O restante da semana transcorreu normal, liguei para o Rafael e o convenci a me acompanhar na festa, pedi pra minha tia acrescentar mais dois convidados na lista, pois ele não aceitou ir sem a Letícia.
Finalmente chegou a tão sonhada sexta-feira. Pela manhã me ligaram da loja avisando que já estava tudo certo pra pegar minha moto.
Depois do almoço fui à loja. Cheguei lá e a bichinha já estava arrumadinha só aguardando pelo dono, nem bem me entregaram a chave e saí para dar uma volta pelo quarteirão. Era uma sensação de liberdade, definitivamente tinha algo que era meu.
Depois voltei pra finalizar os tramites e finalmente saí pela Cristiano Machado em direção ao meu apartamento. Normalmente de ônibus levaria em torno de uma hora pra chegar em casa enquanto que de moto fiz o trajeto em menos de quinze minutos.
Chequei ao prédio e liguei para Marta descer que eu precisava falar com ela urgente e alguns minutos depois apareceu em frente à porta do prédio.
- Oi Marta!
- Oi Marta? Que isso menino, você quer me matar de susto?
- Gostou da novidade? – ela não tinha notado a moto ainda estava sob o efeito do susto que levou.
- Agora está explicado o motivo de tanta alegria nos últimos dias.
- Que tal?
- É linda, você merece.
- Sobe aí, vamos dar uma volta.
- Você está louco se pensa que vou andar nisso.
- Comprei o capacete só pra você andar comigo.
- Então você perdeu dinheiro.
- É brincadeira Marta, eu ia comprar igual, agora sobe aí e vamos dar uma voltinha.
- Nem sob decreto eu subo nessa coisa.
- Você vai subir ou vai querer que eu te pegue a força?
- Oh me respeita, não esquece que agora sou sua mãe.
- Por isso mesmo, faço questão que você seja a primeira a dar uma volta comigo.
- Você é teimoso.
- Vem Martinha, prometo te trazer sã e salva.
- Está bem, mas se eu cair desse negócio você vai se ver comigo.
- Confia em mim, Marta.
Depois de muita insistência ela colocou o capacete e mesmo reclamando subiu na moto e me abraçou de forma que eu mal podia me mexer.
- Está tudo bem aí, Marta?
- Vai devagar que eu tenho medo.
- Relaxa, vai ser a melhor volta da sua vida.
Pegamos a Nossa Senhora do Carmo e fomos em direção ao BH shopping, era perto, mas deu pra Marta aproveitar.
Quando chegamos ao estacionamento do shopping Marta estava durinha sobre a moto, nem se mexia. Eu estava louco de vontade de fazer umas piadinhas com ela, mas respeitei ela estava com medo mesmo,
- Curtiu o passeio Martinha?
- Até que não é tão ruim.
- Gostou, né Marta?
- Está bem, gostei.
- Agora vamos fazer um lanchinho, você está branca parece que vai desmaiar.
- Você é bom motorista, eu que sou boba e estava com medo.
Fomos pra praça de alimentação tomamos um lanche e depois voltamos pra casa. Tomei um banho e fiquei pensando no encontro com Juliano, se eu bem o conhecesse, ele nem olharia pra mim, principalmente depois de tudo que me falou.
E se eu tentasse encontrá-lo antes da festa, o impacto não seria tão grande, pensei em algo que pudesse fazer. Ir a casa dele nem pensar tinha que ser algo casual que ele não percebesse meu intuito.
Era quase cinco da tarde, neste horário ele estaria na faculdade, o problema era que eu não sabia se ele estava em sala de aula ou no laboratório, seria quase impossível encontrá-lo, mesmo assim, resolvi verificar.
Cheguei à faculdade e fiquei no saguão do prédio, toda vez que descia alguém eu olhava pra ver se ele estava entre o pessoal, era o único jeito de ver se o encontrava. Por volta das 18:00 desceu uma galera e ele estava junto, ali eu tive a chance de falar com Juliano, mas eu não tive coragem e me escondi para não ser visto.
Ele estava diferente da última foto que vi no face, tinha uma barba saliente sendo que nunca deixara crescer, a pele naturalmente bronzeada do verão o deixaram muito atraente.
A verdade é que eu me senti pequeno perto dele que parecia feliz com a galera. Fiquei andando pelo campus e pensando porque não tive coragem de encará-lo. Eu não era assim, sempre tive coragem de enfrentar os problemas, porque Juliano tinha esse poder sobre mim?
Liguei para o Rafael, era ele que sempre me aconselhava assim como eu também o ajudava quando precisava, embora fizesse tempo que isso não acontecesse era a pessoa que mais confiava pra desabafar sobre o que estava acontecendo.
- E aí sumido?
- Nem tanto, passamos juntos no domingo passado e já nos falamos por telefone essa semana.
- Parece muito tempo, mas o que você deseja?
- Quero conversar com você, mas não quero causar problemas com a Letícia.
- Hoje ela vai sair com a mãe.
- Que horas você sai do trabalho?
- Por volta das 22:00, mas se você quiser conversar, por mim não tem problema.
- Eu quero, estou precisando.
- Já arranjou confusão, é?
- Não chega a ser confusão, mas esta semana aconteceram algumas coisas e você é a única pessoa que sabe tudo de mim.
- Vamos marcar de nos encontrar após o trabalho.
- Eu passo aí na loja e te dou uma carona.
- Você está de carro?
- Comprei uma moto, assim você aproveita e inaugura a belezinha.
- Que maravilha já estou ansioso pra experimentar.
- Então eu espero você na saída e depois podemos ir num barzinho.
