Thyra. A Detetive.
A quinta-feira, dia 28 de dezembro o dia amanheceu ensolarado em Porto Alegre. Algumas nuvens brancas ao leste cobriam parcialmente o sol e quem, como Naomi, tinha a visão apenas para esse lado, jamais poderia imaginar que a calma que aquela visão anunciava era falsa, pois ao sul do Estado uma massa de ar quente foi empurrada de volta depois de se sobrepor sobre o Atlântico e a colisão dela com o ar frio trazido pelas correntes que vêm da Antártida fez com que ela voltasse ao continente, negra e ameaçadora.
Assim como o clima que sofreria uma alteração brusca ainda antes do meio dia, a sensação de calma e prazer que aquela linda manhã logo se transformaria em um pesadelo.
No curto espaço de vinte minutos quatro pessoas passaram por essa transformação. Uma delas com uma euforia muito grande, outra com muita apreensão e as outras duas com puro desespero.
A primeira foi Lalana. Uma mensagem SMS chamou sua atenção, pois ninguém do seu circulo de conhecimento usava mais esse instrumento para se comunicar, porém, ao ver que quem lhe enviava a mensagem estava identificado apenas com um número de telefone, o que já era um anúncio que não era ninguém que estivesse em sua lista de contatos, serviu para aguçar sua curiosidade e ela abriu a mensagem aonde leu sem dar muita importância: “Você não deu conta, mas teve quem deu. Siga no Instagram”. Em seguida vinha um link que ela tocou e aguardou abrir.
O vídeo que foi mostrado no visor de seu celular a princípio a irritou por se tratar de uma imagem fixa aonde aparecia apenas o teto de um quarto, porém, logo ela reconheceu os gemidos que eram ouvidos e aguardou até que viu uma mão segurar o aparelho e o reposicionar mostrando a cena. Em uma cama de casal, Michele gemia e anunciava que estava prestes a gozar enquanto um corpo moreno de mulher estava deitado sobre ela com o rosto enfiado entre suas pernas chupando sua buceta. O curto vídeo tinha o tempo suficiente para que ela gozasse e, depois disso, a morena levantasse o rosto e olhasse para a câmara. De repente, o rosto lindo de Naomi encheu toda a tela do celular mostrando um sorriso de satisfação emoldurado por um rosto todo melado com o gozo da parceira.
Lalana, sem conseguir disfarçar sua alegria, tocou no ícone do telefone, abriu a agenda e clicou em cima de um nome e aguardou. A ligação foi atendida depois do terceiro toque e não houve cumprimentos e nem qualquer tipo de identificação, pois ela apenas disse:
– Obrigado tia. Fico te devendo essa. Aliás, pode me considerar sua escrava por toda uma vida.
A jovem desligou o celular antes de ouvir a voz do outro lado a interrogando sobre o que seria aquele agradecimento.
Um minuto antes, Thyra tinha recebido a mesma mensagem e, ao ver o conteúdo do vídeo, teve uma reação totalmente diferente. Ela tinha acabado de sair do banho e estava enrolada na toalha e, mal acabou de assistir as cenas, vestiu um short jeans curto sem se preocupar em vestir uma calcinha antes e depois enfiou a primeira camiseta que encontrou na gaveta de sua cômoda pela cabeça. Sequer penteou o cabelo, apenas tentou ajeitar algumas mechas enquanto enfiava uma sandália havaiana nos pés e depois correu pela escada em direção à saída de casa.
Como se estivesse fugindo de alguma espécie de demônio, Thyra atravessou em disparada carreira o espaço entre os fundos de sua casa e a de Kleber e foi encontrá-lo na cozinha no justo momento em que o telefone dele emitia o som de recebimento de mensagem. Ele parou o que estava fazendo ao ver a expressão da garota parada na porta de sua cozinha a olhar para ele e disse:
– O que foi Thyra. Você parece que viu um fantasma!
– Pior é que vi mesmo tio. Olha o vídeo que o senhor vai entender.
Bastou isso para que Kleber soubesse que a sugestão que recebera para assistir um filme não era uma boa notícia. Ele viu durante pouco mais de um minuto que era o tempo da filmagem. Quando acabou, Thyra estava ao seu lado e a primeira coisa que notou foi que, apesar de ser o mesmo arquivo, o de Kleber não estava sendo mostrado no Instagram, mas sim no Facebook.
