Almas de Estorninhos parte II (2)

Um conto erótico de L. Amaral
Categoria: Gay
Contém 4044 palavras
Data: 24/03/2024 15:16:32
Última revisão: 24/03/2024 15:19:08

— Oi, Frank! Como vai?

— Ah, melhor agora falando com você — ele riu na outra linha de celular.

Ouvir a voz dele foi como sentir o calor do sol sobre a pele gelada.

Eu logo ri também.

— Onde está?

— No quintal de casa — falei. Cheguei até o pé de orvalho e me sentei no gramado. — A minha mãe acabou de chegar do trabalho. Eu vim dar uma volta no jardim.

— Isso é bom. Está descalço?

Franzi a testa:

— Não. Por quê?

— Hehehe. É bom para sentir a terra, absorver a energia.

— É mesmo? — eu dei uma risadinha e tirei os meus alls star . — Prontinho.

Rocei os dedos na grama úmida.

— Ah, isso é bom.

— Viu só?

Rimos.

— E como você está, Ethan?

— Estou bem. Também melhor agora falando com você e... recebendo a energia da grama.

Rimos novamente.

Depois de um breve silêncio, eu funguei.

— Ei, o que foi?

— Nada. Eu só — a minha voz saiu um pouco embargada.

— É por causa do seu pai, não é?

— Ah, está tudo bem — olhei para cima e vi o vento balançar os galhos do carvalho. — Eu não quero mais te encher com isso.

— Eu estou aqui, quero te ouvir. Vai, me conta o que está sentindo.

— Eu estou com saudade dele, Frank. Já vai fazer um ano.

— Eu entendo. Ele é o seu pai. E mesmo depois do que ele fez é normal sentir a falta dele.

— Na verdade, foi até um alívio — Limpei a garganta e prossegui: — Porque quem sofreu mais foi a minha mãe, então... Eu acho que está sendo uma boa fase depois de tudo o que aconteceu. A gente precisa disso.

— Com certeza. Vai fazer até bem para o seu pai. Esse tempo na prisão vai dar-lhe tempo para pensar na vida dele, no que fez com vocês. Vai ser uma pessoa melhor.

— É, eu espero que você esteja certo.

— Você tem que pensar no melhor resultado, não é mesmo? Hehe.

— Você tem razão. Espero que ele saia melhor de lá. Mas, por enquanto eu não quero saber dele. O meu pai teve muita oportunidade de mudar, sabe? Mesmo assim, as coisas chegaram a esse ponto — Depois de uma ligeira pausa, completei: — O meu pai vai ter que lidar com isso sozinho porque... estamos cansados. Eu e minha mãe nos esforçamos muito, entende?

— Perfeitamente.

— Tentamos ajudar, mas não adiantou. Ele fez o que fez, então, vai pagar por isso.

— Tudo acontece por algum motivo. Algo precisa ser mudado para vir o melhor.

Sorri.

— Obrigado, Frank. Está me fazendo muito bem falar com você, ter te conhecido. Eu quero muito te ver pessoalmente.

— Ah, eu também quero muito te ver. Esse final de semana, está bem?

— Tá — Funguei. — Obrigado outra vez, por ser tão legal comigo.

— Ah, que isso? Não precisa agradecer. Não se preocupe, tudo vai ficar bem.

Eu sorri com o rosto quentinho.

Depois que nos despedimos, eu levei o celular ao meu peito. Foi meio que uma forma de me sentir mais perto do Frank. Depois, olhei uma foto na galeria. Uma selfie dele sentado no sofá, usava um gorro cinza e moletom preto, enquanto segurava um chocolate quente. Um rosto liso e oval, pele creme e um leve sorriso. Ele tem 25 anos de idade e o encontrei em um site de relacionamento, há duas semanas.

— Frank — sorri ao sussurrar o nome dele.

Descansei a cabeça na pele lisa da árvore, suas folhas ao vento. Fechei os olhos e respirei fundo, vendo apenas a vermelhidão nas pálpebras, da luz dourada do sol.

— Frank — suspirei.

//

Capítulo 2: O dia com o meu pai

Em casa, só estava o meu pai e eu.

— Tudo bem, filho? — Algumas lágrimas escorreram pela face de Brian. — Ah, que saudade.

Ele alisou o meu rosto e meus cabelos.

— Fala alguma coisa — pediu.

Eu não soube assimilar bem o que sentia. Meus olhos ardiam e meu coração disparava.

