“Triste coisa é querer bem
A quem não sabe perdoar
Acho que sempre lhe amarei
Só que não lhe quero mais”.
(Tarcísio) – Aiiiii, Mônica! Vai com calma! – Gritou Tarcísio, deitado na cama.
(Mônica) – Nem parece o Tarcísio que eu conheço. Achei que fosse bom na cama.
(Tarcísio) – Como você pode brincar numa hora dessas? O mundo desabando e você ... Aiiiii, caralho! – Gritou novamente, enquanto eu trocava um de seus curativos.
(Mônica) – Desculpa! É que eu já chorei tanto, que estou sem lágrimas. Nossa!!! Ainda está muito inchado. O Edu te arrebentou mesmo.
(Tarcísio) – Que nada! Você deveria ter visto o estrago que eu fiz nas mãos dele ...
Eu ri do que ele falou e o Tarcísio também, mas logo reclamou de mais dores e me pediu um analgésico.
(Tarcísio) – Puta merda! Não posso nem rir que as costelas doem.
(Mônica) – Sinto muito, Tarcísio! Estou com pena de você, mas obrigado por não ter revidado contra o meu marido.
(Tarcísio) – Eu nunca atacaria o meu amigo, ainda mais naquelas condições, onde eu vi que ele tinha sido enganado. Ele estava repleto de razão e foi melhor ele descarregar toda a raiva em mim do que em você.
(Mônica) – Eu não sei como vou explicar uma história que não tem explicação. Nós erramos, Tarcísio e eu errei mais ainda.
(Tarcísio) – A culpa não é nossa! É da Lena! Estou tão puto com ela, que eu já mandei três mensagens dizendo que não quero mais saber dela.
(Mônica) – Não, Tarcísio! A culpa é nossa, também. A Lena pode ter armado as coisas, mas eu escolhi ir à despedida de solteira. Eu convenci o Edu a aceitar os strippers e eu fui imprudente na bebida.
(Tarcísio) – Não, Mônica! Acho que você está sendo muito dura contigo. – Ponderou meu amigo, tentando aliviar a minha culpa.
(Mônica) – Eu menti pro meu marido por mais de 11 anos. Eu deveria ter contado o que aconteceu no dia seguinte, mesmo que isso significasse o fim do nosso noivado.
(Tarcísio) – Ainda bem que você não contou. Eu estaria fodido naquela época. Andriela já estava com a gravidez bem adiantada e eu ainda ajudava a Sílvia quando dava, porque os pais dela viviam me cobrando a pensão. Se você tivesse contado, eu estaria desempregado e com duas pensões pra pagar.
(Mônica) – Bem, é a situação de agora, né?
(Tarcísio) – Sim, o Edu me demitiu, mas naquela época, eu não tinha nada e até o aluguel que o Edu cobrava de mim era um valor simbólico. Com isso tudo, deu tempo de construir algum patrimônio.
(Mônica) – Não vamos pensar nisso. O que passou, passou. O importante é a gente pensar no que vai fazer agora.
(Tarcísio) – Eu não posso fazer muito agora ... Aaaaai, que dor ... até porque, eu nem sei por onde começar.
(Mônica) – Eu sei por onde, e a primeira coisa, é pegar o meu celular na casa da Lena. Tem uma coisa nele que pode nos ajudar.
(Tarcísio) – O que? – Perguntou ele ansioso, e se virando na cama, buscando uma melhor posição .
(Mônica) – Eu tenho uma gravação de uma chamada entre nós duas, que ocorreu antes daquela confusão na piscina. Lena me ligou com uma historinha de que eu tinha que convencer o Edu a ajudá-la financeiramente, ou ela iria falar sobre o que aconteceu na despedida. Quando eu percebi a chantagem, eu dei uma desculpa que estava meio mal e precisava beber água e aproveitei pra gravar a ligação. Acho que ela nem desconfiou.
(Tarcísio) – Mônica! Isso foi genial!
(Mônica) – Ela me chantageou e disse o que eu te falei e ainda me chantageou com a história da suruba. Que eu deveria participar, se não, contava tudo pro Edu.
(Tarcísio) – Mas se você tivesse mostrado isso pro Edu antes, nada disso teria acontecido.
(Mônica) – Talvez não dessa forma, mas ela falou na gravação sobre a Nayla e eu apavorada, fui burra e acabei confirmando que ela era sua filha.
(Tarcísio) – Entendi! De qualquer forma, tudo seria revelado e a gente ia se ferrar da mesma forma.
(Mônica) – Provavelmente, mas agora que já está tudo revelado, essa gravação vai mostrar que a Lena arquitetou isso desde o início. Acho que já é um começo ...
(Tarcísio) – Eu estou pensando aqui, a minha chantagem envolve a Marina. O que você acha, se a gente conversar com a Marina e quem sabe, ela ajuda a gente de forma infiltrada.
(Mônica) – Ela vai achar que você estava só querendo sacanear ela. Será que não vai ser um tiro no pé?
(Tarcísio) – Acho que não. Vou ligar pra ela agora. Vou colocar no viva-voz e você me dá uma ajuda, porque até pra falar dói de vez em quando.
Tarcísio fez a ligação.
(Tarcísio) – Marina, tudo bem contigo?
(Marina) – Tarcísio? É você, meu amor? Eu estava com saudades. Por que essa voz? Aconteceu alguma coisa?
(Tarcísio) – Longa história ... Aiiiii ... que dor...
(Marina) – O que foi isso? Está tudo bem contigo?
