Depois da conversa que tivemos, Luciano ligou para Ana, e a pediu para que informasse a João que fosse embora da casa dele, antes que ele voltasse. Ana falou de imediato, o que deu para ouvir, devido aos berros que o desgraçado deu em protesto. Depois disso o médico conversou comigo e me liberou, me recomendando descansar naquele final de semana, o que eu claramente não pretendia fazer. Saímos de lá direto para casa, para conversar com Ana e conseguir as provas que ela tinha contra João. Ao chegarmos, vimos que o carro dele não estava lá, então presumimos que ele já havia saído. Pedi a Luciano um tempo sozinho, para me preparar para ver Renata. Ele entendeu meu lado, me informando que já ia adiantar o papo com Ana, o que eu concordei de imediato, a final, eu já estava bem cansado de toda aquela merda. Fui dar uma volta na praia, tentando criar forças para encarar Renata e também decidir que rumo nosso relacionamento tomaria. Só depois de muito tempo perdido em meus pensamentos, é que me dei conta que já havia andado muito. Eu já estava bem longe de casa, me aproximando de uma área onde havia várias barracas de camping. Vi um pessoal jovem curtindo, se divertindo, vários casais felizes e de bem com a vida, “Era isso que essa viagem deveria ser.” pensei, me sentindo triste e vazio.
Passei por eles e segui andando, me preparando para voltar para aquela casa e encarar o que me aguardava lá. Quando olho mais ao fundo, distraído, olhando a paisagem, vejo o carro do canalha parado, próximo a área de camping, estacionado junto a outros veículos. “Deve ser apenas de alguém ali que tem o mesmo modelo.”, disse a mim mesmo, tentando afugentar aqueles pensamentos. Mesmo assim, não contive minha curiosidade em saber se era o dito cujo ou não, me aproximando cada vez mais do veículo. Quando estava a dois carros de distância, pude vê-lo claramente, quando saiu do veículo e abriu o porta malas. Ele pegou uma pasta e travou o carro, indo em direção a uma estreita estrada, quase como uma trilha, com o piso de madeira desgastado. Decidi seguir João discretamente, mantendo uma distância segura para não ser notado. Observei que aquela estrada seguia em direção a um restaurante, que lembrei ser um lugar que Renata queria visitar.
Quando dei por mim, ele tinha saído do meu campo de visita. Acelerei os passos, para não perdê-lo completamente. Achando que ele havia entrado no restaurante, adentrei o lugar, ficando um pouco perdido quando percebi que estava bastante movimentado, com grupos de amigos, casais e famílias. Como não poderia ser notado, disfarcei um pouco até avistar João pelas janelas do lugar, passando pelo lado de fora. Fui apressado atrás dele, tendo que sair e dar a volta por onde ele foi. Chegando lá, vi ele sentando em uma mesa, bem no canto, entregando a maleta para alguém, que não conseguia ver, pois ele estava na frente. Aproveitei um grupo de pessoas que passaram por mim e me aproximei, sentando uma mesa depois da dele. Podendo ouvir o que conversavam. — Tá vendo? Essas são todas as provas que tenho contra sua irmãzinha. — Logo liguei os pontos, Renata e ele estavam finalizando o acordo que fizeram, já que ele conseguiu tudo que queria. — Me entrega logo tudo. Eu fiz o que queria, e você foi ainda mais longe. — Disse ela com a voz trêmula e levemente acelerada, mostrando que estava nervosa com aquela situação. — Aquela foda foi gostosinha, mas foi rápida de mais Renatinha. — Foi a resposta que o desgraçado deu. — Você me comeu e ainda gozou dentro. Eu não ligo se foi rápido pra você, aquilo não era pra ter acontecido. Mas como já aconteceu eu não posso fazer nada a não ser pegar as provas que você me prometeu. Afinal, você já realizou seu desejo, não foi?! — Disse ela, me dando uma informação que eu não tinha, me fazendo ficar ainda mais irritado e louco para vê-lo morrer.
– Realizei meu desejo? De onde você tirou essa ideia? Meu desejo é te comer muito mais, sua safada.
