Ele fez uma careta e ativou o viva voz de seu aparelho. Nesse momento, notei a intensidade da “amizade” entre eles:
- … outro dia é o caralho bem no meio do seu cu, seu arrombando! Estou morrendo de saudades de vocês e quero os dois bem aqui na minha casa, hoje, sem falta! Você me entendeu, Mark!? Não aceito não da sua parte. Traga o Gervásio, afinal, onde comem dois, três, comem quatro.
(CONTINUANDO)
Mark sorria sem parar, agora olhando para a Fernanda que balançava negativamente a cabeça:
- Ah é!? Onde comem dois, três, comem quatro? - Mark brincou.
- Ah, vai se foder, Mark! - Denise falou, rindo: - Não estou procurando relacionamento não, certo? Só quero reencontrar vocês. Ele tá vindo por uma necessidade do momento.
- Ara, calma, mulher. Cê tá precisando namorar! - Mark brincou novamente.
- Tô mesmo! Já até dei uns beijos na Nanda e pensei que ia dar uns em você também, mas já vi que não vai dar. - Ela resmungou, mas logo riu e continuou: - Tem problema não. Tenho certeza que o Ben vai fazer um cocô bem grandão de noite, daqueles que dá o maior trabalho para limpar e é você quem vai me ajudar a trocar a fralda. Aí, lá no quartinho, eu te pego gostoso. Ah, se pego…
Ele aparentemente não imaginava que a conversa fosse tomar esse rumo e se atrapalhou um pouco, desligando o viva voz, enfim. Conversaram mais algumas coisas com ele, às vezes, sorrindo para o nada e combinaram mais alguns detalhes. Enfim, desligaram:
- Está vendo? Resolvido! - Ele falou para a Fernanda.
Ela só balançava negativamente a cabeça e resmungou para ele:
- Palhaço! - Então se virou para mim: - E você se comporte, Gervásio. Se pisar na bola com ela, vai pisar na bola comigo e, pelo que você acabou de ouvir, ainda mais com o Mark. Acho que você não quer ficar mal com o seu próprio advogado, quer?
- Nã… Não, Fernanda, claro que não! Fica tranquila, aliás, fiquem os dois tranquilos. Vou ser uma ótima companhia. Posso levar um vinho?
- Deve! - Disse o Mark: - Ah, ela gosta muito de um tinto suave, chileno… Como é o nome mesmo, Nanda?
Ela apenas deu de ombros, demonstrando não saber ou não querer ajudá-lo, mas não foi preciso:
- Concha Y Toro! Reservado Sweet Red. É muito bom e não é tão caro. Leva logo umas duas garrafas para deixá-las de fogo. Aí quem sabe, quando ela apagar, você não sai do mano a mano. - Brincou e riu alto.
- Ah… Cachorro! - Nanda reclamou e lhe deu dois tapas no ombro: - Covardia fazer isso, mor!
- Estou brincando, Nanda! Até parece que duas garrafas são suficientes para deixar vocês duas de fogo. - Ela concordou com um meneio de cabeça e ele continuou: - Por isso que eu também vou levar duas…
- Filho da puta! - Ela disse e lhe deu dois caprichados tapas nas costas, mas pelo tom que ele havia adotado, estava apenas brincando com ela.
Assim que ele a abraçou, voltou a me falar:
- Agora, sério: leva uma garrafa desse vinho e sei que ela vai gostar. Eu vou levar alguma coisa também, mas ainda não sei o quê.
- Camisinhas! Leva um pacote de camisinhas que sei que ela vai adorar. - Brincou a Fernanda com um sorriso malicioso no rosto.
- Vai nada! Eu e ela só transamos sem, você esqueceu?
- Caralho, Mark, cê tá querendo apanhar de mim hoje mesmo, né, seu safado, filho da puta!?
Nesse momento, ela não conseguia fazer nada mais que resmungar, porque o Mark a segurava num abraço, imobilizando seus braços e ria. Despedimo-nos e combinamos de nos encontrar no apartamento da Denise. Eles me passaram seu endereço e que me encontrariam lá às oito horas.
Voltei radiante para o meu apartamento. A tempos eu não me sentia feliz assim e quis dar o meu melhor. Caprichei no banho, na barba, na roupa que pedi para o hotel passar novamente embora estivesse bem apresentável, enfim, quando terminei de me arrumar, eu estava realmente muito bem, nem parecia o mesmo Gervásio que vinha sofrendo revés atrás de revés na vida. Fui até um shopping próximo e comprei o vinho indicado pelo Mark. Aproveitei também para comprar um buquê numa floricultura, afinal, eu queria impressionar positivamente.
