O Médico [08] ~ Sogros!

Um conto erótico de BENJAMIM
Categoria: Gay
Contém 2455 palavras
Data: 16/01/2024 12:33:29
Assuntos: Foda, Gay, Primeiro amor, Sexo

Eu estava tenso pela situação, tenso pelos pais dele, tenso pelo tamanho da casa e agora por causa do Senhor dito pela moça.

- Tudo bem?

- Aham!

- Tá; vem cá... - ele me abraça - vai dar tudo certo. Relaxa!

- Tá.

- Meus pais sabem que você não é assumido.

- E o que eles acham?

- Não me disseram nada... ainda.

Ouvimos uma voz dizendo: Seu Henrique, eles tão na sala de visitas.

Henrique me pegou pela mão e fomos em direção a uma porta branca de madeira, que se abria em duas. Meus passos estavam tortos de tanto nervosismo.

Quando as portas se abriram, avistei uma sala grande e luxuosa, poltronas verde-oliva e paredes brancas ou cor champagne. Vi uma mulher sentada numa das poltronas. Ela era loira, cabelo curto e ondulado, magra, bonita e um rosto amigável. Vi um homem sentado na poltrona ao lado. Cabelo preto e curto, alguns fios brancos que denunciavam certa idade, forte, olhos azuis. Azuis como os do Henrique.

Vi o Henrique trinta anos depois.

Sabia agora de onde ele havia herdado os traços europeus da família. A família do pai do Henrique é descendente de ingleses e ainda possuem parentes próximos por lá, como tios do Henrique, primos, avós e até mesmo o irmão. Mas apesar da beleza máscula do sogro, ele me pareceu tenso, impaciente.

Acabou me dando mais medo.

- Pai, mãe, esse é o Benjamim.

- Oi. - nem eu mesmo ouvi o meu cumprimento.

- Então esse é o famoso Benjamim? – falou Dona Edna, a mãe do Henrique.

- Famoso?

- Ah, você nem sabe o quanto - realmente não sei mesmo.

Ela se levantou e me deu dois beijinhos no rosto e tornou a se sentar.

O pai, Henri, ficou me olhando e só se levantou quando...

- Pai, esse é o Benjamim; Benjamim, esse é o meu pai.

- Prazer, Henri. - apertou minha mão. - Sentem-se!

Sentamos um do lado do outro e os dois ficaram nos olhando.

Estava ficando constrangedor. Ninguém iniciava conversa ou puxava papo.

Mas aquele que eu mais temia, parece que tinha ouvido os meus pensamentos.

- Então Benjamim, o Henrique nos disse que você não quer se assumir. – falou o pai.

- Não tenho coragem.

- Você não deve estar muito a vontade aqui.

- Sim, porque vocês - eu deveria ter dito os Senhores, eu pensei - são os pais.

- Os sogros... haha... – a mãe dele falou, dando uma risadinha de leve, pra descontrair.

- Mas você não acha que um dia você vai ter que fazer isso? – perguntou-me o pai dele.

- Espero que esse dia não chegue tão cedo.

- Henrique fala muito de você. Não que ele tenha me dito isso, mas ele fala de um jeito como se quisesse passar o resto da vida com você.

- E quero. - interrompe o pai e faz algo que me fez corar de tanta vergonha: me beija.

- Pois bem, você não acha que já está na hora de ir pensando nisso, Benjamim?

- Eu não sei.

- Quando Henrique nos contou, nós não acreditamos, pensamos que era uma fase, mas com o tempo nós não só começamos a perceber que era definitivo, como também ele nos mostrou que é normal e que é como o sentimento do hétero. Se assim for, você não acha que esse segredo não vai, ou pelo menos não deve durar muito tempo?

- Bem... - Henrique interrompe.

- Mas por isso não tem tanta pressa assim pai, eu sou o primeiro namorado dele, na verdade eu sou o primeiro homem com quem ele já teve contato e antes de mim ele tinha feito uma promessa pra si mesmo de nunca assumir e de nunca se envolver com homem algum. Bem, pelo menos ele já está se encontrando, não há pressa pra assumir.

