11 – Chico
Então estávamos nós ziguezagueando pelo navio, sibilando acordos e insultos. Os quatro nervosos e cada um dos quatro com uma ideia diferente, Tomás queria simplesmente dissolver um grupo no outro, assim de forma imediata, Artur queria foder quando desse vontade mas cada qual no seu canto e sem envolvimento afetivo algum, eu queria que cada qual desse as mãos como amigos e partisse para longe, mas eu tinha de admitir, eu estava muito querendo foder e socar nervoso e com raiva.
Meu tesão era parte raiva, parte a loucura da festa, parte a promessa de mulher eventualmente na minha pica, parte um tesão por esse homem fardado com o bigode e a cara de raiva com a qual me encarava, parte era saber porque Pedro não tirava os dedos do nariz. Pedro manda eu ficar calado. Manda todos nós fecharmos a boca, estávamos agora perto da casa de máquinas, ali não podíamos entrar de forma alguma.
Tomás ouve os técnicos e fala algo, sua ronda estava completa, ele chega até nós e diz que vai voltar pra sua cabine, Pedro me olha e mexe o nariz como se fosse um pequeno choque, não entendo, ele põe os dedos em minha narina, aspiro e sinto o perfume, cheiro de boceta, meu pau ganha vida, quero voltar e meter a boca no meio das pernas de Alice ou de Marie. Pedro me beija, suavemente, do mesmo modo como beija Artur, então ele se vira para Tomás e o beija demoradamente, e eu novamente me encho de ira e desejo.
Pedro diz que devemos ir para meu quarto, é o mais privativo e completa dizendo que ainda não sabemos se vamos matar Tomás antes ou depois de aportar em Santos, mas era evidente que iríamos ter de dar um jeito e resolver a questão, os seis estavam querendo. Pedro segue na frente segurando minha mão e a de Artur. Encontramos três casais transando nas escadarias, eles nos desejam boa noite entre risonhos escondendo o rosto, entramos na nossa cabine, eu vou direto na cara de Tomás e lhe dou um beijo e mordo seu lábio inferior com força, Artur cola o corpo atrás de mim, Pedro nos empurra mais para dentro para poder fechar a porta.
Pedro manda sentarmos no chão, Tomás obedece, Pedro aponta para ele e fala que era mesmo um idiota, diz que era culpa de Artur, exceto por mim, Artur só atraia idiotas, Tomás concorda em partes, o tal Saulo era mesmo um idiota que valia por uns quinze babacas, Artur diz que era culpa de sua testosterona abundante, reviro os olhos, ele tira a camisa e pergunta se eu não era louco por seu corpo, eu dou um murro de verdade no peito dele, digo que ele e o bigodudo passaram bastante tempo no dia em que estivemos ajudando Fábio, Tomás levanta a mão, olhamos para ele e pergunto se ele estava na escola ainda, ele diz que na verdade se fosse para ser honesto poderia dizer que a última opção era Artur.
Paramos, ele diz que a ideia era criar um clima de inveja e sedução usando Fábio, mas logo ficou claro que ele havia pego o pior caminho, além de não darmos a menor atenção ao cara, ainda estava deixando claro que ele não tinha interesse em nós e era o exato oposto, vinha nos observando, todos falavam bastante dos pernambucanos. Pergunto de onde ele é o sotaque... maranhense, mas só estava lá de passagem, na verdade ele estava com quase tudo que era seu no depósito do navio, ele e as meninas não tinham noção de onde ir quando o barco chegasse a Santos.
Artur pede para ele falar sobre ele ser a última opção, Tomás diz que é evidente que havia uma liderança e esse era Artur, se aproximar dele era pegar queixume com Pedro e eu, Pedro é malandro antenado, ia expelir ele na primeira aproximação, concordamos. Eu sou, segundo o bigodudo, o mais difícil de me aproximar, ele diz que ainda acha que não tem repertório para conversar comigo, ainda sente receio de falar ou fazer algo que me faça morrer de rir dele, se sentia uma fraude erro de mim. “Se eu soubesse como chegar a um de vocês eu não teria a resistência de agora. Eu só fiz brigar até agora, mas de verdade, se não tivesse sido aceito pelos três, eu não teria entrado nesse quarto.”
Artur manda ele tirar a roupa, cacete que coxas, que peito e a bunda, já vimos o pau e vou fingir que sem roupa aquele troço não era lindo, ele diz que nós não éramos justos em continuar vestidos. Pedro toma a voz.
“Precisamos de um plano e cheiro de boceta me faz pensar bem. Não vamos para o Maranhão, eu quero ser amado pelos pais de Artur e pelos de Chico, então foda-se seus filhos e sua ausência de pais, não quero paternidade, eu preciso de conselho de pai e colo de mãe, fora que você está se aposentando e eles estão empregados. Precisamos de uma casa mobiliada para temporada, três quartos, o terceiro vamos usar para nossas roupas, Alice fica em um quarto e Marie em outro, se elas quiserem um momento só delas, vão para o terceiro quarto.
“Publicamente e para a família deles e para a sua, eles são um casal e você e eu outro, isso não vai alarmar ninguém, três quartos e três casais, grandes amigos que se apoiam, ok? Nós três vamos tirar um pedra papel e tesoura e quem vencer a disputa fica contigo aqui essa noite e os outros dois no outro quarto, ok. Vai ser bom para os outros dois ter mais intimidade a dois, até agora sempre fomos três, sempre, e essa noite fomos quatro numa orgia bem louca. E você nunca mais vai pra esse tipo de festa, ouviu?
“Pedra papel e tesoura novamente e o segundo vencedor fica com você e outro casal se forma e a terceira variação, daí pra frente vai ser sempre repetindo a mesma sequência. Em que quarto vamos dormir? As meninas decidem com quem querem passar a noite, ou se vão evitar homem vez ou outra. Sexo entre nós seis é livre e total, lá fora é traição contra todos os outros. Ok? Ah, a última coisa, esse negócio de eu estar desempregado...
“As meninas falam francês e inglês fluentemente e arranham português, podem dar aulas para adultos e grupos de idosos, você também pode dar aulas de inglês e acho que você saiba o básico, eu fico em casa, lavo a roupa, a louça, limpo a casa, faço a comida e vocês pagam meu FGTS. Perfeito? Ok. Temos um acordo que depois de seis meses vai ser revisto por quem sobrar, casa alugada, é só sair e voltar para casa dos pais, de um amigo, para Irlanda ou Maranhão, beleza? Todo mundo de acordo? Precisa falar com as meninas sim, mas amanhã, se elas tiverem alguma alteração, sentamos e estabelecemos novo acordo. Acho que o cheiro em meus dedos passou e minha inteligência passou também.”
Jogamos, deu uma tesoura minha e duas pedras, sem vencedor, depois joguei tesoura e ganhei de dois papeis Artur ganhou a segunda rodada, Pedro me beijou e beijou Tomás, disse que ia ser fácil gostar dele, depravado, cuidador e sincero, e era lindo e tinha um pau cabeçudo disse Artur, que também nós beijou e foi embora. Fechei a porta quando saíram com um conjunto de roupas e nécessaires, eu voltei sem camisa, estava nervoso, eu o beijei, disse a verdade, eu estava cansado, com raiva e com um tesão furioso.
Tomás me pede calma, pergunta se posso lhe dar um pouco de água, era a primeira vez que beijava homens, com homens ele não tinha nenhuma experiência.