Acordei na madrugada de sexta feira, com o som dos trovões. Tudo estava muito escuro, enquanto lá fora, a chuva que a noite tinha cessado, voltou a cair com força total. — Renata? — Chamei minha esposa enquanto buscava achar meu celular naquele breu. Quando o encontrei, tateando a mesinha ao lado da cama, olhei a hora, que já dava quase quatro horas. Acendi a lanterna para enxergar melhor, foi quando percebi que ela não estava na cama. Me levantei e olhei no banheiro do quarto, onde ela não estava. Então fui até lá embaixo, onde procurei na sala e na cozinha e não achei. “No quarto dele?” Pensei comigo mesmo, mas tentando afastar esses pensamentos de mim. Eu já ia voltar lá pra cima e procurar nos outros quartos, quando acabei ouvindo um barulho na varanda e fui verificar pela janela. Quando afastei as persianas, pude ver Renata, ainda de camisola, conversando com alguém. — Olha se você insistir nisso vou acabar brigando com você. — Disse ela pra alguém. — Fica calma Renatinha, eu só te fiz uma pergunta. — Respondeu a pessoa, ao qual reconheci ser João pela voz. Ele estava em pé colado à parede próximo a porta. Eu tinha abaixado a lanterna por achar que poderia ser alguém tentando entrar na casa, e que bom que fiz isso, assim eles não perceberam minha presença. — Eu não posso perguntar não? — Continuou ele com a voz um pouco arrastada.
– Olha João, você é legal e tudo mais, mas não estou gostando disso!
– Calma Renatinha, eu não estou falando sério, é só uma conversa de “e se” entende?
– Olha em primeiro lugar, ele nunca faria isso comigo, nem se quer pensaria em fazer algo assim.
– É nisso que você quer acreditar? Tudo pode acontecer nesse mundo.
– Se você acha, problema seu. Eu respondo por mim, ele nunca me trairia! Já que dei minha resposta, vou voltar pro meu quarto.
– E você Renatinha? Teria coragem de trair seu marido?
– Olha João, o Paulo não vai muito com sua cara, não sei o porquê, mas desse jeito eu começo a entender o lado dele. Você me abordou quando vim tomar água perguntando sobre um remédio e quando vi que você estava mal, te arrumei o bendito remédio e ainda fui fazer um café pra te ajudar a melhorar. Você veio ficar aqui fora e eu ainda fiz o favor de vir te servir o café. Eu fui uma pessoa bem gentil, não acha? Pra você vir com essa conversinha.
– Então fala logo ué. Não respondeu porque?
– Tá, tá João, eu não faria isso também. Satisfeito? Boa noite, estou indo.
Naquele momento percebi que João estava tentando manipular minha esposa, mas o que parecia não ter tido muito sucesso, já que ela parecia bem irritada. Ela foi passar por ele que a impediu enquanto continuava a falar.
– Espera aí Renata, calma.
– Só sai da frente.
– Esqueceu da prenda que você não pagou? Agora é uma boa hora não acha?
– Hahaha… Você quer que eu saia nessa chuva, forte que nem tá e ainda por cima nua?! Ta maluco né?! Você viu a reação do meu marido hoje, quer apanhar é?
– Ele tá no sétimo sono lá em cima, nem vai saber de nada.
– Não to afim não.
– Para de fazer charme Renata. Você passou o resto do jogo manjando meu pau e agora fica com esse cu doce? Tava na cara que você queria ele.
– Hahahaha… Hoo João, assim você me mata de rir! Hahaha…
– Qual a graça?
Renata havia pisado no ego dele, e isso o deixou tão irado que por um instante cheguei a achar que ele iria agredi-la, o que me fez quase intervir, mas ela não tinha terminado, e seguiu falando.
– Vou esclarecer uma coisa pra você, que parece que tanto meu marido quanto você entenderam bem mal. Primeiro eu olhei sim para sua rola, afinal eu sou mulher e até onde eu sei, gosto de homem. Então onde que eu não ia olhar uma rola quase dura apontando pra mim? Eu não sou menina pra ficar com frescura. Eu só disfarcei, afinal, eu não ia ficar te olhando na frente do meu marido.
– Vai realmente tentar me enrolar com esse papinho, é? Você quase ficou peladinha pra mim.