Ligando o fato de Kleber receber a mensagem para entrar no Facebook e não no Instagram porque ele não tinha uma conta nesse último, o que significava que a pessoa que mandava o vídeo a ele era alguém que sabia desse detalhe demonstrando ser alguém próximo a ele. A ele, e aos demais membros daquela família.
Kleber e Thyra não chegaram a trocar três palavras a respeito do vídeo e a tela do monitor dele se iluminou e mostrou o rosto deslumbrante de Naomi. O homem tremeu ao receber aquela ligação, pois nos últimos dias ele tentara diversas vezes falar com sua amada e ela não lhe deu a menor chance, pois depois de atender duas vezes apenas para lhe dizer que ainda não estava pronta para falar com ele, passou a ignorar as ligações seguintes. Se ela estava ligando era porque tinha recebido a mesma mensagem e acabara de assistir o vídeo.
Kleber não podia estar mais certo que isso, pois bastou atender a chamada e começou a ouvir os gritos de Naomi que encontrava dificuldades em falar por causa do choro nervoso que a dominava. A mulher gritava tanto que a Thyra ouviu cada palavra do que ela dizia sem que o Kleber tivesse acionado o viva voz.
Sem ter o que responder, pois sequer conseguira assimilar o choque que tivera ao ver as cenas filmadas, Kleber apenas respondia com ‘sim’ ou ‘não’ à Naomi. Não conseguia nem mesmo dizer alguma coisa na tentativa de acalmar a ela que, desesperada, só conseguia mesmo gritar e, em seus gritos, algumas ameaças dirigidas ao Kleber e à sua filha Lalana.
O vídeo era o mesmo e cada um deles tomou conhecimento da existência dele da mesma forma, mesmo assim, cada um dos quatro envolvidos criou de imediato uma concepção diferente sobre quem seria o responsável por aquela divulgação.
Quer dizer. Nem todos. Naomi acusou abertamente Lalana de ser a autora daquele ato e o Kleber, embora não quisesse acreditar nisso, não conseguia imaginar outra pessoa que não a sua filha e, diante do que ela pretendia fazer e ele impedira na semana anterior, tudo levava a crer que era ela mesma.
Lalana já tinha certeza absoluta de que aquilo foi obra da pessoa a quem ela agradecera logo depois de assistir ao vídeo. Era alguém que a amava de verdade e que ela acreditava ser capaz de qualquer coisa para vê-la feliz.
Thyra era a única que não se arriscava a apontar o dedo para ninguém. Ela estava convicta de que, se a Lalana tivesse aquele vídeo em seu poder, teria lhe mostrado e isso significava que, ou ela nunca tivera acesso àquele arquivo, ou alguém teria enviado o mesmo para ela. Mais tarde, Thyra passaria a colocar ainda mais fé na ideia de que não fora a Lalana quem publicara o vídeo, principalmente, porque sua amiga também tinha tomado conhecimento do mesmo jeito que ela e o pai receberam, ou seja, através de um SMS de Lalana nunca usava esse recurso para se comunicar com ninguém.
No geral, o vídeo não teve grande repercussão e a responsável por isso foi Thyra que, em virtude do conteúdo do vídeo, fez uma denúncia ao Instagram e ao Facebook que, algumas horas depois, tiraram os vídeos do ar.
Essa foi, a princípio, a única providência que Thyra adotou em relação àquele episódio. Ela não culpava Lalana e, quando a amiga deu a entender que acreditava ser a Michele a autora das publicações defendeu à sua mãe, porém, ela não podia se abrir para a Lalana como teria feito antigamente, em virtude dos argumentos de que dispunha eram frutos de uma investigação ao qual ela tinha se dedicado nos últimos três meses e o que descobrira até então era um segredo que ela não se sentia pronta para dividir com ninguém.
Tudo começou no dia em que ouviu a mãe tentando convencer à Yum para seduzir ao próprio pai e, no meio da conversa entre as duas, a frase que revelou que ela não era filha de Gunnar, Thyra entrou em desespero e se recolheu ao seu quarto, aonde permaneceu por dois dias inteiros sem se comunicar com ninguém.
Nesse isolamento, ela pensou muito sobre o assunto, porém, logo chegou à conclusão de que saber o nome de seu verdadeiro pai era algo que podia esperar, pois tinha algo muito mais importante no diálogo que ela ouvira.