Desanimado voltei pra casa, minha cabeça dava voltas, não conseguia entender porque não consegui falar, era tão simples, bastava chamá-lo e dizer que no dia seguinte estaria na festa e de repente ele nem fosse
Peguei o note, entrei no face e fui no perfil dele, tinham fotos atualizadas sobre o início das aulas e no status a frase “Superar é preciso”.
Fiquei pensando o que aquela frase queria dizer, alguma indireta para o Augusto ou pra mim, provavelmente ele já estava sabendo que me encontraria na festa. Entrei no perfil do Roger, dei uma olhada básica, mas ele não tinha postado nada, desliguei o computador e decidi dormir um pouco já que nas sextas-feiras eu não tinha aula.
Peguei no sono e acordei por volta das 21:00, suava frio, parecia que o teto do apartamento girava comigo, não estava entendendo meu organismo. Tentei levantar, mas senti tonturas e resolvi não arriscar. Fiquei deitado tentando reagir, não sabia se era uma queda de pressão ou algo diferente, a sensação era muito estranha.
Lembrei do encontro com Rafael, fiquei quieto na cama até que reagi e pude levantar. Fui até a cozinha e bebi uma água gelada, depois tomei um banho e melhorei. Marta tinha razão, eu precisava ver o que estava acontecendo comigo.
Na hora combinada estava em frente à farmácia que Rafael trabalhava.
- Pontual, hein! – ele veio ao meu encontro e me deu um abraço.
- Vamos dar uma volta na belezinha.
- Em que bar nós vamos?
- Vamos ao shopping?
- Eu sou o convidado. – disse ele rindo.
Ele subiu na moto e fomos em direção ao Shopping Pátio Savassi.
- Então, quais as novidades? – disse ele assim que sentamos numa das mesas do Bob’s.
- Eu tinha uma coisa pra te falar, mas agora são duas.
- Nossa! O que houve? – disse ele rindo.
- Antes disso vamos fazer os pedidos, o que você vai querer?
- Estou a fim de um Hamburguer.
- Então eu vou te acompanhar.
- Estou te achando preocupado, aconteceu alguma coisa que não estou sabendo?
- Sim e estou com medo.
Medo de que?
- Eu não ando me sentindo bem faz tempo, mas parece que tem piorado nos últimos meses.
- Como assim, Sandro?
- Quando eu estava na Argentina, eu tinha dor de garganta, tosse, febre e dor pelo corpo, mas agora estou em clima ameno e esses problemas continuam.
- Isso pode ser gripe ou o organismo se adaptando ao novo clima.
- Antes de sair de casa eu dormi e acordei suando frio, tentei levantar e fiquei muito tonto.
- O Tiago está sabendo disso?
- Superficialmente, quem sabe mais é a Marta e ela vive insistindo pra eu procurar um médico. Eu fui lá no sul, tomei alguns remédios pra virose e melhorei, mas sempre volta e hoje foi diferente, estou com medo Rafael.
- Não fica pensando coisa ruim, vai ao médico não deve ser nada.
- A Marta já me falou, mas eu não tenho coragem.
- Quer que eu te acompanhe?
- Você faria isso por mim?
- Claro Sandro, nós somos como irmãos, tenho certeza que você faria o mesmo por mim.
- A semana que vem vou começar no novo serviço, não gostaria de faltar.
- Marca pra depois do horário.
- Você vai trabalhar.
- Faz tempo que trabalho na mesma empresa, se faltar um dia não vai fazer diferença.
- Obrigado Rafael, não conta nada pro Tiago, não quero preocupá-lo.
- Fica tranquilo você vai ver que não é nada demais e pode confiar em mim.
- E qual é o outro assunto?
- Roger me procurou essa semana e pelo visto continua o mesmo, mas é sobre Juliano que eu quero falar.
- Eu já imaginava que você fosse se decepcionar com ele mais uma vez.
- Ele nunca vai mudar, Roger gosta de viver nessa vida dupla.
- Ele une o útil ao agradável, não fica mal com ninguém e não deixa de aproveitar a vida.
- Acho que foi a maneira que ele encontrou de ser feliz, hoje eu entendo o lado dele, nem todos tem coragem de se assumir.
- O Lucas é um exemplo, até hoje não teve coragem de contar pra família, o único que sabe sou eu porque moramos juntos.
- E nem toda família compreende, a do Roger é uma.
- Mudando de assunto, estou curioso pra saber o que você tem a me falar sobre o Juliano.
- Não estou me entendendo, hoje estive prestes a fazer uma loucura, ainda bem que não tive coragem.
- O que você fez?
- O fato é que esse encontro está me deixando nervoso.
- Em que sentido?
- O Juliano vai me esnobar na festa. – ele começou a rir.
- Porque você acha isso?
- O Juliano praticamente implorou pra voltarmos antes da mudança pra Argentina e eu sei que isso mexeu com ele. A última conversa que tivemos foi tensa, nos ofendemos mutuamente, mas também ele me disse algumas verdades que só percebi com o passar do tempo.
- Hoje eu olhei o face dele e tem uma frase no status que é muito estranha, pode ter sido para o Augusto, mas também pode ter sido pra mim.
- E que frase é essa?
- Superar é preciso.
- Não tenho quase contato com Juliano, mas eu acho que ele não está mais com o Augusto.
- Eu também tenho pensado nisso depois que voltei e hoje numa loucura total fui atrás dele na faculdade.
- Que maluquice foi essa, Sandro.
- Insanidade mesmo, ato impensado, pensei que falando com ele a situação na festa seria menos tensa, mas no momento que eu o vi descendo as escadas, feliz entre os colegas, perdi a coragem e me pequeno demais.
- Você não existe. – disse ele rindo.
- É por isso que eu senti necessidade de conversar com alguém que possa me entender.