(Tarcísio) – Eu não estou nada bem. Preciso muito de você, meu amor!
(Marina) – O que você tem? Essa semana eu estarei aí. Me fala o que aconteceu.
(Tarcísio) – Eu estou com a Mônica aqui. Estamos no viva-voz e ela está escutando tudo. Ok?
(Marina) – Mas era nosso segredo ... Não estou entendendo.
(Tarcísio) – Já iremos explicar. A primeira coisa que você tem que saber é que eu estou apaixonado por você, pra valer e me desculpa ter te enrolado durante todo esse tempo.
(Marina) – Tudo bem. Eu só achei estranho você contar isso pra Mônica, mas tudo bem.
(Tarcísio) – Você tem que tomar cuidado com a Lena! Ela não é uma boa pessoa.
(Marina) – A Lena?
(Tarcísio) – Sim, Marina! A Lena é uma filha da puta de uma safada.
(Marina) – Meu Deus, o que ela aprontou?
(Tarcísio) – Ela me chantageou pra eu fazer ... bem ... você se apaixonar por mim ... te usar e depois te abandonar. Arrrgh ...
(Marina) – O que? Não pode ser! Tarcísio, eu confiei em você ... Eu não acredito nisso!
(Mônica) – Acalme-se, Marina! Não desligue o celular! Eu vou te explicar. O Tarcísio tá cheio de dor aqui e eu vou falar por ele. A Lena é uma pessoa má e cruel. Ela fodeu a minha vida e quer foder a sua.
(Marina) – O que ela fez contigo?
(Mônica) – Ela destruiu meu casamento e me chantageou também. Ontem, o Edu bateu no Tarcísio, porque ele acha que nós temos um caso. Tive que levar o Tarcísio pro hospital pra que ele tomasse pontos. Ele tá todo quebrado e não está enxergando direito de uma vista.
(Marina) – Meu Deus, Tarcisio! Eu vou pegar a estrada agora, mas vocês estão realmente tendo um caso? Isso é mentira, né?
(Mônica) – Lógico, Marina! Eu amo o Edu e o Tarcísio te ama. Ele ficou te enrolando porque não queria te magoar e te envolver mais ainda, mas ele se convenceu de que te ama. Só que agora, a merda foi toda exposta.
(Marina) – Eu não estou entendendo. Tem algo que não faz sentido. Como a Helena chantageou vocês? O que ela tinha contra vocês?
(Tarcísio) – A história é longa, mas resumindo, eu e a Mônica fomos drogados. Acabamos transando, por engano, e o resultado dessa transa foi a Nayla.
(Marina) – Isso é alguma piada?
(Mônica) – Infelizmente, não ... Marina, eu escondo esse segredo há mais de 10 anos e isso tem me corroído todo o santo dia. O Edu está arrasado! Eu não sei como as coisas vão ficar, mas eu não tenho mais nada a perder. Eu só quero esclarecer tudo com o meu marido e dar o troco na Lena.
(Tarcísio) – Eu também quero isso, Marina. Eu e Lena tínhamos uma história, mas ela acabou. Eu sou grato a ela por várias coisas, mas não há condições disso continuar.
(Marina) – Gente! É muita informação. Eu não sei se posso fazer isso. Pelo que estou vendo, a Lena realmente não é uma boa pessoa, mas eu não quero prejudicá-la. Eu não sou assim.
(Mônica) – Mas a gente só quer esclarecer as coisas e se não fizermos isso, ela vai continuar a fazer as maldades dela.
(Tarcísio) – Marina, o que eu vou falar é pra abrir os seus olhos. A Lena está inconformada com o que o seu pai fez no testamento. Ela achou que iria ficar com muito dinheiro e isso não aconteceu. Ela ficou com tanta raiva disso que acabou surtando. Eu nunca vi a Lena fazer tanta coisa ruim.
(Marina) – Eu também achei que o meu pai foi meio injusto com ela, mas não quis me meter. Ele deve ter tido os motivos dele ...
(Tarcísio) – A Lena acha que perdeu tempo com o seu pai, Marina. Ela nunca o amou. Só queria o dinheiro dele e o traía direto, às vezes até comigo.
(Marina) – TARCÍSIO!!! Coitado do meu pai ...
(Tarcísio) – Eu estou sendo sincero contigo. Eu não tinha nada contra o seu pai. Ele era um coroa maneiro, mas eu e Lena tínhamos uma química muito forte e quando eu estava me sossegando com alguém, parece que ela percebia e ficava me perturbando e eu caía no charme dela.
(Mônica) – O Edu me disse uma vez, que achava que ela também tinha rolo com o Paulo e o Gilson ...
(Marina) – Com o próprio cunhado? Meu Deus, a Lena é muito filha da puta!
(Tarcísio) – A Lena me ama, Marina! Talvez, nem seja amor mesmo e sim uma obsessão. O problema é que eu nunca enxerguei um futuro com ela. Como ter confiança numa pessoa assim? Entendeu?
(Marina) – Eu nunca poderia imaginar isso dela.
(Tarcísio) – E tem mais ... Além dela me ferrar, como acabou fazendo, ela ainda iria te transformar numa piranha viciada em sexo, caso eu recusasse a chantagem.
(Mônica) – Você não me contou isso!
(Tarcísio) – Eu achei que a Lena estava só fazendo ameaças pra me intimidar, mas vejo que ela não é mais a garota divertida, que eu conheci na faculdade ... Aiiii ... Só pra terminar, eu vou contar algo da Lena, que eu prometi nunca revelar, mas a Lena já fez dois abortos.