O raciocínio de Thyra foi baseado em uma lógica simples: O esforço da mãe em convencer a garota oriental a transar com o próprio pai tinha que ser com algum objetivo que ia além do prazer e da sacanagem e a única possibilidade que ela via era algum interesse financeiro, pois o pai da menina era muito rico e importante. Isso levava a outra suspeita que era a de que Lalana tinha sido influenciada por Michele a seduzir ao próprio pai. A única coisa que não se encaixava aí era que o Kleber, apesar de ter um cargo importante na empresa que trabalhava e ser muito bem remunerado, estava longe de poder ser comparado com o pai de Yum. Então, se o motivo da Michele agir dessa forma fosse obter algum ganho financeiro, Kleber e Lalana não se encaixavam no perfil que ela devia procurar para isso. Entretanto, uma nova descoberta que ela fez em suas investigações há quinze dias colocava isso por terra. Havia sim um motivo para que ela tivesse o Kleber sob o seu total domínio.
Thyra tinha tido muito trabalho nos últimos meses e se dedicara com afinco a investigar o passado de todos os que estavam envolvidos em sua história. Ela chegara ao cúmulo de gastar todo o dinheiro que ganhara em premiações nos torneios de tênis que disputara na contratação de detetives, o que não lhe trouxe muitos resultados úteis, Porém, quando ela já estava quase sem dinheiro, lhe ocorreu que ela estava agindo errado, pois os tempos mudaram e detetive particular era coisa do passado. O que ela precisava mesmo era de um Hacker.
Thyra começou a procurar por um e, por muita sorte, teve o nome de um jovem estudante de Ciência da Computação que, ao ser contatado com ela, achou muito divertido fazer o que ela precisava e não se incomodou com o pequeno valor que ela lhe ofereceu como pagamento por seus serviços.
Com as informações sobre o passado dos envolvidos que ela obteve através de detetives e algumas investigações que ela mesma fez e o presente escancarado com a atuação de seu novo amigo hacker, ela estava pronta para desmascarar a todos os envolvidos naquela história.
A primeira informação que recebeu e abalou ainda mais sua confiança nas pessoas que a rodeavam foi sobre Michele, sua mãe.
Sim, Michele era sua mãe biológica, mas a informação que foi o gatilho para ela começar a investigação estava certa, pois Gunnar não era o pai. E tinha coisas muito mais importantes que isso que revelava que tudo aquilo que Michele contava a respeito de seu passado eram mentiras atrás de mentira.
Michele, para início de conversa, não era francesa coisa nenhuma. Filha de uma prostituta viciada cresceu em meio a um mundo de devassidão até que, com quase quatorze anos, viu a mãe morrer em um quarto sujo e infectado, sem receber ajuda médica nenhuma. Sozinha e desamparada, ficou viveu na rua por quase dois meses, cometendo pequenos furtos ou recebendo a caridade de pessoas boas até que foi detida e levada às autoridades que a encaminharam para um abrigo para menores e, uma semana depois, encaminhada a um lar provisório.
Seus cuidadores, um casal de meia idade que era tido na cidade do interior aonde vivia como pessoas íntegras, na privacidade de sua casa, agiam como verdadeiros devassos e para Michele, que havia crescido em meio a uma vida desregrada, aquilo não era nada incomum. Então ela passou a ser usada pelo marido do casal que, mesmo sob o olhar da esposa, a possuía de todas as formas enquanto a mulher lhe passava orientação de como agir. Não demorou em que o casal percebesse o potencial da jovem e vissem nela uma boa fonte de lucros, ou seja, eles estavam prontos para passar de abusadores de jovens moças para cafetões que a explorariam sexualmente.
Por um azar do destino, Michele ficou grávida e durante a gravidez o seu estado de saúde se complicou. Levada a um hospital depois de ser ameaçada pelo casal de que, se contasse alguma coisa sobre quem seria o pai da criança sofreria castigos, manteve-se calada, porém, a médica que a atendeu, uma homossexual assumida casada com uma Delegada de Polícia e nada ingênua e desconfiou, relatando o caso à sua parceira que era Delegada de Polícia.
As duas resolveram agir por conta própria até conseguirem provas da ação do casal e foram bem sucedidos. O único problema é que o caso foi descoberto por um jornalista novo que viu no caso uma chance de conquistar espaço em seu meio e estourou na empresa.
