O chato do meu cliente - A negociação

Um conto erótico de Lara
Categoria: Heterossexual
Contém 3985 palavras
Data: 24/03/2024 14:12:07
Última revisão: 26/03/2024 15:31:25

Enzo e eu estávamos a horas vendo e revendo todo material que havia sobre a venda do terreno da Vilma. Meus olhos doiam, a cabeça também.

"Tem certeza de que o valor deles é menor do que a proposta desse Marcelo?"

"É o que Vilma me disse. Que o problema esta com a minha comissão?"

"Difícil, mas é aquilo que eu te falei, num chutômetro o valor da proposta desse... Hiran deve ser cento e cinquenta, duzentos mil a menos que o seu., no máximo, senão não faria sentido ela desistir da sua proposta

"Minha não, do Marcelo."

"Você entendeu. Talvez você possa propor, quem sabe reduz para um, dois porcento?"

"Será? Mas isso não resolve pra gente. Cinquenta, cem mil, vocês precisam de muito mais pra saldar as dívidas."

"Melhor do que nada."

"Vou tentar, o problema é que o Marcelo agora encasquetou com o tal do Hiran, quer saber quem é. E me deixou sem saída, não posso falar com a Vilma até ele autorizar."

"Seus clientes são muito malucos pro meu gosto. Não vai fazer nenhuma diferença pra ele."

" E eu não sei! Essa demora pode fazer a gente perder o negócio e ia, já viu né!"

"Nem os cinquenta mil dele você recebe."

"Então, é por essas e outras que eu tenho implicância com Marcelo. Um chato, egoísta, acha que é dono do mundo. Só por que é um gato."

"Gato!"

"A mulherada acha, precisa ver como fica a Júlia quando fala dele. Acho que já tiveram um caso."

"Sério? Bom, seja como for, ainda bem que ele te ofereceu esse valor por fora. Não é muito comum, compradores fazerem isso."

"Não, não é. Mas bem que eu mereço, trabalhar com Marcelo exige pagamento por insalubridade."

"Pelo menos faz bem pra vista, gato."

"E rico, podre de rico, mas que adianta se é um babaca. Um porre!"

"Bom, ainda bem que não é meu cliente, já me bastam os gerentes do banco."

Ele bocejou e se espreguiçou.

"Quer saber, eu vou dormir que amanhã eu saio cedo. Você vem?"

"Tô indo, vou só guardar a papelada e já vou."

Fui nada, ainda tentei mais um tempo, mas minha cabeça não conseguia mais pensar. Não era só cansaço, era ansiedade também. Desisti, tomei um banho e fui deitar.

***

Acordei com Enzo saindo.

"Já vai, amor?"

"Tô indo. Tô atrasado. Leva os meninos?"

"Levo."

Me deu um beijo e saiu apressado. Tomei coragem e me levantei, fui chamar minha turma e depois me aprontar. Ainda bem o que colégio era perto, senão eles acabavam chegando atrasado.

Voltei para casa e o olhei o celular, nenhuma mensagem do Marcelo, até senti falta dele me atazanando a paciência. Quando deu nove horas mandei um zap.

'Bom dia. Tem notícias?'

Dez minutos depois e nada. Voltei a me envolver com as contas tentando advinhar a proposta do Hiran. O telefone tocou e eu atendi sem olhar.

"Oi Marcelo!"

Alguém pigarreou do outro lado. Uma voz muito baixa respondeu.

"Bom dia. É Vilma, querida."

Eu não esperava.

"Desculpe. Bom dia, eu estava esperando uma ligação."

"Pois é, você sumiu, desistiu?"

Levei uns segundos absorvendo a pergunta. Aquilo era novidade, me deixou curiosa.

"Não é que eu estive envolvida com outros clientes por aqui, mas eu não me esqueci da senhora."

"Pois é, você sabe, meu neto tem uma proposta. Ele quer que eu resolva isso logo. Sabe como são os jovens, sempre assodados. Mas eu falei com ele que eu não podia deixar de ouvir a sua contraproposta. Gosto de pessoas como você, uma profissional tão séria. E falta tão pouco para o acordo, não é mesmo?"

Eu caminhava de um lado para o outro da sala, tentando entender aquela ligação.Tateie o terreno tentando ver até onde aquela conversa ia.

