Paula convidou Sandra para a festa em sua casa. Foi promovida pelo seu filho do meio para anunciar seu noivado.
Sandra sentiu-se honrada ao saber que ela era uma das poucas convidadas que não era da família.
Na festa, ela conversava alegremente com Paula, o filho e a filha caçula. Sandra reparava como os filhos puxaram a mãe. Eles são brincalhões, que nem Paula. Não tem como manter um debate sério por mais de cinco minutos. Logo emendam uma piada e o assunto muda de sentido.
Sandra percebeu uma moça os observando de longe. Era a enigmática Paloma (nome fictício). Ela era avessa a eventos familiares, alegando compromissos escolares ou de trabalho.
Ao contrário dos irmãos, que tinham o temperamento de Paula e os traços físicos do marido, Paloma, 23 anos, tinha a personalidade reservada do pai, mas no físico era idêntica a mãe quando estava na casa dos vinte anos.
Como Paloma não aproximava, a filha caçula foi em direção. Os demais acompanharam. Paloma estava nervosa. Sandra lhe deu um abraço meio forçado pra quebrar o gelo. Assim, ela percebeu algo que a deixou confusa. Os peitos de Paloma estavam duros. Sandra sabe o que isso significa.
Paula e Sandra foram ao shopping. Entre muitas compras, passaram em uma loja de grife.
- Essa bolsa, custa o valor de uma moto! - disse Paula.
- Adorei o casaco, mas é o preço de uma moto também. Porra, não, esse é o preço de cada parcela, e são três "motos" ops, prestações. - surpreendeu-se Sandra.
Na praça de alimentação, pediram chopp.
- Meus filhos estão crescendo. Ele está noivo, a minha caçula também não demora a noivar também. Se por um lado estou feliz por eles estarem fazendo seus caminhos, por outro estou angustiada porque é um sinal de que estou ficando velha. - disse Paula aos risos.
- E a Paloma? - questionou Sandra.
- A minha primogênita. - suspirou Paula. Ela é mais bonita que sua irmã, você não acha?
- Sim, ela parece um clone seu com uma única diferença: ela tem um nariz "normal". - comentou Sandra.
Paula não gostou da observação da amiga. Ela tem um nariz grande e torto que a fez vítima de bullying durante toda adolescência.
- Minha querida Paloma. - disse Paula. Com tanta beleza e inteligência, não consegue manter relacionamento com homem nenhum. Começa um namoro, após um mês ela começa a tratar o cara com frieza e o pior, na maioria das vezes a iniciativa de terminar o relacionamento parte dos pretendentes, coisa que é incomum. Homem não costuma dispensar mulher, ainda mais bonita como minha filha.
Com esse comentário e outros detalhes a respeito de Paloma, Sandra começou a refletir. Agora as reações da jovem faziam todo sentido e suas suspeitas confirmaram-se.
- Amiga, - começou Sandra. Eu acredito que Paloma tem um desejo reprimido. Talvez ela é rígida com si mesma, privando-se de viver novas experiências sem culpa.
- O que você quer dizer? - Paula questionou, visivelmente irritada pela amiga falar da intimidade de seus filhos.
- Que Paloma gosta de mulheres. Mas ela nega a si mesma.
- PQP Sandra! - esbravejou Paula. Você está querendo dizer que eu, como mãe não conheço meus próprios filhos? Você acha que eu não saberia reconhecer se minha filha fosse lésbica?
- Talvez ela não seja sapata. - disse Sandra. Ela pode ser bi. O fato é que ela seria mais feliz se não reprimisse seus sentimentos. Permitisse a si novas descobertas, sem rótulos.
- Agora a "psicóloga" Sandra vai aconselhar minha filha? - ironizou Paula.
- Melhor, vou ficar com ela. - disse Sandra, convicta. Vou mostrá-la que não deve-se censurar seus desejos.
- Essa eu pago, ou melhor "aposto" pra ver. - disse Paula. Minha filha é muito fechada, nem eu consigo entendê-la. Se você conseguir, lhe dou o casaco de grife que está na vitrine.
- Eu lhe dou a bolsa que você gostou. - Declarou Sandra, estendendo a mão para selar o acordo.