No final, o caso acabou sendo motivo de fracasso na vida de todos os envolvidos. O casal que abusou de Michele foi preso, o casal formado pela média e a policial passaram a ser olhadas com desconfiança por todos os que as rodeavam e o jornalista foi tão criticado que teve que abandonar a carreira e se dedicar a outra profissão. Ele voltou para a faculdade e fez o curso de engenharia civil.
Entretanto, durante o período em que esteve nas primeiras páginas dos jornais do estado, ele se aproximou de Michele que diante a prisão de seus abusadores, voltou a ficar sem ter onde morar. Essa aproximação se estreitou e, quando percebeu, estava perdidamente apaixonado pela garota que, vendo nele sua tábua de salvação, aceitou sua ajuda e mais tarde se rendeu aos apelos dele e acabaram se casando. Michele teve um parto complicado o que impediu que ela tivesse mais filhos e Gunnar, o inexperiente repórter, nunca reclamou disso e, quando descobriu que sua esposa era do tipo que gostava de aventuras e novidades, reclamou a princípio, porém, quando ela colocou que era do jeito dela ou de jeito nenhum, ele aceitou, apenas aprendendo, com o tempo, a tirar vantagem disso e se tornar um grande conquistador.
Thyra sentiu o estômago dar uma reviravolta quando leu essas informações. Michele não era digna de confiança e Gunnar um fraco que, depois que descobriu que jamais teria a esposa somente para ele, aceitou tudo e ainda procurou tirar proveito da situação, inclusive, não fazendo nenhuma restrição a transar com a própria enteada e, o fato desse ato ter sido incentivado pela mãe dela não diminuía a sua culpa.
Quanto ao Kleber, as informações obtidas foram bem diferentes, mas mesmo assim muito esclarecedoras.
Kleber, o pai de Lalana, não havia se comportado bem ao perder a esposa. O desespero que se apoderou dele foi tanto que ele procurou consolo na bebia e em drogas e com isso passou a ser uma eterna preocupação para seus pais. O pai de Kleber, ninguém menos do que o proprietário da rede de lojas que ele trabalhava, fez de tudo para tirar seu filho do fundo do poço e só conseguiu com a ajuda da esposa, mãe de Kleber que usou a pequena Lalana como principal argumento de que ele devia continuar a sua vida, se não fosse por ele, pelo menos por sua filha. Vendo a verdade nas palavras de sua mãe, ele aceitou passar um período em uma clínica e se recuperou em tempo recorde.
Porém, algum estrago já tinha sido feito na reputação de Kleber, pois quando ele, já recuperado das drogas, foi levado para o pai para ocupar um cargo importante na empresa, era visto sempre como o filhinho drogado do patrão.
Essa situação fez com que ele pensasse em desistir, porém, o pai encontrou um meio de contornar a situação. A empresa tinha, nos últimos dois anos, explorado o mercado no sul do Brasil e, por sugestão do pai, Kleber aceitou ir assumir a direção da empresa naquela região aonde ninguém sabia de seu passado. A tentativa foi um sucesso, com o Kleber readquirindo sua autoestima e se tornando um homem respeitado por todos.
Então Thyra ligou os pontos e concluiu que Michele devia estar sabendo que o Kleber era o único herdeiro da empresa onde se passava por um funcionário destacado e esse era o motivo dela querer a ele sob o seu domínio.
E a última informação, mas não menos importante. A empresa que foi aberta em nome das duas jovens e que ficara sob a administração de Gunnar era constantemente vítima de desfalques por parte dele, ou seja, todo o lucro que entrava era desviado e desaparecia.
Sabendo disso tudo, Thyra tinha a certeza absoluta de que Michele havia providenciado o vazamento daquele vídeo, afinal, ela devia ter sido a pessoa que providenciou para que o sexo entre ela e Naomi fosse registrado em vídeo e agora, aproveitando o momento delicado que a relação de Kleber passava, resolveu agir para afastá-los de forma definitiva.
Porém, havia um cantinho de seu espírito que insistia que, pelo menos, deveria dar à Michele o benefício da dúvida e, pensando bem no assunto, resolveu investigar melhor Afinal de contas, ela tinha um hacker muito bom que, depois de cobrar uma quantia insignificante por seus serviços, no final se recusou a receber qualquer importância, alegando que tinha se divertido muito em fazer aquilo.