"Então dona Vilma. Um dos problemas é que com a sua proposta eu fico sem minha comissão. Eu até faço isso num caso ou outro, mas é que dessa vez, a senhora sabe, nós estamos com problemas financeiros aqui em casa. Meu marido precisa quitar uma dívida junto ao banco. Senão a firma dele fecha as portas."

"Oh minha filha, fico com muita pena de você. Fico mesmo, mas é aquilo que eu te falei, o Hiran me mostrou que eu recebo menos se vender para o Marcelo do que se vender para os amigos dele."

Então porque não vendeu ainda, foi o que me passou pela cabeça. Mas claro que eu não falei, aproveitei e insisti.

"Não dá para a senhora rever essa posição? Pelos me dizer qual o valor da proposta deles para que eu possa negociar em bases mais reais?"

"Infelizmente não posso. Hiran me pediu sigilo 'absoluto'. Diz que é por questões contratuais com os sócios. Eu não entendo muito dessas coisas."

"Entendo, que pena."

"Pena mesmo. Fico triste por você. Tem filhos?"

"Tenho dois. Dois adolescentes."

"Mas vai dar tudo certo, com certeza vocês vão encontrar um jeito e fazer o que é melhor para todo mundo."

"Vamos ver dona Vilma. Eu gostaria só que senhora levasse em consideração a minha situação. Como vê pode afetar a vida dos meus filhos."

"Sim, entendo a sua preocupação, com certeza. Vamos fazer assim, vou conversar com meu neto novamente, falar das suas dificuldades, quem sabe consigo algo pra você. Hiran deve vir aqui hoje à tarde e eu te dou um retorno assim que puder."

Eu até me animei, quem sabe pelos menos uma parte da comissão. Melhor do que nada.

"Ótimo dona Vilma! Veja o que a senhora consegue pra mim. Conforme for, resolvo tudo com o Marcelo ainda hoje."

"Que bom menina, era isso que eu esperava de você."

"Fico aguardando o seu retorno, Vilma."

"Sim, um, como é mesmo?"

"Uma mensagem?"

"Isso, envio uma mensagem."

Nos despedimos e eu sentei no sofá. Que conversa estranha! Ela ligou só para me sondar, por que? Qual o motivo da pressa em fechar o acordo? Então ela tinha margem para me pagar uma parte comissão, por que não disse logo?

Pessoal esperto. Quanto mais dinheiro tem, mais querem. Meu celular vibrou, achei que fosse ela, não era.

'Não. Sem notícias ainda. Aguarde.'

Era Marcelo, um poço de educação! Mas se ele não tinha novidades, dessa vez eu tinha. Liguei no ato.

"Oi Marcelo! Você pode falar?"

"Rápido que eu estou atrasado."

"Vilma ligou."

"Ligou!"

Contei em detalhes toda a conversa. Ele debochou de Vilma, me recriminou por não ter sido mais dura com a viúva. Um misógino em ação.

"Como é que é? Ela aceita te pagar uma parte da comissão!"

"Diz que vai estudar com o neto. Ver o que pode fazer por mim."

"Mudou."

"Sim, mudou de conversa. Eu só não acho que vai ser muito o que ela vai me oferecer."

"Não, não vai. Mas já é alguma coisa. Por que ela ligaria se a proposta do neto era melhor pra ela no final das contas?"

"Pois é, fiz a mesma pergunta. Ela disse que gostou de mim?"

"E você acredita nesse papo?"

"Não, né!"

"Tem dente de coelho aí. Meu pessoal já apurou que o tal do Hiran é sujo na praça, vive endividado. Mas eles ainda estão apurando."

"Mas se ele não vai receber comissão na outra proposta. Qual a vantagem que ele leva nesse caso?"

"Esse é o mistério. E é por isso que essa história está me deixando mais curioso."

"E o que eu faço?"

"Espera, ela agora está atrás de você. Se nada der certo, quinta a gente fecha o negócio com a velha. Vamos ver o que ela vai te oferecer. É bom que o meu pessoal tem mais tempo para descobrir mais coisas sobre esse Hiran."

"Ok, quando Vilma me der um retorno eu te aviso."

***

"Alô!"

"Marcelo! Lara, você pode falar?"

"Posso, e aí?"

"Acabei de receber a mensagem da Vilma. É quase uma piada, dez mil."

"Dez! Esse pessoal joga duro. Achei que seria uns vinte, trinta."

"Eu esperava uns quinze. Tá bom, melhor que nada."

