Na escola, eu sempre fui o típico aluno que não chamava muita atenção na turma. Sempre fui muito tímido, não tinha muitos amigos e minhas notas eram regulares, embora eu me sobressaísse em matemática. Eu não sabia muito bem como me comunicar naquela época, e até hoje não sou muito bom quando o assunto é interagir com outras pessoas.
Precisei trocar de escola algumas vezes durante toda a minha educação básica, pois fui várias vezes vítima de bullying nos colégios que estudei. Isso certamente contribuiu para eu me tornar essa pessoa tímida que sou até hoje. Durante meu ensino médio, meus pais fizeram um esforço extra para poder pagar a escola mais cara da cidade naquela época, e é lá onde essa história começa.
-Oi, qual é o seu nome? Você é novo aqui, né? Seus olhos são tão pequenos, você parece muito com um índio, até a cor da sua pele... Aliás, me desculpa, meu nome é JP."
Recentemente, precisei trocar de turno na escola que eu frequentava há 2 anos. Eu sempre estudei à tarde, mas, como estou no ano de prestar vestibular, pedi para meus pais me colocarem para estudar de manhã, assim eu poderia me dedicar a estudar para o vestibular no período da tarde."
Sorri timidamente para ele. - Prazer, JP. Meu nome é Iuri... Bom, na verdade, eu estudava no turno da tarde, mas precisei trocar de horário."
Nesse momento, parei para observar melhor o JP. Ele era lindo. Diferente de mim, que tenho a pele bronzeada como a de um índio, ele era branco, quase pálido, pra falar a verdade. Tinha um sorriso lindo que me deixou todo sem jeito. Seu cabelo era curto e muito, muito preto, o que contrastava totalmente com sua pele branca. Ele parecia ser um pouco mais alto que eu e era aquele típico falso magro. Ele era encantador
-Deve ter sido difícil ter que sair da sua turma no último ano do colégio.
-Nem tanto, na verdade... Eu não conhecia muito o pessoal da turma, provavelmente eles só sabiam meu nome porque eu respondia na hora da chamada - rimos juntos do meu comentário.
-Mas e seus amigos?
-Eu vim para essa escola no começo do ensino médio, e sempre fui bastante focado nos meus estudos... acho que não fiz amigos na minha antiga turma - fiquei um pouco desconcertado ao dizer isso - Mas eu tinha amizade com o professor Luiz de matemática.
Nesse momento, ele me olhou com uma cara esquisita e engraçada - Nerd - rimos juntos mais uma vez.
-Eu estou sentando ali na frente, mas você se importaria se eu pegasse minhas coisas para sentar aqui do seu lado?
Essa pergunta certamente me pegou desprevenido. Essa havia sido a conversa mais longa que tinha tido com alguém do colégio nos últimos 2 anos. Sei que pode parecer esquisito, mas depois de precisar trocar tantas vezes de escola e por estar no ensino médio, acreditei que não tinha motivos para criar vínculos com outras pessoas. E assim foi, até JP aparecer.
-Claro que não, pode ficar à vontade! - Tentei soar o mais natural possível, mas minha voz falha me traiu. Ele notou o quão envergonhado eu estava e sorriu para mim enquanto mexia no meu cabelo.
Sei que pode parecer precipitado. Eu não havia trocado nem 10 frases com JP, mas a forma como ele sorria para mim mexia muito comigo. Eu sempre soube que era gay. Quer dizer, eu fui uma criança que demorou muito para entrar na puberdade e adolescência. Então, quando eu comecei a me sentir atraído por outras pessoas, eu já tinha maturidade para entender que gostava de meninos. Não foi fácil na época aceitar isso. Eu fui criado dentro da igreja, estava envolvido em várias atividades, fazia parte do coral, sempre participava das apresentações que ocorriam na igreja. Então, fui criado de uma maneira que sempre tive "ser gay" como uma abominação, algo pecaminoso. Foi uma grande luta para conseguir me aceitar como sou. E agora, mesmo que eu não siga mais a doutrina da igreja, existem algumas crenças em mim que me acompanham até os dias de hoje.
Durante a aula, eu me pegava espionando JP algumas vezes, observando cada detalhe do seu rosto, desde seus cabelos pretos até sua boca vermelha. Em um desses momentos, quando fui espioná-lo, vi ele me encarando. Quando trocamos olhares, achei que fosse morrer ali mesmo de tão sem graça que fiquei, mas ele apenas riu da minha reação exagerada. Passei o resto da aula tentando prestar atenção nos conteúdos que os professores passavam, enquanto evitava ao máximo fazer contato visual com JP. Até que finalmente ouvi a campainha da escola tocar, indicando que era hora do intervalo. Em questão de segundos, uma menina que não era da minha sala entrou apressadamente e sentou na carteira do JP.
