Depois daquele desabafo cheio de raiva, Andressa me olhou e disse que eu não era assim, que eu só estava com muita raiva, mas que no fundo não era do tipo de pessoa que guarda ódio. No fundo, ela tinha razão; eu realmente não era assim, mas naquele momento a raiva era intensa. O pior de tudo é que voltei à estaca zero, já que minhas duas suspeitas pareciam ter um romance entre elas e não com meu futuro ex-marido.
Bateu um desânimo naquele momento. Olhei para as duas lindas mulheres à minha frente e percebi que tinha atrapalhado a transa delas. Falei que precisava ir para casa, que já tinha incomodado o suficiente, e que iria pagar a Fernanda pelos prejuízos que causei, só não tinha dinheiro vivo ali na hora. Fernanda disse que não precisava pagar nada e que eu não estava incomodando. Andressa perguntou o que eu ia fazer em casa, e eu respondi que tentaria esfriar a cabeça um pouco e, quem sabe, até dormir, mas achava meio difícil, já que tinha dormido a tarde toda.
Ela então sugeriu que eu ficasse mais um pouco para a gente conversar e se distrair. Achei melhor não, mas quando me levantei, Fernanda pediu, por favor, para eu ficar, dizendo que ainda tinha uma garrafa de vinho e algumas cervejas na geladeira. Poderíamos beber e bater um papo. Eu disse que a proposta era muito boa, mas que não queria atrapalhar as duas. Andressa começou a rir e disse que eu não iria atrapalhar, que ela já estava ali há um bom tempo e, quando cheguei, elas estavam quase terminando o que estavam fazendo. Ri do jeito que ela falou e disse que não precisava ficar de frescura comigo, porque eu realmente não era assim, ainda mais se tratando desse assunto.
Fernanda perguntou se eu não tinha problema por elas serem lésbicas. Eu disse que não tinha problema algum e, na verdade, se estivesse solteira e elas também, eu ficaria fácil com qualquer uma das duas, já que eram lindas e muito interessantes. Andressa provavelmente já desconfiava que eu era bissexual, pois estava perto da minha família desde criança; alguém provavelmente já tinha comentado com ela. Fernanda abriu um sorriso enorme, acho que gostou de saber que eu curtia mulheres.
Andressa disse que já tinha ouvido falar nos cantos da mansão do meu pai que eu e a Gabi tínhamos um caso amoroso. Eu disse a ela que isso era uma grande mentira, que já tinha ido para a cama com a Gabi, mas que ela sempre foi só minha amiga. Nunca teve esse lance de caso amoroso; o amor que tínhamos era de uma amizade incrível que construímos ao longo dos anos.
Ela disse que já tinha imaginado isso, até porque via o jeito que eu tratava a Gabi e o Hugo; não fazia muito sentido eu e a Gabi termos dito que tínhamos um caso amoroso no passado. Eu disse que, na verdade, já tinha ficado com o Hugo também e com os dois juntos, mas foi só sexo. Isso foi antes de eu começar a namorar o Alexandre; depois que o conheci, nunca mais fiquei com ninguém, mesmo antes de termos algo sério.
Fernanda disse que eu a estava surpreendendo com essas novidades, mas que era melhor a gente ir para a cozinha ou para o quarto beber algo e continuar o papo, porque na sala tinha caco de copo para todo lado. Andressa começou a rir e disse que nós três juntas no quarto bebendo não iria prestar, que era melhor a gente ir para a cozinha. Fernanda disse que pelo menos tentou, deu uma gargalhada e seguiu para a cozinha. A ruiva, pelo jeito, estava querendo levar eu e Andressa para a cama juntas, ou talvez fosse só uma brincadeira dela para descontrair. Dei uma olhada na Andressa, só de toalha, andando na minha frente, e pensei que não seria nada mal a ideia da ruiva. Ri de mim mesma em pensamentos; fazia tempo que não me imaginava na cama com outra pessoa além do Alexandre. Provavelmente, no futuro, eu iria querer ter essa conversa de nós três na cama, mas isso ficaria para depois.
Sentamos ao redor da mesa da cozinha. Fernanda pegou uma garrafa de vinho da geladeira, três copos, três latas de cerveja, limão e um saquinho de salgadinho de bacon. Olhei aquilo e me lembrei da época da faculdade, quando eu e a Gabi morávamos sozinhas. Sentei e perguntei à Andressa por que ela não me contou o que estava acontecendo e há quanto tempo aquilo vinha ocorrendo.
