Os Fins Justificam os Meios
– LALANAAAA...
O grito de Kleber ao entrar na sala ecoou na sala vazia, subiu as escadas, ultrapassou as portas fechadas e foi encontrar dois pares de ouvidos na cama dela.
Suados, nus e extasiados, Lalana e Jaime se recuperavam dos orgasmos que tiveram. Ela vários em uma sucessão de gozos que a atingiam com uma descarga elétrica que agora a deixava prostrada e ele, não menos cansado, tentava normalizar sua respiração por ter sido o último a gozar.
Ao ouvir os gritos do pai a garota se levantou tão rapidamente que quase atirou o rapaz para fora da cama. Não que ela se importasse que o pai chegasse a casa no momento em que ela estava transando, mas sim pela forma como ele gritou seu nome. Kleber não era dado a esses tipos de reações e para ele gritar o nome dela daquele jeito, com ela percebendo a raiva contida no som de seu nome, ficou assustada. O fato do Jaime, que ela tão bem escondera de seu pai não deixando que o mesmo soubesse da existência dele agora já não importava mais, pois o objetivo pretendido já havia sido atingido.
Aliás, o problema agora seria como se livrar de Jaime. Lalana estava tão certa de que seu plano afastaria Kleber de Naomi de uma forma definitiva e o teria apenas para si que já fazia planos para o futuro e, nesse futuro, não estava Jaime. Ele cumprira a sua finalidade, portanto, não tinha mais qualquer serventia.
Quando Kleber forçou a fechadura da porta do quarto da filha e percebeu que a porta não estava trancada não vacilou e abriu a porta em um único movimento e entrou no quarto, se deparando com aquele quadro constrangedor, onde a filha nua e em pé ao lado da cama olhava para ele com os olhos arregalados enquanto um jovem desconhecido estava sentado na cama todo atrapalhado com a pressa demonstrada para vestir um short que apanhara no chão. Mas esse detalhe não era importante. Não mais. O importante naquele momento era saber até que ponto sua filha pretendia chegar e quantas pessoas ela iria ferir em sua tentativa de obter o impossível. Então falou:
– Por que Lalana?
Lalana sentiu um tremor por todo o seu corpo. Aquilo que estava acontecendo e da forma como acontecia só podia significar uma coisa. A pergunta de seu pai tinha a ver com o seu plano de expor Naomi e afastá-la de vez da vida dele.
Mas como é que isso teria chegado ao conhecimento dele se apenas o Jaime, a Thyra e Michele tinham conhecimento daquele plano?
”Não acredito que a Michele me traiu e foi avisar ao meu pai. Logo ela que parecia tão animada com a possibilidade de tudo voltar a ser como era antes!” – Pensou Lalana demonstrando a fé cega que ela tinha em Thyra.
Enquanto pensava isso, tentou ganhar tempo e respondeu a pergunta com outra:
– Por que o que papai? Do que é que você está falando?
– Estou falando dessa sua ideia de comprometer a Naomi colocando fotos e filmes dela na rede social.
Lalana era inteligente e de pensamento ágil. Imediatamente ela percebeu que havia uma forma de trazer o pai para o seu lado e disse:
– Estou só fazendo o que devo fazer para te livrar dela. O simples fato de essas fotos existirem já é uma prova que aquela zinha não vale nada.
A aposta de Lalana era que o pai não soubesse das montagens das fotos e dos vídeos. Mas ela estava errada e o Kleber não deixou isso passar e contra atacou:
– A Naomi não é uma zinha. A |Naomi é a mulher com quem eu pretendo me casar. E essas imagens que você tem não provam nada, elas apenas provam que você perdeu de vez qualquer contato com a decência. Aonde já se viu armar uma coisa assim? Será que você não percebe que isso pode destruir a vida dela? Você não pensou por nenhum minuto de que a Naomi tem pais, irmãos, amigos e um monte de gente que a conhece e a respeita? Além disso, o que você pretende ganhar com isso?
Lalana se ateve apenas na última pergunta e a respondeu de imediato:
– Você sabe muito bem o que eu pretendo papai. Não me faça perguntas tolas.
– Pois eu acho que você está é doente minha filha. Essa sua obsessão ainda vai causar muitos estragos, mas no final, a mais atingida vai ser você. Pode acreditar nisso.