No horário combinado, cheguei na portaria do prédio de apartamento, mas nem sinal do Mark ou da Nanda. Aguardei alguns minutos, mas como eles não chegavam, deduzi que já deveriam ter se adiantado e já estariam com a Denise. Identifiquei-me na portaria e após ser anunciado, minha subida foi autorizada. Subi pelo elevador e logo cheguei à porta do apartamento da Denise. Toquei a campainha e ela própria veio me atender, linda, alta, imponente, espetacularmente bela, perfeita…
- Boa noite, Gervásio. Está tudo bem?
- Oi!? Bem… - Só aí me dei conta de que devo ter congelado com sua imagem: - Ah! É… Sim! Sim, sim, claro. Desculpa, é… Vou muito bem, obrigado. E você, Denise?
- Estou bem também.
- Ah! São para você. - Falei e entreguei o vinho, permanecendo com o buquê.
Ela olhou a garrafa, recebendo e notei minha gafe:
- Não! Desculpa… Esse aqui é para você. - Disse e peguei o vinho, entregando-lhe o buquê: - Esse é para todos nós.
Ela deu um suave e doce sorriso, agradecendo o mimo e me convidando a entrar. Entrei e de cara notei que nem o Mark, nem a Fernanda, haviam chegado ainda. Estranhei, naturalmente:
- Ué! Mark e a Fernanda ainda não chegaram?
- Não! - Ela respondeu enquanto já acondicionava o buquê num vaso de cristal sobre uma mesinha: - Marquei o jantar para as nove da noite. Na verdade, você é que está um pouquinho adiantado.
- Ahhhh… - Resmunguei já xingando mentalmente o filho da puta do Mark.
- Fica tranquilo. Não irá atrapalhar em nada. - Disse e sumiu para uma área que imaginei ser da cozinha: - Vem pra cá, Gervásio.
Segui o som de sua linda voz e ela me convidou a sentar numa mesa na cozinha, onde ainda preparava o jantar. Vi que ela tirou um vinho de um espaço específico de sua geladeira e colocou o que eu levei. Entregou-me, então, a garrafa do mesmo vinho que eu havia levado com um abridor e entendi o que devia fazer. Abri a garrafa e logo ela veio com duas taças:
- Adoro esse vinho. - Disse e posicionou as duas que servi: - Vamos bebericando até aqueles dois chegarem.
Passamos a conversar diversos assuntos e ela parecia estar curtindo bastante a minha companhia. Nem vi o tempo passar e logo ouvimos sua campainha novamente:
- Devem ser eles! - Disse e tirou um avental que havia colocado para não se sujar, saindo às pressas.
Ouvi vozes e comemorações. Eram eles, certamente. Logo, eles estava entrando na cozinha. Fernanda veio me cumprimentar com os três beijinhos na face, enquanto o Mark tinha uma expressão típica de que havia me aplicado um “chiste”:
- Gervásio, você já chegou!? Quanta ansiedade, cara. - Brincou e sorriu de uma forma malandra.
- Pois é, cheguei... Às oito horas em ponto, Mark, oito horas! - Falei, tentando mostrar que ficara incomodado.
- Uai! Sério!? Será que eu confundi quando te falei o horário do jantar. - Perguntou para si mesmo e sorriu, olhando para a Fernanda: - Ara, sô…
- Confundir? Você, Mark!? - Denise o confrontou e riu, entendendo sua intenção: - Juízo, hein, doutor, juízo! Tô de olho no senhor…
Mark se sentou próximo a mim, ainda sorrindo e me deu dois tapinhas sobre as coxas, enquanto as duas foram olhar alguma coisa no forno. Deu uma boa olhada na garrafa sobre a mesa, menos de meia garrafa naquele instante e ainda sorrindo, disse:
- Falei procê!
- Não! Essa é dela, já estava na geladeira. A minha está lá dentro, gelando.
- Ah… - Ele se voltou para a esposa: - Ô, Nanda, você trouxe a garrafa de vinho?
- Trazer de que jeito!? A gente bebeu no hotel. Você é quem ficou de trazer as cami… - Fernanda se calou e deu um gritinho alto na sequência.
Olhamos na direção delas e a mão da Denise estava bem colada em sua costela e já imaginei que ela havia tomado um beliscão. Rimos em silêncio, entendendo ser coisa das duas e logo a Fernanda trouxe mais duas taças, alisando a lateral de seu corpo, na altura das costelas, com uma expressão mista de dor e um sorriso divertido no rosto. Mark os serviu e brindamos os quatro, pois Denise já havia retornado junto dela. Ficamos conversando mais um pouco e logo o assado ficou pronto. Jantamos uma deliciosa vitela de cordeiro, com arroz de ervas e especiarias, salada variada de diversos legumes e verduras, além de beber mais vinho.