(Mônica) – Caramba!!!
(Marina) – Eram do meu pai?
(Tarcísio) – Eram meus ... Pelo menos, foi o que ela disse e eu acreditei. Ela tentou me segurar com a gravidez, sendo que a primeira vez eu estava com a Andriela e na segunda, ela já estava com o seu pai. Vocês conseguem entender o meu lado agora? Eu me senti muito culpado por isso também. Foram duas vidas perdidas e eu me culpo muito por isso, porque eu nunca fugi da responsabilidade de assumir os meus filhos e sempre encarei de frente os problemas.
(Mônica) – Mesmo assim, nós não podemos deixar ela destruir as nossas vidas desse jeito. Eu agora não sei mais do que ela é capaz e acho que devemos ter muito cuidado.
(Marina) – Eu ajudo vocês. Basta me dizerem o que eu tenho que fazer.
(Mônica) – Acho que você deve ligar pra ela, sem dizer que conversamos sobre este assunto. Pode até dizer que falou com o Tarcísio e ele disse que brigou com o Edu, mas que ele não entrou em detalhes. A gente tem que saber o que ela está contando pras pessoas e o mais importante é saber em quem podemos confiar.
(Tarcísio) – Com certeza o Gilson e a Keyla estão com ela. O Paulo eu acho que só apoia a Keyla, mas talvez não esteja por dentro de tudo. Me lembro muito bem que armaram pra ele direitinho e sem opções, ele teve que aceitar viver um casamento liberal.
(Marina) – Entendi ... Se ela me perguntar sobre o estado do Tarcísio, eu falo o que?
(Mônica) – Diz que o Tarcísio está bem mal ... Aumenta mesmo, pra ela sentir um pouco de remorso.
(Marina) – Eu vou pegar a estrada hoje mesmo e fico aí com vocês. Eu tenho uma reunião com o meu irmão pra ele apresentar a nova namorada dele. Parece que é sério.
(Mônica) – Você a conhece?
(Marina) – Ainda não.
(Tarcísio) – Eu acho que conheço, pelo menos de vista. Sei que ela frequenta a academia.
(Mônica) – Melhor a gente ficar de olho no Marlon. Devemos pressupor que ele ou essa garota em algum momento também vão ser alvos da Lena.
(Tarcísio) – Acho melhor nessa primeira conversa, a Marina só reagir ao que a Lena for falando.
(Mônica) – E toma cuidado, Marina! Cuidado com tudo que ela te oferecer pra beber ou comer. Ela já conseguiu me drogar duas vezes e na segunda vez eu nem faço ideia como foi.
(Marina) – Pode deixar. Ficarei atenta.
(Tarcísio) – Mas não fica questionando tudo que você achar estranho, porque ela pode acabar desconfiando.
(Marina) – Ok. Mais tarde estarei aí ... Se cuida meu amor.
Ela desligou e eu olhei pro Tarcísio e ficamos pensando em outras possibilidades.
Eu ia deixá-lo descansando, quando o celular dele vibra. Ele pega o celular e é uma mensagem de áudio da mãe da Janaína.
“(Sílvia) – Tarcísio, você é muito cara de pau! Nem pra trazer a própria filha em casa. Aposto que deve estar com alguma piranha e largou a filha com uma funcionária da academia. Depois a gente vai conversar sobre isso”.
Tarcísio respondeu por texto:
“(Tarcísio) – Foi mal, Sílvia ... Eu tive um pequeno acidente, mas eu estou bem. Nem fala nada com a Jana, pra ela não ficar preocupada”.
“(Sílvia) – Ela me contou aqui que o seu amigo Edu estava chorando ontem. Você sabe o que está acontecendo?”
(Mônica) – Essa Sílvia é fofoqueira, hein!!! – Falei para o Tarcísio
“(Tarcísio) – Sílvia, não estou sabendo de nada ... Beijos”.
Alguns minutos depois, mensagem da Andriela, basicamente repetindo a mesma coisa da Sílvia, sendo que não foi tão indiscreta. Só reclamou que ele não levou a filha.
Acabamos dormindo um pouco e um tempo depois o celular da Nikke começou a tocar. Era o Edu. Pensei se eu deveria atender ou não ... Acordei o Tarcísio e perguntei a ele, que me incentivou a atender.
(Mônica) – Oi, Edu. A Nikke me emprestou o celular dela. Olha, eu queria esclarecer as coisas ...
(Eduardo) – Mônica, eu já estou sabendo. A Nikke me contou, mas eu não quero falar contigo. Só liguei por dois motivos. O primeiro é pra você avisar ao Tarcísio, que eu pedi pra Nikke levar as filhas dele pras respectivas mães.
(Mônica) – Ele já está sabendo e está muito grato por isso. Estou aqui na casa dele.
(Eduardo) – Porra, Mônica! Eu não achei que seria tão rápido... Você não deixou nem o cadáver esfriar ... Eu sou um trouxa mesmo.
(Mônica) – Edu, me escuta! Eu estou aqui porque você o arrebentou. Estou cuidando dele. Só isso. Eu e ele não temos nada ...
(Eduardo) – Como ele está?
(Mônica) – Levou pontos no supercílio, costelas fissuradas, a visão está meio turva e vários hematomas pelo corpo, mas ele disse que o pior de tudo foi decepcionar você.
(Eduardo) – Fale para ele, que eu pago todas as despesas médicas dele e se ele quiser fazer um BO pela agressão, pode fazer.