"Que bom, garota! É por isso que você é pobre. Contenta com pouco. Você não entendeu que é um jogo, ganha quem arrisca mais."

"Mas não tem como saber. Seu pessoal conseguiu alguma informação nova?"

"O cara não tem dívidas não tem dívidas nesse momento. Zero. Seria um motivo para ele estar pressionando a avó."

"Como é que seu pessoal consegue essas informações? Isso não tem sigilo?"

"Eu tenho meus contatos, é outra coisa que gente como você não têm."

Eu respirei fundo para não mandar o sujeito para aquele lugar.

"Seja como for, se não é por dívidas, não há motivos para ele pressionar a Vilma. Aceito a proposta?"

"Calma garota. Meu pessoal ainda está investigando, não descobrimos nada sobre a proposta dele. Quem são os sócios, quem financia? E isso é estranho, um valor tão alto e até agora não descobriram nada. Quem será esse sujeito?"

Pensei comigo mesma, talvez alguém igual você.

"Bom, você é que sabe Marcelo. Você é quem está se arriscando a perder o negócio."

"Me dá mais umas horas, deixa meu pessoal trabalhar. Se não tiver resposta, amanhã você vai lá e assina. Mas vai no final da tarde."

"Ela me pediu o retorno hoje, inclusive para ir lá. Enrolo?"

"Enrola. Talvez até aumente essa proposta que ela te fez?"

"Duvido. Mas, você é que sabe."

Desliguei sem saber o que escrever para Vilma. Resolvi esperar, quando deu cinco da tarde enviei uma mensagem avisando que só poderia ir amanhã.

Curioso, mal eu enviei a mensagem e responderam no ato.

'Achei que você vinha hoje querida."

'Infelizmente apareceu um contratempo dona Vilma."

'Mas você vem amanhã, de manhã?'

Pelo ritmo das respostas desconfiei que não podia Vilma quem escrevia. O neto talvez?

'Melhor combinar para a tarde. Tenho compromisso pela manhã.'

Demorou um tempo para vir a resposta.

'Querida, pense bem, não posso garantir a sua oferta. Meu neto me informa que seus clientes podem aparecer a qualquer momento. Que pena. Afinal são milhões de reais."

Minha intuição me dizia que só podia ser o neto quem escrevia as mensagens. Vilma não era do tipo que deixava seus empregados a par dos negócios.

'Ok, dona Vilma. Verei o que posso fazer, mas não garanto nada.'

Demorou de novo, até achei que não fosse mais responder.

'Querida, se a demora é por causa da nossa oferta, pode nos falar. Sinta-se a vontade.'

'Nos falar!' Só podia ser ele escrevendo por ela. Aproveitei e deixei clara minha posição.

'Sim dona Vilma, a sua oferta ficou muito aquém do que eu esperava. A senhora sabe das minhas dificuldades. Dez mil não resolve nada.'

Enviei e respirei fundo. Não sabia se aquilo melhorava a minha posição ou acabava com as pretensões do Marcelo. Viram, mas não responderam. Quando eu estava indo pro banho veio o retorno.

'Entendo, podemos fazer uma última oferta no valor da sua comissão. Vinte e cinco mil, é o máximo que podemos, a última oferta. E isso por que eu entendo as suas dificuldades.'

Vibrei. Veio mais alto do que eu esperava.

'Agradecida dona Vilma. Verei o que posso fazer aqui para chegar pela manhã.'

Tomei meu banho feliz da vida. Aquilo não era muito, nem resolvia minha vida, mas era melhor do que eu esperava. Liguei para Marcelo mais tarde, contando as novidades.

"Eu te falei, conheço esse pessoal, gosta de jogar pesado, mas eles também devem estar com alguma pressa, só pode."

"Mas ela quer que eu vá amanhã de manhã."

"Não senhora, vai no horário que eu te falei. Final da tarde."

"Eu não gosto de fazer isso com as pessoas, Marcelo."

"Faça o que eu estou mandando. Até agora deu certo, não deu?"

"Deu, mas, melhor não brincar com a sorte."

"Enrola a velha, e só aparece a tarde. E me manda uma mensagem quando estiver com ela. Aposta quanto que o tal Hiran vai estar por lá?"

"Não aposto nada, desconfio que era ele quem escrevia as mensagens hoje à tarde."

"Adoro quando acontece assim, gente querendo ser mais esperta do que eu, do que gente minha."