Para Thyra, que estava até mesmo resolvida a seduzir ao rapaz para conseguir os seus serviços, aquilo foi muito bom. E se era diversão o que ele queria, então ia lhe arrumar mais alguma. Em menos de uma semana ela já tinha todas as informações que precisava, só que outros acontecimentos eram alvos de suas preocupações e ela deixou o assunto para depois.
Foi na noite do réveillon. Estavam todos juntos na piscina ao lado de Kleber que dava mostra não estar reagindo bem ao abandono de Naomi que, depois da divulgação dos vídeos, se afastou definitivamente dele e sequer respondia às suas mensagens. Nem mesmo atendeu à Thyra quando ela a procurou para conversar a respeito do assunto. Foi a loirinha que percebeu que o Kleber estava dando sinais de embriaguez e, sabendo que ele já havia passado por problemas de alcoolismo, ficou atenta e, quando ele saiu da presença de todos e sumiu no interior da casa, ela o seguiu.
Thyra ficou apavorada quando, ao olhar pela porta do quarto de Kleber, viu que ele estava preparado para consumir cocaína. Desesperada, invadiu o quarto e com a palma da mão jogou as fileiras da droga que estavam sobre o criado mudo no chão enquanto arrancava o canudo da mão dele e o quebrava em dois, falando:
– Você está doido Kleber? Isso não vai resolver nada? Ou você já se esqueceu do que te aconteceu quando sua esposa morreu.
Kleber, mesmo tendo consumido uma quantidade grande de álcool, olhou com os olhos injetados para a garota e, tentando falar com voz firme, perguntou:
– Como você sabe disso? Quem te contou isso?
– Como eu soube não é importante agora. O importante é você se controlar e agir como o homem que sempre demonstrou ser,
Dizendo isso Thyra segurou na mão de Kleber e puxou para que ele se levantasse. Ele reagiu puxando o braço para se livrar dela enquanto falava:
– Me deixe sozinho Thyra. Vai embora daqui.
– Nem fudendo que eu saio daqui. Vem comigo. Você precisa de um banho frio.
Dessa vez Kleber se deixou levar. Ficou em pé em frente de Thyra que começou a soltar os botões de sua camisa e depois soltou o cinto e abriu o botão da calça jeans a puxando para baixo e se abaixando na medida em que fazia isso até ficar agachada diante dele e começar a livrá-lo de seus sapatos, calça e meia. Depois, com ele trajando apenas uma cueca, segurou em sua mão e o puxou até o banheiro. Chegando lá, abriu a torneira da água fria da ducha e empurrou Kleber que reclamou:
– Porra Thyra. Está muito fria essa água.
– Está é? Então vamos dar um jeito nisso.
Sem aviso prévio, ela fechou a torneira da água fria e abriu a da quente. A princípio, nada aconteceu e a água fria continuou a atingir o corpo já arrepiado de Kleber, porém, logo começou a esquentar e a temperatura foi aumentando até que ele reclamasse:
– Agora está quente demais.
Sem dizer nada, Thyra inverteu as torneiras e a água fria logo provocou um estremecimento no corpo do gigante Kleber, porém, antes que ele dissesse qualquer coisa, Thyra repetiu o processo e fez isso mais duas vezes até percebeu que ele já falava com voz normal e estava firme, olhando para ela com o mesmo olhar que sempre fazia quando a estava censurando por alguma coisa. Fechou a torneira e depois olhou para ele e falou sorrindo:
– O que foi titio? Por que está me olhando desse jeito? O que foi que eu fiz hem?
– Você está em um banheiro, ao lado de um homem quase nu e com o vestido todo molhado, o que quer dizer que não se pode dizer que você esteja vestida.
Thyra olhou para ela mesma e só então percebeu que, estando dentro do box com o Kleber, era impossível que ela não se molhasse e, sendo o seu vestido branco, estava todo transparente. Dava para notar os bicos de seus seios marcando o tecido molhado do vestido e a renda do sutiã também branco e, mais embaixo, uma visão da pequena calcinha que ela usava. Depois de olhar, ela levantou a cabeça e falou para o Kleber com o seu jeito maroto:
– Grande coisa titio. Você já e viu nua. Aliás, já fez muito mais que olhar, não foi?
– Isso é coisa do passado Thyra. São coisas que não vai mais acontecer. E pode parar que, todas as vezes que você me chamou de ‘titio’ você estava com más intenções.