– Não é obsessão nenhuma, senhor Kleber. Eu só estou lutando pelo que já é meu por direito. Ninguém vai roubar você de mim.
Ao ouvir isso os olhos de Jaime se arregalaram. Ele tinha finalmente conseguido cobrir sua nudez com o lençol e agora segurava a bermuda com uma mão enquanto olhava assustado para pai e filha em pé à sua frente. A nudez de Lalana resplandecia de tão perfeito que era seu corpo, porém, aquilo parecia não afetar ao pai dele nem para o bom nem para o ruim, ou seja, Kleber agia como se ela estivesse usando um hábito de freira e não demonstrava nenhum interesse no belo corpo da filha, como também o fato dela estar nua parecia não lhe afetar em nada. Porém, o que o incomodava mesmo era as últimas frases de Lalana. Até que ponto seu pai seria dela e que história era essa de alguém estar roubando a ele da filha? Ela estava se referindo apenas ao amor de filha pelo pai que, por ser tão grande, não admitia que ele se relacionasse afetivamente com outras mulheres ou a coisa ia além disso?
De repente, a forma que Lalana agiu com ele desde o princípio, primeiro demonstrando interesse apenas em ter uma transa e nada mais e depois, ao saber de sua habilidade em computação, mudou o comportamento e passou a desempenhar o papel de mulher apaixonada.
“Meu Deus! Como foi que eu vim cair no meio disso? É muita sujeira para mim.”
De repente ele foi invadido pela certeza de que estava apenas sendo usado e, pior que isso, usado por uma garota mimada que, apaixonada pelo pai, fez dele um fantoche para atingir seus objetivos. Essa certeza deu a ele a coragem de agir normalmente e, sem se importar em revelar sua nudez, levantou-se e começou a se vestir.
Enquanto isso, Kleber e Lalana continuavam a discutir e ele insistia nas consequências nocivas que os atos da filha causariam em Naomi e dizia:
– Você não tem medo de se arrepender depois de acabar com a vida de uma pessoa Lalana? Será que você não percebe que vai ter que carregar a culpa disso pelo resto da sua vida?
– Ah papai. Isso é bobagem. Afinal de contas, como disse Maquiavel: “Os fins justificam os meios!”
A tranquilidade com que Lalana disse isso revelava ao Kleber que toda aquela situação causara uma transformação muito grande na filha. Ela falara isso com uma frieza tão grande que deixava claro para quem ouvisse que ela realmente não se importava com nada, apenas em conseguir o que queria.
– Você pensa que vai ganhar alguma coisa com isso, mas você está enganada. Não só não vai conseguir o seu objetivo, como vai matar o resto de sentimento que ainda existe em mim. Eu não posso permitir que você faça algo assim.
– Já está feito papai. Só falta mesmo publicar e era para acontecer na véspera de Natal, mas já que a Michele me traiu, não tem mais nenhum motivo para ficar esperando. Vamos publicar isso hoje. – E virando-se para Jaime que a essa altura já estava quase que completamente vestido, ordenou: – Pode publicar agora querido. Não vamos esperar mais.
– Não. – A negativa de Jaime saiu em um volume maior do que ele pretendia.
De repente o ambiente do quadro ficou congelado. Tanto Lalana como Kleber ficaram imóveis. Ela olhando para ele como um olhar de quem não estava entendendo o que ele queria dizer com isso e o pai, já entendendo, estava com a boca aberta olhando para o rapaz enquanto esperava por sua explicação. Ele respirou fundo e falou:
– Você mentiu para mim Lalana. Você me disse que se tratava de uma mulher desclassificada que estava enganando seu pai, mas não é isso que ficou parecendo.
– É, mas...
– Espere, eu ainda não acabei. – Lalana ficou assustada com a firmeza que o Jaime falou. Ele, que sempre foi um fantoche em suas mãos de repente pareceu ter vida própria e ser capaz de tomar suas próprias decisões. E ele continuava: – Não só isso parece ser mentira, como também está claro que tem um interesse nada normal nessa sua tentativa de afastar seu pai dessa mulher. Acredito que dessa e de qualquer outra. Estou errado?
