Prenúncio de Tempestade
A noite de Kleber e Naomi juntos, a segunda em dois dia seguidos foi diferente da primeira. Isso porque o cansaço de uma noite mal dormida seguida de um dia exaustivo de trabalho cobrou o seu tributo e ele entregou os pontos logo, ao contrário dela que, tendo ficado em casa, teve a oportunidade de dormir e teve um sono reparador.
A princípio não pareceu que seria assim, pois mal entraram em casa os dois se atracaram e deixaram uma trilha de roupas jogadas no chão. O paletó do terno que ele usava foi atirado no sofá da sala de visitas, a gravata no início do corrimão da sala, o vestido que ela usava descansava jogado em um degrau do meio da escada que dava acesso ao piso superior onde ficavam os quartos e a camisa dele, também no corrimão, já próximo ao corredor que dava acesso à sua suíte e nesse corredor, ao lado da parede, o sutiã que ela usava e um pé de sapato feminino e ao seu lado o cinto de sua calça social. O outro só foi encontrado no dia seguinte, depois de procurarem muito, embaixo da cama dele e ninguém saberia explicar como ele foi parar lá.
A calça social que Kleber usava foi parar em cima do aparelho de TV e seus sapatos e meia jaziam em frente do guarda roupas menos de meio metro da calcinha de renda que ela usava. A cueca dele em cima da pia do banheiro.
Era como se eles tivessem marcado o caminho que percorreram para poderem achar o caminho de volta tal a simetria que havia na distância entre uma peça e outra.
Desta vez não houve preliminares. Kleber fodeu a bocetinha de Naomi embaixo do chuveiro com ela virada de frente para a parede e com a bunda arrebitada enquanto ele socava seu pau por trás. A segunda logo após o banho, dessa vez na cama e teve muito mais romantismo do que tesão. Ele por cima dela, socava seu pau lentamente na buceta sedenta da mulata enquanto ela ondulava seu corpo suavemente como se estivesse dançando deitada uma música lenta e sensual e mais uma vez gozaram juntos.
Menos de quinze minutos depois de gozarem pela segunda vez, Naomi que estava deitada ao lado de Kleber com a cabeça apoiada em seu peito, olhando para um aparelho de televisão desligado e com o pensamento perdido na alteração que sua vida sofrera no último dia, pois fazia pouco mais de vinte e quatro horas que tinha sido levada ao motel por seu agora amante, estranhou a imobilidade dele e, quando virou a cabeça para olhar para ele descobriu que ele estava dormindo.
Silenciosamente e tomando muito cuidado para não acordá-lo, levantou e se dirigiu ao banheiro. Enquanto estava sentado no vaso esvaziando a bexiga, viu um roupão pendurado e, depois de se limpar, vestiu aquela peça de roupa que, apesar de não ser nada pequena, cabia duas Naomis dentro. Depois voltou para a cama, tocou levemente o peito de Kleber e, ao ver que ele não acordava, saiu silenciosamente do quarto e desceu para o piso inferior aonde, usando seu instinto, logo encontrou a cozinha.
Examinou a geladeira e encontrou carne, legumes e tempero. Depois localizou a despensa e separou alguns alimentos, voltando para a cozinha e foi direto ao armário aonde esperava encontrar panelas e outros utensílios que sabia serem necessários, acertando na primeira. Então começou a preparar um jantar, agindo sem pressa.
Naomi se sentia leve e agia como se já morasse naquela casa há muito tempo. Preparou um arroz branco, usou o aparelho de micro-ondas para descongelar um pote contendo feijão e depois completou o serviço usando o fogão. Experimentou o feijão e adicionou mais tempero. Temperou alguns bifes também temperados por ela e depois preparou um molho vermelho com cebolas que jogou por cima deles.
Quando estava arrumando a mesa, que nem era uma mesa, mas o balcão que separava a cozinha da sala de jantar que era ladeada de bancos altos, levou um susto enorme. Distraída, não percebeu a chegada de Kleber que a abraçou por trás e lhe deu um beijo no pescoço. Ela deu um grito, não muito alto e se deslocou para o lado antes de perceber que era ele e depois falou:
– Que susto homem. Você quer me matar?
– Quero, mas só se for de prazer. – Brincou Kleber com uma voz pastosa, revelando que ele ainda estava com sono.
Em seguida ela fez com que ele se sentasse e foi buscar as panelas com os alimentos, colocando-os próximo a ele que elogiou o cheiro da comida.