— É bom te ver, pai — sorri olhando para ele.

Então, nos abraçamos novamente.

— É bom te ver — repeti.

E era verdade. Toda qualquer raiva pareceu evaporar naquele abraço, como fumaça no ar.

Nos sentamos no sofá, já mais estáveis. Desliguei a tv e indaguei:

— Você está magoado por eu não ter ido te visitar?

Quase dois anos sem vê-lo.

— Eu fiquei triste, com certeza, mas magoado não. Eu dei muitos motivos para ter recebido aquele tratamento. Eu errei muito. Eu já conversei com a sua mãe e agora é você — ele limpou a garganta e prosseguiu: — Me perdoa, filho. Me perdoa por ter te machucado, por tudo o que eu fiz. Por não ter... valorizado o amor de vocês.

Por quase um minuto eu olhei para o meu pai. Ele engoliu em seco, os dedos apertavam o tecido da calça e os olhos fixos nos meus.

— Sabe, às vezes, eu me senti tão culpado por tudo o que aconteceu.

— Culpado? Mas por quê?

— Depois que te contei que eu era gay as coisas só pioraram. A briga com a Lucy e a mãe — Suspirei. — Você mudou, pai. Eu senti que fui o estopim para tudo desabar.

— Não, Ethan, o problema era comigo. Por favor, não foi sua culpa. Eu me perdi. Parecia que tudo estava errado. Eu não sei. Eu não me sentia bem e só fui piorando as coisas.

Ademais, Brian não recebeu tão bem a notícia da minha sexualidade, já a minha mãe e a Lucy me apoiaram bastante. Principalmente a Lucy, e isso fez aumentar as discussões dela com o nosso pai. E, enfim, a minha irmã foi embora, afinal era isso que ela queria — morar em outro lugar. Logo depois, o meu pai me pediu desculpas, chorou até, arrependido. Voltamos a nos dar bem, porém, a Lucy nunca mais voltou para Atlanta. Está em Nova Iorque — às vezes nos visita, é claro.

— Eu senti que não tinha controle das coisas, que não tinha o controle da minha família — prosseguiu.

— Você não precisava controlar ninguém, pai.

— É, eu sei disso agora. Por isso, se eu pudesse voltar atrás. Quando a Lucy quis viajar, eu teria apoiado ela e não ter me implicado tanto. Não teria dito aquelas coisas pra ela e muito menos pra você.

Não teria machucado você e a sua mãe. Por favor, diz que me perdoa, Ethan.

Fiz uma pausa. Limpei a garganta e, enfim, disse:

— A mamãe me disse que não guarda nenhuma mágoa sua. Então, eu também não guardo, pai. Eu te perdoo.

Os olhos dele desabrocharam, junto com um sorriso de alívio.

— É? — choramingou. Beijou a minha cabeça e acrescentou: — Obrigado, Ethan. Obrigado.

Enxugou os olhos com as costas da mão antes de prosseguir.

— Sabe, no começo, quando eu procurei a sua mãe, foi meio que um choque pra ela. Não queria falar comigo. Mas, enfim, ela me deu uma chance.

O jeito que ele falava dela, mostrava que ainda mantinha sentimentos fortes por ela. Saudade, carinho, amor.

— Além de nos acertamos, ela me contou algumas coisas que aconteceram. Como aquele cara que te fez mal, aquele que ficou te perseguindo — Ele franziu o rosto e fechou os punhos. — Se eu estivesse aqui, teria dado um jeito nele.

Eu sorri ao ouvir isso, por sentir uma sensação boa, de segurança. Aquela sensação de saber que tem alguém que te defenda.

— Eu já superei isso, pai.

— E quanto a esse Wade?

— O que tem ele?

— Ele parece fazer bem a Isabelle. Melhor do que eu fiz — ele fez uma rápida pausa ao suspirar. Completou: — Mas eu fiquei sabendo que vocês não se davam bem e...

— Isso também já passou, pai. Eu só estava sendo um pé no saco do Wade, mas nos entendemos.

— Isso é bom. Muito bom — a voz dele saiu baixa. Franziu a testa e engoliu em seco.

— Você já viu ele?

Brian balançou negativamente a cabeça.

A ideia de outro homem estar ocupando o lugar dele, parecia perturbar. Talvez ele sentisse que ficamos muito bem sem ele, com um novo anfitrião possuindo sua casa, a sua ex-mulher e... o seu filho. Me possuindo. Hahaha.