– Enrolar não, apenas te esclarecendo as coisas. E eu não ia ficar nua pra você, ficaria nua na sua frente, apenas isso. Olha, eu sempre gostei de atenção, mas quando meu marido me fez ir com aquele vestidinho na festa, e toda aquela atenção ser voltada pra mim, me deu uma sensação maravilhosa e me deixou muito excitada. Eu amei aquilo e já que ele gosta que os outros fiquem babando por mim, eu simplicidade decidi me deixar levar. Eu gosto sim de me exibir, de me expor e de provocar. Isso me deixa doida de tesão, mas não quer dizer que sinta vontade de trair meu marido. A verdade é que todo esse tesão é direcionado para ele.
– Então porque me chamou pra vir junto? Eu achei que você estava me dando uma indireta. E depois de tudo que aconteceu eu achei que já tava tudo certo pra rolar.
– Rolar o que tá rolando João. Meu Deus, vocês são tão burros. Eu vi que meu marido fica muito incomodado com você perto de mim, então quis te trazer pra justamente provocar ele e vê-lo ficar daquele jeito autoritário e brigão. Nossa, me dá um fogo ver ele daquele jeito.
– Você tá de sacanagem? Me trouxe pra cá só pra me usar?
– Fica calminho João, você não tá perdendo nada. Amanhã vamos à praia, aí você pode admirar meu corpo o quanto quiser.
– Lá vem você com seus joguinhos.
– O lugar que escolhi é lindo, sabia?
– Eu não vou participar dessa merda!
– Lá você vai me ver peladinha como tanto deseja.
– Você joga sujo!
– Hahaha… vai dormir Joãozinho, que amanhã promete.
Disse ela empurrando João para o lado enquanto ria. Naquele momento, eu finalmente pude entender melhor como essa nova versão da Renata funcionava. Ela realmente estava querendo se expor, gostando da adrenalina, da atenção e do desejo que causava nas pessoas. Renata queria se mostrar e ser vista, receber atenção e desejo de todos que ela pudesse provocar e amarrar a sua teia de sedução. Minha esposa estava simplesmente se divertindo em seus joguinhos, causando ciúmes em mim, plantando idéias falsas na mente de João, enquanto nós usava para seu próprio deleite. João, tentando não ficar por baixo, tentou a agarrar, mas ela escapou de seus braços e entrou de supetão na casa. Eu estava lá, parado na escuridão, como uma alma penada, que provavelmente foi o que ela pensou ser. Pois no momento em que me viu, não conseguindo me identificar, dando um grito de pavor e caiu desmaiada no chão. João que também não conseguiu ver quem era, achando que era um ladrão, gritou que is chamar a polícia, enquanto berrava meu nome, e dizia ser um assalto. Eu apenas fui em direção a minha mulher, no que o babaca pensou que o tal “assaltante” faria algo com ele e, covardemente, abandonou minha mulher largada no chão, correndo em meio a chuva para se salvar.
Já dava nove horas da manhã quando Renata acordou, comigo sentando ao seu lado. Eu não consegui dormir depois de tudo que ouvi, passando o tempo todo ao lado dela, pensando em tudo aquilo. João entrou em casa quando o sol nasceu. Só me dei conta quando ele entrou em seu quarto. Na madrugada, por causa do merdinha ter saído correndo, tive que carregar Renata nas costas pelas escadas até o quarto, o que me causou uma certa lesão nas costas, pois sentia muita dor. — Amor? Quando cheguei aqui? E o fantasma? — Disse ela sonolenta e um pouco preocupada. Eu dei uma risada, que me causou dor, o que fez ela se levantar preocupada comigo. Eu então contei tudo que aconteceu e do desfecho que culminou na minha dor nas costas. Renata ficou meio incrédula inicialmente, depois riu de se acabar e por fim, ficou meio emburrada quando se tocou que eu já sabia de seis joguinhos. Naquele momento eu não tive força pra falar nada, apenas pedi que me ajudasse pegando um remédio e me fazendo uma massagem. — Não acredito que ele me abandonou lá jogada e fugiu! — Me disse indignada enquanto massageava minhas costas. — Poisé, nem eu esperava uma atitude daquelas. Ele dá um de valente, mas quando a coisa aperta só pensa no próprio rabo. — Respondi em meio a gemidos de dor, que se intensificaram à medida que ela massageava certas regiões.