"E eu sou gente sua, desde quando?"

Aquele vozeirão, pelo som dava para saber que estava bebendo, barulho de gelo no copo, whisky uma música tocando ao fundo.

"Me excita. Os hormônios ficam a flor da pele, adoro."

"Dá pra ver. Não sei porque, você não ganha nada com isso, está se arriscando por que?"

Ele riu, e falou numa voz quase sensual.

"Gosto de você, do seu jeito. Você é uma mulher corajosa."

Se eu não estivesse tão relaxada com certeza teria mandado Marcelo as favas e desligado, mas ele estava me ajudando, muito mais do que eu imaginava. E aquela voz era gostosa de ouvir.

"Eu! Corajosa? Taí uma coisa que não sou."

"Você estava linda ontem, lambuzada de batom. Ainda mais descabelada."

Tava bom de mais pra ser verdade.

"Não quero falar nesse assunto, Marcelo. É uma coisa pessoal, ninguém tem nada com isso."

"Com certeza. Mas eu não podia deixar de elogiar o profissionalismo e a sua... beleza."

"Marcelo você está tentando me cantar?"

"Não, não! É só um elogio mesmo."

"Boa noite."

"Até amanhã, me liga!"

Era só o que me faltava, uns tentando me enganar e outros tentando me comer. Se Enzo soubesse, melhor não saber.

***

Já eram quase onze horas quando Vilma mandou uma mensagem.

'Querida! Você não vem? Não podemos perder tempo.'

Sem bom dia, sem vendo e revendo todo material que havia sobre a venda do terreno da Vilma. Por que? Afinal, se a proposta do neto era melhor, qual o motivo da pressa? Talvez não fosse tão boa assim, mas era só conjecturas e no final não fazia muita diferença e nem resolvia os problemas do Enzo.

Esperei um tempo e enviei uma resposta objetiva.

'Bom dia , dona Vilma. Tive uns contratempos, mas irei à tarde. Abraços.'

Viram a mensagem de imediato, mas não responderam. Certo que não gostou, mas eu podia fazer o que? Marcelo é que resolveu brincar de gato e rato. Homens e seus hormônios.

***

Eram quatro horas da tarde quando estacionei na porta da casa da Vilma. Me olhei no espelho do carro, ajeitei os cabelos, arrumei o colar que Ayana havia me dado de presente. Oxum me ajudasse, que todos os deuses me dessem uma força, eu bem precisava.

Marcelo insistiu para que eu chegasse depois das cinco, mas eu também tinha mais o que fazer do que ficar nesse joguinho idiota. Como ele pediu, mandei uma mensagem avisando que estava entrando na casa dela.

Bati a campainha e como antes, demorou para atenderem. A porta barulhenta rangeu como se estivesse com raiva. A mesma enfermeira com cara de poucos amigos, me mandou entrar e esperar no escritório onde eu conversei com Vilma na última vez.

Levou uns quinze minutos para ela chegar, sentada na cadeira de rodas, num vestido elegante numa cor salmão, cheirando a rosas. Usa brincos de pérola. Mas estava com o semblante fechado, foi fria quando nos comprimentamos. Também não era para menos. Me desculpei pelo atraso, ela mostrou um sorriso protocolar.

"Não imagina como seu atraso nos criou problemas, menina."

"Perdão dona Vilma. Eu não pude evitar."

Ouvi um barulho da porta abrindo e fechando, me virei de costas e lá estava um homem bem vestido, numa blusa preta de gola rolê, uma calça social num tom bege. Não era tão alto, tinha um bigodinho antiquado e cara de poucos amigos.

Veio e sentou numa poltrona ao lado de Vilma.

"Meu neto, Hiran."

Esticamos os abraços e apertamos as mãos. Me incomoda pessoas quando não apertam seus com firmeza. Cara de desconfiado, me examinando de cima até embaixo. Cruzou as pernas nos joelhos. Me pareceu um pouco afetado.

Temi que minha oferta estivesse correndo risco. Tentei Respirei me manter o mais calma que eu podia. Mostrei o meu sorriso.

"A senhora não gostou da proposta de minha avó? Os vinte mil não foram do seu agrado?"

Eu ri.

"Vinte? Não eram vinte e cinco?"

Olhei para Vilma buscando apoio.

"Seriam se você viesse no horário que foi combinado."

"Mas isso não me foi informado. Eu avisei, tive uns contratempos, não foi culpa minha."