(Mônica) – Você é louco! Ele nunca vai fazer isso.
(Eduardo) – O segundo motivo, é que tem alguém aqui querendo falar contigo.
(Mônica) – Edu! Eu quero muito falar com a Nayla. Eu nem falei com ela direito.
(Nayla) – Oi, mãe! Você me disse ontem que ia viajar.
(Mônica) – Sim, filha! Eu tive que viajar às pressas, mas eu vou dar um jeito de voltar o mais rápido possível.
(Nayla) – Mãe, você me disse que é errado mentir.
(Mônica) – Sim, filha. Mentir é errado.
(Nayla) – Então, por que você está mentindo pra mim?
(Mônica) – Filha, eu ...
(Nayla) – Por que você fugiu de casa?
(Mônica) – Eu não fugi. Eu tive que resolver algo muito rápido.
(Nayla) – Mãe, eu quero falar com o meu pai ...
Fiquei sem entender o que ela disse e ingenuamente eu disse a ela que o pai dela estava ao seu lado.
(Nayla) – Eu sei, mas eu quero falar é com o meu ... é biológico que se fala, né pai? Quero falar com o meu pai biológico. Aproveitando que você está aí com ele.
Eu não esperava por isso. Até deixei o celular cair no chão e meus olhos se encheram d’água. Tarcísio não entendeu nada e eu peguei o celular de volta, não acreditando na loucura que o Edu fez.
(Mônica) – Filha, eu não entendi direito ...
(Nayla) – Eu quero falar com ele e com você também.
(Mônica) – Melhor a gente conversar pessoalmente. O que você acha?
(Nayla) – Não!!! Coloca no viva-voz ...
(Mônica) – Pronto, Nayla. Eu e o Tarcísio estamos ouvindo.
(Tarcísio) – Oi, Nayla.
(Nayla) – Oi. Eu só quero dizer que você nunca vai ser o meu pai, ouviu? Nunca!
(Mônica) – Minha filha ...
(Nayla) – Mãe, você enganou o meu pai e me enganou também. Ontem você gritou lá na rua que nos amava. Pra quê fez aquilo? Sua mentirosa!
Comecei a chorar e Tarcísio tentou intervir, mas acabou piorando tudo.
(Tarcísio) – Nayla, a sua mãe está aqui chorando. Ela te ama e também ama o seu pai.
(Nayla) – Você é outro mentiroso! Eu te odeio, tio! Meu pai de verdade disse que vai se separar da minha mãe e isso tudo é culpa sua!
(Tarcísio) – Desculpa, mas a culpa não é da gente.
(Nayla) – A culpa é do meu pai, então?
(Mônica) – Não, filha. A culpa é minha. Seu pai não teve culpa.
(Nayla) – De qual deles você está falando?
(Mônica) – Nayla, meu amor, você sabe que estou falando do seu pai que está aí contigo.
(Nayla) – Eu sei. Porque o meu pai verdadeiro se chama Eduardo. Ouviram? Eu nunca serei sua filha, tio. Nunca irei morar com vocês. Eu odeio vocês dois.
(Mônica) – Nayla, eu ainda sou sua mãe ...
(Nayla) – Eu sei, mas estamos de mal. Você fez o meu pai chorar e ele está sofrendo muito aqui, e eu também. Por que você fez isso com a gente mãe?
(Mônica) – Foi um erro de muitos anos atrás?
(Nayla) – Então por que você está aí com ele e não está aqui com meu pai?
(Mônica) – Porque o Tarcísio está machucado.
(Nayla) – O meu pai também está ...
(Mônica) – Mas é que ... O seu pai bateu muito nele.
(Nayla) – Bem-feito!
(Mônica) – Não diga isso, Nayla! Eu estou cuidando dele.
(Nayla) – Devia estar cuidando do meu pai e de mim. Se realmente amasse a gente, tinha que estar aqui.
(Tarcísio) – Mônica, melhor você voltar pra casa. Eu me viro aqui. A Marina vai chegar mais tarde. – Falou Tarcísio tapando o bocal do telefone para que ninguém mais ouvisse.
(Eduardo) – Não se dê o trabalho de vir pra cá, Mônica. Desculpa ter estragado o namoro de vocês, mas quando ele se recuperar, vocês podem namorar à vontade.
(Mônica) – Edu, você está sendo turrão! Deixa-me explicar. Você leu o meu diário?
(Eduardo) – Ainda não ...
(Tarcísio) – Edu, me desculpa, cara! Eu ...
(Eduardo) – Cala essa boca! Espero que você se recupere e pode ficar tranquilo, que eu vou acertar as suas contas lá da academia. Vou te pagar tudo o que você tem direito. Não vou te sacanear, igual você fez comigo.
(Tarcísio) – Eu não quero nenhum dinheiro. Quero só que você escute a gente, irmão.
(Eduardo) – Nayla, vai pro quarto! Irmão, é o caralho, seu filho da puta traidor. Eu não quero saber de mais nada de vocês dois. Espero que vocês sejam felizes na puta que os pariu, mas que deixem a Nayla comigo, que eu vou tentar seguir em frente também ...
Depois de um curto silêncio:
(Mônica) – Edu, eu não tenho nada com o Tarcísio. Nós todos fomos enganados. Você não consegue entender isso?
(Nayla) – Vocês dois enganaram o meu pai. Ele foi pra cozinha, acho que beber água e está chorando de novo. Eu odeio vocês! ODEIO!!!