- Posso te falar o que penso, não vai ficar brabo comigo?
- Estou me abrindo com você justamente pra isso.
- Você gosta dele, Sandro.
- Ficou louco Rafael, eu só queria amenizar a situação pra ele não me esnobar na festa.
- Seja franco comigo, foi saudade.
- Eu nem sei por que eu fiz isso, mas não foi por saudade.
- Até quando você vai negar pra si mesmo que gosta dele?
- Eu não quero envolvimento nem com ele e nem com o Roger.
- Não querer é diferente de amar.
- Isso é totalmente absurdo.
- É absurdo porque não admite que gosta do cara. Eu acho que a mudança pra Argentina foi uma fuga pra esse sentimento que já existia e você ficou magoado por ele ter se aproximado do Augusto.
- Eu não tolero traição, pra mim não tem perdão.
- Ele não te traiu e você sabe disso.
- Foi a mesma coisa que trair.
- Pensa bem Sandro, quanto tempo o cara correu atrás e você só pensava no Roger.
- Talvez você tenha razão, mas porque com o ex?
- Porque algo no passado deles precisava ser resolvido. Ele estava disposto a virar a chave, não sentiu firmeza da sua parte e resolveu dar uma chance a essa pendência, mas pode acreditar se acabou tudo entre eles foi pra sempre é algo finito.
- Não quero pensar nisso, estou nervoso com a festa.
Rafael e eu ficamos no shopping até tarde da noite, depois o deixei na republica e ainda fiquei zoando com os meninos antes de voltar pra casa.
Ao chegar encontrei o Breno conversando com Marta, ela havia pedido ajuda pra organizar sua vida financeira novamente. Conversei um pouco com eles e fui dormir, pois o dia seguinte seria tenso pra mim.
No sábado pela manhã eu estava dormindo quando fui surpreendido pela chegada do Tiago, acordei com ele me puxando pelos pés tentando me tirar da cama.
- Levante preguiçoso, eu já viajei horas e você dormindo.
- Estou cansado. – e estava mesmo sentia meu corpo pesado.
- Vou fazer você sair dessa cama mesmo sem querer.
Ele começou a fazer cócegas e eu comecei a rir, Tiago gostava de fazer isso quando eu era criança, às vezes tinha preguiça de acordar e ele me irritava até eu pular da cama.
- Socorro! – comecei a gritar e rir ao mesmo tempo enquanto ele se ajeitou na cama e seguia fazendo cócegas em minha barriga.
- Só vou parar quando você sair da cama.
Eu só ria e dizia que não com dificuldade.
- Então, aguenta firme.
- Não, não, não é justo, me deixa dormir e seguia rindo até que Paula e Marta entraram no quarto.
- Parecem duas crianças. – disse Paula.
- É saudade. – disse Marta.
- Não vai acordar. – dizia o Tiago, meu estomago já estava doendo de tanto rir.
- Está bem, eu vou levantar.
- Então levanta. – disse ele saindo de cima de mim.
- Me deixa ficar só mais um pouquinho e virei pro canto.
- Nem pensar, levanta ou vou começar novamente.
Não teve jeito, tive que levantar. Fui para o banheiro, tomei um banho e quando saí encontrei ele, Paula e Marta numa rodada de café.
- Oba! Tem cafezinho pra mim?
- Não era pra ter, você é muito preguiçoso.
- Mano, tenho uma novidade pra te contar.
- Que novidade?
- Comprei uma moto.
- Sério isso?
- É sério, depois vamos dar uma volta pra você conhecer.
- Vamos assim que acabar o café.
Depois que terminamos de tomar café, Tiago e eu saímos pela cidade, falei pra ele que Marta havia me dado o dinheiro da venda da moto do João e o restante eu financiei.
Após o almoço Tiago e Paula foram procurar por Aline e eu fiquei. Não queria encontrar com ela sem primeiro conversarmos.
Por volta das 19:00 Rafael e Letícia vieram me pegar para ir a festa de aniversário do meu tio, combinamos de ir no carro dela já que éramos três.
Chegamos ao salão de festas do prédio onde meus tios moravam e senti um arrepio pelo corpo. Eu sabia que passaria por momentos difíceis na festa e realmente foram. Ao entrar no recinto, a primeira pessoa que encontrei foi Aline.
Embora ultimamente ela tentasse uma reaproximação eu não me sentia a vontade perto dela, éramos irmãos, mas pra mim ela era uma estranha, não sabia até que ponto estava sendo sincera.
Ela estava com Ruan no colo e Sabrina sentada ao seu lado em uma das mesas logo na entrada do salão.
Assim que me viu ela me chamou.
- Oi Sandro, vem aqui.
Olhei para o Rafael e Letícia e fomos.
- Sentem-se comigo e me fazem companhia.
Rafael olhou pra mim e meio a contragosto sentou-se à mesa. Letícia foi logo brincar com Ruan, Sabrina ficou me olhando, fazia muito tempo que não via minha afilhada tanto que ela nem me reconheceu.
- Sabrina, dê um abraço no seu dindo. – disse Aline de forma compreensiva, nem parecia à mesma que eu já havia acostumado a receber ofensas.
Ela levantou da cadeira e muito envergonhada veio ao meu encontro e me abraçou. Sabrina tinha os traços do Roger e o jeito de Aline, era a prova de que realmente ele se tornou quase inatingível pra mim e a confirmação disso tudo era o Ruan, tão pequenino, não sabia nem da metade de nossos dramas familiares.
Por um instante Aline me tirou de meus devaneios e me fez prestar atenção ao que estava acontecendo.
- Você ficou de me procurar e não foi, estou esperando.
- Eu não tive tempo.