No meio da massagem, alguém bate na porta, que em resposta Renata manda entrar. João entrou com uma cara de poucos amigos, perguntando sobre o que aconteceu. Eu então lhe contei tudo também, ao qual ficou extremamente constrangido e irritado. Afinal ele tomou um belo esculacho e ainda por cima, pagou de besta por simplesmente sair correndo na chuva sem necessidade.
– Tu é muito frouxo João! Como faz uma coisa dessas?
– Pera lá Renatinha, eu achei que era um bandido, ele poderia estar armado, por isso corri.
– Exatamente, correu e me largou para trás. Se fosse um bandido, teria se aproveitado de mim na hora.
Enquanto os dois discutiam, eu pensava comigo mesmo, sobre Renata, e as mudanças que teve. Concluindo que mesmo com toda aquela provocação e exibicionismo dela, ela me amava e não pensava em me trair. O que ela queria era despertar uma versão minha em que nutria muito desejo. Ela realmente estava sendo muito segura de seus atos, e mesmo assim me colocando acima de tudo. Isso me fez pensar no que fiz, na traição que cometi e aquilo doeu muito. Minha esposa por mais extravagante que fosse, jamais pensava em me trair, enquanto a mim, a quem ela confiava cegamente, havia lhe apunhalado pelas costas. “Acho melhor contar tudo pra ela.” Foi o que veio à minha mente. Mas com João ali e com toda aquela situação, exitei! Perdendo minha chance ao não falar nada.
O celular de João recebeu uma notificação, o que fez ele parar de brigar com Renata e ver o que era. João abriu um sorriso de orelha a orelha. — Sabe no dia da confraternização? — Afirmamos que sim a sua pergunta. — Um amigo meu me contou ontem, que achou a sala dele com cheiro forte, a mesa toda revirada e semem seco no chão. — Quando ele contou isso, fiquei tenso na hora, pois provavelmente era a sala que fiquei com Ana. — Nossa, que azar dele né? — Disse Renata enquanto dava risada da situação. — Nem fala Renatinha, ele ficou puto. Por isso ele resolveu pedir para os seguranças fornecerem as imagens das câmeras que ficam naquele andar, para ver quem foram os pombinhos que zoaram com a sala dele. — Naquele instante eu travei! Um turbilhão de coisas passavam por minha mente, de uma forma tão intensa que me bateu um grande desespero. Me sentia tão mal que não consegui me conter, o que chamou a atenção de Renata. Ela me olhava nos olhos com uma expressão séria, como se tentasse saber o que aquilo significava para mim.
– Ele conseguiu?
– Claro que consegui Renatinha. O chefão soube da história e mandou que achassem os culpados, e agora a pouco ele me mandou o vídeo. Você não vai acreditar quem eram!
– E então? Quem foram?
– Acho melhor te mostrar do que falar.
– Não precisa, eu acho que já sei quem são.
Naquele momento minha esposa me olhou de uma forma fria, que me gelou até os ossos. — Eu estava amando esse tempo com você, que até me esqueci das minhas dúvidas. Eu realmente estava amando tudo isso e deixei minhas desconfianças para trás, mas não teve jeito! Agora eu sei que estava errada. — Disse sem tirar os olhos dos meus. Ela se levantou e sentou em uma poltrona que ficava próxima a cama. Ela olhou para ambos, colocando a testa entre as mãos, com seus dedos entrelaçados.
– Ué, não to entendendo nada! Como você soube? Só fiquei sabendo dessa história agora.
– Vocês aprontam e esquecem das pistas João. As pistas levam vocês sempre a serem pegos.
– Que pistas? Conta isso direito Renatinha.
– No dia seguinte à confraternização, eu levantei mais cedo, mesmo estando de ressaca, porque estava animada com a viagem e queria adiantar as coisas. Eu peguei as roupas no cesto de roupas sujas do nosso banheiro, prá levar antes da gente sair.
Ela deu uma pausa e ergueu a cabeça para me olhar nos olhos novamente. Eu já estava sentado, com as costas apoiadas na cabeceira da cama. A dor que eu sentia, já não fazia mais nada, tamanho o desespero em que me encontrava.