Degustaram aquele jantar simples e Kleber não parava de elogiar à Naomi dizendo que tudo estava uma delícia. Ela apenas agradecia e depois subestimava seu esforço dizendo que não tinha feito nada de especial.
Depois de jantarem, voltaram para o quarto. Deitados, começaram a se beijar, mas quando Kleber começou a fazer carinhos mais ousados, Naomi se afastou dele enquanto falava:
– Agora não Kleber. Você esta um caco e precisa descansar. Vamos dormir.
Reconhecendo que ela estava com a razão, ele logo voltou a dormir enquanto Naomi ficou horas pensando sobre que rumo dar à sua vida. Para ela, assumir um romance com Kleber era um problema em todos os sentidos. Ele era seu chefe, ela ainda estava morando na casa do marido, embora com horas contadas para sair de lá e com todos os detalhes da separação já acertados, mas não deixava de ser um prato cheio para os fofoqueiros de plantão.
Também havia a questão do relacionamento de Kleber com Michele e ela não conseguia pensar em como administrar isso. Era algo que ela desconfiava estar acontecendo há muito tempo, e ela estava certa, e também sabia que era ela que estava entrando no relacionamento dele com outra mulher e não o contrário. Ela só tinha certeza de uma coisa. Aquilo era algo que, embora já tivesse transado com Michele e gostado muito, não estava disposta a aceitar. Só que, por mais que pensasse, não lhe ocorria nenhuma ideia para resolver esse problema.
Além disso, tinha também a filha dele, Lalana. Ela sabia que a garota tinha ciúmes do pai e, pior que isso, sempre exerceu o controle sobre ele. Kleber era tão ligado à sua filha que fazia tudo o que ela queria e ela, sabendo disso, usava e abusava dele, demonstrando esse ciúme com o simples fato de alguma mulher se aproximar dele ou até mesmo em ocasiões em que ele precisasse se ausentar de casa para algum compromisso social imposto pela posição que ele ocupava na empresa que trabalhava.
Desanimada, chegou à única conclusão possível. Aquele relacionamento estava fadado ao fracasso e isso levava a outra questão. Ela teria que abandonar o emprego.
Ela sabia que na cabeça do Kleber, isso era necessário porque ele mesmo não via o relacionamento entre chefe e funcionária com bons olhos e, sendo quem era, teria que dar o exemplo, enquanto para ela era mais inevitável ainda, pois depois do que eles passaram juntos, ela não teria mais como conviver com ele o dia todo. Pensando nisso tudo ela tomou a decisão de que, já que acabaria logo, deveria aproveitar o máximo possível esse curto período e viver nesse pouco tempo todos os momentos que sonhou com eles. Depois, sairia da cidade e ia viver algum tempo em São Paulo ou no Rio de Janeiro, esperando que a distância amenizasse a dor que ela estava antecipando.
Sem sono, levantou-se e foi até a janela. Ficou admirando a piscina até que as luzes da casa vizinha de fundos, aonde estava tendo alguma atividades, pois algumas luzes estavam acesas, de repente ficou toda escura e ela chegou a ouvir o barulho do portão automático se abrindo, o ronco de um veículo e depois o portão se fechando, indicando que quem se encontrava ali até aquele momento estava se retirando.
Só então ela notou algo que a deixou intrigada. Não havia muros e nenhum outro tipo de divisória entre os terrenos das duas casas. Era uma área grande e apena uma piscina, uma pequena edificação que ela pode notar que se tratava de uma área gourmet, pois dava para divisar uma churrasqueira, uma mesa comprida ladeada de bancos. Olhou então em direção ao outro quintal e viu que lá também não havia nada desse tipo, indicando que provavelmente aquela área gourmet também era comum a duas casas. Viu outra edificação um pouco maior, mas que não poderia servir ao mesmo tipo de atividade, pois não havia nenhuma área aberta. Era algo um pouco maior que uma sala, quadrado e, de onde ela via, apenas uma porta larga e algumas janelas.
Aquela descoberta a deixou intrigada. Afinal, quem poderia morar na outra casa que fosse tão íntimo de Kleber a ponto de se utilizarem da mesma área de lazer que ele? Estava pensando nisso quando uma frase dita por Michele lhe veio à cabeça. Ela não conseguia se lembrar de exatamente o que fora dito, mas se lembrava de muito bem que se referia a alguma coisa relativa a se despedir do apartamento porque naquela semana estaria se mudando.