A pergunta foi feita olhando para o Kleber que balançou o rosto para deixar claro que a Jaime que ele não estava errado. Enquanto isso, Lalana pensava rápido para tentar pelo menos diminuir os prejuízos que aquela discussão com seu pai causara e se aproximou de Jaime falando:
– O que é isso meu amor? Você sabe o quanto eu gosto de você, não sabe? Quem foi que vivia implorando para você vir me visitar aqui em Porto Alegre?
– Não era a mim que você queria em Porto Alegre. Você só estava atrás de minhas habilidades. Agora me confesse uma coisa. Quando é que você ia me chutar para fora da sua vida? Você ia fazer isso agora que conseguiu o que queria ou ia continuar fingindo que me amava por mais um tempinho.
Lalana ficou olhando para ele, dessa vez séria. Ela não era burra para saber que estava em um beco sem saída e, qualquer coisa que ela tentasse agora, poderia apenas piorar. Porém, de repente lhe ocorreu que ela já tinha o que precisava e não precisava mais do Jaime. Isso lhe deixou eufórica a ponto de escancarar seu joguinho:
– Então tá. Já que você insiste, pode ir embora. Você já me deu o que eu quero. Obrigada.
– Não Lalana. Eu ainda não te dei nada. Você está se esquecendo de um detalhe.
– Ah é? E o que é esse detalhe?
– Você não queria ser envolvida nisso de nenhuma forma, está lembrada? Seu medo de ser descoberta no futuro que me proibiu de fazer qualquer coisa em seu computador ou te mandar algo via Whatszapp. Tudo o que foi feito está apenas no meu computador, nas minhas nuvens e nesse pen-driver aqui. – Jaime tirou a mão do bolso e a abriu mostrando o aparato que repousava na palma dela e completou: – Você não tem nada.
Lalana agiu rápido e tentou surpreendê-lo pegando o pen-driver de sua mão, porém, ele foi mais rápido e fechou a mão. Em seguida, se aproximou de Kleber e deu a ele o objeto. Kleber o recebeu e perguntou:
– E as cópias que estão no seu computador?
Jaime, que já se preparava para sair do quarto, falou sem olhar para o Kleber:
– Vão continuar comigo. Eu não te conheço e preciso de alguma coisa para me proteger. Se eu souber que está havendo alguma tentativa de me prejudicar por eu ter participado dessa patifaria, eu publico as imagens. Mas não se preocupe, só vou manter as fotos para me proteger e assim que me sentir seguro, eu dou um fim nelas.
– E se alguém invadir o servidor em que está a sua nuvem?
– Esse é um risco que todos corremos. Vamos rezar para que ninguém se interesse por isso.
Dizendo isso Jaime saiu do quarto sem olhar para trás e depois abandonou a casa para nunca mais ser visto.
Assim que se viu sozinho com Lalana, Kleber olhou para ela e disse:
– Agora nós dois mocinha. Você está proibida de sair de casa até segunda ordem.
– Qual é seu Kleber. Vai ficar dando uma de paizão agora?
– Vou. Sou seu pai e apenas isso. Teremos um final de semana prolongado por causa do Natal na segunda-feira. Vai ser sinistro passar esse dia assim. Na terça-feira nós dois vamos juntos a buscar por ajuda especializada. Acho que estamos precisando disso.
– Nem morta. Se você acha que está louco, então vá atrás de psiquiatras. Eu não vou de jeito nenhum, Ah! E tem outra coisa. Caso você tenha se esquecido, eu sou emancipada e saio na hora que quero, vou aonde quero e não tem nada que você possa fazer para me impedir.
Kleber pensou um pouco antes de responder:
– É verdade. Juridicamente eu não tenho mais nenhum direito sobre você. Só que você está se esquecendo de que direito e obrigação andam juntos e, se não tenho os direitos, também não tenho as obrigações.
– Ah é? Vai me expulsar de casa? Decida logo seu Kleber. Você me quer presa aqui ou vai me por pra fora?
– Eu gostaria que você ficasse em casa. Mas isso é para o seu próprio bem. Você não está em condições de sair por aí. Mas se quer sair, então saia. Como você mesma disse, você é emancipada e isso significa que é a dona do seu próprio nariz. Mas tem uma coisa. Significa também que não tenho nenhum motivo para te sustentar. Aqui em casa você tem uma cama para dormir e vai ter comida, cama e roupa lavada, mas dinheiro eu não mais. Vou agora mesmo cancelar todos os cartões dos bancos, tanto os de créditos como os de débitos. Se você quiser sair, vai depender de alguém. Então se vire.