A noite estava agradabilíssima e num momento, com as meninas já meio altas, a própria Denise acabou confessando ter uma imensa intimidade com o casal, o que ficou claro pois ela se sentou quase grudada no Mark, aliás, ela do lado esquerdo e a Fernanda do lado direito. Inclusive, tive a impressão que as duas estavam com as mãos sobre sua coxa, mas, pela posição e a toalha da mesa cobrindo, eu não poderia confirmar. Ali, eu era a síntese das chamadas “velas” nos antigos namoros, mas ainda assim eu estava feliz pra caramba na presença de pessoas de bom alto astral.
Num determinado momento, a babá que cuidava do filho da Denise perguntou se ela precisaria que ela continuasse até mais tarde, mas foi dispensada. Denise assumiu as incumbências e alimentou o filho e, fingindo ou não, deu uma cheirada no bebê para depois convidar o Mark para ajudá-la a trocar sua fralda. Como o Mark estava de costas para ela, me olhou e sorriu maliciosamente:
- Não serve a Nanda, Denise? Ela é mãe, tem mais experiência com...
- Não serve não! - Ela o interrompeu sem pestanejar e se aproximou dele, pegando-o pela orelha: - Quero a sua ajuda, entendeu? Pode ser?
- Pode, né!? Fazer o quê… - Falou e brincou novamente com ela: - Acho que o Gervásio gostaria de aprender a trocar fraldas, Denise.
- Mark!? Agora, por favor… Já! - Ela insistiu, fingindo estar brava até com os dentes à mostra.
Acompanhei os dois com meu olhar até sumirem por um corredor. Não sei que expressão fiz naquele momento, mas foi o suficiente para a Fernanda me interromper:
- Você não vai ficar com ciúme do meu marido, né, Gervásio?
- Ciúme!? Nããão! É que…
- “É que” nada! O Mark tem um lugar cativo no coração dela. Faça a sua parte e quem sabe você o substitui um dia, mas até lá…
Entendi e devo ter dado o meu melhor sorriso amarelo, mas dei de ombros, afinal era uma verdade imbatível naquele momento. Ficamos conversando sobre a reunião que tivemos na corretora horas antes e logo ela me deu sua opinião, embalada pelo álcool ou por ponderações que já fizera antes com o marido:
- Acho que você fará uma cagada se aceitar ser sócio da corretora…
- Mas pode ser um bom negócio. Eu, a princípio, pensei em talvez pedir dez por cento. Para você ter uma ideia, só as comissões com os investimentos desse último mês giraram na casa dos trezentos mil reais e sem considerar as aplicações do canalha do Roger e seus amigos. Imagina dez por cento desse valor, mais o que deve entrar deles, caindo na minha conta todo mês e ainda tem o “pro labore”, hein!?
- Você está pensando racionalmente, objetivamente, mas só no dinheiro. Até parece que está se esquecendo que tem bem mais coisa envolvida.
- É, eu sei, o Roger…
- Não só ele! O Mark disse que ele comentou algo sobre comprar parte da corretora durante a reunião, imagina se ele concretiza isso e se torna sócio também? E pode ser pior! Imaginou se ele compra o controle acionário da corretora? Você teria que se submeter à vontade dele ali dentro também.
Realmente eu não havia analisado a situação por essa ótica e ela me acertou em cheio. Continuamos analisando a situação sob a ótica dos administradores. Acabei não notando que o tempo passava e os três não voltavam do quarto. Só me dei conta quando retornaram. O bebê já vinha num carrinho, dormindo. Mark parecia o mesmo, só mais sorridente, mas a Denise parecia meio aérea, abobada… Tinha também as bochechas ruborizadas e até parecia respirar um pouco mais intensamente, além de ter seus cabelos levemente desalinhados. Fernanda pareceu também ter percebido isso e começou a dedilhar os dedos de uma mão sobre a mesa, enquanto encarava os dois:
- O quê!? - Ambos perguntaram quase ao mesmo tempo.
- O que, né!? - Fernanda resmungou: - Mui amiga, hein!? Talaricagem do caralho, Denise! Porra...
- Ah, Nanda… - Denise resmungou, fazendo um biquinho e a abraçou, cochichando algo em seu ouvido, fazendo a Fernanda sorrir maliciosamente.
