OI, PESSOAL. ESPERO QUE ESTEJAM GOSTANDO DA HISTÓRIA DE JOÃO E HECTOR. VEM MUITA EMOÇÃO PELA FRENTE, ENTÃO, POR FAVOR, CURTA, COMENTE E COMPARTILHE A HISTÓRIA.
CAPÍTULO 7: POSITIVO
NARRADOR: JOÃO
A noite esfriava no Rio de Janeiro e algumas nuvens mostravam uma verdadeira mudança no clima, igual ao que estava acontecendo dentro de mim. Descobrir que fui encontrado na rua, junto com meu irmão, e que fomos adotados, trouxe à tona um redemoinho de confusão. Precisava de um tempo para absorver o impacto, e foi assim, que me vi diante da porta do apartamento de Hector.
Eu mal o conhecia, mas a forma como nossos caminhos se cruzaram foi tão inusitada quanto a minha própria recém descoberta história de origem. Ele, um amigo que apareceu quando eu mais precisava, ofereceu um abrigo em sua casa. Do subúrbio para a região mais luxuosa da cidade, que plot twist, hein, João?
O apartamento aparentava ter sido arrumado naquele dia, pois o cheiro de limpeza estava por todos os cantos. Os móveis eram modernos e a decoração transbordava bom gosto. Eu parecia um cachorro abandonado chegando na casa do seu novo dono. Não sabia onde sentar ou o que fazer.
O Hector percebeu a minha inquietação e pediu para eu me sentir em casa. Casa? Eu tenho uma casa? Eu não sei mais de nada. O meu futuro parecia apenas um borrão e o medo apertava minhas entranhas, ou talvez, seja só dor de barriga mesmo.
Caminhei pela sala, observando os detalhes enquanto lutava para conter as lágrimas que ameaçavam cair. Nas paredes, haviam várias fotos de Hector com Nataly, sua melhor amiga. Os dois parecem ser felizes juntos, mas não encontrei sinal da moça lá.
— Você conseguiu falar com o João? — perguntou Hector, que estava andando de um lado para o outro, preparando o quarto de hóspedes.
— Sim. Enviei a localização daqui. — avisei, mostrando o celular para Hector, que parou tudo o que estava fazendo para me dar atenção.
— Que bom. Ei, eu vou pedir uma comida e...
— Hector, não precisa. Eu já estou te dando trabalho demais. — falei, mas ele foi irredutível. Por fim, decidimos pedir comida japonesa.
Apesar da tristeza que me envolvia, uma gratidão sincera começou a nascer em meu coração. Não apenas pela hospitalidade de Hector, mas pela presença de um amigo disposto a compartilhar as alegrias e tristezas da vida. Ele era como um farol em meio à tempestade que assolava minha alma.
O quarto era enorme e não era usado por ninguém, uma vez que Hector e Nataly já ocupavam as outras duas suítes da casa. Sentei na beira da cama e quase afundei. "Que cama fofinha", pensei. Às vezes, eu esquecia de todo o drama, como se fosse um lapso de memória, mas logo era atingido pela dura realidade e meu estômago revirava.
— Trouxe toalhas, sabonete e shampoo. — avisou, mas ele acabou tropeçando no tapete e caiu em cima de mim. Por sorte, a cama evitou possíveis machucados.
— Desculpa. — ele pediu, enquanto o meu corpo sentia o peso do seu. Hector me olhou de maneira tão serena. Eu quase esqueci todos os meus problemas.
— Tudo bem. — garanti, pois ele me causava uma sensação boa. De repente, um carro buzinou e nos assustamos.
— Bem, eu não posso te atrapalhar, né? — ele se levantou e colocou os objetos em cima de uma bancada.
— Obrigado, Hector. Eu não sei como te agradecer. — falei me levantando da cama.
— Ei, — Hector andou na minha direção e tocou no meu ombro. — tudo bem chorar. Eu sei que você quer fazer isso desde o momento em que chegou. — ele limpou a garganta e preparou-se para recitar uma frase. — Chorou muito? Foi a limpeza da alma. Ficou com raiva das pessoas? Foi para perdoá-las. Acreditou que tudo estava perdido? Era o início da tua melhora. — proclamou meu amigo, que no meio de toda a confusão me tirou um sorriso. — Estou falando, sério. — sua voz doce me acalmava. — Chorar faz bem.
— Valeu, cara. — me levantei e o abracei. — Eu não sei o que faria sem a sua ajuda.
— Eu que agradeço, João. — ele respondeu, enquanto me abraçava.
— Eu vou tomar um banho. — avisei. — Se o José chegar...
— Não se preocupe. Vou recebê-lo na entrada. Fora que o jantar já está a caminho. Toma o seu banho, com licença. — Hector saiu pela porta e a fechou.
Lá estava eu. Adivinha a primeira coisa que fiz? Sim, quem respondeu chorar, eu chorei mesmo. Cai de joelhos no chão. Um rei do drama, né? Mas eu estava com medo. E se os meus pais fossem presos? E se a minha família não aceitasse a gente?
O cheiro do Yakissoba tomou conta da cozinha. Aos poucos, do lado de fora, a chuva diminuía e o som dos carros passando por cima das poças de água aumentava gradativamente. Depois de um tempo, o José se juntou a nós. Como pode? Nós dois somos idênticos de aparência, mas o oposto no sentido da personalidade. Está estampado na cara do meu irmão o desgosto pela comida japonesa, mas devido a fome, ele aceita de bom grado o yakissoba.
Enquanto a gente comia, eu decidi contar para ele a história que descobri. Contei da mulher que nos deixou no Mirante. E de como os nossos pais foram duas pessoas incríveis ao nos acolher. Com os olhos marejados, José parecia absorver toda a informação aos poucos, entretanto, não parou de comer o macarrão.