A realidade a atingiu como um raio e seu coração congelou. Seria isso mesmo possível? O pior é que, por mais que pensasse a respeito, ela não conseguia enxergar outra explicação, pois o tempo que trabalhou com Kleber era suficiente para saber que ele não tinha parentes em Porto Alegre e também não fez muitas amizades. Ele tinha um relacionamento distante com os funcionários, comparecendo em algumas festas promovidas por alguns deles quando era convidado, porém, deixava claro que agia por cortesia e educação e nunca por amizade.
Com o coração acelerado, ela se afastou da janela e voltou para a cama aonde tentou dormir. Conseguiu à duras penas, com um sono entrecortado, acordando várias vezes e ficando a imaginar que a situação em que ela se encontrava era muito pior do que imaginava.
Na manhã seguinte, era ela que estava sonolenta e Kleber disposto. Eles não transaram ao acordar e ele foi levá-la em casa e, ao descer do carro, ela informou a ele de que iria trabalhar naquele dia e, depois de um selinho nele, desceu do carro e entrou no seu prédio, enquanto ele a observava.
Kleber podia ser lerdo, mas não era nada burro e, naquele instante, ele percebeu que levar Naomi para dormir na sua casa não foi uma boa ideia. Ele tentava entender a mudança de comportamento dela entre a noite anterior e aquela manhã. Calada, dando respostas monossílabas a tudo o que ele perguntava, ela pouco falou e, pior ainda, ele notou a ausência de seu luminoso sorriso.
Com um peso no peito, ele colocou o carro em movimento e se dirigiu ao seu escritório.
Naomi chegou ao escritório meia hora atrasada e uma e hora e meia depois de Kleber que, por ter tido o trabalho de deixá-la em casa, foi o primeiro a chegar. Ela manteve a estagiária ao seu lado para que essa lhe passasse as informações do que tinha acontecido durante a sua ausência e depois a dispensou. Durante toda a manhã, manteve-se séria, trabalhando com afinco, arrumando algumas coisas que ela entendeu estarem em desacordo com o que estava acostumada e evitou entrar no escritório do chefe que só falou com ela quando a convidou para almoçar. Ela aceitou e saíram caminhando sem se tocarem, muito embora o desejo dos dois fosse o de estarem abraçados.
Durante o período em que ficaram fora da empresa, Naomi tentou se comportar como uma mulher apaixonada que, sem tocar no homem objeto de sua paixão, trocava com ele olhares intensos e sorrisos que continham muitas promessas. Em sua mente, ela se congratulava por estar sendo uma boa atriz, pois no íntimo ela fervia de ansiedade e de dúvidas de como abordar aquele assunto com Kleber. Só que ela se conhecia e sabia que não ia conseguir manter aquele teatro por muito tempo. Então, enquanto conversava, resolveu ter uma conversa com ele naquela tarde mesmo.
Naquele momento, sua maior dúvida era se conseguiria manter um relacionamento que pudesse ser considerado “maravilhoso enquanto dure”.
Pensando nisso ela entrou na sala de Kleber por volta das quinze horas e lhe entregou sua carta de demissão, só que dessa vez ela informava na carta que trabalharia por mais trinta dias, cumprindo o aviso prévio e usaria esse tempo para treinar sua substituta. Ele tentou recusar e ela foi taxativa:
– Nem tem como ser diferente Kleber. Se eu continuar aqui, como é que você vai fazer se acontecer com algum subordinado seu? Com que moral você vai dizer a eles que não quer que os dois trabalhem no mesmo ambiente e nem na mesma loja?
Isso era verdade. Já haviam acontecido situações como a deles e Kleber jamais exigiu que um dos dois envolvidos tivesse que abandonar o emprego, pois havendo várias lojas, ele orientava para que o homem ou a mulher fossem transferidos para prestar serviços em outro local e nunca impunha qual deles deveria cumprir essa determinação, deixando para que eles decidissem de acordo com suas próprias conveniências.
No caso de Naomi, essa medida era impossível, pois não havia em nenhuma filial o cargo de Secretária e, sendo o salário dela equivalente aos dos gerentes da loja e ela não tinha experiência e nem queria ocupar esse cargo, a única saída era o seu desligamento da empresa.
Kleber concordou desde que ela permitisse que ele ajudasse a ela encontrar um emprego com um cargo equivalente ao seu em outra empresa. Naomi concordou.
Quanto ao assunto que ela mais queria falar, Naomi voltou atrás e nem tocou no assunto. Em vez disso, usou o assunto de seu desligamento para brincar com ele:
– Além do mais, vai ser difícil ficar aqui e me controlar. Não demora e eu te agarro aqui e agente acaba transando em cima de sua mesa.