Meu celular apitou. Abri, era uma mensagem do Marcelo.

'Você está com ela?'

Mandei um sinal de positivo enquanto ouvia Vilma e o neto discutindo. Pelo jeito ela tentava acalmá-lo.

'Já tenho as informações do pilantra.'

Digitei o mais rápido que eu podia.

'Está aqui, com a avó.'

"Nós não vamos fazer isso com ela. Foi o que combinamos ontem e é assim será. Tudo bem pra você, minha filha?"

"E a outra proposta, a do seu neto, não interessa mais?"

"Minha avó resolveu fazer uma concessão a você. Desistiu de assinar com os meus clientes para aceitar a sua proposta. Mesmo perdendo esse valor de comissão que ela quer te pagar."

"Bom, meu valor seriam cento e cinquenta mil e não vinte cinco."

O homem ficou vermelho, os olhos saindo das órbitas. Temi que ele me atacasse.

"Tem gente que é mal agradecida, a gente dá a mão e elas querem o braço. Se não está bom para você, desista garota. E depois explica lá pro seu cliente!"

Meu celular tocou, foi bom por que eu pude respirar.

"Alô! Marcelo?"

"Deixa eu falar com ele."

"Ele?"

"É, ele. Vai me passa!"

Eu não sabia quem estava mais bravo. Os dois machos alpha se pegando. Leões ou hienas, tanto faz.

"Ele quer falar com você. Marcelo."

Hiran não esperava por aquilo. Todo bravinho comigo, murchou. Raspou a garganta e falou numa voz mais educada.

"Pois não. Sim, Hiran. Ele mesmo."

Ficou balançando a cabeça como se ouvisse uma lenga lenga qualquer.

"Não meu chapa, não é nada disso, não. Conta outra."

Cara de aborrecido, tirou a perna de cima da outra e ficou sacudindo um dos joelhos num tíquete nervoso. Eu e Vilma nos encaramos, ela meio assustada, os olhos brilhando, tentando forçar um sorriso. E eu curiosa, imaginando Marcelo esbravejando do outro lado da linha.

"Peraí cara! Não é nada disso, rapaz! Qual é?"

Pelo jeito Marcelo estava deixando outro cada vez mais alterado. A voz alta, ele se mexeu na poltrona, desconfortável.

"Sabe o quê? Eu só quero melhor para a minha avó. Qual o problema, fala! O que é que você sabe?"

Hiran mudou de cor, do cinza ao branco. A boca aberta, os olhos de quem toma um susto. Inclinou o corpo para frente, passou a mão limpando a testa. Olhou para Vilma e se lamentou balançando a cabeça em negação.

"Cafajeste. É você, é você sim! Safado!"

A cara de puto, bufando ele me passou o celular. Vilma se inclinou na direção dele e os dois conversaram sussurando.

"Oi, Marcelo!"

"Você quase estragou tudo, não quiz esperar! Não precisava ter essa discussão com esse idiota. Pelo menos está tudo resolvido."

"Ok. Mas já não estava?"

Vilma tinha os olhos vidrados, pesarosa tentando acalmar o neto. Hiran ainda inconformado com o que ouviu no celular. Eu não sabia se prestava atenção neles ou na conversa com Marcelo. Foi quando ouvi a palavra três no celular.

"Repete, eu não entendi Marcelo."

"Eu disse que seus três porcento estão garantidos."

Minha cabeça girou, eu achei estivesse ouvindo de mais.

"Tudo!"

"Sim garota. Tudo, todo valor."

Meu coração veio a boca, me controlei para não gritar.

"Acerta com eles, amanhã assinamos a papelada."

"Ok. Combinamos aqui. Tchau."

Olhei os dois à minha frente. Hiran puto da vida, me fuzilando com o olhar. Vilma com um sorriso amarelo, com cara de decepcionada.

"Marcelo me diz que está tudo certo entre vocês?"

"Um pivete o seu cliente. Babaca! Quem ele pensa que é? Puto com esse cara, puto!"

Saiu pisando forte, bateu a porta do escritor com força.

Ficamos eu e Vilma caladas por um tempo. Ambas assustadas, mas eu recobrei o sangue frio.

"Parece que chegaram num acordo. Foi isso que meu cliente me falou, dona Vilma."

Ela concordou com a cabeça, as mãos magras sobre as pernas. Não estava só triste havia um rancor na voz aguda.