Ouvir essas palavras da minha filha era o mesmo que tomar um tiro no peito. Eu agora vi que estava muito ferrada e eu jurei que a Lena iria pagar por isso.
(Nayla) – Não sei se um dia eu vou perdoar vocês, mas agora eu não quero vê-los e nem quero mais brincar com a Jana e com a Wanda.
(Tarcísio) – Elas gostam muito de você e não tem nada a ver com a burrada que eu fiz. Elas são suas irmãs.
(Nayla) – EU SOU SÓ UMA BURRADA QUE VOCÊ FEZ? ... Maldita hora que você namorou a minha mãe e botou a PORRA da sua semente nela.
(Mônica) – NAYLA!!!
Ouvi a minha filha chorando e ela desligou a ligação. Comecei também a chorar e a xingar a Helena dos piores nomes possíveis. Tarcísio olhava pra mim assustado, pois nunca tinha me visto com tanta raiva.
(Tarcísio) – Mônica, eu acho que ...
(Mônica) – Cala essa boca você também! Não tinha que ter falado nada! Tudo o que você disse, deixou ela com mais raiva ainda.
(Tarcísio) – Desculpa. – Falou Tarcísio envergonhado e com os olhos marejados.
(Mônica) – Por que o Edu foi contar isso pra ela? Caralho, Edu!
(Tarcísio) – Ele está bravo com a gente. Não está pensando direito.
(Mônica) – Ele tinha que proteger a nossa filha!
Quando eu disse nossa filha, Tarcísio me olhou surpreso, mas antes que ele falasse algo, eu consertei.
(Mônica) – Você me entendeu. Minha e do Edu.
(Tarcísio) – Ele está protegendo do jeito dele. Edu é um cara muito pragmático. Ele vê uma situação e resolve da melhor forma, o mais rápido possível. Tenho certeza de que ele não fez isso pra sacanear você.
(Mônica) – Duvido muito ...
(Tarcísio) – Do jeito que a Lena quer foder com a gente, ela vai espalhar isso pra todo mundo. Imagina a Nayla, sabendo disso por outras pessoas? Ou até na escola ...
(Mônica) – Pode ser, mas ainda acho que ele poderia ter poupado a Nayla, mas amanhã eu vou tentar entrar na casa da Lena, quando ela for trabalhar.
(Tarcísio) – Como você vai fazer isso?
(Mônica) – A Marina deve ter uma chave. Manda uma mensagem pra ela trazer.
(Tarcísio) – Adivinha quem acaba de me mandar uma mensagem? Olha só!
Tarcísio me mostrou o celular e era uma mensagem da Lena. Estava escrito assim:
“Tarcísio, sinto muito que você esteja todo machucado. Estou em prantos aqui, me sentindo a pior pessoa da face da Terra. Eu quero cuidar de você e dos seus ferimentos. Se quiser ficar aqui em casa, eu vou fazer de tudo pra você ficar bem relaxado e acomodado. Saiba que eu te amo muito e espero que um dia me perdoe, mas eu tinha que mostrar pro Edu que a Mônica é uma falsa, sem caráter. Ela se fez de santinha durante todos esses anos, mas é uma sem-vergonha. Me liga e vamos conversar. Se quiser, eu vou até sua casa ... Pensa com carinho, tá? Beijos”.
(Mônica) – Ela é muito safada! Que ódio!
(Tarcísio) – Pelo visto, ela ainda quer alguma coisa comigo.
(Mônica) – Com certeza! Que mulher psicopata.
Fui fazer uma comida pra nós dois e logo após fui tomar um banho. Além de estar calor, eu ainda me sentia um pouco suja porque eu sempre achava que tinha um pouco de esperma em algum lugar do meu corpo. Comecei a esfregar muito o meu corpo e comecei a chorar, me lembrando da cara de decepção do Edu, olhando pra mim coberta de porra. Era muito injusto o que estava acontecendo comigo.
Assim que terminei o banho, coloquei um vestido soltinho e peguei o celular da Nikke. Minha vontade era de ligar pro Edu, mas sei que ele dificilmente iria aceitar a ligação. Foi quando o celular do Tarcísio vibrou e eu curiosa, fui ver quem era.
Marina estava digitando e eu fiquei aguardando e pela demora era um textão. Fiquei esperando, até que a mensagem veio.
“Falei com a Helena. Ela me contou um monte de coisas, mas resumindo, disse que vocês dois estão tendo um caso, e que ela não aguentava mais acobertar vocês e armou tudo porque não queria mais ver o Edu tomando chifre. Contou também sobre Nayla ser filha de vocês e que era pra eu abrir o olho, porque agora que a Mônica iria se separar, você iria ficar com ela”.
Eu não acreditei no que li e acabei respondendo:
“Marina, o Tarcísio está no banho, mas agora estamos vendo que ela está jogando pesado e está falando pras pessoas que eu sou uma vagabunda”.
Marina respondeu:
“Oi, Mônica. Eu também estou achando isso. Ela vai fofocar isso pra todos que ela puder. Mais tarde eu chego aí. Beijos”.
Agradeci e avisei ao Tarcísio!
(Mônica) – TARCÍSIO! A Marina falou com a Lena!
Minutos depois, Tarcísio sai do banheiro, já vestido e me pergunta:
(Tarcísio) – O que a Marina disse?
Dei o celular pra ele segurar e ler as mensagens. Depois de lê-las, ele comentou:
(Tarcísio) – A Lena vai difamar a gente e todo mundo vai ficar contra nós. – Falou Tarcísio, incrédulo ainda com a atitude da Lena.