- Henrique disse que você faz Serviço Social. – a mãe dele falou.

- Pois é. Faço sim, Senhora.

- Eu sou formada em Serviço Social também, mas eu não gostei muito da área e entrei em direito. - ela é advogada hoje.

- Ah sim...

- Mas eu imagino como você deve estar preocupado. - mais uma vez o papo de assumir. - Mas não se preocupe. - nesse momento, a empregada entrava pra deixar uma bandeja. - Ninguém saberá que você é gay. – Foi falando o pai dele.

Eu pensei: Claro que ninguém vai saber. Só eu, o seu filho, a sua esposa, o senhor e a sua empregada.

Pra quem nunca iria assumir, acho que já tem gente demais sabendo, o senhor não acha? Henrique me falou algo sobre outdoor, mas a internet é um bom meio de divulgação em massa hoje em dia.

Mil coisas passavam na minha cabeça.

Será que essa mulher já me viu ou me conhece? Conhece a minha mãe ou um primo meu? Mora no mesmo bairro? Amanhã mesmo nós vamos ser apresentados por algum amigo em comum e ela vai dizer:

Ah, você é o Benjamim, o namorado do filho do meu patrão, lembra de mim?

O resto do papo era só isso que eu dizia: Nossa! Que bom. Também gosto, é, não, obrigado, também gostei...

Fomos almoçar. Os pais do Henrique foram na frente e nós, atrás.

- Tudo bem? – ele cochichou.

- Uhum! – mas ele percebeu que não estava mesmo.

Sentamos e comemos.

Conversamos sobre várias coisas: o clima, política, como tinha sido a viagem, será que a irmã mais nova do Henrique almoçaria em casa.

Os empregados iam e viam. Traziam porções de alguma salada ou sobremesas.

Henrique estava empolgado porque tudo estava dando certo.

Ele ficou tão feliz aquele dia...

Apesar do risco, valeu a pena ter ido. A felicidade dele pra mim não tinha preço e ele nunca esteve tão sorridente.

Eu só não gostava quando ele inventava de me dar selinhos na frente dos pais dele.

Para os pais dele isso era normal, afinal não era a primeira vez que o Henrique trazia um namorado em casa. Mas deu pra perceber, pelo falar da sogra, que eu era o namorado.

Eu gostei muito da minha sogra. Super simpática e atenciosa. Era como uma mãe satisfeita com a escolha do filho. Era como um "Está aprovado para casar!"

E assim foi até umas dezessete horas e logo em seguida nos despedimos, com pendência de outras visitas e o Henrique me levou pra casa.

Quer dizer, me deixou num ponto afastado.

- Estou tão feliz porque você conheceu meus pais!

- Percebi.

- Agora não falta mais nada.

- É?

- É. Eu não posso dizer pra você assumir. O máximo que eu posso fazer é você conhecer os meus pais e isso eu já fiz.

- Hum...

- E você, está feliz?

- Seu pai não pensa como você.

- Ele quer o meu bem, ele não acha saudável essa sua resistência.

- Por que ele não fica no meu lugar?

- Hã?

- Desculpa; não quis ofender. Mas ele falou como se fosse simples, como se fosse assumir que roubou dez reais de alguém.

- Não foi isso que ele quis dizer. Ele só quer que você tenha consciência de que você não deve passar a vida toda se escondendo, isso não é bom.

- Não serei o primeiro e nem o último a fazer isso, além do mais, ele não mostrou muito respeito pela minha decisão. Falou que eu era gay na frente de alguém que eu nem conheço. Alguém que pode conhecer a minha família e eu nem saiba e... – ele me interrompe.

- Quem?

- A moça que trabalha lá.

- A empregada?

- É. Ela mesma.

- Haha... que besteira!

- Besteira porquê? Agora ela sabe que eu sou gay!

- Ela também não vai sair por aí espalhando, não!