— A mamãe já está com o Wade, não vai voltar pra você, pai. Então, o que mais você quer?

— Como assim? Eu quero você — Ele pôs a mão no meu ombro e pediu: — Você deixa, filho, eu passar mais tempo com você?

Ele parecia tão frágil e o seu olhar ainda mantinha uma insegurança, o olhar de alguém tentando começar de novo, só que melhor desta vez. O meu coração apertou com aquele pedido. Um pedido para ser novamente o meu pai.

— Me dê uma chance para provar que eu mudei — acrescentou. — Eu não sou mais aquele bêbado imbecil.

E agressivo.

— Não precisa me provar nada, pai. Apesar de tudo. Eu te amo. E — minha voz embargou. — Na verdade, eu senti a sua falta. Às vezes eu quis tanto ir te ver e te contar isso mas... Eu não consegui. Eu queria que você estivesse aqui antes. Eu...

— Me desculpa, Ethan. Me desculpa por não ter te protegido. Por não estar aqui quando precisou tanto.

Ele enxugou os meus olhos e alisou a minha face esquerda.

— Agora eu estou aqui. Eu vou cuidar de você.

Eu assenti. E eu me senti seguro novamente ao lado do meu pai e esperei que esse sentimento durasse, que meu pai ficasse sempre bem.

— Agora não vamos mais ficar relembrando isso, pai. Vamos falar de outra coisa. A mamãe disse que você voltou a trabalhar.

— É. Não é melhor que o meu antigo emprego, mas é bom. É bom relembrar um pouco o passado.

— Espera. É com o vovô?

— É... É. Hehehe. A serralheria continua do mesmo jeito. Às vezes eu carrego uma barras pesadas de metal. Não preciso nem fazer academia — ele riu.

— Pai, você tá bonitão.

— Eu treinava na prisão.

— Estou vendo.

Rimos.

— Você está tão bonito, filho. Melhor do que eu me lembrava.

— Para, nem passou tanto tempo assim. Eu não mudei tanto.

— Mudou sim. Parece tão confiante, seguro e contente.

— É, eu amadureci um pouco sim — sorri com as bochechas coradas.

— Isso é bom. Amadurecer — Depois de uma ligeira pausa, disse: — Você já tomou café da manhã?

— Sim.

— Quer dar uma volta comigo?

— Onde?

— A gente pode ir ao shopping.

— Tá. Eu só vou lá em cima, ajeitar esse cabelo — eu dei uma risadinha.

— Vai lá. Eu só vou dar uma olhadinha na casa, matar a saudade.

— Claro, pai. Ele também é sua.

Ele se alegrou ao ouvir aquilo.

Então, subi para o quarto. Coloquei uma camisa mais soltinha azul e usei um perfume. No banheiro, passei as mãos úmidas no cabelo — deixei-o meio bagunçado.

Não encontrei o meu pai lá embaixo. Estava no quintal, de pé e com as mãos na cintura.

— O carvalho continua o mesmo — disse. — Um jardim muito verde.

— É. Plantamos mais plantas, mais flores — falei.

— Sim, está ótimo — Ele se virou e me chamou para irmos embora.

Brilhando ao sol e frente à casa, uma caminhonete preta. O clima não estava tão quente, mas fomos com as janelas abertas.

"Previsão de chuva forte hoje em Atlanta." — disse um homem no rádio do carro. O meu pai abaixou o volume e puxou conversa.

— E então? É... você encontrou alguém? Ah... Um namorado?

— Ah, mais ou menos.

"Pede pra eu te foder... Anda, Ethan, pede".

"Oooh, Wade!".

— Eu estou conversando com um rapaz. Na verdade, tem pouco tempo. Eu nem contei pra minha mãe ainda.

Ele olhou para mim e depois para a estrada. Falou:

— E por que contaria? Quero dizer, isso é assunto seu, não? Eu só perguntei por curiosidade. E você tem mesmo que sair, conhecer pessoas assim como você. Quero dizer, garotos gays — Ele ficou vermelho.

— Eu entendi, pai — Eu dei uma risadinha.

Brian realmente estava se esforçando para mostrar que tinha melhorado.

— Por enquanto, não é nada demais — acrescentei. E era verdade, afinal, eu já tinha o Wade. Não queria mais ninguém.

— Está bem. Só tome cuidado — disse o meu pai. — Então... Me conta mais sobre você, seus amigos.

— Eles estão bem. A gente junta toda a galera e vai ao shopping ou no parque. Eles foram me ver ontem.

