(na sequência do conto “História de uma amputação”)
Os últimos dois dias tinham sido dos mais extraordinários de toda a minha vida. Eu estava perdidamente apaixonado e passei a quinta-feira a contar os minutos para poder ligar à Gui, sem conseguir concentrar-me no trabalho. Após uma pesquisa aturada na ‘net’, encontrei um hotel rural, perto de Estremoz, que me pareceu ideal para um fim de semana romântico.
Ao fim da tarde, tal como tínhamos combinado, liguei à Gui. Depois dos introitos e cumprimentos habituais, disse-lhe que estava a morrer de saudades, que não a conseguia tirar da cabeça e que ansiava pelo dia seguinte para irmos de viagem. Recusei revelar o destino, disse apenas que seria um sítio tranquilo para nos dedicarmos inteiramente a nós. Ela respondeu que esperava pela surpresa e que também estava de tal modo ansiosa que já tinha preparado a bagagem necessária.
A manhã de sexta-feira foi uma verdadeira tortura que parecia não ter fim, mas assim que consegui livrar-me das obrigações, fui a casa, preparei o saco de viagem, tomei um duche e por volta das 17 estava a tocar à campainha, da Gui. Ela abriu a porta e lançou-se para os meus braços, abandonando a muleta axilar que usava no momento. Pendurada no meu pescoço, arrastei-a para dentro, apanhei a muleta do chão e devolvi-lha.
Tinha um vestido azul escuro, curto, mas suficientemente comprido para lhe ocultar o coto e calçava apenas com uma meia de nylon que tornava a perna ligeiramente mais morena. “Então, ainda não estás pronta?”
“Estou, já tenho tudo preparado, mas tenho um pedido para te fazer. Já que vamos para um sítio tranquilo e, imagino, sem muita gente, importas-te que vá de canadianas?”
“Claro que não me importo! Porque haveria de me importar?”
“Não tens vergonha de andar com uma perneta?”
“Não, porque é a perneta mais linda do universo e arredores. Vá despacha-te que temos muito que andar!”
“OK, chefe, é só calçar-me!” Sentou-se no banco da entrada e calçou um sapato com um salto de uns 5 cm que, juntamente com a textura do nylon, tornava o pé ainda mais feminino e bonito. Não disse nada mas dei comigo a pensar gulosamente se seria uma única meia e, nesse caso o coto estaria desnudado, ou se seriam uns ’collants’ com a perna vazia dobrada.
Ela tinha previsto usar as canadianas pois quando lhes pegou já tinham a altura regulada para compensar o salto. “Fazes o favor de me levar o saco e o ‘necessaire’?” Enquanto os arrumei na bagageira ela abriu a porta traseira para colocar as canadianas. Depois com pequenos saltos reequilibrou-se, abriu a porta da frente e sentou-se.
Antes de pôr o motor a funcionar, dei-lhe um beijo e começou a nossa jornada. Dirigi-me para a ponte Vasco da Gama e ela percebeu que íamos para sul “Para onde me estás a raptar?!”. Apanhámos a A2 e regulei o ‘cruise control’ para 90 km/hora. Não tinha pressa!
Ela estava visivelmente feliz (tal como eu!) e não parava de tagarelar sobre tudo e mais alguma coisa. Coloquei a mão sobre a sua meia coxa e ela puxou o vestido para cima expondo o coto para que eu o acariciasse diretamente. Afinal usava ‘collants’ e a perna vazia estava enfiada por dentro pela parte posterior, pois não se via. E assim fizemos vários km a conversar, eu a fazer carícias no coto e o coto na minha mão.
Às tantas disse-lhe “Com a meia o teu cotinho ainda fica mais agradável ao toque!”
“Queres experimentar o pé?”, descalçou-se e sem tirar o cinto de segurança virou-se no banco e colocou o pé no meu colo para eu brincar com ele. “Olha, acabei de descobrir que não ter a perna esquerda ajuda em certas circunstâncias”, disse sorrindo. “Faz amor com o meu pé mas não te distraias!” e encostou a sola à minha cara para eu beijar e sentir aquela mescla afrodisíaca de odor natural e de couro. O meu pénis em riste tinha dificuldade de se arrumar.
Parámos em Évora para jantar. Estacionei o carro o mais perto possível do centro histórico e atravessámos a Praça do Giraldo em direção a um restaurante que conheço. O som das canadianas, seguido do tacão do sapato, ecoava na calçada e na minha cabeça; à nossa passagem todos os olhares se viravam. Ela ria, “Eu já estou habituada, será que te vais habituar também?” Tentei abraçá-la, mas é uma manobra algo difícil quando o par anda de muletas…
Jantámos, retomámos o caminho e 20 minutos depois chegámos ao destino, já a Lua nos espreitava. Feito o ‘check in’ fomos para a nossa suíte cuja salamandra, a um canto, tinha sido previamente acesa, pelo que fomos acolhidos com um agradável conforto térmico e com o perfume do azinho a arder. O mobiliário ‘vintage’ muito bonito e do estilo Império, era monumental e fazia-nos sentir pertencer à realeza, embora eu seja 300% republicano.
