A noite esconde muita coisa.
Olhando as janelas dos prédios e das casas não se imagina o que se passa ali, cada luz, acesa ou apagada esconde seus próprios mistérios, cada qual como uma galáxia, exibindo toda a sua glória, mas inalcançável.
Vou relatar aqui o que se passou com Fernanda em um desses universos isolados.
34 anos, dentista, branca, descendente de espanhóis, e tantas outras raças como cada brasileiro, casada há 15 anos, e neste exato momento caindo em uma espiral de loucura, ignorada pelo marido, oprimida pela rotina. Bastou um olhar de surpresa, e se jogou de braços abertos no abismo.
Seis e meia, sai da clínica, entra no carro, as mãos suando frio, sente o medo, sente o peso da própria decisão, ouve sem parar as frases de antes (meu deus doutora, a senhora é muito linda......passa lá em casa).
Ela olha o papel, sabe que não deve, mas as mãos engatam a marcha, o pé pisa no acelerador, o corpo já decidiu.
Chegando no local, olha a janela, toca a campainha, e adentra o universo alheio.
Observando aquele que viu muito além do que ela permitia verem, palavras são desnecessárias, o corpo dela exige e a língua dele toma o que conquistou, e ela aceita.
Ele sente o desespero físico, roupas são barreiras facilmente vencidas, puxadas, rasgadas, levantadas, descidas, o toque é quente, macio, intenso, necessário.
A cama é receptiva.
Ela permite, deseja, provoca, úmida desde que pisou na calçada.
Ele para. Quer algo diferente.
Ela é restrita, presa, limitada, mão e pernas afastados, qualquer coisa, qualquer coisa pelo prazer, pela recompensa, pelo desejo de sentir o desejo.
O beijo instiga ela novamente, o corpo tenta responder, mas as mãos não podem ler a pele dele, as pernas não podem prender, puxar.
A língua quente no pescoço, a respiração forte no ouvido, os pelos eretos, o desejo, o tesão acumulado, o quadril buscando seu algoz vorazmente.
Um toque, quente, macio, molhado, pesado, úmido, afasta os lábios, massageia o acesso.
Não entra.
Tortura, atrito, sem fim.
As mão dela buscam, as pernas tentam, mas é impossível.
Desespero, aflição, ele finge intuito, começa a invadir, mas interrompe, de novo, de novo, de novo.
A cabeça dele se afasta, a mente dela implora (não, não, não, não)
O toque da língua, nos seios, no bico, abocanhando, mordendo, mas ela imagina o ato sem parar.
A boca dele viaja, lábios com lábios, língua com intróito, língua com clítoris, mais atrito, mais tortura, ardência, pressão, o fluxo de secreção tomando coxas, ânus.
Ela atinge o limite do prazer, começa a sentir os tremores que precedem o terremoto, a cabeça repete (assim não, assim não, assim não).
Aflição se torna raiva.
O quadril dela se move, como se ela quisesse penetrar e a voz se manifesta:
-ME COME, ME COME!!!!
Ela sente a penetração, profunda, dolorosa, brevemente, rapidamente se transformando em orgasmo, alívio, instantâneo.
Ele continua o ato, o corpo dela já está derrotado, mas permite, mesmo que estivesse livre, permitiria.
O abuso é prolongado, mas bem vindo, persistente, o corpo estafado começa a sentir de novo a aproximação do limiar.
Contração, aperto, abraçando o membro, que a devora, segundo orgasmo, a brasa interna, ele imóvel, pressão no fundo, o pau se move parado dentro dela, soca a parede vaginal, mais calor.
Ela sente amor, sente gratidão, quer retribuir mas ainda está presa.
O membro saindo de dentro, o vazio, o amor escorrendo.
Ela nunca sentiu nada tão intenso, procura ele no quarto, vê a silhueta fumando na janela.
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