O domingo de folga tinha sido tão bom…
– Painho, mainha tá perguntando se tu quer minhoquinha azedinha.
– Quero sim, claro , eu só venho no cinema para comer essa minhoquinha.
– Então por que você não compra bem montão pra comer em casa?
– só tem graça comer aqui Mariana. E se tivesse um montão lá em casa, quem ia comer tudinho era tu. Tu e tua mãe, duas papa-minhoquinha azedinha!
Mariana sorriu, fez uma carinha de deboche e voltou correndo pra junto de Sara, que finalizava a compra do nosso lanchinho da sessão de cinema. Eu fiquei ali perto da bilheteria tentando me lembrar do que eu tinha feito de tão bom para merecer aquelas duas criaturas na minha vida.
Me toquei que fazia muito tempo que não tínhamos esse passeio em família. Mariana já vinha cobrando que a gente levasse ela para assistir aquele desenho animado que ela adorava e fazia questão de lembrar com um biquinho choroso que todos os coleguinhas dela já tinham visto, menos ela. Naquele domingo, com eu e Sara em casa de folga, não havia como escapar. E lá estávamos os três no shopping Boa Vista num programa clássico de McDonald 's, cinema e livrinhos para Mariana.
Nossa gostosinha estava se aventurando nas primeiras leituras e sempre comprávamos as estorinhas que ela adorava. Com a macaquinha aprendendo a ler, criamos uma brincadeira onde ela que tinha que ler uma estorinha pra eu e Sara dormir. Aí ela começava a ler a estorinha e logo dizia que estava com sono, que tínhamos que dormir logo e ficava irritada nos dando bronca. Morríamos de rir. Mas naquela noite a contadora de estória chegou em casa apagada e nem quis conversa.
Fiz um chazinho para ajudar na digestão do monte de fast food que consumimos e ficamos, eu e Sara, na cozinha, conversando sobre nossos projetos, o financiamento do apartamento novo, a compra de um carro mais barato, a escola de Mariana, os problemas de saúde da minha mãe e os contratempos do dia a dia de nossos trabalhos.
– A gente precisa sair mais com Mariana, Jonas. A bichinha merece um passeio desse pelo menos nos fins de semana. E a gente também merece mais programinhas só nós dois, né?
– É, eu sei. Mas tamo meio apertado até quitar o apartamento, tu sabe.
– Amanda e Roni convidaram a gente pra um Jantar lá no Peruano da Rua da Hora.
– E esse bar ainda existe? Bar não, restaurante, e caro que só.
– Uma vez na vida dá pra gente ir sim.
– E por falar em Amanda, a festinha foi boa ontem, né? Ela olhou pra mim assustada, empalideceu e passou a evitar meu olhar.
Achei estranha essa reação porque eu não tinha visto nada de mais em ela ter saído com a amiga e exagerado um pouco nas doses.
– Vocês vieram para casa como, de uber?
– Foi Roni que me trouxe, eu tava na casa deles. falou, inquieta, sem me encarar.
– Eu vou dormir, tô cansada e amanhã acordo cedo. Levantou contrariada e me deixou ali sozinho.
Aí eu tive a certeza de que alguma coisa tinha acontecido. Mas não quis insistir, afinal tivemos um dia ótimo em família e eu também tinha que acordar cedo no dia seguinte. Fiquei ainda um tempinho na cozinha pensando na vida, no hospital e… em Jailza!
Não é que eu estivesse arrependido do que fiz. Pode soar estranho, mas eu não sentia que tivesse traído minha esposa. Sara e Mariana eram a razão da minha vida, meus amores, minha família. Com Jaílza rolava uma coisa só sexual e isso era bem definido na minha cabeça.
Quando entrei no nosso quarto, Sara já estava deitada, mas de olhos bem abertos, sem sinal de que estivesse com sono, parecia até que tinha chorado.
– Perdeu o sono, gostosa? Deitei do seu lado, abraçando ela e dando uns cheirinhos no seu pescoço. Ela me afastou e virou de lado, dando as costas para mim.
– O que foi Sara, algum problema? Ela permaneceu imóvel e em silêncio um tempinho e depois se virou pra mim, segurando firme no meu rosto com a duas mãos.
– Tu sabe que eu te amo demais, não sabe? Que tu e Mariana é tudo que eu preciso, não sabe? Ela me perguntava com um semblante de desespero, com a boca trêmula e os olhos cheios d'água.