- Sente-se, em pé você não vai crescer mais. - disse ela brincando e mais uma vez eu me surpreendi.
- Vou dar uma volta, quero dar um abraço no meu tio.
- Vai lá e depois volte pra nos fazer companhia.
Saí andando pela festa até que encontrei meu tio conversando com Tiago e o Paulo. Fui até ele dei um abraço e o felicitei pelo aniversário. Somente nesse momento observei Juliano conversando com Giovane e Laura. No grupo deles tinham duas garotas, uma delas eu vi numa foto dele no face em que estavam Giovane, Laura, Junior, ele e essa garota, lembrei perfeitamente da postagem, ele colocou uma referência a família quando estavam na praia e a outra menina eu vi na festa da faculdade. No dia não lembrei quem era, mas diante dela percebi que era a mesma que comentava as postagens de Juliano rasgando elogios.
Eu senti que naquele momento deveria me aproximar e cumprimentá-lo. Criei coragem e fui até o grupo deles, cumprimentei Laura e Giovane, enquanto ele ficou apenas me observava sem falar nada.
- Sandrinho, é você mesmo? – alguém falou atrás de mim, virei para ver quem era e Junior me abraçou.
- Oi Junior eu nem sabia que você estava no Brasil?
- Estou de férias, mas semana que vem tenho que retornar.
- Bom que a gente se encontrou, estava com saudades de você.
- Deixa eu te apresentar minha namorada.
Ele pegou a mão da garota que tinha visto na foto de Juliano e me apresentou, ela era uma loira bonita, estatura mediana, combinava com o Junior, gostei dela, me pareceu bem simpática embora falasse português todo enrolado dava pra definir o que ela dizia.
- Bem que nós tínhamos razão.
Ele apenas sorriu deve ter lembrado quando comentamos que se casaria com uma Canadense e não voltaria mais ao Brasil.
- Brasil, só a passeio. – disse rindo.
- Quem diria.
- As pessoas mudam Sandrinho.
- É verdade, se eu pudesse mudaria muita coisa que deixei de fazer.
- Oh, mas nunca é tarde pra começar.
Juliano apenas me olhava o tempo todo como se não tivesse acreditando que eu estava ali, fiquei uma pilha de nervos, mas não tinha como voltar atrás e o cumprimentei.
- Oi Juliano, tudo bem com você?
- Já estive melhor, ele falou seco e eu fiquei com vontade de sumir dali, mas já sabia que a reação dele seria essa.
Depois desse fora, cumprimentei a outra garota, não fiquei sabendo quem era. Fiquei tão desorientado que tratei de sair de perto do grupo deles.
Voltei pra mesa com Aline, Rafael e Letícia, mas na verdade já estava louco por voltar pra casa.
Rafael percebeu que eu não estava bem e discretamente perguntou o que tinha, convidei-o para dar uma volta e saímos em direção ao play.
- Viu o Juliano?
- Vi.
- Falou com ele?
- Falei, mas foi como se não tivesse falado.
- O que aconteceu?
- Ele foi grosseiro comigo.
- O que ele disse?
- Nada, apenas falou que já esteve melhor, mas entendo a reação dele, acho que se fosse eu também faria o mesmo.
Ficamos um bom tempo conversando sobre a vida e algumas situações inusitadas as quais passamos e muitas vezes nem nos damos conta.
- Já está melhor?
- Já.
- Então vamos voltar pra festa.
Voltamos pra mesa enquanto Aline conversava com Letícia e logo Rafael se entrosou na conversa. Em alguns momentos acho que até falaram comigo, mas eu não prestei atenção, fiquei pensando numa forma de conversar de maneira civilizada com Juliano.
A garota que cumprimentei sem saber quem era não saia do lado dele, será que era namorada dele? Se não era, estava a fim, se bem que pelas mensagens no face me pareceu ser apenas amiga.
Fiquei indeciso se tentava ou não me reaproximar dele e se os dois fossem namorados? Foda-se não estou nem ai pra ela.
Levantei-me da mesa e pedi licença para me retirar. Fui dar uma volta pelo salão, minha tia disse que era uma reunião familiar, mas tinham outras pessoas convidadas como colegas de trabalho do meu tio e alguns amigos deles.
Fui até a mesa de Tiago e fiquei conversando com ele e Paula que estavam acompanhados de Paulo, desde minha aproximação com Diego eu evitava falar com ele. Lembro que em alguns momentos jogou-me indiretas dando a entender que sabia do meu envolvimento com Roger.
A mesa de Tiago era próxima de onde estava sentado o grupo de Juliano, dali ficava mais fácil de encará-lo. Eu nem sabia por que estava agindo daquela forma, mas por diversas vezes ele me flagrou o observando.
Eu tinha que conversar com ele naquela noite de qualquer jeito, principalmente depois da forma como me tratou.
Fiquei ali esperando até ter uma oportunidade, assim que ele saísse da mesa eu iria atrás dele não importava onde fosse. E foi o que aconteceu. Num determinado momento ele se levantou e saiu em direção ao estacionamento, não entendi, ele ia sair da festa, será que era porque eu estava o encarando direto?
Quando eu vi que ia sair, chamei por ele que ficou me olhando de dentro do carro.
- Posso falar com você?
- Eu preciso sair.
- Não vou tomar o seu tempo, é rápido.
- Vou buscar a Rosane, ela está me esperando.
- Posso ir com você?
Ele ficou me olhando até que depois de alguns segundos, falou.
- Entra.
Bom, pelo menos dessa vez ele não foi grosseiro já era uma vitória, pensei assim que entrei no carro e deu partida.
- Eu acho que o primeiro impacto do nosso encontro não foi dos melhores. – falei quebrando o silêncio.