-Oi amor, que saudades que eu tava, você deixou pra viajar só na última semana de férias, fiquei a semana inteira sozinha - Disse Laís enquanto fazia uma cara manhosa.
-Você sabe como minha mãe é, passou o mês de férias inteiro envolvida com atividades da igreja e só veio lembrar de mim e do Rê na última semana de férias - Respondeu JP enquanto dava um selinho em Laís.
Laís certamente era uma garota muito bonita. Era alta, tinha seios fartos (era impossível não notar), e tinha um corpo muito bonito. Certamente, se ela dissesse que trabalhava como modelo, eu teria acreditado.
-Laís, Iuri. Iuri, Laís - Disse JP nos apresentando, ambos demos sorrisos não muito sinceros e nos cumprimentamos.
-Vou lá na frente comprar um lanche, quer ir com a gente não, Iuri? - Falou JP.
Era nítido que o convite havia desagradado Laís, e sendo sincero, eu também não queria ir. Todos os sorrisos e toques haviam me deixado um pouco confuso. Obviamente, ele devia ter namorada, pensei comigo mesmo.
-Vou ficar por aqui mesmo, JP. Vou tentar finalizar logo a atividade que o professor deixou, mas eu agradeço o convite - Eu disse isso tentando dar o sorriso mais convincente que conseguia.
Dessa vez, ele fez uma carinha de cachorrinho manhoso, mas reafirmei que não iria balançando a cabeça. Então ele segurou a mão de Laís e foi embora.
Quando as aulas pós-intervalo começaram, tentei ao máximo evitar contato com JP. Talvez eu estivesse um pouco envergonhado dos pensamentos que tive com ele. Certamente, ele só estava sendo gentil comigo, e eu me deixei levar devido à minha carência. Eu sou realmente muito idiota. Por sorte, o resto da manhã passou muito rápido e, quando menos esperava, o sinal de saída tocou. Fiquei muito surpreso em como as aulas no período da manhã passam rápido.
Eu já estava tão acostumado com a rotina de arrumar as coisas e ir embora que, quando o sinal tocou, foi exatamente isso que eu fiz. Mas quando me levantei para ir embora, escutei JP:
-Até amanhã, Iuri. Foi um prazer te conhecer - Ele falou isso enquanto sorria para mim, e o sorriso dele era de matar. Acorda, Iuri, ele tem namorada. Ele só está sendo gentil.
-Até amanhã, JP - ri timidamente.
Minha casa não era tão perto assim da escola, então eu precisava pegar transporte para chegar nela. Mas, por ter tido muitos problemas com meu peso na minha adolescência, desde que entrei no ensino médio peguei o hábito de ir e voltar de bike da escola. E digamos que funcionou, visto que quem me visse dificilmente iria acreditar se eu dissesse que estava muito acima do peso na adolescência.
À tarde, tentei estudar um pouco para o vestibular, visto que foi com essa desculpa que troquei o horário da escola, mas não obtive muito sucesso nessa tarefa. Digamos que não foi uma tarde de estudos muito proveitosa. Já tarde da noite, vejo uma notificação indicando uma nova solicitação de contato. Era JP que havia me mandado mensagem.
-"Difícil te encontrar em guri, e o perfil só com uma foto também não ajudou muito kkkkk"
Antes de abrir a mensagem, fui olhar o perfil do JP. Diferente de mim, o perfil dele era até movimentado, nada exagerado, mas certamente tinha mais do que uma foto. Fiquei olhando suas fotos, e tinha uma dele sem camisa na praia. Ele realmente era muito lindo... Mas eu não tinha mais idade para ficar criando fics na minha cabeça. Ele com certeza era hétero e comprometido ainda por cima.
-"Ahh, eu não uso muito redes sociais, e eu não sou muito fotogênico, sabe? kkk"
-"Deixa disso, Iuri! Você é muito bonito, cara."
Fiquei um pouco surpreso com o comentário que nem consegui responder, apenas deixei o celular de lado, até que ouço ele vibrar com uma nova notificação.
-"Tô indo dormir, Iurizinho. Até amanhã. Beijo na bundona"
-"Até amanhã, JP."
Ele não fazia nenhum sentido pra mim. Eu fiquei com uma grande interrogação na cabeça, e foi pensando no sorriso dele que eu dormi. Droga.