Dizendo isso, Kleber se virou e saiu do quarto se dirigindo ao seu. Deitou-se na cama, pegou o celular e ligou para Naomi a colocando a par de tudo.
A mulher ficou aliviada ao saber que as montagens de fotos suas não seriam mais veiculadas na internet e depois explicou para o Kleber que perguntou por Thyra de que a garota, depois de uma longa conversa que tiveram, tinha ido se deitar. Ao dizer isso, Naomi frisou a palavra “conversa”, o que não ficou fora do radar de Kleber que, ressabiado com o conteúdo dessa conversa, preferiu não perguntar nada. Naomi percebeu isso, mas preferiu não comentar nada. Ela tinha tempo. Depois disso, ambos combinaram de se encontrarem na manhã seguinte ficando acertado que ele iria até o seu apartamento para buscar Thyra.
Em seguida o Kleber usou o celular para cumprir a promessa de cancelar os cartões de Lalana e depois tomou um banho e foi se deitar. Porém, não conseguia dormir em virtude do que tinha acontecido naquela noite e, cerca de quarenta minutos depois, recebeu uma ligação de Lalana. Ela não acreditara no pai e saiu. Porém, ao tentar efetuar o pagamento do Uber que chamara o cartão não foi aceito e ela não teve alternativa senão chamar pelo pai.
Kleber foi até a rua aonde, em frente a sua casa, um motorista mal humorado fez alguns comentários nada elogiosos a respeito de Lalana e depois voltou para dentro. Ele não viu sua filha, pois enquanto ele efetuava o pagamento ela entrou e desapareceu dentro de seu quarto fazendo com que ele falasse para ninguém:
– Esse é o começo Lalana. Seja benvinda no mundo dos adultos aonde obrigações e direitos, prazeres e responsabilidades andam de mãos dadas.
Na manhã seguinte o sol mal tinha aparecido no horizonte e Kleber tocava o interfone do prédio de Naomi. Ele tinha autorização para subir, porém, achou melhor respeitar a presença de Thyra ali e resolveu anunciar sua presença antes de bater na porta do apartamento. Naomi já esperava por ele e logo ele entrou no apartamento e foi conduzido à cozinha aonde a garota tomava seu café da manhã. Ele foi servido e aproveitou o fato de ainda estar em jejum e tomou sua primeira refeição do dia em companhia das duas mulheres.
A conversa fluía normal até que Kleber resolveu agradecer à Thyra:
– Obrigado Thyra. Vou ficar devendo essa para você pelo resto da vida. Você nos poupou de um problema daqueles.
Thyra, que havia sido informada por Naomi que tudo tinha sido resolvido, mas nada lhe fora dito sobre os detalhes, perguntou:
– E a Lana tio. Como foi que ela reagiu a tudo isso?
– Para te dizer a verdade, eu não prestei muita atenção nisso. Até agora a revolta toda dela foi direcionada a mim.
– Ela não falou nada de mim? Eu pergunto por que, conhecendo a Lana como eu conheço, ela não vai me perdoar nunca. Ela vai me acusar sempre de ter sido traída.
– E você? Como é que você se sente em relação a isso?
– Muito mal, lógico. Mas só me sinto mal porque acho que a nossa amizade já era. Não vai ter mais jeito. E o senhor sabe que a Lana é como uma irmã para mim.
– Eu sei Thyra. Mas não fique tão preocupada com isso agora. A Lalana vai precisar passar por um tratamento. – Essa afirmação da parte dele fez com que ambas as mulheres ficassem em silêncio e ele achou melhor atenuar a informação dizendo: – Não é só ela. Eu também vou passar ter que fazer isso. Aliás, acho que não se trata apenas de Lalana e eu. Tem muita gente precisando da ajuda de um psicólogo.
Essa frase de Kleber chamou a atenção de Naomi. Ela ficou impressionada por dois motivos. O primeiro é que aquilo só punha mais lenha na fogueira de suas suspeitas com relação ao seu homem e a filha dele. A outra é que o fato dele reconhecer que isso não era normal já era um bom começo.