– Sua cueca não estava lá, como você costuma deixar, então olhei na calça pra ver se não estava embolada lá dentro. Eu não encontrei a cueca, mas encontrei uma mancha de semem na parte interna da calça, o que me intrigou. Eu sabia que não tínhamos feito nada naquela noite, então comecei a fuçar. A cuca você lavou e estava no varal, que não é do seu feitio. Além disso, tanto a calça quanto a camisa que você usou, estavam com um cheiro de perfume que não é meu e nem tão pouco seu.
Ela olhava pra mim de uma forma tão fria, sem expressar raiva, tristeza ou desgosto. Apenas um olhar frio que me deixava apavorado. João estava inerte, totalmente focado no que ela contava.
– Mas eu conheço aquele cheiro, o conheço muito bem, já que é o perfume preferido da minha irmã. Sabe, eu não acreditei na hora, pensei ser uma loucura da minha cabeça e que haviam várias explicações para aquilo. Mas eu não conseguia tirar aquela desconfiança da minha cabeça. Então eu chamei a Ana para ir ao shopping com a gente. Eu sabia que poderia pescar alguma coisa com ela por perto, mas ela não quis ir. E eu me deixei levar pelo momento e esqueci daquilo tudo, aproveitando a vida com você. Mas quando ela apareceu de surpresa, você ficou incomodado, onde ela parecia também esconder alguma coisa. Eu sabia que tinha alguma coisa, afinal, eu convivo com vocês há muitos anos, com ela então, nem se fala. Eu senti que tinha algo ali, mas continuava apostando minhas fichas em você, me dizendo que estava enganada. Mas quando eu saí, enquanto o Luciano foi pegar o almoço deles, fiquei escondida observando, onde pude ver que vocês conversavam de forma estranha e que minha irmã parecia envergonhada e acuada. Quando voltei, vocês ficaram mais estranhos ainda. Eu novamente me fiz acreditar que não era verdade, mas a chamei para a viagem, assim eu conseguiria provar a sua inocência ou sua culpa. Mas naquele dia eu deixei me levar e esqueci disso, chamando o João para me divertir com as suas reações. Mas quando ela ficou pra trás, eu praticamente abandonei esses pensamentos e apenas foquei em me divertir com meu marido. Mas o jeito que o João está feliz, e o jeito que você está, só me dizem que é você ali no vídeo. Vira o celular pra cá e dá play.
– Amor é melhor…
– Calado Paulo.
João então deu play e nos mostrou a tela de seu celular, onde o vídeo mostrava que eu estava na porta da sala de João espiando, quando Ana apareceu e eu me escondi. Quando ela saiu e me achou e quando ela me puxou para sala do tau sujeito, enquanto um estagiário pegava uns papéis do lado de fora. O pior foi ver Renata ver a cena em que ela sai correndo e eu abro a porta, dando pra ver nitidamente que eu a vi passar. E em seguida eu fechando a porta e saindo um tempo depois com Ana lá de dentro. — Você me viu, não foi? E mesmo assim decidiu ficar com ela. — Eu a olhei com os olhos cheios de lágrimas, sem saber o que lhe dizer. — Caralho Paulo, você foi muito burro! — Disse João que não expressava nem felicidade e nem pena, apenas me olhava com aquela cara de que dizia “tá ferrado”. — João, nos dê licença por favor. Eu preciso conversar com meu marido. — João não falou nada, apenas olhou pra Renata e me olhou novamente, saindo do quarto e fechando a porta, com o som de seus passos descendo as escadas em seguida. — Me perdoe amor, eu fui um idiota, fui um lixo com você. — Disse a ela enquanto as lágrimas rolavam dos meus olhos. — Acho que é isso que te resta fazer mesmo. Mas eu realmente não sei o que falar, fazer ou decidir. Eu estava bem, eu realmente queria esquecer essas dúvidas e aproveitar com você. Por hora, vou ficar em outro quarto, até eu saber o que devo fazer. — Me disse se levantando e saindo do quarto, antes que eu tivesse forças para lhe responder algo. Tudo aquilo aconteceu tão rápido que fiquei um bom tempo no quarto, até me recuperar e ir atrás dela, para tentar salvar nosso casamento.