Não consegui prosseguir e sentei, pus a mão no rosto e comecei a chorar.
Ele sentou ao meu lado, cruzou os braços, encostou-se na cadeira e ficou esperando eu me recompor. Ele estava sendo muito frio.
Depois de tentar enxugar as lágrimas eu recomecei:
- Você pensa que é fácil pra mim? Eu não planejava encontrar alguém como você. Eu decidi pra mim mesmo que nunca assumiria e que nunca me envolveria com homem algum. Você foi o primeiro e eu estava apavorado, eu sempre quis ter o controle sobre o que eu sinto. Durante anos me disse isso e em questão de horas você aparece, rouba um beijo, meu ar, meu fôlego e os meus pensamentos... Você queria me levar pra sua casa e senti perder entre os dedos esse controle. - voltei a chorar. - Bom, é isso, eu sei que eu tinha mais um monte de coisa pra falar, mas não consigo continuar.
Ele não mudou de posição e me olhava com a mesma cara.
Eu me levantei para ir.
- Acho que é tudo.
- Não, espera. – e ele se levanta também. - Olha, eu nunca havia sentido por alguém o que eu sinto por você. Eu sou muito inseguro, não sou de me entregar fácil. Eu quis tanto me doar pra você, eu só via você na minha frente. Mas você tratou com tanto desleixo a minha entrega que eu, bem, eu sei que sou esquentadinho, mas eu também não costumo me entregar assim desse jeito. Das poucas vezes que eu me entreguei a algo, não necessariamente a alguém, eu me dei cento e vinte por cento e mergulho mesmo de cabeça... de forma inconsequente. Foi o que aconteceu hoje, você me deu a chance de te ter e eu quis você mais que tudo. É como uma brasa que me consome, sei lá, eu simplesmente me jogo.
- Mas como você pode sentir o que você sente por mim se mal nos conhecemos?
- Não! É a primeira vez que nos falamos, mas ja tinha visto você; e muito!
- Hã?
- Você ficava com um grupinho de amigos na biblioteca, zoando a gente,
alunos de medicina. A gente ficava vendo vocês lá rindo da nossa cara. A
gente odiava muito vocês, na verdade até hoje, quando a gente senta lá,
quando a gente vê vocês, nossa! Queremos matar vocês, mas eu sempre
ficava olhando pra vocês e quando vocês estavam quietos, estudando, eu ficava te observando e eu via como você era com os seus amigos. Quando alguém tinha sede, você se prontificava pra pegar água, quando alguém tinha fome você logo se oferecia pra ir comprar alguma coisa, você era o centro da mesa e você contava piadas ótimas, dava pra escutar da minha mesa, e quando você estava sozinho eu ficava te admirando, você ficava lendo e mexia no cabelo e ficava todo sério. Eu achava a coisa mais linda! Eu sou apaixonado por você. Eu te admiro tanto, mas você nunca percebeu.
Ele pega o meu celular no bolso dele e me dá.
Eu, ao invés de por no meu bolso, fiquei mexendo nele, sei lá, esperando alguma coisa, mas aí eu sentei.
- Você é assumido?
- Não, mas não porque eu tenha medo, porque não vejo o porquê disso pra mim. Meu pai sabe e é o que importa. – ele falou.
- Eu sempre tive medo de assumir e acho que nunca farei isso.
- Acho que estou começando a te entender.
- É? - ri de alívio - Finalmente alguém me entende...
- Eu posso fazer muito mais do que só te entender.
Ele ficou me olhando com aqueles olhos azuis.
Ele sabia como fazer alguém ficar encabulado.
- Meu plantão acabou, vamos?
- Já? Mas hoje você ficou até sete, oito horas da manhã...
- Eu fiquei por sua causa, garoto. Eu fico de plantão até umas duas, três
horas da manhã. - já era mais ou menos essa hora ali - Estou indo pra casa,
quer carona? - eu sorri.
- Não sei se vou me arrepender disso, mas você sabe bem o que eu quero agora!
- Ele deu um sorriso malicioso - Acho que sim, então vem.
Saímos da sala e fomos pro estacionamento.
Depois que sentamos no carro ele ia me beijar mas...
- Não, é melhor não. Se eu começar eu não vou conseguir para e se eu parar eu infarto aqui mesmo.
- Nada melhor do que infartar na frente de um hospital... – falei rindo.
- Haha, por que não me surpreendo com você?
Ele arrancou e fomos pra casa dele. O hospital ficava na parte alta da
cidade e ele morava perto da praia, na verdade, de vista pro mar.
- Mas, me diz uma coisa: como você é inseguro a se doar pra alguém se você é tão atraente e acredito que ninguém teria coragem de te magoar?
- Eu não fui assim a vida toda; quando eu era adolescente...
- Quantos anos você tem? - eu o interrompi.
- Vinte e três. - ele respondeu.
- A adolescência vai até os vinte e quatro; você ainda é adolescente
- Ok, ok haha; quando eu era pré-adolescente, eu era gordinho, espinhas por todo o rosto, aparelho; tá vendo esse dente aqui? – ele indica com o dedo - Ele era bem tortinho e óculos...
- Espera... você usa óculos? E por que está dirigindo sem eles? Quer nos matar?
- Eu uso lente agora.
- Ah não... vai me dizer que esse azul do seus olhos são de farmácia?