- O que você quer comigo?
- Conversar civilizadamente, você foi grosseiro quando eu te cumprimentei.
- Não foi essa a minha intenção.
- Você teve razão em me tratar daquele jeito.
- Eu peço desculpas, não costumo tratar as pessoas assim.
- Foi um pouquinho de acidez, mas tudo bem.
Tentei brincar com ele pra ver se quebrava o gelo, mas Juliano continuava firme, sério e de poucas palavras, apenas prestava atenção no trânsito.
Em seus olhos havia tristeza, mágoa, era visível em sua fisionomia embora pra mim ele continuasse lindo como sempre foi.
- Quando você volta?
- Eu não vou voltar.
- E o namorado, porque não veio na festa?
- Eu não tenho namorado.
Ele permaneceu inerte, era como se escolhesse cada palavra que fosse dizer.
Você não viajou pra viver com ele?
- O João faleceu.
- Desculpe, eu não sabia.
- Foi num assalto em setembro do ano passado.
- Eu sinto muito.
- Agora que você já sabe o que aconteceu será que podemos conversar?
- Eu não sei se vai mudar alguma coisa, mas pode falar, fiquei curioso pra saber o que você tem a me dizer.
- Eu imaginei que essa conversa poderia ser difícil, mas não imaginava que seria tão complicada.
- Eu também não imaginava que conseguiria por uma pedra no passado, demorei muito, mas estou conseguindo.
- É assim que você pensa de tudo?
- Tudo o que? – pela primeira vez ele olhou pra mim, rapidamente, mas olhou.
- Sobre o que vivemos. – ele sorriu.
- Eu sempre estive em segundo, terceiro, quarto plano em sua vida, fui o estepe pras horas vagas.
- Não foi assim.
- Como você acha que eu fiquei quando saiu a viver sua aventura romântica em outro país? Você não sabe o que passei e pra mim foi pra sempre. Se o assunto que você quer comigo é esse, perdeu seu tempo.
Ele chegou ao prédio em que a irmã dele morava, desceu do carro e foi atrás dela, eu me senti tão mal com tudo que ele falou que resolvi voltar pra casa. Dali mesmo eu peguei um táxi para o meu apartamento.
Voltei pra casa mais cedo, Marta levou um susto quando me viu, queria saber o que tinha acontecido, mas eu apenas disse que gostaria ficar sozinho e fui para o meu quarto.
Fiquei pensando em tudo que aconteceu, precisava agir com cautela, tinha dado o primeiro passo e agora não ia desistir.
Passei o domingo em casa estudando, Rafael me ligou pra saber o que houve, mas eu não estava a fim de falar, queria ficar curtir meu momento de reflexão sozinho e ele entendeu.
No início da semana comecei a trabalhar, foi bom porque me desliguei um pouco do fora que levei do Juliano.
Passou alguns dias e eu continuava na rotina, casa, faculdade e trabalho. No serviço o ritmo da jornada era intenso, estava aprendendo e quando a gente aprende pouco acrescenta ao patrão, mas o cansaço e a dedicação são maiores e muito desgastante além do medo de não passar na experiência. Eu procurava fazer tudo para que no final dos noventa dias fosse contratado, era minha chance de ouro para o futuro profissional.
Neste período Marta conseguiu se organizar. Comprou um apartamento e também montou uma loja no shopping, ela me avisou que estava de mudança e ia começar a trabalhar. Fiquei triste, pois já tinha me ambientado com a companhia dela que de certa forma preenchia a carência pela ausência da minha mãe. Em alguns momentos eu a encarava como minha verdadeira mãe embora soubesse que ela tinha sua vida e sua rotina.
Nestes dias de confinamento comigo mesmo, planejei me aproximar do Juliano, mas nunca passou de planos, quando chegava na hora de por meu plano em ação eu lembrava de suas duras palavras e voltava atrás por falta de coragem.
Durante a semana Rafael me ligou pra confirmar a rodada de pizza com os amigos. Combinamos para o sábado, a galera da republica estaria presente. Aproveitei e convidei a Sandra que estava de namorico com o Christian desde a festa da faculdade, chamei também Marta e Breno, ela ainda tentou arranjar uma desculpa que não tinha mais idade, o mesmo bla, bla, bla de sempre, mesmo assim a convenci a sair conosco.
Na sexta-feira depois de um dia intenso de aprendizado no serviço lembrei que precisava fazer um trabalho na faculdade, mesmo cansado marquei com os colegas de nos encontrarmos na biblioteca do campus. A sorte que foi rápido e por volta das 21:00 estávamos liberados. Na saída pensei em fazer mais uma tentativa de me aproximar do Juliano, neste horário com certeza ele estaria na academia, assim uniria o útil ao agradável. Faria uma visita ao Breno, mataria a saudade dos meus ex-colegas e forçaria um encontro com ele.
Fui até a academia e por sorte o avistei fazendo musculação. De onde eu estava conseguia vê-lo nos aparelhos, mas ele não me via. Hoje tem que dar certo, pensei enquanto o observava.
Não acredito você aqui?
- Poliana, saudades!
- Como você some e não dá notícias?
- Eu falo com Breno quase todo dia.
- Eu sei, ele anda muito amiguinho da sua amiga.
- Que maldade, ele vai ao meu apartamento pra me ver e em consequência fala com a Marta.
- Sei.
- O que você sabe que eu não sei?
- Eu não sei de nada. – disse ela rindo.
- E você, sempre solteira, porque não dá em cima do chefe.
- Está louco, sem massa no cérebro?
- O Breno é um bom partido.
- Não, muito obrigado, o homem que eu quero ainda está por nascer.
- E como é esse homem?