Ela disse que iria me contar, que pensou nisso desde a primeira vez que aconteceu, há uns dois meses. Mas ficou com medo de que eu não acreditasse nela, até porque o Alexandre sempre parecia ser um homem correto. Ela disse que aconteceu três vezes. Na primeira, ela estava arrumando o quarto da Dani. Ele entrou e começou com uma conversa estranha, dizendo que ela era linda, que sempre reparou nela, que adoraria sair com ela em sigilo a qualquer hora. No início, ela até achou que era brincadeira dele, porque ele sempre a tratou com respeito. Mas quando viu que era sério, deixou claro que aquilo não iria acontecer, que ele era casado e que ela gostava muito de mim e da Dani. Ela disse que ele insistiu, mas ela saiu do quarto e o deixou falando sozinho.
Depois disso, ela evitava ao máximo ficar em lugares sozinha com ele, mas estava em um dilema: se me contava ou não. Ela achou que aquilo não voltaria a acontecer e decidiu deixar isso para lá. Depois de quase um mês, ela estava lavando a área da piscina quando ele apareceu do nada e tentou agarrá-la por trás. Ela disse que conseguiu escapar dele e foi nesse dia que ele ofereceu dinheiro a ela pela primeira vez. Ela ficou com muito ódio por ele achar que ela estava à venda. O sorriso cínico que ele dava a deixava ainda mais irritada. Ela xingou ele de um monte de coisas e disse que iria me contar tudo, mas ele falou que podia contar, que eu jamais acreditaria e que ainda iria conseguir realizar a fantasia de ter ela para ele.
Ela falou que nesse dia decidiu que iria me contar, mas o que ele disse sobre eu não acreditar era bem possível. Então resolveu não contar antes de arrumar provas. Disse que no dia do vídeo, ela estava saindo da cozinha e viu ele sair do quarto e olhar para ela com aquele sorriso cínico. Ela voltou para a cozinha, pegou o celular, colocou filmando no canto do armário, rezou para ele não ver e para que ele tentasse algo. Ele realmente tentou, e ela conseguiu a prova que queria. Mas mesmo assim, ela disse que ficou com medo de, no fim, sair como errada, de perder o emprego e prejudicar o emprego da mãe dela. Então resolveu abrir o jogo com a Fernanda e acabou descobrindo que ela também estava passando pelo mesmo problema.
Eu disse a ela que deveria ter me contado, que eu acreditaria nela, e mesmo que não acreditasse de cara, eu iria tirar a história a limpo antes de tomar qualquer decisão. Na verdade, eu já estava desconfiada de que algo errado estava acontecendo desde o dia do primeiro coquetel na minha casa. Resolvi contar para as duas a história completa de como começaram minhas desconfianças. Andressa comentou que, no dia em que perguntei se Fernanda tinha perguntado do Alexandre para ela, ficou meio óbvio que eu já estava percebendo que o Alexandre não era mais santo do que aparentava ser. Eu disse a ela que naquele dia mesmo ela poderia ter me contado tudo. Ela disse que realmente pensou nisso, mas faltou coragem.
Eu disse que, na verdade, entendia ela, sabia que aquela situação não era fácil, mas ainda tinha algumas dúvidas. Perguntei a elas como se envolveram, se estavam namorando ou se conhecendo. Andressa riu e disse que eram boas amigas e que provavelmente nunca iria passar disso. Fernanda concordou e disse que, no início, a intenção das duas era só se pegar, mas acabou que virou uma amizade que nasceu meio que do nada. Ela disse que no dia da festa saiu para tomar um ar e logo viu Andressa saindo e acendendo um cigarro. Resolveu fumar um para ver se se acalmava; disse que nunca se viciou, mas desde a faculdade, às vezes fuma um cigarro uma vez ou outra. Ela se aproximou de Andressa e perguntou se podia arrumar um cigarro para ela. Andressa disse que sim, arrumou o cigarro e o isqueiro. As duas ficaram ali conversando e fumando. O cigarro acabou, mas o papo não, e continuaram ali. Fernanda disse que se sentiu bem conversando com Andressa e até esqueceu do Alexandre. Aí foi quando eu apareci e falei com elas um pouco.
Fernanda disse que notou que eu olhava desconfiada para ela e, depois que eu saí, achou que eu poderia estar desconfiada dela ou ter ouvido ela discutir com o Alexandre. Então resolveu ir embora o mais rápido possível. Ela disse que antes de sair pediu o número à Andressa porque gostou da conversa que teve com ela. Além disso, achou Andressa bem bonita e percebeu que ela às vezes dava umas olhadas no decote dela. Achou que poderia rolar algo entre elas ou, pelo menos, uma boa amizade. Depois disso, elas ficaram trocando mensagens, conversaram pelo telefone e as duas já davam umas indiretas uma na outra durante as ligações. Ela disse que tudo estava indo bem até Andressa ligar para ela no domingo quase chorando, pedindo para falar com ela.