- Tá, tá bom! Chega, mulher… Desgruda. Sai! Tá calor. Sai de cima de mim… - Fernanda disse, fingindo se debater enquanto ria, mas, no final, cochichou algo no ouvido da Denise, do que eu só consegui entender parte de uma frase: - Mas que cê tá cheirando, tá sim! Safada do caralho…
Denise se afastou um pouco dela e colocou uma das mãos sobre a boca, soprando e cheirando o próprio hálito. Arregalou os olhos, ficou roxa e pediu licença, entrando pelo mesmo corredor de onde havia saído. Fernanda encarou o Mark e ele a ela, ambos sorriam: ela de uma forma nervosa; ele tomado por boas e recentes lembranças. Para completar, ele deu de ombros, sem nada dizer, mas nem precisava, eu entendi tudo pelas entrelinhas: Denise havia acabado de fazer um gostoso sexo oral nele, talvez ele nela, mas fato é que fiquei constrangido com tamanha liberalidade entre todos eles.
Havia um silêncio estranho e Fernanda o encarava sem parar, provavelmente incomodada, mas eu já me perguntava se teria sido com o ato ou com o fato dela não ter participado. Num átimo de segundo, ela o pegou pelo colarinho da camisa e imaginei que iria estapeá-lo bem ali na minha frente, mas ao contrário pulou em cima dele, cheirando seu pescoço e após o encarar a centímetros de distância, beijou-o com uma intensidade de tirar o fôlego que me deixou ainda mais constrangido. Aliás, fiquei tão constrangido que preferi me levantar e ir me sentar na sala.
Logo, a Denise chegou e estranhou eu estar ali, fazendo uma expressão de dúvida e um movimento de ombro como se perguntasse por que eu estava ali. Eu simplesmente fiz um meneio de cabeça indicando a direção da mesa. Quando ela olhou naquela direção e viu o Mark lutando pela vida contra uma Fernanda que parecia faminta, ela pareceu entender o que acontecia e veio se sentar ao meu lado. Ela só me fez um novo movimento de ombro como dizendo “pois é, né!” e ficamos em silêncio, assistindo aqueles dois: ela constrangida comigo e eu constrangido com eles todos. Logo, o casal parou de se beijar e notou o show que estava dando, riram de si mesmos e nos chamaram de volta à mesa.
Para tentar aliviar um pouco o clima, falei para o Mark e também para a Denise o que havia conversado com a Fernanda. Eles me ouviram e, como advogados, teceram suas opiniões. O Mark praticamente repetiu o que a Fernanda havia dito, certamente conclusão deles após conversarem entre si. Denise até tentou ponderar meus argumentos, mas concluiu que o risco não valia a pena e endossou o casal. Por uma maioria absoluta de três votos em quatro, o entendimento de eu me tornar sócio da corretora seria uma burrada, venceu. Por mais que me parecesse tentador, eu precisava levar em consideração o ponto de vista deles e decidi recusar a sociedade na corretora. Mark então me orientou dos detalhes e procedimentos do acerto que faríamos no dia seguinte. Por fim, conversamos mais um bom tempo e já passava da meia noite quando fui me despedir de todos eles. Na vez da Denise, ela confessou:
- Desculpa pelo papelão, Gervásio. Eu sei que… É difícil explicar, mas… Poxa! Eu estava com muita saudade deles e… Bem… É… Então… Aconteceu! Só me desculpa.
- Fica tranquila, Denise. Sei da “amizade” de vocês… - Fiz questão de frisar a palavra amizade, sorrindo de forma leve para não constrangê-la ainda mais: - Não fiquei incomodado de forma alguma. Eu espero só poder te retribuir o delicioso jantar e a sua companhia um dia.
- Claro, por que não? Seria um prazer.
- Vamos manter contato então, ok? - Falei e lhe passei um cartão com meu número de celular: - Quando quiser conversar, é só me ligar, ou escrever, esse também é o meu WhatsApp.
- Tá bom. - Disse e me beijou a face.
Eu já havia me despedido do casal e, ao que tudo indicava, ou eles iriam pernoitar ali, ou a noite ainda iria render bastante. Dormir certamente eles não dormiriam tão cedo. Tive inveja do Mark nesse momento, afinal, ter duas mulheres lindíssimas, inteligentes e safadas, uma loira e uma morena só para ele, era um feito e tanto. Eu não conseguia imaginar como ele daria conta, mas, pela forma como elas eram loucas por ele, certamente ele daria o seu jeito.
OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL É MERA COINCIDÊNCIA.
FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DA AUTORA, SOB AS PENAS DA LEI.