Depois do café da manhã todos saíram. A intenção era levar a Thyra até a casa dela e depois, a pedido de Naomi iriam a uma fábrica de confecções de produtos infantis de uma amiga dela. Ela explicou que essa amiga estava passando por dificuldades financeiras e ela estava pensando em encarar uma sociedade caso a empresa fosse viável. Ela disse que queria a opinião de Kleber.
Porém, logo que Thyra saiu do carro depois do Kleber agradecer a ela mais uma vez ele perguntou para a Naomi qual direção seguir e ela o surpreendeu falando:
– Fica ao seu critério. Qualquer lugar serve. Só que tem que ser um local aonde dê para conversar sem sermos interrompidos. Temos assuntos sérios a tratar.
Kleber tremeu na base. Ele sabia qual seria o teor dessa conversa. Mesmo assim, sabendo que não tinha mais motivos para adiar aquilo, seguiu direto para o apartamento de Naomi.
A conversa não foi fácil, muito embora fosse breve.
Breve porque, sabendo do que se tratava, Kleber não fez rodeios e foi direto ao assunto confessando para Naomi sobre o seu relacionamento com Lalana. A mulher, porém, não se contentou apenas em saber o que tinha acontecido e disse que, para julgar melhor, precisava conhecer o como e quando e isso fez com que, depois da revelação, eles passassem o resto daquele dia conversando a respeito disso e, a cada hora que passava, Kleber ia ficando mais seguro, pois ele entendia que se a Naomi não fosse aceitar isso de forma alguma ela não teria se interessado em saber todos os detalhes. O único problema era que a morena não demonstrava nenhuma emoção. Ela se resumia a ouvir e fazer perguntas quando não entendia bem algum detalhe do que ele lhe contava ou especulava sobre algo que não ficava muito claro, obrigando que o homem lhe dissesse não só os fatos, mas também o que pensava a respeito disso.
Quando se deu por satisfeita, Naomi encerrou assunto com uma única frase:
– Eu te agradeço por ter me contado tudo isso. Eu sei que poderia estar cobrando por você não ter dito nada antes, porém, eu entendo o quanto isso deve ter sido difícil para você também. – Kleber achou que Naomi entenderia o problema pelo qual passara e colocaria uma pedra sobre o assunto e, talvez por isso, se levantou da poltrona que ocupava e foi em direção à Naomi que interrompeu seu gesto continuando a falar: – Mas tem mais uma coisa Kleber. Isso tudo foi informação demais para mim. Pelo menos você me protegeu e não deixou que eu entrasse nesse mundo pervertido que você e seus amigos têm vivido. Então, eu vou precisar de um tempo. Eu te peço para ser compreensivo com relação a isso e me deixe sozinha.
Kleber ficou encarando a moça que, olhando fixamente para ele, disse em tom imperativo>:
– É pra já Kleber. Eu quero ficar sozinha e quero agora.
Entendendo o pedido de Naomi e entendo ser justo, Kleber saiu do apartamento dela sem dizer uma única palavra.
Mais cedo, quando foi deixada em frente de sua casa, Thyra usou sua própria chave para entrar em casa. O andar térreo estava vazio e ela subiu as escadas em direção ao seu quarto, porém, quando passou em frente ao quarto da mãe ouviu gemidos femininos que não reconheceu como sendo de sua mãe e, como também não parecia ser a Lalana, foi tomada pela curiosidade e empurrou a porta do quarto.
A cena que viu não a impressionou em nada. Era algo do qual ela já estava acostumada e até mesmo fizera parte muitas vezes.
Na enorme cama que existia no quarto do casal, cama essa que muitas vezes fora usada por cinco pessoas de uma vez em transas homéricas, estava três corpos nus. Gunnar, sentado com as costas apoiadas na cabeceira da cama olhava extasiado para a cena que se desenrolava no centro da cama aonde dois corpos financeiros se dedicavam a um sessenta e nove, com Michele por cima e com a cabeça enfiada no meio das pernas da outra mulher enquanto era rigorosamente chupada por essa mulher.