(Mônica) – Eu estou começando a achar que isso não vai ter volta.
(Tarcísio) – Eu estava pensando aqui ... E se você viesse morar aqui comigo?
(Mônica) – Você endoidou, né? Se a gente fizer isso, nós estaremos admitindo que tínhamos um caso.
(Tarcísio) – Pensa bem ... A gente já vai estar queimado mesmo, pelo que está parecendo. O Edu não vai voltar atrás sem bons argumentos, mas a Lena talvez fique com ciúmes de você e de repente, ela vai ficar nervosa e vai se esforçar mais ainda pra tentar me reconquistar e, pode fazer uma besteira.
(Mônica) – Pode até ser, mas todo mundo vai chamar o Edu de corno, você de talarico e a Nayla não vai querer mais olhar na minha cara.
(Tarcísio) – Provavelmente já vão chamar a gente disso de qualquer jeito, só que pelo menos, a gente tenta construir alguma vantagem. – Disse meu amigo, agora um pouco empolgado.
(Mônica) – Não sei, Tarcísio ... eu estou vendo só desvantagens.
(Tarcísio) – É que pra enganar os inimigos, às vezes é necessário enganar os amigos. Vi isso num filme.
(Mônica) – Estou com medo, Tarcísio. Medo de não consertar as coisas. O Edu é tudo pra mim e se isso não der certo, eu sou capaz de fazer uma besteira.
Comecei a chorar e ele mesmo sentindo muitas dores, veio me abraçar e ficamos assim durante um tempo.
{...}
Eu conversava com a Nayla e tentava confortar a minha filha. Ela tinha sido muito dura com a mãe e eu fiquei com pena das duas, mas a Mônica tinha que arcar com as consequências das suas escolhas. As filhas do Tarcísio são bisbilhoteiras e fofoqueiras e era questão de tempo dessa história vazar e chegar aos ouvidos da Nayla de algum jeito. Se não fossem por elas, talvez no colégio, ou sei lá como. Essas notícias se espalham mais rápido que brasa.
Foi duro, doloroso e traumatizante, mas pelo menos, ela soube através de alguém que a ama, e que ficou ao seu lado o tempo todo pra esclarecer qualquer coisa e dar todo tipo de apoio.
(Nayla) – Eu não quero morar com eles. Ouviu, pai? Não quero! – Disse Nayla bem triste e fazendo “manha”.
(Eduardo) – Filha, essa questão pode ser complexa e talvez quem tenha que decidir isso, seja um juiz. Depois irei pesquisar isso com calma.
(Nayla) – Eu estou com ódio deles!
Observei que Nayla estava arranhando o próprio braço de nervoso e vi que isso tudo estava fazendo muito mal a ela.
(Eduardo) – Calma, filha! Ter esse sentimento não é bom!
(Nayla) – Mas você também ficou, não ficou?
(Eduardo) – Na hora virei um bicho e eu bati muito nele.
(Nayla) – Muito mesmo? – Perguntou minha filha com curiosidade e um pouquinho assustada.
(Eduardo) – Eu vou te dizer, que eu até tive vontade de bater na sua mãe. Acho que ela percebeu que eu estava fora de controle e saiu correndo. Ainda bem que ela fez isso, porque na hora eu fiquei muito bravo ...
(Nayla) – Você iria ter coragem de fazer isso?
(Eduardo) – Não sei, filha! Agradeço a Deus, que tenha me segurado tempo suficiente, e que ela teve a idéia de sair de perto de mim.
(Nayla) – E agora você está com raiva?
(Eduardo) – Um pouco, estou mais é decepcionado com os dois.
(Nayla) – E se a mamãe vier aqui?
(Eduardo) – Sei que em algum momento isso vai acontecer.
(Nayla) – Você vai perdoar ela?
Nayla parecia uma metralhadora de perguntas e eu não estava muito a fim, mas ela queria conversar e entender tudo. Eu tinha que ser forte e ter paciência, por mais doloroso que fosse.
(Eduardo) – Eu não sei ... Eu não quero mal a ela, mas viver com a sua mãe de novo, seria muito desgastante.
(Nayla) – Desgastante?
(Eduardo) – Sim, Nayla. Imagina que essa história se espalhe. Todo mundo vai me chamar de corno manso! Um corno que cria a filha do amante e eu sempre irei ficar desconfiado de cada atitude que ela tomar. Às vezes é mais fácil começar do zero com uma nova pessoa.
(Nayla) – O que é corno manso?
(Eduardo) – Quando um marido aceita que a esposa está saindo com outro cara e não faz nada.
(Nayla) – Estranho isso. Quando eu tiver um namorado, não vou querer que ele namore outra pessoa.
(Eduardo) – Eu já te disse que você é muito novinha pra namorar. Pode parar com essa história. Aliás, você podia parar de crescer. A vida adulta é tão complicada! Ser criança é muito melhor.
(Nayla) – Ser adulto é que é melhor. Comer a hora que quiser, dormir a hora que quiser, fazer tudo que der na cabeça. – Disse Nayla rindo e por um momento eu também ri um pouco.
(Eduardo) – Hahahahaha, Nayla ... Você tem cada ideia ...
(Nayla) – Pai, você às vezes está me chamando mais de Nayla, do que de filha.
(Eduardo) – É que Nayla é o seu nome.
(Nayla) – Me chama de filha, tá? – Pediu Nayla quase chorando e eu entendi o motivo.
(Eduardo) – Ok, Nayla, minha filha. Não se preocupe, que eu não vou deixar ninguém separar a gente. Você é a minha filha e eu te amo.
