Quando consegui me recompor eu levantei e me vesti. Eu não gostava muito de vestir essas roupas mas fazia com uma certa frequência. Por viver no mundo da música clássica eu tinha que frequentar eventos onde existe esse dress code. Quando terminei de me arrumar desci para esperar o carro. Ao passar pelo estúdio vi a minha mãe dando aula para duas mulheres somente. Ela me viu e deu um sorriso. Sem as alunas perceberem ela passou o dedo entre os seios, onde tinham restos da minha porra seca e colocou na boca. De um jeito bem safado. Meu pau deu um salto instantâneo e ela deu um sorriso com um toque de vergonha. Parecia uma adolescente também. Nos despedimos à distância e desci pra rua. O carro já estava lá.
Era o mesmo motorista que me levou pra casa do Renan depois da escola no outro dia. Entrei no carro, ele me cumprimentou e partimos. Passando pelas ruas e semáforos eu lembrei da gozada farta que ainda marcava o corpo dela nesse momento. Eu usei ela da forma que eu queria, e parecia ser exatamente o que ela precisava também. Ela parecia contemplada. Meu pau marcava a calça quando encostamos na casa da minha professora. Eu desci para ir chamá-la. Toquei o interfone e ela disse que estava descendo. Quando ela apareceu meu queixo caiu. Ela usava um vestido roxo com um decote generoso. Os seios dela não eram grandes mas o corte favorecia muito a forma dela. Havia também uma fenda sobre a coxa direita, e o vestido se movia conforme ela andava.
- "Nossa, professora" -- Eu falei engolindo a seco
- "Você gostou?" -- Ela perguntou com um sorriso
- "Sim, você está incrível. Eu nunca te vi assim antes, nem nos videos das suas apresentações antigas"
- "Obrigada. Vamos?"
- "Sim, vamos"
Abri a porta pra ela e entramos no carro. Quando entramos ela começou a falar sobre todo tipo de assunto, e eu nunca tinha visto esse lado dela. Ela era sempre muito séria, muito rígida e só falava sobre música. Escalar, arpejos, técnica, técnica e técnica. Mas agora ela parecia outra pessoa. Uma versão muito mais agradável. A conversa fluiu tanto que nem percebi quando chegamos. Havia uma pequena fila de carros no portão. Quando conseguimos descer vimos que havia muita gente ali. Alguns rostos conhecidos. A minha professora reconheceu o primeiro violinista da filarmônica de Viena. Acho que a orquestra toda foi convidada. Além disso se viam muitos homens velhos com mulheres jovens ao lado. Eu reconheci até umas atrizes que participavam das novelas da globo da época, como a Fernanda Machado e uma que qualquer um reconheceria em qualquer lugar, Mariana Ximenes. Não sei se vocês se lembram de como ela era nessa época, mas era impossível não notar a beleza dela.
Enfim, depois de nos acostumarmos com o nível do evento entramos e encontramos com a diretora do conservatório. Trocamos algumas palavras, ela sempre me forçando pra ser educado e solícito. Que não sabia se pediriam algo de mim, mas que eu deveria me lembrar que eu representava o conservatório inteiro. Não vou entediá-los com todos os procedimentos. Mas houveram momentos de socialização. Um jantar finérrimo aonde a diretora teve que ficar sussurrando pra mim qual talher usar e depois disso o pessoal ficou mais livre andando pelo espaço.
Eu via diversos olhares para a professora Sayuri, mas devo admitir que em evento onde se vestia tanto preto, branco e cinza, o roxo do vestido dela chamava muita atenção.
Um homem bateu em uma taça de champagne chamando a atenção e anunciou que a diretora do Instituto Coimbra faria um pronunciamento. E lá estava ela. Aline Coimbra, em um vestido verde e olhos esmeralda profundos. Em um degrau alto da escadaria para ter uma visão da plateia. Até então eu não havia a visto. Quando ela apareceu a professora ficou mais próxima de mim, de uma forma defensiva. Chegou a encostar o corpo no meu braço para ouvir o pronunciamento.