– Hum! Sabe que não é uma má ideia? – Disse Kleber olhando para sua mesa e depois para ela com uma expressão divertida.
– Nem vem. Você já viu como eu sou escandalosa e você também não é de ficar quieto enquanto me fode. Se isso acontecer vai ser uma empolgação geral na empresa com todos comentando.
Ambos riram e depois Kleber falou com olhando nos olhos dela:
– Eu não. Sou um homem sério. Você que é escandalosa.
– Sério você? Você é um grande safado, isso sim.
Em seguida o Kleber mudou de ideia e, aproveitando que era uma sexta-feira, falou:
– Eu estava pesando. O que você acha da gente viajar nesse final de semana? Podemos ir até Gramado ou qualquer outro lugar que você tenha em mente.
Naomi gostou da ideia. Ela temia que ele sugerisse passarem a final de semana na casa dele e, naquele momento, aquilo não era uma opção para ela, pois temia que aquela descoberta sobre quem fosse a vizinha de Kleber fosse apenas a ponta de um iceberg e outras revelações que lhe desagradassem aparecessem, Então aceitou na hora, porém, sugeriu:
– Gramado é muito bom. Mas como estamos em julho, tem a Festa do Moranguinho em Bom Princípio. É até mais perto.
Qualquer coisa que Naomi sugerisse seria aceito por Kleber cuja intenção era apenas a de ficar ao lado dela o máximo de tempo possível. Ele só não gostou quando ela recusou seu convite para dormir na casa dela e saírem em viagem no dia seguinte bem cedo. Ela alegou que tinha alguns assuntos para resolver, além de preparar a mala e assim combinaram dele apanhá-la em frente de seu apartamento no dia seguinte e marcaram para as sete horas da manhã.
Naomi, pela primeira vez, mostrou que também era mulher e eles saíram depois das oito horas. Tiveram uma viagem tranquila, curtiram a festa e transaram como dois malucos no pequeno hotel aonde se hospedaram. Para Kleber, cada vez que transava com Naomi era uma novidade, pois ela estava sempre assumindo uma postura diferente. Na primeira vez dele ela foi a mulher ávida que tinha se guardado para aquele momento e se mostrou sedenta para realizar seus desejos. No segundo ele estava muito cansado e ela acabou agindo como uma esposa dedicada, aceitando o cansaço dele com naturalidade e ainda cuidou da alimentação dele. No hotel, ela já mudou de postura e interpretou o papel de uma jovem garota deslumbrada tanto com o passeio como com a oportunidade de ter o homem que desejava ao seu lado, entregando-se ao sexo com volúpia e ao mesmo tempo demonstrando timidez.
E não era fingimento. O fato de estar em um hotel e se deparar com outros hóspedes que estariam cruzando com eles no dia seguinte, ela teve que se conter em seus gemidos altos e também não permitiu ao Kleber ser muito barulhento. Mas isso não diminuiu em nada o prazer que eles tiveram.
No domingo, ao retornarem de Bom Princípio, ela dormiu durante a viagem e, quando acordou, ele estava entrando com o carro na garagem de sua casa e ela não teve alternativa senão a de dormir lá e dessa vez ela voltou a ser a mulher sedenta e escandalosa que fode como se não houvesse um amanhã.
Depois dessa viagem, ela insistiu para que cada um dormisse em sua casa durante os dias de semana, o que não o impediu de levá-la ao motel e depois deixá-la em frente de seu apartamento. Estava ficando claro que o Kleber tinha muito menos controle sobre seus desejos e era ele que estava sempre procurando criar situações em que ficassem sozinhos para transar.
Naquela quarta-feira de manhã o Kleber não foi trabalhar por causa da estreia de Thyra no torneio de Roland Garros. Ele assistiu ao jogo na casa de Gunnar em companhia dele e de Michele enquanto Naomi permaneceu na empresa se remoendo ao imaginar o que aqueles três estariam fazendo sozinhos naquela casa, quando na verdade isso era desnecessário, pois ela ficaria orgulhosa de Kleber que, com muita firmeza, se desvencilhou das tentativas de Michele. Principalmente de quando ela, já seminua, sugeriu que deviam aproveitar de estarem apenas os três ali e comemorar a vitória da filha com uma foda maravilhosa. Ele apenas alegou que tinha que comparecer na empresa e foi embora.