— Vai sair com eles hoje?

— Talvez. Por quê?

— Como hoje é sábado, e como tem muito tempo que não nos vemos, eu achei que poderíamos passar o dia todo juntos. O que você acha?

— É claro, pai.

Ele sorriu sem mostrar os dentes. Meio que aliviado, provavelmente já tinha planejado tudo isso. Acrescentou:

— Assim podemos ir na minha residência depois — Ele me olhou de canto de olho, com um sorrisinho.

— É uma ótima ideia, assim eu vejo o vovô e a vovó.

Rimos.

Era bom ver ele daquele jeito. Parecia tão saudável, equilibrado. Sem as olheiras e o rosto fundo de antes. O bigode permanecia. Os olhos azuis como chamas de um maçarico. Lindo.

Fomos ao shopping.

O meu pai comprou um boné para mim — escolhi um verde exército. Em seguida, tomamos sorvete sentados perto de uma fonte.

— Tem falado com a Lucy? — Brian perguntou.

— Mais por mensagem. A gente conversa quase todo dia. Estou planejando passar uns dias com ela.

— Isso é ótimo! Você ainda tem o que... dois meses de férias?

— Quase isso.

— Quer outro sorvete?

— Não — falei. — Podemos ir agora?

— Vamos.

No caminho até o estacionamento, o meu pai pôs o braço sobre os meus ombros, e eu, a mão na cintura dele. Nos olhamos e sorrimos, fazíamos isso antigamente, quando saímos.

Já no carro, vi que o Wade me mandou mensagem.

''Oi, Wade. Estou bem. O meu pai veio me ver hoje.

Wade não demorou para responder:

"E como foi? Está tudo bem?"

"Sim. Está tudo bem. Eu ainda estou com ele. Estamos indo pra casa dos meus avós"

"Estão tão bem assim?”

"Ele realmente parece bem"

"Tem certeza? Qualquer coisa me avisa. E aí eu vou te buscar"

"Claro. Está fazendo o quê?"

Eu sorri com aquela preocupação do Wade, por eu estar com o meu pai.

"Estou organizando algumas coisas aqui na academia. Eu pensei em te ver mais tarde." — respondeu.

"Sim. Você vai à noite em minha casa?”

"Sim. Mas queria te levar para a minha casa''.

— Está tudo bem? — perguntou o meu pai. — A conversa parece boa — deu uma risadinha.

— É... — Eu poderia ter mentido, mas não fiz isso. — É o Wade.

O sorriso do meu pai sumiu imediatamente.

— Ele só quer saber como eu estou, onde estou — acrescentou.

— Ah. Ok — Ele olhou para frente. As mãos apertavam forte o volante.

"Eu vou adorar conhecer a sua casa. Mas acho que só vai dar certo amanhã. Vou ficar um pouco com o meu.

"Claro. A gente vai amanhã”.

Com o sorriso no rosto me despedir do Wade. Eu com certeza estaria muito contente de sair hoje com Wade, mas eu precisava daquele tempo com o meu pai. Por mim, por ele.

— Você ficou bravo, pai?

— Eu? Não — Ele olhou para mim meio vacilante. — Eu só quero esse dia só pra gente.

— Ele só me mandou mensagem, pai — Eu ri. Não satisfeito, acrescentei: — Ele me chamou pra sair.

Brian engoliu em seco.

— É? E aí, o que você disse?

— Ah... Eu disse que não podia, que já estava com você.

Ele sorriu, todo contente.

— É isso aí, eu já estou com você. Ele que espere. Hehehe.

Eu ri também.

— Você disse que nunca viu ele. Aqui.

Mostrei algumas fotos da rede social do Wade.

— Ele é o quê? Um soldado? Parece o Chris Redfield? — O meu pai fez uma careta.

— É. Eu sei — Um soldado bem gostoso.

Eu ri também.

— Pois é, a sua mãe arrumou um partidão mesmo.

— O que você acha disso, pai?

— Eu estou de boa, filho — ele deu uma risadinha. — Eu entendo que a Isabelle não me quer mais.

— E se ela quisesse?

— Ethan, eu acabei de sair da cadeia. Estou organizando a minha vida. Seria bom se ela me ajudasse. Mas ela já arrumou alguém, não vou interferir nisso. E se ela me quisesse? Bom...

— Você ainda a ama?

Ele sorriu e, após dez segundos, respondeu:

— Sim. Eu ainda a amo. É por isso que assinei o divórcio, pra ela seguir em frente com outra pessoa. Eu voltaria sim, com certeza, mas — ele suspirou.