Coloquei os sacos de viagem sobre o canapé, à entrada, e depois de fazermos o reconhecimento dos aposentos e da vista bucólica para além da janela, tirei as canadianas dos braços da Gui, abracei-a e disse-lhe “Vossa alteza permite que expresse a minha alegria por partilhar este momento com a minha rainha e dá-me a honra desta valsa?”
“Dançar, para esta rainha é um pouco difícil…”. Silenciei-a com um beijo, abracei-a e começámos a balançar suavemente ao som de uma melodia imaginária. Segurando-a, rodopiámos, primeiro lentamente, mas depois fui imprimindo um ritmo e uma amplitude maior que despoletaram o riso. Depois abracei-a ainda com mais força e disse-lhe ao ouvido “Ver-te feliz, faz-me feliz. Amo-te e quero-te feliz o resto das nossas vidas” e ela levantou-se na ponta do pé para se aproximar do meu ouvido “Estou perdidamente apaixonada e quero fazer parte de ti para sempre”.
Após nos termos instalado meti mais uma acha na salamandra para manter a temperatura e descemos ao bar para tomar algo. Estavam alguns hóspedes na sala e novamente fomos alvo de muita curiosidade. Ignorando os olhares embasbacados, sentámo-nos numas poltronas, quase em frente um ao outro, em torno de uma mesa baixa. Pedi dois Portos tónicos, que fomos sorvendo em pequenos golos enquanto conversávamos e os assuntos foram tantos que repetimos a dose.
A Gui estava absolutamente relaxada e, distraída, fazia pequenos movimentos com o coto. Quando reparou na atenção que me estava a despertar, puxou o vestido um pouco para cima para me regalar com a ponta do coto a aparecer, a saltitar e os músculos a contraírem-se debaixo da meia de ‘nylon’.
“Provocadora! ”repreendi-a, teatralizando.
“Eu?!” e levou a mão ao peito com um ar de fingida admiração. Então, ergueu a perna olhando para o pé, para centrar nele a minha atenção e continuou “Este sapato está a matar-me!” e soltou-o do pé deixando-o a balançar na ponta dos dedos, expondo o arco plantar e o joanete. Um impulso maior e o sapato caiu. Aí, levantei-me, calcei-lhe o sapato tateando intencionalmente a sola do pé, apanhei as canadianas do chão e disse resoluto “Bem, vamos para cima? Tenho fome”. “Fome?!” perguntou, agora verdadeiramente surpreendida, “Sim, tenho fome de ti!”, respondi.
Segui-a ao subir a escada rendido ao charme e à desenvoltura com que aquele pé solitário vencia os degraus, um a um, e deixei-me ficar para trás para espreitar novamente a ponta do coto, porque de um ponto de vista mais baixo o vestido não o ocultava totalmente.
Assim que entrámos a Gui despiu o casaco de malha e largou as canadianas para me abraçar. Levantei-a, como quem pega uma criança ao colo, ela enrolou a perna à minha volta e imaginei que faria o mesmo com a outra se a tivesse. Com violência aparente e controlada atirei-a para cima da cama, descalcei-a e percorri-lhe a perna e o coto aos beijos. Depois abri-lhe o fecho do vestido e foi ela que o tirou enquanto eu me desenvencilhei das minhas roupas. A cama era muito alta e quando a puxei para mim pela perna os nossos sexos ficaram praticamente à mesma altura, eu em pé e ela deitada de costas. Despi-lhe os ‘collants’ e a calcinha, mas antes de fazer a vontade ao meu pénis intumescido e apressado, baixei-me e lubrifiquei-lhe a vulva com a língua. Depois, continuei a estimular o clitóris e os lábios com a minha glande. Ela começava a ficar em êxtase, beliscava os mamilos e gemia de prazer. Levantei-lhe a perna e apoiei-a no meu ombro. Lentamente fui introduzindo o pénis e aumentando o ritmo enquanto lhe beijava o pé e segurava o coto com a mão direita. O clímax chegou-nos daí a segundos.
Permanecemos lado a lado a olhar-nos nos olhos com um sorriso, mas em silêncio que palavras não eram necessárias. Ao fim de uns minutos a Gui levantou-se e pulou até ao WC. Momentos depois segui-a e tratámos da nossa higiene noturna. Quando ela ia ganhar balanço para o primeiro pulo de regresso à cama, agarrei-a e levei-a nos braços.
“Menina, vamos dormir que amanhã o programa começa cedo.” Deitei-me de costas a revisitar a tarde e a noite. Não faço ideia do que passava pela cabeça da Gui, mas sei que aninhada no meu ombro adormeceu rapidamente.
A luz da manhã arrancou-nos de um sono profundo. “Bom dia, dormiste bem?” Ela ronronou como uma gatinha “Siiimmm, muuuito bem… Gostei tanto do amor que fizemos ontem. Estavas mesmo com fome! Mas sabes… eu também estava”. Depois, já mais desperta “Afinal onde vamos hoje? Tens de me dizer para escolher a indumentária”.