Como se sentissem a presença de Thyra, as duas olharam para a porta. O rosto de Michele estava totalmente coberto dos cremes que ela extraíra com sua língua ágil daquela pequena xoxota. Tão melecada que chegava a brilhar até mais que o sorriso que ela dedicou quando olhou para a filha. Embaixo dela, um pequeno rosto oriental também a olhava com uma expressão de susto e medo, mas não demonstrava ter tido o mesmo sucesso que a parceira em fazê-la gozar já que seu rosto estava quase que normal, havendo apenas uma pequena quantidade de baba escorrendo por seu queixo.
Yum, a garota que um dia fugira da piscina da casa de Kleber ao ouvir Lalana acusando ao pai de ter transado com ela, tinha ido parar exatamente na casa de Michele que, não só ouviu e acalmou a garota, como passou algum tempo se dedicando a ela como se libertar totalmente das amarras sociais. A pequena coreana fora devidamente treinada e doutrinada e passara a ser presença constante na cama do casal Gunnar e Michele.
Ela só não transara ainda na presença de Thyra. Michele já havia contado para ela a respeito da relação que mantinham naquela casa, porém, não tinha acontecido deles ficarem os quatro juntos, ou ela junto com Thyra e algum dos outros dois para uma transa. Aquela poderia ser a hora, porém, ela viu alguma coisa no rosto de Thyra que a convenceu que não ia rolar. Pelo menos não naquele momento.
Michele, entretanto, não viu o mesmo e convidou:
– Já chegou minha filha linda. E chegou bem na hora. Venha se juntar a nós.
Thyra olhou para aquela cena, pensou um pouco e por fim decidiu:
– Hoje não mamãe. Não estou no clima.
Dizendo isso, saiu do quarto da mãe e se dirigiu ao seu, porém, foi seguido pela mãe que deixou tudo o que estava fazendo e foi atrás da filha perguntando o que tinha acontecido. Thyra, antes mesmo de se livrar da roupa e entrar no chuveiro, começou a relatar tudo o que tinha acontecido.
Michele já sabia do plano de Lalana e até a incentivara e por isso, não conseguia entender o que a filha havia feito. Aquilo para ela soava como uma traição. Foi nessa hora que Thyra perdeu a calma e falou com grosseria:
– Quer saber de uma coisa mamãe. Estou cansada. Muito cansada mesmo. Por que você não volta para o seu quarto e aproveita que eu estou vendo que a casa vai cair logo, Não demora muito e todos nós vamos ter que pagar o preço por viver da forma que queremos, sem se importar com o que os outros pensam. A vida sempre cobra, não é mesmo?
Michele, que não era o tipo que aceitava entrar em uma discussão quando não estava ciente de que tinha vantagens, apenas acenou com o rosto concordando e deixou Thyra a sós. Porém, ao retornar ao quarto, ela entendeu o que Thyra queria dizer com relação ao preço que a vida cobra. As preocupações com o que acabara de descobrir e sobre suas consequências não abandonaram sua mente, atrapalhando seu desempenho naquela transa e acabou funcionando mais como expectadora ao assistir o marido fodendo com gosto a japinha. Que nem japonesa era, mas que ganhou esse apelido carinhoso de todos, muito embora ninguém se atrevesse a dizer isso na presença dela. Japinha era apenas quando Yum não estava presente.
Thyra pensava em como sua vida tinha mudado nos últimos dois meses e, por coincidência, essas mudanças tinham começado exatamente no período em que Yum começou a frequentar sua casa. Ela, que a princípio não tinha simpatizado muito com a oriental e só aceitava a companhia dela por causa da insistência de Lalana, de repente começou a ver que a garota era presença constante em sua casa e quase nunca na da vizinha, o que era de se esperar.
Daí a descobrir que havia algo rolando entre Yum e seus pais foi fácil. Afinal de contas, Michele nunca fez questão de esconder seus relacionamentos e surpreender as duas em um beijo apaixonado na cozinha logo aconteceu. Daí pra frente, não foi surpresa nenhuma quando Thyra viu seu pai e Yum transando na piscina. Para ela, aquela visão era a prova de que, dali para frente, estaria sempre cruzando com a garota e já era de se esperar que as duas também se pegariam.