Fernanda disse que era melhor Andressa contar essa parte. Andressa concordou e disse que não tinha como não reparar no decote dela. Eu ri e falei que isso era verdade, que até eu tinha reparado. Andressa deu um sorriso e disse que não foi só no decote que reparou. Ela achou Fernanda muito linda, mas não só isso; mesmo sem nunca a conhecer, se sentiu à vontade com ela, o que é raro de acontecer. Geralmente, ela fala pouco, mas com Fernanda o papo fluiu. Quando pediu seu número, não pensou duas vezes antes de passar. Naquela mesma noite, ficaram trocando mensagens até tarde e se falaram por ligação. Ela se sentia bem falando com Fernanda. Como Fernanda mesmo disse, elas estavam meio que se jogando uma para cima da outra. No domingo, depois de tudo que aconteceu, ela estava em casa sem saber o que fazer, meio que desesperada, e acabou chorando de raiva do Alexandre. Precisava desabafar com alguém e, em um momento de desespero, resolveu ligar para Fernanda.
Andressa disse que podia estar fazendo uma besteira enorme, mas resolveu pedir ajuda a Fernanda. Esta pediu para ela ir até seu apartamento, passou o endereço e ela foi. Assim que chegou, Fernanda viu que ela não estava legal, deu um abraço e foram sentar no sofá. Ali, Andressa falou tudo que estava engasgado na garganta. Fernanda deu a maior força e também contou tudo que estava passando. Assim, passaram aquela noite juntas, conversando, uma apoiando a outra e pensando em um jeito de desmascarar o Alexandre, mas sem se ferrar no final.
Andressa me olhou e disse que confiava em mim, achava que só seu vídeo e o que tínhamos para contar era suficiente, mas Fernanda não. Fernanda disse a ela que, às vezes, nem a gente provando as coisas ainda é o suficiente. Aí Fernanda contou a Andressa o que passou na empresa em que trabalhou, e ela realmente achou que talvez o vídeo não fosse suficiente.
Andressa disse que trabalhou na segunda e voltou à noite para o apartamento de Fernanda. Conversaram muito; aquele lance de paquera nem rendeu mais, pois as duas descobriram que eram melhores como amigas. Mas na terça à tarde, Andressa resolveu falar com Fernanda que tinha decidido falar comigo sobre o vídeo e que, depois, Fernanda contaria o lado dela se quisesse.
Fernanda acabou concordando, mas disse para Andressa fazer isso no outro dia. Elas foram beber um vinho para relaxar e, após alguns copos, ficaram mais soltinhas. Andressa meio que deu umas provocadas na Fernanda. Bom, não demorou muito e estavam na cama, mas achava que falava pelas duas: foi só sexo, igual ao que tive com a Gabi.
Fernanda disse que concordava, mas não foi só sexo; foi um sexo muito bom e riu alto. Não sei por que, mas aquela ruiva me pareceu ser bem safada, kkk.
Perguntei à Fernanda se ela podia me contar o que tinha acontecido na empresa em que trabalhou. Deixei claro que, se não quisesse, não precisava, mas eu com certeza iria descobrir, não para usar isso contra ela, mas por curiosidade mesmo. Ela disse que tudo bem, que iria me contar, já que eu contei coisas muito pessoais para ela. Se eu confiei, era justo ela confiar.
Ela disse que sempre quis ser uma executiva daquelas que via nos filmes, linda e poderosa. Era seu sonho desde criança, e esse sonho se tornou uma meta para ela. O tempo passou e ela estava no último ano do curso de administração. Suas notas sempre foram ótimas, mas naquele ano se esforçou ao máximo. Fez um estágio em uma grande empresa de seguros em BH, se formou com mérito na faculdade e foi contratada pela empresa de seguros.
Ela falou que a meta dela era, em no máximo dez anos, chegar até a diretoria e, depois, quem sabe, se tornar vice-presidente ou até presidente da empresa. Sempre sonhou alto e se esforçava ao máximo para conseguir seus objetivos, mas sempre honestamente. Quando completou dois anos na empresa e estava se saindo muito bem, uma das filhas do presidente e diretora da empresa começou a se aproximar dela. A mulher era linda, o tipo de mulher que ela sonhava em ser um dia.