— Entendi, pai — falei gentilmente.

Eu não precisava dar algum tipo de incentivo ao meu pai, em uma possibilidade do Wade e minha mãe se separarem. Por que uma possibilidade? Porque a minha mãe parecia ainda ter bons sentimentos pelo meu pai. Afinal, ela e o Wade estão a pouco tempo, já tinham se conhecido há alguns meses — sério mesmo, de namoro, apenas três. O meu pai deveria ter alguma vantagem, e se a minha mãe aguentou insatisfeita aquele casamento é porque ela o amava muito.

Existia essa chance deles voltarem. E se isso acontecer, bom, o Wade ficaria só comigo.

Acho que não deveria pensar nessas coisas, mas isso até que me divertia. Possibilidades. Não importa quão doídas e impossíveis parecessem. A realidade é diferente. Se bem que depois de todo o horror vivido por mim e o Wade, na fazenda, e mesmo assim criamos um paraíso juntos. Eu passei a acreditar em milagres depois disso. Foi o que o Wade e eu fizemos, e a mamãe e meu pai poderiam fazer o mesmo.

A viagem foi curta até a casa dos meus avós, não levou 10 minutos. Ela fica num bairro de poucas casas e muitas árvores. Paramos debaixo de um carvalho, na entrada.

— Oi, vovô.

— Oi, Ethan!

Ele parou de regar alguns arbustos e veio até mim. Nos abraçamos.

O meu avô tem um bigode maior do que o do meu pai, e sobrancelhas grossas — só elas não estão grisalhas. Estava com um chapéu branco de cowboy, combinando com a camisa quase toda aberta — presa numa calça jeans.

Janelas abertas deixando a brisa entrar e levitar as cortinas brancas. O assoalho lustrado, o cheiro de flores em vasos transparentes. Assim estava a casa quando entrei.

Um felino de pelo café com leite e olhos verdes, roçou em minhas pernas.

— Oi, lorenzo.

Peguei ele no colo.

— Cadê a vovó?

— Na cozinha — respondeu o meu avô.

A minha avó é magra, morena e de olhos azuis. Ela preparava biscoitos.

— Me conta como foi a viagem — perguntou ela, depois, sorrindo.

Na cozinha ajudei a minha avó com os biscoitos, enquanto contava da viagem. O meu pai e o vovô também ficaram lá ouvindo.

— Você em cima de um cavalo? — O meu avô ergueu as grandes sobrancelhas, ao dizer. — Essa eu queria ter visto. Hehe.

Contei um pouco mais da viagem com o Wade, depois fomos lá fora. Fiquei no jardim com a minha avó, enquanto o meu pai ajudava o meu avô na estufa. Lá dentro tinham hortaliças, legumes e ervas. Os dois reparavam a estrutura ou mexiam nas plantas.

Cheirava algumas flores, quando a minha mãe me ligou. Ela começou meio insegura:

— Oi, filho. É... Onde você está?

— Eu dei uma saída, com... o meu pai. Mas você já deve saber que ele viria.

— Sim, ele me contou. E está tudo bem?

— Sim. A gente foi no shopping.

— Bom, isso é muito bom. Eu só liguei pra saber mesmo. E que bom que está indo tudo bem. Em casa conversamos melhor.

Ao me encerrar a ligação, olhei para a minha avó, que estava ali perto.

— Vou dar uma olhada nos cookies — ela avisou.

Fiquei com o lorenzo, que comia grama bem pertinho de mim. Me abaixei e fiz carinho nele. Olhei para a estufa, quando ouvi marteladas. O meu pai e o meu avô já estavam sem camisa. Realmente, o clima tinha esquentado mais, e as nuvens estavam meio prateadas.

À tarde, assistimos um pouco de tv. Então, a sala ficou escura.

No quintal, a luz fosca do sol fez um contraste focal entre as árvores e o céu de chumbo. Não demorou muito para o vento trazer o cheiro da chuva. Eu estava na varanda dos fundos, com o meu pai, quando ela finalmente chegou. Nas goteiras, escorrendo pelas telhas, ele estendeu a mão. Depois de um minuto, se virou para mim e sorriu. Tirou a camisa e saiu.

Eu só o observei.

No meio do quintal, Brian estendeu os braços para o alto, olhando para cima. Depois olhou para mim. Ele estava tão contente. Fui para perto dele.