- Não faria isso de propósito, mas diria a alguém, como quem não diz nada. E eu pego ônibus... um dia desses eu posso muito bem pegar um ônibus em que ela esteja com uma amiga, aí ela me vê e comenta: olha lá o namorado boiola do filho do meu patrão...

- É melhor a gente parar por aqui, meu pai não fez por mal.

- Eu sei que ele não quer me ferrar, mas ele não mostrou muito respeito, não! Sua mãe foi mais compreensiva.

Silêncio!

Percebi naquele momento que os pais do Henrique eram sagrados pra ele.

Se eu tivesse pais assim, que me compreendessem e me amassem, eles também seriam para mim. Mas eu não era o filho, eu era o genro problemático e mal resolvido.

Nos despedimos com um beijinho e eu segui pra minha casa.

Aquele dia seria o início de uma paranoia maior na minha cabeça. Uma paranoia sobre privacidade que até eu não me suportaria.

Na semana seguinte tudo correu rotineiramente. Aula, trabalhos, bagunça na biblioteca, trabalhos, namoro às escondidas e mais trabalhos. O ano letivo estava acabando e faria onze meses que eu e o Henrique estávamos juntos.

Estava muito perceptível a forma como ele e a família dele davam um jeito de forjar o assunto sair do armário.

Eu nunca me comportei de forma rude ou grosseira, mas a vontade que eu sentia era de falar pra eles tentarem viver com uma família conservadora e religiosa. Tentar viver quase dezoito anos se reprimindo. Tentar viver dezoito anos numa mentira e se acostumar a viver com ela, se acostumar tanto a viver assim que essa mentira virou uma carapaça protetora, algo que faz eu me sentir seguro, afastado do perigo e de repente ver pessoas que não têm ideia do que é viver na minha pele e sentir dedos acusadores provenientes de todos os lados.

Arrisco-me a dizer que nem mesmo o Henrique entendia, apesar de ser gay também.

Pra ele foi fácil e apesar dos pais terem se recusado a acreditar de primeira, deu pra notar que no seio familiar dele era pregada a liberdade, a modernidade europeia.

Poxa!

Vivemos num país, num continente também, latino, super machista; ainda mais no nordeste brasileiro que é super enraizado nas tradições que são subordinadas às religiões.

Não era fácil pra mim.

Mas de certa forma eu entendia o Henrique. Ele namorava comigo há tanto tempo e não podia me levar pra jantar ou ao cinema. Não permitia que ele pegasse na minha mão em público ou fizesse qualquer gesto suspeito.

Eu voltava pra casa imaginando as frustrações dele. Ele namorava com alguém que tinha vergonha de namorar.

Não era fácil pra mim, não era fácil pra ele.

Henrique queria me levar pra jantar em um restaurante, só nós dois.

Seria o meu primeiro aniversário que passaríamos juntos.

Além de eu não gostar nada da ideia de aparecer em público, ainda tinha o fato de que talvez a minha família fizesse alguma coisinha pra comemorar. Pois é, coisinha!

Minha família é imensa e qualquer coisa é motivo pra festa. Admiro muito a minha família nesse aspecto porque é difícil encontrar famílias que se disponham, ainda hoje, a marcar encontros e comemorar o que quer que seja.

Mas é diferente comemorar o aniversário de alguém que é tão quieto às vezes e um pouco nerd como eu.

Por isso que eles sempre fazem coisinhas do tipo: um bolinho e uma velinha pra não passar em branco e alguns presentinhos e ligações de feliz aniversário.

Durante anos foi assim; eu já estava acostumado, porque como eu disse no começo, eu sou conformado com as coisas ruins da vida.

Eu admito tanta coisa, tanta injustiça comigo e aguento tudo calado. Mas tem as suas recompensas depois.

Mesmo que ninguém as notem.

Pois bem; voltando ao jantar, eu queria convencer o Henrique a não me levar, mas ele ficou insistindo e fazendo chantagem emocional, dizendo que era o meu primeiro aniversário juntos; que a gente também tinha o direito de comemorar e que acima de tudo, eu merecia.