Thyra olhou então para a cueca de Kleber que, sendo também branca, estava transparente e estufada por causa da dureza de seu pau. Então ela falou, dando um tapinha na testa do Kleber:
– Isso pode ser alguma coisa que está aqui.
Depois segurou o pau dele por cima da cueca e disse:
– Mas tem alguém aqui que discorda muito disso. Titio.
O riso cristalino de Thyra tomou todo o ambiente do banheiro.
Kleber não conseguiu esboçar nenhuma reação quando a garota se ajoelhou diante dele, puxou sua cueca para baixo e passou a língua na cabeça de seu pau que deu um solavanco. Sem conseguir se controlar, ele puxou os cabelos dela fazendo com que ela se levantasse e a pegou no colo a levando para a cama aonde a jogou e começou a arrancar suas roupas sem cuidado nenhum, chegando a rasgar o vestido e estourado duas tiras do sutiã. Apenas a calcinha se salvou, mesmo assim, porque quando ele foi puxá-la para baixo, Thyra se apressou em ajudá-lo.
Quando Kleber abaixou sua cabeça entre as pernas de Thyra e atacou sua bucetinha com sua língua ávida, ela virou o rosto para o lado. As luzes do quarto estavam apagadas e o mesmo era iluminado pela claridade que vinha do banheiro e do corredor cujas luzes estavam acesas. Com isso, ela pode ver uma sobra no corredor demonstrando que havia alguém ali que se afastava. Isso a deixou preocupada, porém, naquele justo momento o homem tirou a língua de sua buceta e tocou com ela o seu cuzinho enquanto dois dedos invadiam sua xoxota.
Thyra gozou no mesmo instante e se esqueceu completamente de que alguém tinha assistido do início de sua foda com o ‘titio’ Kleber.
O ano de 2024 chegou e, em seu segundo dia, depois de ter falhado em sua promessa de não transar mais em família e ter uma noite de sexo maravilhosa com Kleber e, mesmo não se arrependendo disso achava que deveria ter evitado, Thyra fez uma análise de todas as informações que tinha. A última chegara até ela na manhã do segundo dia do ano, uma segunda-feira. No final, resolveu que chegara a hora de agir e que a primeira coisa a fazer seria isolar Yum de toda aquela situação.
Essa decisão estava baseada em uma conversa franca que tivera com a pequena oriental. Nessa conversa, depois de expressar suas preocupações quanto a intenções de sua mãe em uma tentativa de usar a garota para se aproximar do pai dela, foi tranquilizada por Yum que lhe disse:
– Olha Thyra, Você não precisa ficar estressada por causa disso. Eu sei que se eu fosse convencida disso e tentasse alguma coisa não ia demorar em que o meu pai descobrisse e, se isso acontecer, a reação dele seria horrível. Meu pai não tem pena de ninguém e a vida de sua mãe estaria correndo um risco muito grande.
Thyra olhou para ela com a boca aberta, porém, antes que falasse alguma coisa, continuou:
– Não se preocupe. Não vai acontecer nada disso. Nem eu vou entrar nesse papo furado da sua mãe e tentar alguma coisa com meu pai e nem vou contar nada para ele, Aliás, tenho dúvidas de que essa parte do contar alguma coisa seja necessário, pois meu pai tem uma rede de informantes muito grande e sabe de tudo o que acontece. Acho até que ele sabe quando eu trepo, quem me fode e aonde me fode. Não sei por que ele nunca me chamou a atenção sobre isso,
Thyra ficou mais aliviada e agradeceu a garota que, no final da conversa, disse a ela:
– Falando nisso, acho que está na hora de eu me afastar de vocês. Já estou de olho em um casal. Sabe como é, eu adoro conquistar. Depois que eu consigo, começa a ficar sem graça.
– Nossa Yum. Quem te vê jamais vai imaginar que você pensa assim!
– Isso é porque as pessoas não prestam atenção em nós orientais. A gente historicamente tem o poder de esconder nossos reais sentimentos. – Depois olhou para Thyra, Yum completou: – Você devia tentar isso. Vai descobrir como isso pode ser útil.
Quanto a Yum, Thyra não precisou fazer nada. Cumprindo sua promessa, a garota simplesmente parou de frequentar a casa de Michele e sequer atendia aos telefonemas dela ou respondia suas mensagens, Aliás, as mensagens sequer eram lidas.