Diferente de mim, que apesar de tentado pelo agradável aroma, não conseguia encontrar apetite, pois estava imerso dentro de uma escuridão que transformou a minha percepção de mundo. As luzes suaves iluminavam a sala, só que eu me sentia envolto nas sombras.
— A polícia vai falar com os dois amanhã. — avisou o meu irmão, ainda comendo o yakisoba. — Precisamos estar lá. Eu fui um babaca com o pai e a mãe.
— Babaca? — questionei, fazendo uma careta. — Vai precisar muito mais do que um pedido de desculpa, José.
— Porra, cara... — ele parou e olhou para Hector. — Desculpa, mano.
— Tudo bem. — Hector apaziguou e respirou fundo. — Gente, hoje deve ter sido foda para vocês. Eu nem imagino o quanto. Durmam bem, porque amanhã o seu Josué e a dona Esther vão precisar muito de vocês.
— Amanhã. — repeti. — Quais vão ser as perguntas que serão feitas? Acho que precisamos encontrar um advogado, José.
— Claro, eu conheço vários, João. — meu irmão respondeu de maneira ríspida.
— Agora, conhecem! — exclamou Nataly ao entrar no apartamento e tirar os saltos altos, deixando os dedos livres para respirarem. — Prazer, meninos, eu sou a advogada Nataly Soares. Acabei de tirar a minha carteira da OAB, mas sou ótima no que faço.
— Sério, — levantei da cadeira e andei na direção dela. Um pingo de esperança irradiou dentro de mim. — eu não tenho dinheiro para te pagar agora, mas...
— João, sem problemas. O Hector me adiantou parte do assunto. Eu só preciso conversar com os seus pais. — ela me tranquilizou e pegou no meu ombro. — Eles não fizeram nada de errado, apenas criaram dois rapazes incríveis. Fora que vocês são maiores de idade. Enfim, vamos ter uma boa noite de sono, garotos.
— Obrigado, Nataly. — eu a abracei e comecei a chorar.
— Está tudo bem, João. Chorar faz parte do processo, mas você não pode se deixar abater. — ela aconselhou, enquanto acariciava meus cabelos.
— Verdade, amigo. — a voz de Hector mais uma vez me deixou calmo. — Estaremos ao seu lado.
O momento fofo foi atrapalhado pelo barulho do José brigando com um fio de macarrão do yakissoba. Sem ter o que fazer acabei rindo da situação. Limpei as lágrimas e olhei para o José. Apesar de unidos, nós enfrentaremos uma batalha árdua. Porém, não deixaria nada ou ninguém machucar os meus pais.
Eu nunca pisei em uma delegacia, mas lá estava eu pela segunda vez. Busquei os meus pais entre as pessoas que transitavam na recepção dos meus pais. Eu me sentia perdido. Parecia que havia deixado alguma coisa para trás. Depois de um tempo, encontrei os dois sentados em uma área isolada. Não perdi tempo e corri na direção deles.
Com um forte abraço e muitas lágrimas, a gente chamou a atenção das pessoas. O José entrou de maneira discreta e pediu perdão dos nossos pais. A Nataly entrou no modo advogada e conversou conosco. Meus pais repetiram a história sobre a mulher que nos abandonou e mostraram algumas fotos antigas. Dentre as mais variadas imagens, o papai revelou o registro da caixa onde fomos abandonados.
Eu não consegui evitar as lágrimas, só que não queria assustar os meus pais. Diferente de mim (como sempre), o José aguentou as porradas e a todo instante os tranquilizava. O delegado Pessoa, um homem baixinho e com os cabelos grisalhos, nos chamou para uma sala. Ele perguntou se o Hector era da família e eu assenti com a cabeça. Eu precisava dele conosco, principalmente, para me tranquilizar, algo que virou a sua principal missão nos últimos tempos.
Ficamos apreensivos com as perguntas do delegado Pessoa. Ele não fez rodeios e confirmou que o teste de DNA deu negativo para Esther e Josué, mas positivo para um outro casal, que alegavam ser os nossos pais biológicos. Um escrivão entrou na sala para colher os depoimentos dos meus pais, mas a única que pode ficar foi a Nataly, que pegou para si o caso.
— O que eles vão perguntar? — questionei para José, que estava encostado em uma parede.
— Eles não fizeram nada de errado. — meu irmão disse, então os seus olhos encheram de lágrimas e elas rolaram pela sua face. — Eles não fizeram nada de errado, porra. — lamentou.
— José. — eu o abracei e chorei junto ao meu irmão.
— Eu tô com medo, João. E se a mãe e o pai forem presos? Eles não fizeram nada de errado. — a voz trêmula do meu irmão me deixou assustado.
— A Nataly vai nos ajudar. Somos uma família, cara. Eles nos criaram quando ninguém nos queria. — assegurei, abraçando o José.
— Eu vou pegar uma água para vocês. — disse Hector, tentando se prestativo e como sempre me acalmando.
Finalmente, o meu irmão cedeu. O José sempre foi o durão da família. Nunca quis falar dos seus sentimentos, apenas das coisas boas. Mas todo mundo tem o seu limite. No meio deste turbilhão de acontecimentos, a frase dita pelo delegado Pessoa ecoava dentro de mim como milhares de fogos de artifício no escuro da noite.
"O teste deu positivo para outro casal"
Outro casal. Outros pais. Uma nova vida. Eu estaria preparado para as consequências dessas descobertas? O futuro me dava medo. O futuro era um borrão. Na verdade, existiria um futuro para nós?