"Não sei quem é o mais esperto garota. Se ele ou você?"

Achei melhor não falar nada, fingir que não era comigo.

"Podemos combinar para amanhã dona Vilma, dez horas no cartório?"

"Confirme com o doutor Marcelo que a transferência bancária será feita antes de assinarmos."

"Com certeza, quanto a isso fique tranquila. E quanto... a minha comissão?"

Minha voz quase não saiu. Ela me fuzilou com o olhar que eu vi no neto. Aos poucos foi mostrando um riso de escárnio.

"Parece que seu cliente cuidou disso com muito afinco. Será porque?"

Não gostei nada da insinuação, ainda mais vinda de uma mulher. Não era a primeira vez e nem seria a última, sempre alguém achando que eu precisava abrir as pernas para conseguir os meus contratos.

"Pode ter certeza de que eu nunca precisei disso para ganhar uma negociação."

Ficamos nos encarando em silêncio. Aquela mulher elegante, educada tão preocupada comigo, era só uma fachada. Mesquinha, asquerosa, e insinuando que eu era uma piranha, não passava mesmo de uma espertalhona, como neto.

Quando eu ia voltar a falar, a porta abriu e a enfermeira entrou avisando sobre os remédios de Vilma. Foi ótimo, dei um jeito e sai apressada, já eram quase cinco e meia.

Liguei para Enzo avisando que chegaria tarde em casa.

"Vou para a casa do Marcelo, nem me esperem."

"Deu tudo certo?"

"Pior que deu! Fecharam o acordo, vou receber meus três porcento amor! Só ainda não entendi o que foi o Marcelo falou com o Hiran que mudou tudo, foi um... milagre."

"Foi! Tudo! Maravilha, é pra comemorar."

"Depois. Agora tô curiosa pra saber os detalhes do que eles falaram. E ainda tem que resolver a questão da papelada e da transferência pra amanhã. Não sei quando chego em casa. Demoro viu!"

Liguei meu carro e fui até o condomínio do Marcelo. Um trânsito horrível, o sol se pondo, me deixando quase cega. Eu doida pra saber o que eles discutiram no celular.

***

Bati a campainha e a governanta me atendeu. Pelo jeito saindo, me disse onde eu podia encontrar Marcelo.

"Está com a massagista no salão de música."

Como sempre poucas luzes acesas, ótimo pra você tropeçar e quebrar uma perna. Fui andando descendo as escadas, entrei num corredor lingo, aos poucos comecei a ouvir o som de uma música, um tango, sei lá.

A música foi aumentando, ouvi algumas risadas. Só podia ser Ayana, quando eu estava quase chegando perto de uma porta de vidro. A garota surgiu vestida numa body sensual, branco transparente. O que contrastava com a cor da sua pele e a deixava ainda mais linda.

Me viu, mostrou um sorriso gostoso e veio desfilando estilosa, batendo os saltos no porcelanato do corredor. Parou na minha frente.

"Congratulations!"

Mostrei o colar de Oxum que ela me deu.

"I knew it would help you. You deserve it, Lara."

"E como ajudou. Brigada."

Ayana me arrumou os cabelos, sorriu, pelo brilho do olhar eu sabia o que ela queria. Eu também queria, ela entendeu. Encostou no meu corpo, e me beijo. Um beijo suave, que foi ficando suculento, abusado. Nossas línguas se lambendo, nossas bocas se mordendo.

Foi até perdermos o folego. Senti minha vagina esquentar, aquilo começava a me viciar. Ainda mais depois de toda tensão dos últimos dias. Fazer amor seria, maravilhoso, ainda mais com ela.

Ficamos nos admirando apaixonadas. Um bandalion sincopado tocava uma música dançante. Fui ajeitar os cabelos da garota e uma gota cremosa molhou o meu dedo.

Cheiro de homem, um olhar cúmplice entre as duas, não era preciso dizer nada. Eu esfreguei os dedos secando o esperma. Ayana safada me segurou a mão, e lambeu a ponta dos dedos.

Olhou e riu. Um riso de menina sapeca. Virou o rosto na direção da porta de vidro e apontou com o queixo e falou em Iorubá.

"Iwo yoo fe."

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Comentários

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Não demore, louco pela transa entre os três que deve acontecer 😛

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Confesso que esperava mais sexo nesse capítulo, mas a história está indo muito bem.

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