu uma bela torta de morango. Ele tinha paixão, sempre brigava pra pegar todos os moranguinhos.
Era uma noite fria. Quando retornamos, eu estava tremendo de frio e ele já com segundas intenções me agarrou por trás e ficou mordendo e beijando minha orelha.
- Está com frio?
- Um pouco.
- Vou te aquecer, rapidinho.
Eu não disse nada apenas cedi ao beijo dele, que foi calmo e lento, foi um dos beijos mais puro que trocamos. Sua boca ainda estava com gosto de morango, era um menino guloso. Ele estava gostando sentia sua respiração se misturando a minha e um misto de tesão tomou conta do quarto.
João afagou meu rosto, me deu um selinho e começou a tirar minha roupa peça por peça, mas antes de terminar, foi até o armário pegou um cobertor e um edredom e colocou na cama, teve todo cuidado pra eu não passar frio.
Fiquei olhando admirado pra ele que sorriu e se justificou.
- Pra você não passar frio.
- Eu te amo.
- Eu também te amo muito.
Deitei e em seguida ele tirou sua roupa e deitou comigo. Estávamos nus sobre a cama e devagar fui abaixando a cabeça para que meus lábios entrassem em contato com seu membro que já tinha uma gotinha de liquido pré-seminal. Devagar fui inserindo seu pau em minha boca e comecei a chupar, ele puxou o lençóis da cama com os dedos e gemia baixinho.
Caprichei nos movimentos até que ele colocou sua mão em minha cabeça, fazendo um carinho enquanto soltava um gemido e outro. Seguia chupando num movimento de vai e vem até que ele soltou um gemido alto e tirei minha boca. Seu pau estava todo babado.
Ele me puxou para um abraço e voltou a me beijar, depois me virou na cama e me abraçou por trás. Começou a beijar minha nuca e roçava seu pau contra as minhas nádegas. Aos poucos fui me ajeitando na cama até ficar numa posição comportável. Ele aproximou seu membro da entrada do meu ânus e aos poucos fui sentindo ele dentro de mim, senti uma dorzinha leve, porém o prazer era bem maior.
Ele me penetrou lentamente com todo carinho e depois de alguns segundos, começou os movimentos. No inicio foi de forma lenta e depois foi aumentando a velocidade. João gostava de me dominar, sua mão direita punhetava meu pau com verdadeira perfeição. Ficamos assim por vários minutos até que senti quando ele gozou na camisinha, e sua mão continuava no meu pau me fazendo gozar instantaneamente.
Continuamos imóveis por alguns instantes, um abraçado ao outro curtindo cada momento que aquela noite estava nos proporcionando.
- Estou vivendo o momento mais feliz da minha vida.
- Eu te amo. - sussurrei ao seu ouvido
Ele deu um leve sorriso e me abraçou novamente.
- Você já se tornou parte de mim, não me imagino sem sua presença. Sinto que a cada dia que passa, eu te amo mais.
Fiquei rindo dele, João era um cara fechado e bem difícil de demonstrar carinho, mas eu sabia o quanto ele estava sendo sincero.
- Será que isso é possível?
- O que?
- Amar mais uma pessoa a medida que o tempo passa.
- Eu acho que sim.
- Eu te amo, te amo, te amo...
Logo depois senti um beijo molhado em meu pescoço. Ficamos abraçados, por longos minutos. Essas palavras dele nunca saíram de meu pensamento, sempre quando as recordo, a emoção toma conta de mim.
Pela manhã ele acordou e foi direto a cozinha.
- Amor não tem nada pro café?
-Sua mãe disse que ia comprar, mas acho que ela esqueceu.
- Vou até a padaria comprar algo pra comermos.
- Quer que eu vá?
- Não, eu vou, pois quero comprar uma coisa bem gostosa pro meu amorzinho.
Trocamos um beijo e ele saiu sorrindo, estava feliz da vida. Esta foi à última vez que vi seu sorriso na minha frente.
Neste dia houve um assalto na padaria em que ele foi comprar o pão e João foi atingido por um tiro enquanto tentava fugir da confusão. Não foi a droga que o matou, mas um marginal que ele teve a infelicidade de encontrar no lugar errado.
Ele começou a demorar pra voltar, resolvi ir atrás pra ver o que tinha acontecido e quando cheguei perto, só vi aquele monte de gente e os policiais na volta dos corpos. Tinha mais duas pessoas atingidas, uma sobreviveu, mas não foi o meu João.