(Nayla) – Eu não tenho nada a ver com o tio e eu nem me pareço com a Jana e com a Wandinha.
(Eduardo) – É que você puxou muito a genética da sua mãe. Deve ser por isso.
(Nayla) – Pai, eu acho que eu me pareço contigo.
(Eduardo) – Isso não importa mais, filha. Nada mais importa, mas, se você quiser, nós podemos fazer um exame de DNA e a gente tira isso a limpo, mas independente do resultado, eu serei sempre o seu pai.
Ela me abraçou forte e meus olhos se encheram d’água. Coloquei ela pra fazer o dever de casa e fui mexer no celular, que já havia acusado que eu recebi mensagem. Era uma mensagem da Helena me dando apoio e querendo conversar comigo. Hoje eu não queria conversar com mais ninguém. A conversa que eu e Nayla tivemos com Tarcísio e Mônica foi muito desgastante.
Eu só queria que o domingo acabasse logo, pra eu poder trabalhar na segunda e tentar continuar a minha vida, mas aí eu pensei um pouco e decidi sair com a Nayla. Dei um jeito nas coisas e fui separando algumas coisas da Mônica. Os nossos retratos no quarto coloquei dentro da gaveta do armário, porque olhar pra imagem dela, ainda me dava um pouco de raiva. Foi quando meus olhos viram o tal diário que ela deixou.
Eu nunca soube da existência desse diário e eu não estava com a mínima vontade de ler. A verdade é que eu estava com medo de ler. Geralmente essas coisas guardam os relatos e os desabafos sinceros de uma pessoa, e eu não achava que estava preparado pra ler “que eu não era bom de cama”, ou “que o Tarcísio era melhor do que eu”, ou então “ela enaltecendo o meu ex amigo pirocudo e o tamanho daquela coisa”. Poderia estar escrito que ela teve orgasmos maravilhosos com ele e comigo ela não se satisfazia, ou pior ... Poderia estar escrito que ela nunca me amou de verdade e que sempre amou o Tarcísio.
Se fosse alguma coisa assim, iria acabar comigo e aí eu não sei como eu poderia reagir. Eu tinha medo do que eu pudesse fazer, se eu entrasse num estado de fúria. Eu estava quase seguindo o conselho da Nikke e pedindo a ela que lesse pra mim, mas eu pensei bem e isso seria mais uma humilhação, se outra pessoa ficasse sabendo de sei lá o que estivesse ali naquele caderno.
Contei até dez, respirei fundo e peguei o diário. Abri a capa e comecei a ler.
“Querido diário, meu nome é Mônica e eu amo de paixão o meu marido. O nome dele é Eduardo e eu o chamo carinhosamente de Edu na frente dos amigos, mas nós temos o apelido de Môdi, Mô di my life.
Diferente da música, nós nos conhecemos na faculdade e eu não tinha tinta no cabelo ...”.
Bem, eu não sabia quando ela havia escrito isso, mas à medida que fui lendo, eu comecei a lembrar da nossa época de faculdade. Lembrei da primeira vez que eu a vi e me lembrei do nosso primeiro beijo.
Continuei a ler e em meio a risos e algumas lágrimas de saudade também, cheguei num outro pedaço que dizia sobre a primeira vez que escutamos a música Eduardo e Mônica e não pude deixar de pensar que ali naquele dia, o Tarcísio já com muita intimidade fez sexo no banco de trás do meu carro, com a Mônica do meu lado. Será que foi a partir dali que ela começou a sentir desejo por ele? Ela deve ter ficado curiosa pra ver o pau dele e mesmo no escuro ela deve ter visto alguma coisa.
Continuei a ler e as minhas suspeitas começaram a se confirmar quando ela disse que realmente viu o pau do Tarcísio, mas me surpreendi porque ela não se mostrou deslumbrada com isso. Nesse trecho:
“... Eduardo entrou no carro e me pediu pra eu esperar do lado de fora. Eles conversaram rapidamente...”.
Eu estava puto com ele e só disse pra ele vazar do meu carro e nunca mais fazer o que fez na frente de uma namorada minha. Ele ficou todo sem graça, mas depois colocou a culpa na bebida. Agora eu tenho certeza de que ele estava querendo se mostrar. Tava querendo mostrar que era o comedor “pica das galáxias”. Continuei a ler e até que estava sendo interessante me lembrar de tudo e ver as coisas pela ótica da Mônica.
Cheguei então na nossa primeira transa. Eu estava muito nervoso, porque eu já estava apaixonado por ela e não queria fazer feio. Ela me disse na época que foi maravilhoso, mas agora eu iria descobrir o que ela realmente sentiu. Eu tinha que continuar a ler e eu queria entender o que se passava naquela cabeça.
Mais informações sobre a vida dela com os pais e o início do nosso namoro. A festa na piscina na casa do Paulo e até aqui nada demais. Mais uma coisa me chamou a atenção:
“... eu senti sua boca na minha orelha e ele disse: eu te amo, pela primeira vez. Eu fiquei quieta, pois ele achava que eu estava dormindo e eu fingi que estava porque eram muitas emoções que eu sentia naquele momento”.
Então, ela estava acordada. Eu sempre desconfiei disso. Cheguei a sorrir um pouco, mas fiquei sério novamente porque o próximo trecho dizia que agora viria a parte mais difícil. Respirei fundo e continuei a ler ... Até que parei nesse trecho:
“... eu jurei que não iria fazer nada demais com ninguém”.