Na noite da quarta-feira Thyra fez com que os pais a acompanhasse até a casa de Kleber. Ela havia tentado falar com Lalana que, para sua estranheza, evitava de todas as formas falar com ela. Então ela fez questão de confirmar que tanto Kleber como Lalana estavam em casa. Lá chegando, encontraram pai e filha na piscina, porém, o clima continuava estranho entre os dois, pois depois da divulgação do vídeo da transa de Naomi e Michele, eles mal se falavam. O homem tinha certeza de que Lalana era a culpada da divulgação daquele vídeo.
Para não dar chance de que sua mãe iniciasse algum assunto que desviasse a ela de sua intenção, Thyra começou a falar assim que notou que tinha a atenção de todos:
– Muito bem pessoal. Vamos colocar um ponto final nessa situação.
– Que situação? Não está acontecendo nada! – Disse Michele dando a parecer que estava tudo bem entre eles.
Entretanto, antes que começasse, Thyra foi surpreendida por Lalana que disse para todos ouvirem:
– Qual a novidade Thyra? SE você vai dizer que passou o ano fudendo com eu pai, eu já estou sabendo.
Os únicos a ficarem surpresos com a informação dada por Lalana foram o Gunnar e o Kleber, Para Michele aquilo soou totalmente normal e ela até gostou de ouvir, pois isso podia significar que sua filha estaria voltando ao normal, pois já fazia mais de dois meses que a garota agia como se estivesse evitando a ela e ao pai. Porém, Thyra agiu com firmeza:
– É verdade. Aconteceu mesmo, Mas não foi nada escondido não. Só não contei para ninguém porque não é só da minha conta. Da minha e do Kleber.
O fato de não se referir ao Kleber como tio como era seu costume, passou despercebido a todos, menos para Lalana. Mas dessa vez ela não teve chance e Thyra começou a falar.
– É o seguinte gente. Eu queria falar com todos vocês juntos porque tem muita coisa que todos precisam saber.
– Lá vem ela com... – Começou a falar Michele que, por ser quem mais tinha a esconder, sabia que tinha que tentar qualquer conversa mais séria e permanecer sempre no campo da sacanagem.
Thyra fez que não ouviu sua mãe e continuou, falando um pouco mais alto para dar a ela a certeza de que nada a faria parar e falou:
– TODOS VOCÊS PRECISAM SABER QUE O QUE A GENTE VIVE AQUI É UM CONTO DE FADAS. A REALIDADE É MUITO DIFERENTE.
A partir daí, Thyra conseguiu falar tudo o que sabia começando com o fato de que não era filha de Gunnar. Lalana, ao ouvir essa informação, passou a olhar para Michele com ódio no olhar e, na primeira vez que conseguiu falar alguma coisa foi para acusá-la:
– Você sabia que a Thyra do Gunnar e me fez acreditar que era e que eles transavam.
Kleber, que com as informações que acabou de ouvir já começou a formar uma ideia de quem era realmente Michele e Gunnar não interferiu e Thyra já desviou o assunto para a história dele e não deu chance para que uma discussão se formasse a respeito do que acabara de ser dito.
A história de Kleber não causou nenhum efeito mais forte no grupo, a não ser a revolta demonstrada por Kleber quando soube que, para tomar conhecimento disso, Michele tinha convencido um homem que conhecia a ir até a cidade dele obter essas informações, dando em troca a ele uma noite de muito sexo. Lalana também se emocionou e, consternado e com os olhos marejados, pediu perdão ao pai depois de prometer que jamais tentaria alguma coisa dele e obteve como resposta:
– Agora é tarde filha. Você já atrapalhou minha vida e só não me atirou de volta em uma vida de consumo de álcool e drogas porque a Thyra evitou isso. A transa na noite do dia primeiro não foi uma coisa isolada. Ela estava evitando que eu me drogasse e aconteceu de nos sentirmos atraídos um pelo outro.
Antes que Lalana dissesse alguma coisa, Thyra falou:
– Pois é. Só que não foi bem isso. Não foi a Lalana que publicou aquele vídeo. Aliás, a Lana não tinha a menor ideia de que aquele vídeo existia. Aliás, assim como eu, ela nem sabia que a dona Michele já tinha fodido a Naomi também.
– ENTÃO QUEM FOI?
A pergunta foi feita por todos os presentes que estavam ao lado da piscina para uma Thyra que, respirando fundo, se preparou para soltar a bomba.
– Quem publicou aquele vídeo foi...