– João me dá logo o que estou pedindo, você já ferrou com meu relacionamento! Eu não sei se o Paulo vai ficar bem depois do que ele viu ou se vai terminar comigo.
– O Paulo te traiu com sua irmã Renatinha, fudeu com ela bem gostoso e depois te levou pra casa como se nada tivesse acontecido. Você tinha o direito de fazer o mesmo.
– Eu nunca quis isso, seu animal. Nunca pensei em me vingar caso tudo se confirmasse. No início, eu até queria descobrir tudo, mas aqui, eu cogitei deixar isso de lado e seguir em frente. Se eu não soubesse de nada concreto, eu poderia me forçar a acreditar que era só uma loucura minha e superar isso com o tempo. Mas você tinha que me mostrar, tinha que estragar tudo e ferrar com minha cabeça. Não só isso, como me chantagear, me usar e ainda querer brincar comigo. Você é um pedaço de merda! Agora me dê as provas.
Eu estava surpreso com as palavras dela, e João provavelmente também, já que não abriu a boca para retrucar. Eu fiquei irritado por ela estar ali, queria fazer algo naquele momento, mas pensei no plano de Luciano. “Agora não, deixa ela pegar as provas e segue o plano.” Falei para mim mesmo enquanto ouvia a conversa deles. — Fazer o que né?! Nosso acordo em relação a isso está concluído, mas se quiser repetir, eu estou hospedado aqui perto. Ai na pasta tem um cartão com meu número, é só ligar. — Disse ele, ainda tentando seduzi-la. — Espero que esteja falando a verdade, porque eu juro que te mato se não for. — Renata estava nervosa e impaciente, mostrando claramente que não estava no controle daquela situação. — Eu já falei, agora pode ir ou ficar e aproveitar comigo. — Eu já estava farto da voz daquele miserável, que não parava de dar em cima dela por nada. — Vai se ferrar João, some das nossas vidas. — Falou ela em um tom mais alto, saindo apressadamente de lá. Ele pediu uma bebida, enquanto olhava o celular e sorria. Cansada de ficar observando, fui embora, aprovando a passagem de um novo grupo de pessoas. Renata já tinha ido embora, provavelmente de táxi. Já que eu não tinha dinheiro e meu celular ali comigo, tive que voltar andando mesmo, fazendo todo o caminho de volta pela praia.
Já em casa, passei por Ana, que me olhou meio sem jeito e logo abaixou a cabeça. — Cadê o Luciano? — Perguntei a ela um pouco irritado.
– Ele saiu.
– Já conversaram? Ele te falou o que vamos fazer?
– Sim, eu já dei tudo o que vocês querem pra ele.
– Perfeito!
– Perfeito pra quem? Eu vou ser presa, sabia? Acha que aquele merda vai deixar barato pro meu lado?
– Olha Ana, você fez merda e até deveria pagar por ela, mas você vai ficar bem! Sua irmã já cuidou das provas que o merdinha tinha contra você.
– Como assim? Quando ela fez isso?
– Ontem ela fez o que ele queria e hoje eu vi ela pegar as provas com ele. Bem não importa, o importante é que você tá livre e pode viver sua vida. Já eu, posso ter a vingança que tanto desejo.
– Eu não tô te entendendo, ela me odeia, porque faria algo assim?
– O porque eu não sei! Mas você deveria ser grata pelo que ela fez. Agora o mais importante, cadê sua irmã?
– Ela passou aqui apressada e foi pro quarto de vocês.
– Entendi. Vou lá falar com ela.
– Paulo… desculpa… me desculpa por tudo…
– Não precisa, o errado aqui sou eu! Eu deixei isso tudo acontecer e agora preciso corrigir tudo antes que não dê mais tempo.