Parece que você não cumpriu o juramento. Onde eu estava com a cabeça também em ter concordado com isso?
“Eu estava muito confusa, mas achei que não teria problemas em chupar um consolo e fantasiar que era um pau de verdade ...”.
Caralho!!! A Lena é foda! Porra, Lena!!! A Mônica também, foi bem ingênua, se isso for realmente verdade. Confundir um vibrador com um pau de verdade? Tem que estar muito alterada. Continuei a ler:
“... me deram um copo de catuaba e eu bebi tudo de uma vez só ... Foi a última coisa que eu me lembro claramente ...”
Tenho até medo de ler o restante, mas agora que eu cheguei até aqui, tenho que continuar.
“... Acho que dormi, mas acordei durante a noite com alguém me chupando e eu achei que já estava em casa e que era você, Edu. Tentei falar algo, mas a minha voz estava meio embaralhada e eu não estava conseguindo falar direito”.
Então, ela estava escrevendo isso pra me contar? Agora fiquei confuso. Não sei dizer se isso aqui é premeditado ou se realmente é genuíno. Droga!!! Que confusão que você fez, Monica!
“... Nem sei durante quanto tempo ficamos metendo, só sei que em determinado momento eu me mijei toda e fiquei cheia de vergonha, mas depois fiquei rindo sem parar ... Eu sentia muita dor e não entendia por que você estava fazendo isso comigo. Por que será que você estava assim? ... Foi quando eu consegui abrir os olhos ... não era você ... sim o seu melhor amigo, Tarcísio”.
Gritei, FILHO DA PUTA!!! Tarcísio, eu vou te matar!!! Isso é estupro de vulnerável. Como você pôde fazer isso comigo e com a Mônica?
(Nayla) – Pai, tudo bem contigo? – Nayla disse do quarto dela.
(Eduardo) – Tudo bem, filha! Eu só dei uma topada no pé da cama.
Eu não acreditava no que eu lia. Mônica tinha sido abusada pelo meu melhor amigo, se realmente isso tudo for verdade.
“... Briguei feio com a Helena e ela me dando várias desculpas. Disse que não se lembrava de nada, porque estava muito chapada e quando Tarcísio voltou comecei a brigar com ele também. Inclusive chamei ele de estuprador porque eu estava desacordada e pela violência que meu corpo sofreu, devido às marcas roxas que apareciam pelo meu corpo.”
Comecei a chorar e agora eu não sabia de mais nada. Isso era um disse me disse, que eu não sei qual dos dois está mentindo.
“... Por sorte, até o dia do casamento, tudo voltou ao normal, só a minha culpa que não sumia. Eu ainda pensava em te contar, mas me faltava força. Eu já tinha perdido nosso bebê e perder você, era uma dor que eu não conseguiria passar ...”.
Tem mais coisa aqui, mas está rabiscada e eu não estou conseguindo entender direito. Fui tentar ler, mas somente algumas palavras eu conseguia entender.
“... menstruação atrasou ... fizemos sem camisinha ... grávida do seu ... bomba no colo ... assumiria ... estaria disposto ...”
Em outro trecho consegui entender mais palavras.
“... deu certo ... desisti da ideia ... um dia eu te contaria.”
“... eu não me arrependo ... Nayla ... nossa filha.”
“... nossa filha, Edu!”
“... pai é quem ... apoio e suporte ... fez tudo isso.
“Você é o melhor pai do mundo. Nunca duvide disso!”
Eu tive vontade de ler de novo, principalmente as partes que estavam riscadas pra tentar entender melhor, mas o fato era que esse diário me trouxe algumas respostas, se tudo for realmente verdade, mas também me trouxe vários questionamentos.
Podem existir várias teorias. Monica e Tarcísio estão juntos agora combinando as suas versões e talvez até a Lena esteja combinada com eles. Pode ser também que a Lena e o Tarcísio tenham se juntado pra sacanear a Monica, ou a Lena está sozinha nisso tudo. Eu tenho que conversar com cada um separadamente e ver quem vai contar uma versão que tenha alguma diferença e comparar com as outras.
Eu também teria que conversar com todas as amigas da Mônica que foram na despedida de solteira. Era muita coisa pra pensar, mas eu guardei o diário e fui atender a minha filha, que já estava batendo na porta dizendo que estava pronta e eu nem tinha tomado banho ainda.
Falei pra ela esperar e tomei um banho de gato e me enchi de perfume. Peguei o meu celular e vi novamente a mensagem da Helena. Antes de sair, eu mandei uma mensagem pra ela dizendo que precisávamos conversar.
Peguei a minha filha, pedi um Uber e fomos no restaurante Vikings. Eu precisava muito tomar umas doses de hidromel e a minha filha adora uma sobremesa que tem lá. Quando chegamos ao local, minha filha logo pediu ao atendente o martelo e o chapéu de viking pra nós dois tirarmos fotos.
Eu não queria, porque o chapéu daquele restaurante é um capacete com dois chifres. Nayla insistia pra eu usar, sem saber o significado daquele duplo sentido. Resolvi colocar o chapéu de touro na cabeça pra tirarmos a foto e foi quando eu ouvi uma voz me chamar.
Era Fátima, irmã da Helena, com Gilson, seu marido, que era irmão gêmeo da Keyla. Ele tinha um sorriso malicioso e eu tratei logo de tirar o chapéu da cabeça. Ali eu percebi, que a história já devia estar correndo solta e meu tormento estava apenas começando.
Continua ...