Mas não foi tão fácil assim. Talvez por desinteresse de Thyra que nos últimos tempos vinha tentando convencer Lalana a deixar de lado aquela coisa de ficar arrumando machos para provocar o pai e talvez tenha sido esse o fato da amiga ter recorrido à Yum e não a ela naquele dia em que o Kleber resolveu dar um basta na situação e tudo acabou ficando pior.
No fim das contas, Yum e Thyra nunca transaram apenas entre elas e, todas as vezes que isso aconteceu, é porque Michele ou o Gunnar estavam presentes, isso quando não estavam todos os quatro se proporcionando prazer. Michele dizia que a Yum agia como a Thyra de antigamente, explicando que quando mais jovem Thyra não recusava nunca uma transa, mas que depois que se envolveu no mundo dos esportes, não se mostrava mais disposta como antes e por várias vezes ela evitava a mãe ou ao pai quando eles começavam a lhe provocar. Com a pequena oriental isso nunca acontecia. Aliás, era o contrário, pois a garota estava sempre procurando por sexo e chegava a ser tão insistente as vezes que Michele e Gunnar só cediam à vontade dela por se sentirem responsáveis em apresentar essa forma de vida liberal à garota. Yum era insaciável. Ela acabava de transar com o Gunnar e partia para cima de Michele, ou vice versa e, depois que foi apresentada à forma de transar com dois paus a lhe invadir a xoxota e o cuzinho ao mesmo tempo, com Michele usando uma cintaralho, passou a exigir isso quase que diariamente.
Entretanto, não foi o sexo que provocou uma mudança profunda em Thyra. Tinha sido sim por causa de Yum, mas nada a ver com sexo. Thyra estava na piscina quando resolveu ir até sua casa pegar um hidratante para usar no seu corpo. Ao lado da piscina sempre existia algum à disposição, mas esse era de uma marca especial que ela queria experimentar. Ela saiu andando nua como estava, pois esse era o costume para quem usava aquela piscina e foi até a casa entrando pela porta da frente e se surpreendeu com os pais conversando com uma terceira pessoa na sala.
Estranhou porque, sendo essa terceira pessoa a Yum, eles não falavam de sacanagem como era de se esperar e a conversa parecia ser muito séria. Ela evitou entrar na sala, por onde teria que passar para atingir a escada que a levaria ao segundo andar por estar nua, então resolveu esperar. Ela não tinha a intenção de ouvir a conversa, porém, ela estava li e não pode evitar e foi ficando apavorada ao ouvir a mãe insistir com a garota:
– Deixa de ser boba Yum. Você não vê que isso não tem nada demais. Além disso, seu pai já deu sinal que sente tesão por você. Então, o que tem demais?
– Ai Mi. Eu não sei. É meu pai né?
– E o que tem demais nisso?
– Sei lá. É esquisito. Acho que não tenho coragem para isso não. Além disso, meu pai está sempre ocupado. Ele só pensa em ganhar dinheiro.
Thyra sabia que o pai de Yum era um empresário bem sucedido que estava ganhando muito dinheiro no sul do país. Mas no momento não ligou os fatos e continuou a ouvir sua mãe dizendo:
– Então. Um motivo a mais. Esses homens que só pensam em negócios estão sempre estressados e nada melhor para curar estresse do que uma gatinha como você. Aposto que ele ia adorar.
– E você também não ia achar nada ruim. ¬– Emendou o Gunnar. – Do jeito que você é tarada, ia ter um pau a mais para te foder a todo o momento.
Thyra observou que Yum apenas sorriu com o comentário de Gunnar enquanto Michele continuava a insistir:
– Olha só. Você não vê como a Thyra é feliz? Você não acha que essa felicidade toda dela é por estar sempre satisfeita, pois não precisa ficar esperando por algum coleguinha babaca resolver transar com ela. Basta sentir vontade e tem a quem recorrer.
– É. Mas você contou que a Thyra não é filha do...
– Não importa de quem a Thyra é filha. A certidão de nascimento dela diz que o pai dela é o Gunnar. Então, para todos os efeitos, é a mesma coisa que você transando com seu pai.
Thyra não se lembra das coisas que foram ditas depois disso, pois sua cabeça entrou em parafuso e ela não conseguia pensar mais em nada e apenas um pensamento martelava em sua mente:
“Como assim. Não sou filha do Gunnar? Quem é o meu pai então?”