Segui para meu quarto, com o coração acelerado e suando frio. Abri a porta, tentando manter a calma, vendo Renata sentada em cima da cama, olhando o conteúdo que João lhe deu. Ela olhou para minha direção, para saber quem estava ali e ao me ver, sua expressão ficou ainda mais triste, fazendo ela abaixar a cabeça. — Vamos terminar? — Me perguntou de repente, o que me surpreendeu, tirando qualquer resposta que poderia lhe dar. Respirei fundo e fui até ela, tentando não tornar tudo mais difícil do quê já estava. Me sentei ao lado dela, toquei em seu queixo, e gentilmente, levantei sua cabeça, fazendo-a olhar em meus olhos. — Por hora, eu não posso dizer nada sobre isso. Não sei o que vou fazer. — Disse a ela com sinceridade, pois apesar de tudo, eu realmente não sabia o que ia ser dali em diante. Renata deixou as lágrimas rolarem sob seu rosto, se lançando contra mim, me envolvendo em seus braços, enquanto me pedia desculpas. Fiquei por um bom tempo ali com ela, mesmo me sentindo desconfortável. Depois de acalmá-la, decidi contar todo o plano para ela, que não relutou em nos apoiar. Contei também que vi ela no restaurante, onde ela mostrou certa desconfiança, provavelmente achando que eu estava a seguindo. Não disse nada sobre isso, mesmo aquilo tendo me deixado irritado. Renata pediu para ajudar, que ela queria entregar ele, pois a culpa toda foi dela, que o trouxe conosco. De início não concordei, mas devido a sua insistência e a irritação que aquilo me causava, concordei, deixando com ela a missão de entregar João para Sr. Francisco. Assim, ela juntou tudo, me dizendo que iria para o quartinho, já que ambos precisávamos de um tempo, para colocar a cabeça no lugar. Concordei com ela, levando-a até a porta do quarto. Depois fui tomar um banho, para relaxar um pouco.
Após o banho, peguei no sono, acordando no finalzinho da tarde, onde desci e fui ver se Luciano já tinha voltado. O encontrei na varanda, conversando com Renata e Ana. — Então Ana, apesar de tudo, nem eu e nem o Paulo vamos denunciar você, muito pela nossa amizade e pelo pedido de sua irmã. — Dizia ele, quando cheguei. — Pronto, chegou quem faltava! Senta aqui Paulo, vamos conversar sobre como vai ser. — Me sentei na cadeira ao lado de Luciano, ficando de frente para Renata e Ana.
– Bem, só pra situar o Paulo, a Renata entregou as provas que o João tinha contra a Ana, para ela. Sendo assim, Ana já destruiu essas provas, colocando fogo em tudo. Já as provas contra o João, Ana passou pra Renata, que nos disse que você concordou em que ela tomasse as rédeas da situação.
– Bem, ela falou comigo e depois de insistir muito, eu acabei concordando. Mas como isso vai acontecer?
– Eu já tomei a iniciativa e falei com Sr. Francisco, contando a ele o que sabemos sobre sua filha. Ele ficou bem puto, já que ela é amiga da filha do João e tá sempre na casa dele.
– Mas que filha da puta, aquele cara não vale nada.
– Eu sei Paulo, é por isso que vamos ferrar com ele. Mas pra ser sincero, ele não acreditou muito nessa história não, afinal o João é amigão dele e é um cara de confiança na empresa. Eu falei das provas, pra tentar convencer ele, no que ele disse que só faria algo, se visse todas as provas.
– Bem, isso já tá com a gente, é só mostrar.
– Eu sei, é o que pretendo fazer. Mas… a que se foda! O seu Francisco disse que ia saber dessa história e foi dar um aperto na filha.
– E o que aconteceu? Fala.
– Ela negou até a morte, apanhou e tudo, mas protegeu aquele merda. No final, ainda tentou entrar em contato com ele, mas o Francisco pegou ela no pulo. Tinha deixado alguém de olho nela, e quando ela fez isso caiu do cavalo. Não teve como esconder mais e contou tudo. Ele ta louco de raiva, assim me disse o Ernesto, que inclusive tá vindo aí.
– O Ernesto vai fazer o que? Ele que eu saiba não é matador.
– É claro que não, mas ele é o braço direito do chefe e ficou de resolver essa história. Inclusive, todos nós vamos nos encontrar com ele.
– Espera um segundo, como assim matar? Você não me falou nada sobre isso Paulo.
Eu e Luciano nos empolgamos demais na conversa, que até esquecemos das duas alí, sem dar um piu, apenas ouvindo tudo. Mas quando Renata soube do que queríamos que acontecesse, ficou em choque.