Bom, as duas começaram a ficar mais íntimas. Um dia, a mulher confessou que estava gostando dela. Ela disse que já tinha se encantado, mas a mulher era casada. Conseguiu resistir por uns dois meses, mas acabou se entregando àquela mulher. As duas começaram a ter um caso, e a mulher disse que ia se divorciar do marido no fim do ano. No início, a mulher era muito carinhosa com ela, passava várias noites no apartamento que ela morava. Ela estava totalmente apaixonada por aquela mulher. Isso durou uns três meses, mas depois a mulher começou a ser menos carinhosa, quase não passava as noites com ela, estava cada vez mais fria. Claro que ela percebeu as mudanças, mas resolveu não falar nada com medo de perdê-la.
Mas se passou mais um mês e as coisas pioraram. Ela resolveu dar um basta. Em uma noite em que a mulher apareceu, ela disse que terminava tudo. A mulher simplesmente não deu a mínima, virou as costas e saiu do apartamento, e nunca mais voltou. Ela sofreu muito, mas também não a procurou. Depois de uns 20 dias, estava se arrumando para ir trabalhar quando chamaram na porta. Era a PF. Ela foi algemada e presa, acusada de desviar milhões de reais da empresa.
Ela ficou presa e sendo interrogada durante quinze dias. A polícia tinha uma conta de banco em nome dela que ela nunca tinha visto na vida. Essa conta tinha sido usada para movimentar o dinheiro roubado, tinha várias notas frias com a assinatura dela, mas ela nunca tinha assinado aquelas notas. Tentou explicar várias vezes que aquela conta e a assinatura não eram dela, que não tinha a menor ideia que aquilo ao menos existia. O pior é que a polícia dizia que a conta foi criada e movimentada através do computador dela, que não adiantava ela mentir. Ela entrou em desespero, mas por sorte um dos detetives da PF levou em consideração que ela poderia estar falando a verdade.
Ele resolveu falar com ela e perguntou se não era ela quem poderia ser essa pessoa que tinha acesso aos seus documentos, ao seu computador e tinha até falsificado sua assinatura. Ela disse que só podia ser sua ex-amante e resolveu contar tudo para aquele detetive. Não escondeu nada, e ele poderia ser sua última esperança. E deu certo. O detetive resolveu investigar a fundo e, com a ajuda de um hacker que trabalhava com a PF, descobriu provas suficientes para ligar a mulher ao roubo através da conta bancária dela e do marido. Descobriram também que o tal marido estava envolvido com muita coisa errada. Com isso, conseguiram um mandado de busca e apreensão para ela e o marido. Eles foram presos provisoriamente e a PF pegou tudo que podia ser usado como prova no apartamento deles.
A mulher acabou confessando tudo e jogando a culpa maior para cima do marido. O pai pagou os melhores advogados e ela pegou a pena mínima. Fernanda disse que foi liberada, mas perdeu seu emprego. Nunca ouviu uma desculpa de ninguém, nem de alguém da empresa, muito menos da polícia. Ela falou que ficou muito chateada, arrumou um advogado e processou a empresa e o governo. Para o processo não durar anos, fez um acordo, pegou uma boa grana da empresa, a PF se comprometeu a limpar a ficha criminal dela, e por fim resolveu começar a vida em outro lugar. Com o dinheiro, comprou o apartamento em que estávamos e um carro usado, guardou o pouco que sobrou e foi procurar emprego. O melhor que conseguiu foi de secretária, isso graças à indicação de uma amiga que trabalhava na empresa. Se não fosse essa amiga, provavelmente nem isso conseguiria, já que no currículo dela só tinha um emprego e não dava para pedir referência. O processo dela contra a empresa é de domínio público. Resumindo, no fim, foi ela quem levou a pior.
Fiquei boba com a história dela. A ruiva já tinha passado por situações terríveis na vida. Bom, eu acho que dali para frente eu poderia ajudar ela, e ela também poderia me ajudar. Eu ainda tinha um assunto para resolver: o Alexandre. Esse problema com certeza ia ser mais difícil, mas eu iria descobrir o que ele estava aprontando. Mas naquele momento, eu só queria beber mais vinho e curtir as duas ótimas companhias ali comigo.
Já tinha bebido um pouco e, sinceramente, estava precisando de algo para relaxar. Olhei para as duas ali e dei um sorriso safado, perguntando a Fernanda se a proposta de ir beber no quarto ainda estava de pé. Ela sorriu e disse que com certeza estava. Perguntei a Andressa se ela topava, e ela disse que sempre sonhou em beber comigo em um quarto, mordendo os lábios de um jeito que me excitou muito. Levantei e falei que, por mim, seria ótimo beber com elas no quarto. Fernanda sorriu, levantou e pegou nossas mãos, levando-nos em direção ao seu quarto. O estranho é que nenhuma de nós levou algo para beber, nem ao menos um copo.
Continua…