Ela se apresentou, agradeceu a presença das pessoas, da orquestra, falou sobre o evento. Na verdade se eu não estivesse tão encantado por aquela mulher teria sido um discurso muito entediante. Mas eu adorava ter uma desculpa pra poder olhar pra ela sem interrupções. O decote dela era mais conservador, mas ainda era um arraso. Eu estava tão distraído que nem percebi quando ela falou meu nome.
- "Felipe! Ela está te chamando! Vá até lá agora" -- A diretora sussurrou no meu ouvido me empurrando.
Sem perceber eu me vi andando no meio das pessoas que foram abrindo caminho pra mim, e subi até o degrau da escada aonde a Aline estava.
- "Esse é o Felipe Kohigashi. Um grande pianista de um dos melhores conservatórios de São Paulo. Dentre grandes candidatos ele se sobressaiu e foi selecionado para se apresentar com a orquestra no nosso grande evento."
Eu tentei me concentrar nas palavras mas me perdia na forma dos lábios dela que pareciam se mover em câmera lenta. Ou o perfume inebriante que ela usava que eu não fazia ideia de qual era. Ela estava tão perto. Eu queria esticar a mão e tocá-la. Eu queria sentir. Mas consegui me controlar.
- "Agora vamos nos retirar rapidamente porque preparamos uma surpresinha pra vocês." -- Ela disse descendo as escadas e entrando em uma porta, indicando para que eu fosse atrás dela. Eu a segui sem falar nada e sem entender nada também. Mas quando estava entrando na porta eu vi minha professora de longe e ela parecia muito incomodada.
Entramos na sala onde haviam alguns instrumentos, e ela começou a falar.
- "Então, eu gostaria de apresentar uma peça de piano e violon..."
- "O que você quer comigo?" -- Eu disse interrompendo ela no meio da frase.
Ela me olhou espantada.
- "Como assim, o que eu quero?"
- "Isso mesmo. O que você quer? Eu sei que você está fazendo tudo isso por minha causa. Não é coincidência essa mudança de planos pra incluir um pianista nacional em um evento que ja acontece a tantos anos" -- Eu disse, eu mesmo ouvindo mais emoção do que razão na minha voz.
- "Não quero nada. O nosso encontro me relembrou de quando eu amava música, e eu me vi em você. E pensei em usar a minha posição pra poder incentivar isso pra alguém. E sim, eu queria que fosse você. Eu perguntei seu nome pro Renan e fui atrás dos conservatórios"
- "Por que eu?"
- "Eu não sei. Você me fez sentir algo que eu não sentia a muito tempo."
- "O que?"
- "Angústia, paixão. Eu ouvi você tocando e isso mexeu comigo. Algo que eu reprimi em mim mesma a muito tempo. Eu achei que essa fase da minha vida havia passado. Agora sou uma mulher casada com um homem importante, com um filho quase adulto. Eu tenho outras prioridades. Ainda tento me manter viva com pinturas e com incentivos à instituições de arte, mas quando eu ouvi a sua música eu percebi que eu estava só vivendo no automático. Nem sei por que estou te falando essas coisas, você é só uma criança. Eu não deveria estar dividindo isso assim. O Arnor não gostaria nada de saber disso."
- "Eu não consegui tirar você da cabeça desde aquele dia."
- "Como assim? Por que?"
- "Eu também não sei explicar. Mas eu te vi ali naquele dia e você parecia uma obra de arte. Seu olhar ficou gravado na minha mente. E no outro dia no conservatório, eu nem sabia o que estava tocando. A música só saiu de mim quando te vi"
Ela me olhou em silêncio por um tempo, e ficamos ali sem dizer nada.
Eu dei um passo para frente, e ela deu um passo para trás, hesitante. Eu dei outro, e dessa vez ela se manteve imóvel. A cada passo a expressão de dúvida dela aumentava. Mas eu não queria saber. Não queria saber que ela era casada, que era mais velha. Não queria saber de nada. Fiquei a um passo de distância dela e parei. Ofereci a minha mão e ela relutou, mas me ofereceu a dela. Eu toquei aqueles dedos e foi uma sensação muito forte. A pele era tão macia, tão delicada, apesar de pequenos calos nas juntas dos dedos. Talvez por segurar pincéis, não sei.