- Tem que fazer todo trabalho de casa, cuidar do cachorro, do gato, dos filhos.
- E você?
- Eu trabalho e sustento a casa.
- Inversão de papéis.
- Por isso não dou certo com ninguém, qual homem vai querer esse papel.
- Você não existe e o Edu?
- O que tem ele?
- É um partidasso.
- Ehh... Você é ruim de percepção.
- Eu o acho bonito, solteiro, um gatão.
- Quem é gatão? – disse o Edu atrás de nós e eu quase desmaiei de vergonha, Poliana caiu na risada.
- Oi Edu tudo bem?
- Tudo bem e aí, quem é o gatão?
- O Sandro acabou de afirmar que você é um gatão.
- Eu? Deixa de ser metida, Poliana.
- Foi uma piada, né? – perguntou Edu desconfiado e Poliana mais uma vez caiu na risada.
- Posso saber o que os três estão de segredinhos aqui na recepção. – disse o Breno assim que se aproximou.
- Sandro e Poliana estão me chamando de gatão. Pode isso, Breno?
- É verdade Poli?
- Eu não! Foi o Sandro. – Breno olhou pra mim.
- Isso é verdade?
- É verdade, disse que ele era um ótimo partido pra Poliana. – disse rindo.
- É... Você está certo. – Breno concordou enquanto analisava Poliana da cabeça aos pés.
- E alguém perguntou se estou interessado? – disse Edu, ele estava sério acho que não gostou da brincadeira.
- Ehh qual é Edu, Poli é linda, qualquer homem gostaria de casar com ela.
- Alto lá, não estou procurando marido, minha vida está muito bem como está, sou bem casada com minha liberdade e não a deixo por pouca coisa.
- Pouca coisa? – disse o Edu.
A brincadeira virou palhaçada até o Breno que era um cara sério durante o horário de trabalho participou.
Foi bom, estava com saudade deles e muitas vezes senti falta de meus ex-colegas de trabalho, passei momentos agradáveis na companhia deles, a turma era divertida.
Fiquei conversando com Poliana e Breno até que finalmente Juliano saiu da musculação, me despedi deles rapidamente, fui atrás dele e chamei.
- Juliano?
Ele olhou pra trás como se não tivesse acreditando.
- Será que podemos conversar?
Ele seguiu andando e não disse nada, foi então que fiz mais uma tentativa.
- Eu vim fazer uma visita pra galera, vi você nos aparelhos e pensei, porque não conversar com ele?
Ele me olhou e eu gelei achei que daria uma resposta grosseira, mas dessa vez me surpreendeu.
- Estou suado, preciso tomar um banho.
- Eu espero.
- Estou cansado, tive um dia intenso na faculdade.
- Eu também trabalhei, já fiz um trabalho na faculdade e estou aqui disposto a abrir meu coração. Você não vai se arrepender de conversar comigo
Ele pensou um pouco, passou a toalha no rosto suado e disse:
- Então vamos.
Uau eu consegui, pensei enquanto o acompanhava até o estacionamento, no caminho tentei melhorar o clima que era tenso.
- Posso esperar no seu apartamento?
- Por mim tudo bem.
Chegamos onde o carro dele estava estacionado e ele desligou o alarme e destravou as portas.
- Eu vou de moto.
- Você comprou moto?
- Comprei, é chato depender de ônibus.
- Então depois podemos sair na sua moto, será que você é bom motorista? – ele me encarou e lançou um olhar que me desarmou na hora.
- Acho que sim, tem que experimentar pra ver.
Ele sorriu e entrou no carro. O deixei sair e fui atrás dele, fiquei feliz, tinha certeza que naquele dia nos aproximaríamos novamente.
Fomos para o apartamento dele, era o mesmo do nosso último encontro.
- Entra. – disse ele ao abrir a porta.
- Obrigado!
- Fique a vontade, vou tomar um banho.
Ele saiu em direção ao quarto, só escutei o barulho da porta se fechando até ali éramos como dois estranhos que estavam se conhecendo.
Enquanto ele tomava banho fiquei olhando cada centímetro daquela sala, estava bem diferente da última vez que estive ali, já estava mobiliado, com poucos móveis. Ele não gostava de muita mobília, já era assim no seu outro apartamento.
Na sala tinha uma tv presa numa parede decorada com filetes de pedra. Com as luzes acesas criava um ambiente bem aconchegante e fazia uma linda combinação. Um sofá que dependendo da posição virava uma cama, um quadro grande na outra parede que semelhava a uma cabeça em forma humana, uma estante com alguns enfeites ligados a área medica, um globo em uma extremidade e um esqueleto pequeno em outra, dava pra ver bem que ele gostava de coisas exóticas.
Na sala também tinha uma mesa grande com cadeiras estofadas, achei lindo combinava com o ambiente. Um jantar romântico naquele ambiente faria sucesso com certeza.
Eu estava distraído mexendo no globo e viajando em meus pensamentos e quando vi ele estava atrás de mim, já havia tomado banho e trocado de roupa.
- Vamos?
- Se você quiser podemos conversar aqui.
- Prefiro sair, quero ver se você é bom motorista. – disse rindo.
- Gostei da sua decoração.
- Tem gente que não gosta.
- Eu gosto.
Ele apenas sorriu e não disse nada. Juliano gostava de surpreender, jamais poderia esperar a mesma reação dele. Se num dia era explosivo em outro era o cara compreensivo. Essa mudança de comportamento me deixava inseguro e ao mesmo tempo me desafiava. Era isso me amarrava a ele, gostava desse jogo e agora mais do que nunca eu iria até o fim.
- Vamos então?
- Pra onde você vai me levar?
- Que tal meu apartamento?