– Só esquece Renata, é melhor você não participar disso.
– Como assim esquece? Eu estou sabendo agora que alguém vai perder a vida. Paulo nos vamos ser cúmplices de assassinato. Você tá louco?
– Eu falei que íamos tomar medidas drásticas.
– Eu achei que era uma bela surra, mas matar?!
– Claro, vamos ajudar a espancar o cara e deixar ele quase morto, mas não é pra matar. Renata acorda! Ele mesmo te falou sobre o que ia acontecer caso o velho descobrisse tudo. Ele não só comeu ela, como teve um caso, é óbvio que o velho ia mandar matar ele.
– Eu não vou conseguir conviver com isso!
– Então não participa.
Aquela conversa já tinha se transformado em uma discussão, onde Renata dava pra trás e eu ficava furioso com aquela atitude. Ana que estava quieta até então, abriu a boca e só piorou a situação. — Caralho vocês estão malucos? Aquele velho sempre fez tudo na surdina, mas nessa situação ele envolve os quatro. Ainda tem a porra do Ernesto vindo pra cá, aquele lá me da medo só de olhar, imagina falar com ele. Teve gente que tomou uma surra só por tentar ficar com ela e temos aqui vídeos e mais vídeos daquela puta fodendo que nem louca. E se ele por acaso pensar que vimos isso? Acham que o Ernesto não vai meter bala em todo mundo? — Ana soltou uma bomba na mesa que deixou a irmã ainda mais apavorada, provavelmente tentando fugir daquilo tudo. — Tá vendo aí?! Até a gente tá correndo risco, meu Deus, temos filhos, lembra?! — Renata estava em pânico, achando que poderia morrer. — CALEM A PORRA DESSAS BOCAS! — Berrou Luciano, se levantando da cadeira enquanto olhava para as duas com raiva em seu semblante.
– Vocês duas são impossíveis! Você, Ana, rouba um maluco que mata alguém só por dormir com a filha dele, tem noção do que ele faria com você se soubesse disso? Aí vem você Renata, que convidou o merda do João pra cá, só pra fica de joguinhos com todo mundo, ao invés de abrir a porra da boca e expor suas suspeitas. O Paulo foi um burro? Foi sim! E eu to com raiva dele também, mas você além de ficar nessa, provocou, atiçou e se exibiu até dar pra ele. Então não me venham com essa de não se envolver nisso, porque vocês três me colocaram nesse monte de merda. Agora todos vão fazer seus papéis, começando por você, Renata. Que vai passar tudo pro email que te passei antes do Paulo chegar. Paulo e eu vamos nos encontrar com um amigo do Ernesto, para ajudar a achar o hotel onde o João está hospedado.
– Não precisa, eu sei onde ele tá!
– Ué, como assim?
– História longa, depois te falo, o importante é irmos logo pra lá.
– Bem, já que é assim, no caminho eu ligo pro cara e falo onde estamos.
Renata que ainda estava aflita e confusa, expressou uma questão, provavelmente buscando uma forma de não participar.— Mas pra quê eu preciso enviar isso se ele já sabe? — Luciano olhou para ela com certa desdém, ele realmente estava puto com todos nós. — Renata, ele quer saber tudo o que o João fez com a filha dele. Provavelmente isso vai determinar o quanto aquele merda vai sofrer antes de morrer. — Renata arregalou os olhos, ela não estava pronta para ouvir algo assim. Com lágrimas em seus olhos, ela se afastou, resmungando que não queria fazer parte daquilo. Luciano mandou Ana ficar com ela e ajudar na parte dela, ao qual ela aceitou sem resmungar. Ana não parecia bem com aquilo, mas também não estava aflita como a irmã. Ela parecia estar com raiva, por se meter em algo bem complicado, o que me fez pensar que se ela pudesse se safar, deixaria todos para trás sem um pingo de remorso.
Já à noite, eu e Luciano nos trocamos e seguimos para o hotel onde João estava, decididos a finalmente encerrar com aquela história. No fim, aquela noite de sábado, que para muitos seria uma noite de festa e alegria com a chegada do ano novo, para nos era só o começo de algo que marcaria nossas vidas para Sempre.