“Vamos à feira de velharias e antiguidades de Estremoz. Agrada-te?”, perguntei. “Boa ideia, há anos que não vou lá. Mas para isso, vou levar uma roupa mais prática para andar à vontade”.
Depois do duche matinal, preparámo-nos para sair. Ela vestiu ‘sweatshirt’ e ‘jeans’, com a perna vazia dobrada para trás e presa à cintura. Para calçar escolheu um ténis.
Saímos após o café matinal e uns 10 ou 15 minutos depois estacionei no Rossio de Estremoz, bem perto da feira. Começámos o nosso périplo e calmamente íamos parado para apreciar as peças que estavam à venda. Sempre que a Gui queria pegar em algo para ver, apoiava o coto no punho da canadiana para ficar com as mãos livres e ali ficava ele, redondinho, a provocar-me um tesão. Às vezes, enquanto observávamos algo ou perguntávamos o preço, eu colocava a mão sobre o coto.
Os olhares curiosos sucediam-se, mas ela continuava indiferente e eu com uma ponta de orgulho por estar acompanhado de uma mulher diferenciada e linda. De repente, uma coisa que estava no meio de um amontoado de velharias, espalhadas sobre um pano no chão, chamou-me a atenção. Baixei-me e apanhei-a. Era uma placa azul, esmaltada, com um número de porta, o Nº 19, que apresentava muitos sinais de envelhecimento. Comprei-a e quando nos afastámos uns metros, a Gui perguntou-me com um misto de espanto e curiosidade “Para que é que queres isso?!”. Olhei-a e respondi “Para te oferecer! 19 de março…foi na terça-feira passada, o dia em que fizemos amor pela primeira vez. O primeiro dia do resto das nossas vidas, como canta o Sérgio Godinho.”
Os olhos da Gui ficaram rasos de lágrimas e sem palavras, esticou-se o máximo que pôde e aproximou os lábios para que a beijasse “Obrigada, querido, foi o melhor presente que alguma vez tive!”. Abracei-a e beijei-a sem querer saber de quem estava a ver. Naquele momento só existíamos nós no mundo.
A visita à feira continuou até a Gui confessar que estava cansada e precisava de se sentar um pouco. Procurámos uma esplanada e sentámo-nos ao Sol primaveril a tomar um café. Ficámos ali a conversar ao ritmo do Alentejo, a região do país onde ‘pressa’ é uma palavra desconhecida.
Fomos almoçar em Monsaraz, uma vila que sempre me encantou e que a Gui não conhecia. Ficou rendida “Lindo, é quase como mergulhar na Idade Média e depois aquela vista sobre o grande lago é magnífica, a comida ótima!... João, estou a adorar o nosso fim de semana, quero que nunca mais acabe!
Finalmente tomámos o caminho de regresso à nossa casa temporária. Enquanto conduzia levei a mão ao coto da Gui “Gosto mais de saia…” e ela riu.
Chegámos por volta das 19 horas e subimos imediatamente. A Gui estava de facto muito cansada, foi ao lavabo e logo de seguida recostou-se na cama. Confirmei que havia sais de banho e comecei a encher a banheira de água quente. “Gui, há anos que não tomo um banho de imersão, não é muito ecológico, mas estes são dias excecionais. Vamos?”
Entrar para a banheira sem uma perna obrigou-a a sentar-se primeiro na borda e só depois sentar-se, imersa. Eu sentei-me no lado contrário e mergulhámos até ao pescoço o que me obrigou a fletir os joelhos. O coto ficava a tocar o meu pénis, que mostrou imediatamente sinais de vida, e a Gui apoiou o pé no meu peito. Fechou os olhos e ficámos assim até que as extremidades dos nossos membros começaram a engelhar.
Pedi uma refeição leve que comemos na cama, passámos pelo sono e só muito mais tarde consumámos o amor.
Domingo. Acordámos tarde, com a alma leve mas o corpo pesado. A Gui tinha os ombros e os braços doridos por causa das canadianas. Antes de nos levantarmos, peguei na loção e fiz-lhe uma longa massagem
“Tenho saudades da prótese, devia tê-la trazido”
“Hoje não vamos andar mais. Só de carro.
“Então vou levar o vestido e o sapato de salto. Pode ser que tenhas sorte…” rematou rindo.
Pusemo-nos a caminho em direção a Setúbal com o fito num peixe fresco grelhado. E realmente tive sorte, pude acariciar o coto e o pé da Gui e, distraídos com a brincadeira, chegámos ao destino num instante. O almoço correspondeu às expectativas e antes de nos sentarmos no carro ainda estivemos a namorar-nos à beira Sado, já com nostalgia do fim de semana que se aproximava do fim. Uma hora depois estávamos a atravessar o Tejo.
Chegados a casa, não sabíamos bem o que fazer, nem o que dizer e foi a Gui que abriu o jogo “João, adorei este fim de semana mas não quero que acabe já, vamos lá para dentro fazer uma festa?”
Depois do amor, voltou a assaltar-nos a tristeza da separação temporária. Despedi-me com uma proposta:
“Vamos fazer deste fim de semana a nossa vida?”
“Vamos. Amanhã quero-te cá!”