- Vamos ao shopping ou a um barzinho.
- Tudo bem. – concordei, eu havia me empolgado, mas ele me cortou, mesmo assim não desanimei.
- Acho que nesse horário é melhor um barzinho.
- Tem preferência por algum?
- Vamos ao Gerard, lá eu me sinto em casa, sabe onde é?
- Já estive lá com você.
- Você ainda lembra?
- De tudo o que vivemos.
Ele sorriu, pegou o capacete e subiu na moto e segurou-se atrás. Fiquei um pouco frustrado, porém eu já tinha percebido que para conquistá-lo teria que ir com calma.
- Pronto?
- Depende.
Eu virei o máximo que pude, vi seu sorriso e pensei ou ele está jogando comigo pra ver até onde vou ou está me testando pra depois me jogar na cara que não servo pra ele. Retribui o sorriso e dei partida.
Logo depois que saímos, ele segurou em mim, fiquei satisfeito. Não era do jeito que eu gostaria, pois ele apenas apoiou suas mãos em minha cintura, mas já era um avanço.
- Corre mais um pouquinho. – ele disse com seu corpo bem próximo ao meu.
- Então se segura.
Ele segurou mais forte na minha cintura e apertou, acelerei a moto e aos poucos Juliano foi se ajeitando. No inicio ele estava tenso, não deveria estar sendo fácil voltar a ceder a vontade do coração novamente. A sensação que eu tinha era que estávamos evoluindo pra algo mais apesar dele ser um cara complicado.
- Que maravilha, parece que estamos voando.
- Estou na velocidade permitida.
- Eu sei, mas a sensação é maravilhosa.
- Se você quiser, posso te dar carona todo dia.
Ele não me respondeu, toda vez que tentava ir além ele voltava atrás ou se calava.
- Vai mais devagar.
- Agora?
- Agora!
Não entendi o que aconteceu, será que falei demais? Diminui a velocidade e ele se apoiou em mim e abriu os braços.
- Está maluco?
- Que maravilha essa sensação de liberdade.
- Você é doido, eu vou tomar uma multa.
- Vai não, eu sempre sonhei em fazer isso se tivesse oportunidade.
Apenas sorri ele parecia uma criança fazendo bagunça, depois voltou ao normal e seguimos para o bar.
Chegamos ao bar, ele desceu e tirou o capacete enquanto estacionei a moto.
- Gostou do passeio?
- Fazia tempo que eu não me divertia tanto assim.
- Que bom, eu quero que você se divirta sempre que estiver comigo.
Ele não disse nada, apenas me ajudou a guardar o capacete no compartimento da moto e depois ajeitou o cabelo no espelho, fiquei olhando e admirando sua vaidade.
Entramos no bar estava quase lotado, sentamos numa mesa ao fundo e logo veio um garçom nos atender.
Pedimos um coquetel de frutas e petiscos de batatas fritas, eu estava guiando e ele me acompanhou.
- Ainda bem que você foi à academia. – brinquei com ele.
- Pois é me matei na musculação e agora vou recuperar o que perdi.
- Não dá nada, você não precisa disso.
Os olhos dele brilhavam, Juliano estava diferente ou eu o via de outra forma, mais descolado, havia mudado totalmente o visual. Por alguns minutos imaginei como nossa noite poderia terminar de forma agradável. Foi um sonho de momento e acordei quando ele foi direto ao ponto e me surpreendeu.
Você disse que queria falar comigo, estamos aqui.
- Direto assim?
- Somos adultos, acho que não precisamos ficar fazendo rodeios pra falar um com outro.
- Você tem razão, é que em minha última tentativa as coisas tomaram um rumo que eu não queria.
- Fui estúpido naquele dia, por isso decidi ter essa conversa com você, me desculpe mais uma vez.
- Não é necessário, você foi pego de surpresa e também não estou te cobrando nada. Hoje, por exemplo, nosso encontro começou de maneira tão agradável que eu tenho receio de estragar tudo.
- Então vamos ser diretos, pra mim não ficou claro, porque você voltou?
- Enquanto estive com o João eu me adaptei bem, a companhia dele me fazia suportar a saudade dos amigos e principalmente do Tiago, mas depois que fiquei sozinho, me perdi. Mesmo assim, tentei investir minha vida longe de tudo, mas depois pensei melhor e resolvi atender ao convite de Marta.
- Então você não voltou por vontade própria?
- Voltei sim, a Marta só me incentivou.
- E porque demorou tanto a me procurar? Passou um ano e você só me encontrou no aniversário do seu tio porque estava toda a família reunida.
- Depois da morte do João pensei em te procurar, até entrei algumas vezes em seu face, pensei em escrever algo, mas não tive coragem, temia por saber que você estava magoado e também tinha duvidas se estava com Augusto.
- Eu só fiquei com ele porque você nunca esqueceu o Roger.
- Você está equivocado em relação ao Roger, eu não sou inimigo dele e nunca vou deixar de falar com ele.
- Vocês já estiveram juntos depois que voltou?
- Já, ele me procurou e conversamos como dois bons amigos.
- E ele se contentou com isso?
- Não sei, mas eu fiquei feliz como ficou e é isso que interessa pra mim.
Você me procurou porque se decepcionou com Roger e perdeu o namorado.
- Não... Você está enganado!
- Eu tenho certeza que se ele se estivesse vivo vocês estariam juntos até hoje.
- Talvez, se o passado não viesse me cobrar essa dívida. Desculpe, mas eu não sinto que seja carência.
- Você estava bem decidido quando saiu daqui e de repente volta como se nada tivesse acontecido, é difícil de entender.