Eu dei mais um passo pra frente e senti a respiração dela no meu rosto. Nós tínhamos quase a mesma altura. Eu sendo um pouco mais alto que ela. Beijei os dedos que eu segurava na mão e senti a respiração dela ficando mais intensa. Com a outra mão toquei o rosto dela, passei o dedão pelo queixo dela e admirei o tom do batom que ela usava. Sem nem pensar eu beijei a boca dela e os braços dela envolveram meu pescoço. Em centésimos de segundo estávamos envolvidos. Minhas mãos corriam as costas dela e as dela estavam no meu cabelo, nos meus ombros.
Com uma mão alcancei o seio dela por dentro do decote e ela gemeu dentro da minha boca. Uma mão dela me puxou pelo cinto. De repente a mesma mão me empurrou pra longe e ela se afastou.
- "Eu não posso fazer isso. O que eu fiz? Em quase 20 anos eu nunca traí meu marido.... " -- Ela parecia estar falando mais com ela mesma do que comigo.
- "Eu não quero parar" -- Falei pra ela com sinceridade
- "Não posso, desculpe, eu não posso." -- Ela foi correndo para outra porta.
- "Espera!" -- Eu gritei quando ela estava quase saindo, e ela parou e me olhou.
- "Você disse que tínhamos que apresentar algo. Os convidados estão aguardando."
- "É verdade, meu Deus... "
- "O que você acha de Fauré? Nós nos apresentamos, e eu vou embora."
- "Tudo bem. Os instrumentos ja estão la nos aguardando. Meu marido deve estar se perguntando aonde estamos. Vamos logo."
Nos arrumamos, ela retocou o batom e saímos pela porta. Os convidados estavam ao redor de um piano e um violoncelo posicionados no centro do salão. Ela falou com um funcionário e partituras foram trazidas.
"Gabriel Fauré, Élégie Op" era o título da minha. Me sentei e esperei ela se posicionar. Assentimos com a cabeça e começamos a tocar. Eu não sei vocês, mas pra mim se existe alguma peça que representa um sexo intenso e apaixonante, é essa. É um diálogo intenso entre o piano e o violoncelo, com momentos de harmonia entre os instrumentos, momentos onde um se sobrepõe, e momentos onde o outro é protagonista. É forte e delicada. Alguns olhares foram trocados durante a apresentação e foi simplesmente incrível. Eu nunca havia tido esse tipo de sincronia sem praticar antes. Parecia que a gente se entendia, se ouvia e se conversava pela música. O tempo correu perfeito. E a peça se acabou.
Houveram aplausos do salão e eu me levantei. Fiquei ao lado dela, e nos curvamos. Várias pessoas vieram nos cumprimentar e elogiar. O marido dela veio com taças de champagne para os dois. Ela olhou pra mim depois desviou o olhar. Eu me virei e procurei a Sayuri, ela estava no bar sentada. E a expressão dela era séria.
Me aproximei dela e ela logo disse:
- "O que aconteceu? Por que demoraram tanto?"
- "Desculpa professora, não acho que vou conseguir me retirar disso. Eu não consigo viver com o arrependimento de não tentar. Eu estou preso."
- "Então me use."
- "Como assim?" -- Perguntei confuso.
- "Você quer ela, quer transar com ela. Então transe comigo. Toda vez que sentir essa tensão, use o meu corpo ao invés do dela"
- "Professora? O que você está falando?" -- Eu disse espantado.
- "Eu sei qual é o final dessa história, e você não sabe. Eu não posso deixar você abrir mão de tudo o que trabalhou por tanto tempo. Então estou disposta a fazer o que for necessário."
Eu olhei pra ela em choque, sem fazer nem ideia do que falar. O que se fala pra uma proposta dessas? Depois de ver que minha cara não ia mudar tão cedo, ela tomou a atitude.
- "Vem, vamos embora"
Ela me puxou pela mão, e fomos para os carros.