O problema é que, no final do expediente, ele levou novamente Naomi para sua casa. Eles mal chegaram e transaram no sofá mesmo e mal tinham gozado quando ele recebeu a ligação de Lalana e o desastre se abateu sobre eles.
Naomi não gostou da forma com que Kleber agiu diante da reação da filha. Parecia até mesmo que havia uma inversão de papéis, com ele sendo o filho e recebendo uma bronca por ter sido pego em flagrante fazendo uma travessura. Rapidamente, se vestiu e saiu respondido a ele quando pediu para que ela esperasse que ele a levaria até sua casa:
– Pode deixar que eu pego um táxi. Quando você resolver o problema com sua mãe... Quero dizer... Com a sua filha, você me procura.
Saiu batendo a porta e dez segundos depois Kleber agradecia aos céus pela atitude de Naomi, pois Michele se materializou na sua frente como um passe de mágica e disse:
– O que foi que você fez para que a Lalana esteja chorando lá em Paris? – Michele mal acabou a frase e fungou mais forte e depois o questionou: – Porra Kleber! Você estava fodendo alguma vadia nessa sala? O cheiro de sexo pode ser sentido lá na cozinha.
Kleber sabia uma parte da difícil tarefa que tinha pela frente, a de explicar para Michele, Gunnar e Lalana sobre seu envolvimento com Naomi havia chegado. Então respirou fundo e falou:
– É uma longa história Michele. Melhor você se sentar.
Aturdida, Michele obedeceu, sentou-se e foi direto ao informar:
– Não tinha nenhuma vadia aqui. Quem estava aqui era a Naomi e a gente tem se encontrado com frequência.
A reação de Michele foi muito estranha. Primeiro ela olhou espantada para o Kleber e ficou estudando a expressão dele e depois começou a rir. O riso foi se intensificando e logo se transformou em gargalha e ela mal conseguia falar, entre uma risada e outra:
– A Naomi, Kleber? – Risos – Então aquela vadia conseguiu? – Risos – E essa sua cara? – Mais risos, dessa vez por mais tempo até que finalmente conseguiu falar com embargada pelo riso: – Você está com a cara de um colegial apaixonado.
Kleber apenas olhava para ela sério. Em momento nenhum ele demonstrou estar achando graça naquilo, mas não parecia estar ofendido com a reação dela, o que só mudou quando ela, finalmente se controlando, falou com voz ríspida:
– Então aquela vadia finalmente conseguiu o que queria!
– Vamos parar com isso Michele. Pare agora. Você não tem nenhum direito de se referir à Naomi desse jeito.
Só restou ao Kleber dizer que, em se tratando de mulher vadia, ela não ficava devendo nada à outra. Sentindo que a maneira de falar, somado à sua expressão, manter aquela postura os levaria a uma briga feia, ela se controlou e perguntou:
– Tudo bem. Desculpe-me. Agora vamos ver se resolvemos isso. Primeiro você me conta tudo o que aconteceu e depois vamos combinar o que dizer para a Lalana. Só seja breve, pois lá já passa da meia noite e a Thyra está aguardando uma ligação minha.
Kleber, buscando paciência não se sabe onde, começou a contar tudo o que acontecera entre ele e Naomi e Michele, sendo muito esperto, logo assumiu para si mesma que a maior culpada de tudo o que aconteceu fora dela que, para provocar à outra, fizera questão de deixar transparecer o que rolava entre ela e o Kleber. Só que, ao mesmo tempo, se convenceu que aquela não era a melhor hora para confessar esse seu pecado.
Depois de trinta minutos, ela sequer deixou que Kleber terminasse sua narrativa e, pedindo para que ele contasse o restante depois, se afastou dela munida de seu celular e fez a chamada para a filha. Só voltou depois de quinze minutos e informou a ele:
– Consegui acalmar um pouco as coisas lá. Só vim te avisar para você não tentar falar com a Lalana por enquanto porque sua moral com ela está em baixa. Deixe que eu administre isso. – Falou isso e foi se dirigindo à cozinha para sair pela porta do fundo e se dirigir à sua casa, mas antes de sair da sala parou de repente e se virou para o Kleber e comunicou a ele: – Depois você terá que contar essa sua história de adolescente apaixonado que eu quero saber de tudo. Ah! E outra coisa, vai se preparando para enfrentar uma tempestade quando sua filha voltar para casa. Eu é que não queria estar em seu lugar.
Depois de dizer isso, não esperou por resposta e saiu apressada da casa do amigo.