Ele não estava errado!

Eu não sou vaidoso. Se vocês soubessem o quanto eu já me rebaixei pra poder viver em paz...

Já negociei a minha paz com muitas pessoas. Tive que tentar agradar muita gente pra que ninguém ficasse me importunando sobre a minha vida.

Por isso que o Henrique costuma dizer que eu deixo que os outros conduzam a minha vida; que eu mesmo não a vivo.

Mas se é esse o preço que eu tenho que pagar pra não revelar o que sou, que assim seja.

Tinha certeza de que se eu me revelasse ao mundo, eu seria mais infeliz do que sou. Tudo estava bom pra mim. Eu não tinha muita coisa, mas pelo menos não tinha preocupações maiores.

Ele acabou me convencendo a ir, mas disse a ele que iria um dia depois do meu aniversário, porque provavelmente fariam alguma coisa pra mim lá em casa.

Bem, meu aniversário foi sem surpresas pra mim.

Vieram alguns vizinhos e muito poucos familiares. Tinha um bolo de chocolate, alguns doces e salgados, refrigerantes e algumas bolas de gás na parede. Coisa simples, mas era o que tinha pra mim.

Quando tinha aniversário de um primo galinha que eu tenho, ia um monte de gente. A família em peso, as vadias que corriam atrás dele, eram muitas e não tinha uma feia; ele sempre foi bonito mesmo, corpo musculoso de bomba, moreno, bronzeado, cara de safado. Eu só tinha pena da noiva dele porque a família toda sabia o que ele fazia com ela e acobertava. Ia também uma banda de pagode que ele tocava e muitos vips's.

Na festa de uma outra prima minha, meio saidinha, iam as vadias amigas, os pretendentes, - o mais engraçado é que iam muitos caras e todos eles sabiam que os outros estavam lá, aí a festa toda era os marmanjos concorrendo. - a família toda, dj's que ela ficava e que acabavam tocando de graça.

Na festa de uma outra prima, patricinha, iam as peruas, os caras mais gatos da cidade, que estudavam com ela, - como eram lindos! - umas bandas e dj's e a família completa.

Acho que sem querer, acabei desabafando aqui de como eu me sinto desprezado às vezes.

Mas eu sempre chego à conclusão de que quem procurou por isso fui eu mesmo, afinal, eu me reprimia pra não ser descoberto, então a minha família se comportava de forma diferente comigo porque não queriam me chatear, me fazerem ser festeiro como todos os outros, quando na verdade eles sabiam que eu não era.

Mas como eu já falei mil vezes aqui, não é que eu não gostasse de viver uma vida normal. É simplesmente porque eu não podia correr riscos.

Mas ao menos, quando chegou umas vinte e duas horas, o Henrique me liga me desejando feliz aniversário e que ninguém daria uma festa pra mim como ele faria!

Eu não tenho dúvidas disso.

Eu soprei as velas, desejando que eu pudesse viver em paz com ele o resto da vida.

O parabéns cessou, o bolo foi comido, as bebidas ingeridas e antes das vinte e três, a festa já tinha acabado e todos ido embora.

Só me restava ansiedade e medo pelo jantar que o Henrique havia me prometido.

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Só quem vive no armário sabe a dor e a angústia de viver no armário. A melhor coisa que existe no mundo é poder ser quem é, mas nem sempre é fácil, ainda mais sendo pobre e estando em uma família conservadora e religiosa como a de Benjamim.

Eu sempre digo: se você quer se assumir e viver em paz, primeiro trabalhe, seja independente, junte seus trocados, não gaste com besteira, faça um planejamento para pagar aluguel e comprar móveis. Fiz isso tudo e só depois me assumi pra minha mãe e pra minha vó, não dei o direito de ninguém falar sobre mim.

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MISERICÓRDIA. O MAIOR RESPONSÁVEL PELA MERDA DE VIDA QUE VC LEVA É VC MESMO. SE EU FOSSE HENRIQUE JÁ TINHA DADO UM PÉ NA SUA BUNDA.

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