– Claro que eu sei, eu tava pensando nisso também agorinha. O que foi que houve?
Agora eu precisava saber, alguma coisa grave tinha acontecido.
– Eu transei com Amanda. Soltou essa bomba sem largar meu rosto e olhando bem nos meus olhos, esperando minha reação.
– tu o quê? não entendi.
– A gente tava lá bebendo e ouvindo música, conversando sobre muitas coisas, a vida dela, a minha vida, sobre sexo, pau, essas coisas. Aí tocou uma música que eu adoro, aquela de Lenine, e ela me chamou pra dançar, rolou um beijo e…tu sabe.
– Não Sara, não sei não. Falei com certa irritação, tirando as mãos dela do meu rosto e me afastando.
– Eu tava já muito excitada com aquela conversa da gente, a gente se beijou, começou a se tocar, a se acariciar uma na outra e quando eu vi, já tava deitada no sofá com Amanda me chupando toda. e eu tava adorando, não sei o que deu em mim. Eu gosto muito de Amanda, a gente não tem segredo uma com a outra. Só sei que foi muito gostoso. Eu não sou sapatão, nunca fui. Ou sou e eu nem sabia. Só sei que gozei feito louca na boca dela.
Puta merda! Cada palavra dela tinha um espinho que se enfiava na minha pele, e ela não parava de falar. Era um desabafo, ela falava com a respiração pesada, tirava um peso das costas e eu percebia isso.
– E o marido dela tava onde nessa hora? perguntei, apavorado, já sabendo da resposta.
Sara agarrou de novo com força minha cabeça.
– por que importa isso agora? O importante é que eu te amo, que tu é meu único homem, meu macho, meu gorilão.
– Transasse com ele também, não foi Sara?
– Eu tava toda derretida, toda gozada da boca de Amanda. Ele se aproximou da gente e perguntou se podia me beijar também, eu deixei.
– Ele tava lá desde o início, olhando vocês, não foi?
– Tava.
Essa última punhalada parece que me anestesiou e fiquei ali ouvindo o resto do relato dela até com uma certa indiferença.
– Depois que eu beijei ele, que ele me beijou, os dois vieram pra cima de mim, me beijando toda, me chupando toda e eu emendava uma gozada na outra, não conseguia pensar em nada. eles faziam tudo com muito carinho, me pedindo permissão pra tudo, sem forçar nada.
– Aí, ele com esse carinho todo, arrombou teu cú?! Falei, debochado, quase gritando.
Ela olhou assustada em direção ao quarto de Mariana e depois se dirigiu pra mim, agora mais segura, disposta a não deixar dúvida.
– Foi, ele entrou em mim mesmo. Eu hesitei um pouco quando ele me pediu, mas eu me senti muito segura alí com eles, era uma coisa que eu não conseguia parar, queria viver aquela experiência, sentia que eu precisava daquilo. Eu não queria fazer anal. Você sabe que eu não gosto, não gosto muito. Mas quando ele começou a meter em mim, pela frente, ao mesmo tempo em que Amanda continuava me chupando toda, inclusive no meu cú, eu comecei a gozar de novo e aí eu acho que ele se empolgou demais, ou se aproveitou mesmo, sei lá. aí doeu muito e eu pedi pra ele tirar e ele atendeu na hora e terminou de gozar fora, tirando a camisinha e esporrando em cima de mim.
– Eu podia tá mentindo agora, fingindo que não aconteceu nada. Mas acho que tu tem que saber, eu quero ter essa confiança, essa liberdade pra de contar tudo. Tu é meu marido, pai da minha filha, meu…
– Não bota Mariana nessa imundície! resmunguei entre os dentes.
– Não tem imundície nenhuma, me respeite! Gritou.
– Te respeitar ? gritei também.
Aí um chorinho baixo ecoou vindo da porta de nosso quarto. Mariana olhava assustada pra mim e para Sara, agarrada no livrinho novo.
Sara deu um pulo da cama, feito uma leoa, botou Mariana no braço e se trancou com ela no quarto. Eu levantei também, atordoado, lento.
Perambulei perdido pela casa um tempo. Bati de leve na porta do quarto de Mariana. – tudo bem aí? Nenhuma das duas respondeu, mas ouvi Sara lendo a estorinha do livro novo pra nossa filha.
Passei o resto da noite em claro, em pé, na varanda do apartamento. O domingo de folga tinha sido tão bom…