— Por que estamos aqui? — indaguei.

— Há muito tempo que a gente não faz isso. Tomar banho na chuva.

— Sim.

Já sentindo um pouco de frio, cruzei os braços. Foi quando a minha avó gritou atrás de nós:

— Voltem aqui, entrem! Querem que um raio caia em vocês, ou pior, querem pegar um resfriado?

— Como pegar um resfriado pode ser pior do que ser atingido por um raio?

— Eu não sei — O meu pai riu também. De repente, me levantou nos braços.

— Para, pai. Hahaha!

Giramos três vezes, então, paramos deitados no chão. E o som da chuva perdurou por um minuto inteiro, quando eu disse:

— Pai, está tudo bem?

— Estou, eu só... Eu só senti muito a sua falta. É tão bom estar aqui, livre e... Recomeçando.

Eu sorri.

— Você realmente mudou, filho. O seu olhar mudou, eu vejo.

— Você também mudou.

— Pra melhor? — Ele riu.

— Sim. Você está melhor, pai — Eu repousei a face no pescoço dele.

E a chuva caía terna sobre nós.

Estávamos todos na sala. Meus avós no sofá, o meu pai e eu, no chão — mais perto da lareira e com uma coberta branca.

Tomei o meu último gole de chocolate quente e peguei o último cookie na bandeja ao lado. Aconcheguei minhas costas no peito do meu pai. Sentindo o corpo dele, a respiração, o pulsar do coração, um gole de chocolate e mais outro. Crac...crac, fazia a madeira em chamas, enquanto a chuva continuava lá fora. Crac..crac... e um trovão.

E então, caí no sono.

Dormi por quase duas horas. O meu pai ainda estava ao meu lado, só que no sofá.

— A chuva parou — falei.

— Sim.

Me sentei no sofá e bocejei. Não demorou para irmos embora.

Já tinha escurecido. A minha mãe não estava em casa quando cheguei, tinha saído com o Wade.

O meu pai não entrou. Nos despedimos no carro.

— Foi muito bom passar o dia hoje com você. Não sabe como me deixou feliz.

— Eu também estou feliz, pai.

— Mais uma vez, obrigado — Ele olhava para baixo quando disse isso. Me fitou, ao acrescentar: — Eu te amo.

— Eu também te amo.

E beijei-lhe na bochecha.

//

"Quer ver uma coisa?"

"O quê?"

"Você já me viu de cueca. Quer ver o que tem dentro dela?"

E ri com a mensagem do Frank. Mordiscava o lábio ao responder:

"Eu quero".

"Pede pra ver o meu pau, Ethan. Pede, vai".

"Por favor, Frank. Me deixe ver o seu pau".

Então ele mandou uma foto, da cintura para baixo, dele deitado. A cueca vermelha estava até o meio das coxas, a mão esquerda no meio das pernas com o polegar na base peluda do pauzão duro.

"O que achou?"

"Eu gostei. É muito bonito".

"Que bom que gostou. Vai chupar, vai?"

"Vou sim".

"Você também já me mandou de cueca" — aventurou.

Fui no espelho. Abaixei a cueca e tirei uma foto da minha bunda no reflexo.

Eu não me exercitava com frequência, porém o suficiente para manter o peito e o bumbum durinhos e rechonchudos — jogar voleibol no colégio ajudava.

"Que delícia você, Ethan".

Eu mandei outra mais ousada, mostrando a entradinha.

"Meu pau está duraço aqui".

Ele me enviou um vídeo:

— Olha, Ethan, durão só para você — ele sussurrou. — Olha como está molhado. É assim que você me deixa — e com a ponta do dedo pegou na babinha que escorria da pica rosada. Gemeu.

Mandou outra mensagem:

"Ahh, Ethan, eu quero te foder. Eu conheço um bar maneiro. A gente se encontra e depois vamos em lugar mais reservado".

"Sim. Mas a gente se conhece primeiro, nos beijamos e depois... Bom,".

"Claro. Vamos com calma. A gente se conhece e outro dia vamos para o meu apartamento, ok?".

"Ok."

"Como vai ser a sua primeira vez, tem que ser especial. Aí eu faço um jantar pra você, o que acha?

"Parece ótimo".

"Eu quero ser o seu primeiro, Ethan. Eu quero tirar a sua virgindade".

Eu sorri, dando batidinhas no colchão com a ponta dos pés. E então, enviei:

"A minha virgindade será sua, Frank".

E trocamos figurinhas de coração.

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