- Não, são lentes transparentes, os olhos são meus, mas estou cansado
deles; você quer? Mas se dizer que sim, vai ter que levar o dono junto.
- E eu é que sou o piadista?
- Ai garoto, você não existe .
Demorou, mas chegamos. Entramos pelo estacionamento, saímos do carro e entramos no elevador.
- Nossa! Último andar... é cobertura?
- É.
- Seus pais...?
- Eles não moram aqui.
- Ah... você mora só?
- Não, eu também não moro aqui.
- Uai! Mas então...
- Eu moro com os meus pais, mas mantenho esse apartamento à parte.
- Há, sei... Isso é um abatedouro.
- Haha, nunca tinha pensado nisso, mas sim, é o meu abatedouro. Mas não se preocupe; faz tanto tempo que ele está desativado... faz tanto
tempo que alguém não me faz um cafuné...
Ele disse isso choramingando; aquele homem alto, robusto, carinha de bebê e corpo de macho... Nossa! Imagina a cena...
- Sei, sei...
Não fizemos nada no elevador. Ele ficou numa ponta, eu em outra. Tá certo que era o último andar, mas parecia que demorava tanto...
Eu estava tremendo, eu queria tanto estar ali, mas ao mesmo tempo, temia pelo o que iria acontecer.
Medo de virgem.
A porta se abriu e só dava acesso a uma outra porta, a do apê dele.
Ele abre a porta, e faz um gesto com a mão como se fosse para eu entrar.
Eu entro, ele fecha a porta. Tudo estava escuro, mas como era vista pro mar e o apê dele tem muitas paredes de vidro, assim como a varanda, a luz da lua invadia a sala e deixava tudo azul marinho.
Ele entra na cozinha e grita de lá:
- Quer alguma coisa pra bebeeeeeeeeeer?
- Nããããooo!
Ele aparece rápido e diz:
- Minha especialidade é sunday, quer?
- Haha... sorvete? Especialidade? Haha... ok, manda...
Ele trouxe duas taças enormes de sorvete de creme e muita calda de
chocolate.
Ele veio até mim, deu na minha mão, eu fiquei de pé e ele sentou no sofá.
- Sabe, eu uso muito esse lugar pra estudar. Faz muito tempo que eu não venho aqui pra fazer qualquer espécie de farra. Fazia muitas festas, mas hoje em dia venho pra fugir de tudo.
Pronto, ele não disse mais nada. Eu também não.
Ele deu algumas colheradas de sorvete e colocou a taça no centro, perto do sofá. Aí, ele ficou me olhando com uma cara séria, não esboçava expressão nenhuma, parecia que me comeria com os olhos.
Eu fiquei surdo, mudo, estátua, quer dizer... eu só tomava sorvete, mas não fiquei cego. Na verdade, essa era a última coisa que eu era naquele momento.
Ele ficou minutos sem se mexer, juro! Ele não fazia nada, nem o rosto mudava.
Fiquei mais tenso e o meu sorvete já estava na metade.
Aí ele, do nada, tira a camisa.
Nossa! Ele era como eu imaginava.
Eu tinha visto ele de camisa branca no dia anterior e todo suado. Deu pra sacar alguma coisa. Ele tem mamilos bem pequenos, mas bem pontudinhos. Aqueles que ficam piscando na camiseta mesmo quando a pessoa não está com frio ou excitado.
Ele tinha o abdômen super definido; tinha aquelas covinhas que me deixam louco; tinha o peito robusto e os braços eram largos e fortes. Dava pra notar que não era bomba.
A diferença entre um bombado e um malhado é que o bombado tem músculos redondos e só estrategicamente localizados; o malhado tem os
músculos mais agressivos e quadrados e tem músculos por todo o corpo.
Ele, além de ter músculos nos cantos estratégicos, tinha músculos
também no antebraço e abaixo dos braços.
Ele simplesmente tirou a camisa e jogou-a no outro sofá. Ficou me olhando do mesmo jeito que antes.
Eu ficava mais nervoso. Meu sunday estava começando a acabar e isso não era bom, porque se ele acabasse, outras coisas começariam a rolar e
ainda estava pensando se eu estava pronto pra isso.
Aí ele começa a tirar o sapato com os pés, tipo, um pé tirando o sapato do outro; fez isso sem mexer um músculo da cintura pra cima. Tirou e continuou me olhando. Parecia que aquilo não acabaria nunca.
Eu estava mais e mais tenso e ele não fazia nada a não ser me olhar.
De repente ele estica os braços na cabeça do sofá e fica lá, largadão. Deu pra ver aqueles músculos que só aparecem quando o cara levanta os braços, abaixo do peito e do braço e deu pra ver também a axila dele. Sou louco por axilas. As dele eram aparadinhas. Gostei!
Meu sorvete acabou e eu fiquei fingindo que ainda tinha mais. Mas a minha farsa não durou muito.
Caraca! Ele não dizia nada, não fazia nada, só sentou e ficou me olhando.
Eu pus a taça no centro e continuei de pé.
Parecia que ele estava esperando eu acabar.
Quando voltei ao lugar onde eu estava ele finalmente - aff - disse alguma coisa:
- Aaaah! Acabou? Tem mais na minha taça, eu nem quero mais, vem pegar!
- Haha... – nervosíssimo - não, obrigado, estou satisfeito!
- Ah, pega aqui vai, tá uma delícia, não se acanhe...
- Juro, eu estou bem.