- Estava muito magoado, cansado das pessoas brincarem com meus sentimentos, talvez até por ser jovem demais e nesse ponto João foi à pessoa que mais me valorizou como namorado, amigo, companheiro, ele foi especial pra mim.
- Você quer dizer que eu falhei?
- Estou sendo sincero e abrindo meu coração, naquele dia em que peguei Augusto em seu apartamento eu me senti um lixo.
- Várias vezes eu me senti assim, principalmente quando você se encontrava com Roger sem me falar.
- Eu encontrei com ele sim, mas sempre te respeitei.
- Acontece que eu sou um ser humano passível de erros e não foi fácil conviver com o fantasma dele me rondando o tempo inteiro.
- Eu sempre fui honesto com você, porque não me falou de seus problemas?
- Você não entenderia e ainda me acusaria de ser ciumento e possessivo.
- A verdade é que você sempre me tratou como um garoto que não tinha vontade própria.
- Foi complicado, pois eu sabia gostava dele. Mesmo assim tentei, mas teve um momento que cansei e cometi a besteira de me envolver com Augusto.
- Tinha tanto cara pra você se envolver, porque ele?
- Porque se fosse com outros não faria diferença pra você e o Augusto eu sabia do seu medo e o perigo que ele representava, mas deu tudo errado, logo percebi o erro e me afastei, porém você se envolveu com o João e ele sim fez o que eu deveria ter feito.
Vamos esquecer o que passou.
- Você diz isso como se apagasse uma lâmpada e a acendesse novamente.
- Eu sei que não é assim, pra mim também não está sendo fácil, ainda me sinto muito ligado ao João, mas eu não posso viver de algo que já passou.
- E ai você se lembrou de mim, sua última opção.
- Com todos os meus medos e receios eu fui até a faculdade encontrar com você.
- Na faculdade?
- Sim, eu fui atrás de você, mas não tive coragem de me aproximar.
- Acho que pela primeira vez na vida, estamos sendo franco e honesto um com o outro.
- Nesse ano em que eu estive na Argentina pensei em tudo que conversamos no nosso último encontro, entendi muitas coisas que você tentou me passar e não valorizei.
- E só um ano depois você entendeu?
- Demorei e ainda bem que entendi e penso que se você estiver a fim podemos nos dar outra oportunidade.
- Você me pegou de surpresa e também não é bem assim, minha vida estava tomando um rumo totalmente diferente.
- Pois eu não penso em outra coisa senão tentar me aproximar de você novamente.
- Eu conheci uma pessoa e tem sido legal pra mim.
- É aquela garota que eu vi na casa da tia Joana?
- A Fabiana é amiga de Laura.
- Eu tenho uma visão de águia, é difícil me enganar com uma pessoa.
- Nós já ficamos algumas vezes, mas nada a sério.
- Isso quer dizer que você está com outro cara?
- O conheci no final do ano passado.
- Ele não foi à festa da tia Joana?
- Faz pouco tempo que estamos saindo, achou que seria muito cedo pra se aproximar de minha família.
Foi um banho de água fria que eu não esperava, na verdade essa ideia até me passou pela cabeça, mas me recusei em acreditar.
Você gosta dele?
- Eu não sei mais nada, você chegou e bagunçou tudo.
- Se ficou em duvida é sinal que eu tenho chances.
- É difícil acreditar que você mudou tanto assim, eu te dei todas as chances e nunca tive um retorno que realmente valesse a pena.
- Eu entendo e por isso estou disposto a ir com calma, quero que você volte a confiar em mim como antes.
- Você me chamou de traidor, sabe o que isso representa?
- Chamei, porque eu me senti enganado bem no período que estava começando a gostar de você.
- Traidor pra mim é alguém sem escrúpulos.
- Falei isso no calor da discussão.
- Me magoou muito, mas não vou discutir com você coisas que já passaram e não valem à pena.
- Não há nada que não podemos consertar, por isso estou aqui, admito meus erros e estou disposto a consertá-los.
Ele ficou me olhando como se tivesse me analisando se realmente eu estava sendo sincero.
-Eu preciso voltar, amanhã terei um dia intenso na faculdade.
- Em sábado?
- Aula de laboratório e sem folga. – disse rindo.
O deixei em casa, mas saí com a sensação que marquei bobeira, as palavras dele não me saíam do pensamento “eu te dei todas as chances e nunca tive um retorno que realmente valesse à pena”.
- Então é isso que ele quer, é isso que ele vai ter.
Era minha chance e talvez nem tivesse outra, dei meia volta e voltei em direção ao apartamento dele, o porteiro mal me anunciou e já fui entrando rumo ao elevador.
Toquei a campainha e logo ele atendeu ainda estava com a mesma roupa que havia saído comigo.
- Aconteceu alguma coisa? Nem acreditei, o porteiro disse que você estava querendo subir.
- Eu não poderia ir sem antes fazer algo muito importante e que poderá mudar tudo daqui pra frente.
Não dei nem tempo pra ele pensar, aproximei dele, o abracei forte e o beijei. Exatamente como fez comigo na praia, peguei-o totalmente de surpresa. Ele não me impediu, pelo contrário correspondeu e só me afastei quando senti que havia caído em si e ia me afastar.
- Estou retribuindo o beijo que você me deu na praia, agora estamos quites.
- Sandro...
- Não precisa dizer nada, apenas ouça e pense em tudo que vou dizer. Eu não vou desistir. Amanhã à noite eu tenho uma pizzaria com os amigos e gostaria muito que você fosse. - Você tem meu telefone, é o mesmo, vou ficar esperando.
Ele ficou pensativo, sem reação, na verdade não esperava pelo beijo. Saí do apartamento convicto que o deixei balançado ou mais dividido do que já estava.