O tempo passou depressa, Luis estava feliz com sua nova casa e com sua nova família, dois meses ali junto aos irmãos e ao pai havia de certa forma acalmado o seu coração. Diariamente falava com a mãe por telefone, Laís não ficava um dia sem telefonar para o filho, desejava que ele regressasse para a capital, mas entendia que Luis ainda não havia aceitado a ideia de ter Leonardo vivendo sobre o mesmo teto. Durante o tempo em que esteve na casa do pai, Luis evitou encontrar com Mateus ou Fernando, Vic era presença constante em sua casa, mas ela não tocava em nenhum assunto referente aos irmãos, e ele também não perguntava por eles. Estava feliz assim vivendo cada dia intensamente. Saía com Kaio, Vic e Marcola, jogava futebol todo fim de tarde, estava craque em jogar PS3 com Kauê, todo fim de semana levava Lucia a fazenda da família e lhe dava aula de equitação, e ainda ajudava Márcia nas compras, no jardim, na cozinha. Era visível a mudança no garoto, ele já não era mais aquele sedentário de meses atrás. Estavam no mês de novembro, em algumas semanas era o aniversário de Luis, a sua mãe queria lhe preparar uma festa de comemoração iria completar vinte e quatro anos, mas Luis evitava lembrar-se disso, não queria festa, não queria comemoração e muito menos juntar a família. Em um domingo à tarde, Luis e os pais decidiram ir a Igreja, fazia tempo que os filhos não iam com os pais rezar a Deus, e naquele dia quatorze de novembro era a Festa de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, uma data para os católicos como a família paterna de Luis que significava a passagem do ano, era uma espécie de festa de passagem de ano. Ao chegar à igreja os pais de Luis se dirigiram para o lugar de costume, desde que mudaram para aquela cidade o quinto banco da fileira do meio era reservado para aquela família. Luis e os irmãos se sentaram junto aos pais. Ate certo momento Luis esteve atento a missa, mas durante a homilia feita por um padre de uns oitenta anos, a respeito do inferno e do pecado Luis se aborreceu, era inacreditável que em pleno século XXI uma criatura daquelas tinha liberdade para pregar sobre amor, pecado, céu e inferno daquela forma.
O padre deixava claro que homem e mulher era o casal criado por Deus, e que um homem que se deita com outro praticam e adotam o pecado, ainda citava versículos bíblicos que diziam: “Assim diz Deus: ‘Se também um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, ambos praticaram coisa abominável… ’”. Luis estava nervoso com todo aquele sermão e já não se aquietava diante o que o padre dizia, olhava para os lados, observava as pessoas atentas ao que ele dizia, via alguns concordarem com acenos de cabeça, outros de cochicho completando o ato preconceituoso do padre. A cada pessoa que olhava mais crescia sua indignação não acreditava que uma cidade tão pacata como aquela ainda se prendia a preceitos religiosos tão gastos e derrubado há tanto tempo pela sociedade, em uma das suas passadas de olho pelos bancos à frente, viu quem a tempo tentava evitar ver. A três bancos a sua frente estavam sentados três pessoas que jamais pensou ver dentro de uma igreja, na ponta da direita estava Fernando, ao seu lado Vic, ao lado dela estava ele, Mateus Henrique. Seus cachos eram conhecidos de Luis e mesmo vistos por trás era facilmente reconhecidos, o garoto olhava para seu ex-afeto com um sentimento desconhecido, não sabia se era saudade, medo, amor, raiva, somente sentia um aperto no peito, Mateus parecia sentir os olhares do outro rapaz, pois após alguns minutos sendo observado virou-se na direção de Luis, os olhares se cruzaram e houve um pequeno sorriso nos lábios de Mateus, mas que logo se desfez dando lugar a um olhar triste e deprimido, Luis não queria mais estar ali, se sentia reprimido, ridicularizado pelas palavras do padre e o olhar de Mateus era acusador e denunciante. Era como se tudo fosse dito a eles, era como se todos ali soubessem dos dois e os tentava atingir através de indiretas e frases depreciativas, Luis levantou-se e saiu da igreja, estava no pátio da igreja, observava as crianças brincando próximo a fonte com as freiras. Estava triste com aquela ida a igreja, aquilo devia ser a comemoração de Jesus Cristo o rei do universo, mas o padre e o próprio Luis fazia parecer à preparação para uma nova cruzada contra os homossexuais. Luis puxou do bolso um maço de cigarros, pegou um deles e acendeu, sentiu ânsia de vomito, era sempre assim que se sentia, mas desde que saiu da casa de sua mãe, encontrava na fumaça da nicotina uma resposta para o seu sofrimento, eram poucos minutos de satisfação, mas que o animavam a ponto de fazê-lo desejar a vida.
Mateus: Não sabia que fumava?
Luis olhou para o garoto não acreditava que ele estava ali na sua frente e ainda conversando com ele, Nando estava dentro da igreja poderia sair a qualquer momento e provocar uma briga que somente justificaria a homilia do velhaco.
Luis: A muitas coisas sobre você que eu não sabia, não ter conhecimento de um vicio meu talvez seja a única coisa que lhe deixei em desconhecido.
Mateus: Desculpa... Não quero explicações suas e também não quero responder as suas dúvidas agora. Simplesmente estou aqui para lhe pedir uma trégua... Quem sabe não seja o momento oportuno para que nós dois nos conheçamos melhor, por que não tentar uma nova aproximação, um descobrindo o que o outro esconde aos poucos, mas honestamente...
Luis: Deveria concordar com isso certo? Mas não vejo o porquê de ser, se quer teu amigo... Você Riquinho foi uma decepção na minha vida, ter te conhecido só me trouxe desgraças e ódio, se antes tinha esse sentimento por apenas uma pessoa agora eu o direciono todo a você e teu irmão...
Fernando: Mateus?
Mateus olhou assustado para o irmão, temia pelo que ele poderia vir a fazer diante da igreja, diante da cidade toda. Fernando estava realmente bonito naquele dia, usava uma bermuda jeans camuflada estilo Ivan Santos, um coturno mega grande e uma camiseta gola v rosa, no pescoço uma correntinha de prata com um crucifixo perfeito, se não fosse toda a raiva que tinha daquele cara, Luis teria sentido tesão em ver seus braços quase rasgando a camiseta, sem mencionar suas panturrilhas super saradas.
Fernando se aproximou dos dois jovens e olhou feio para Luis, não lhe disse nada toda sua raiva estava direcionada a Mateus.
Nando: Eu te dou um minuto pra você voltar pra dentro daquela porra ou eu não me responsabilizo pelo que vou fazer com você aqui moleque!
Mateus: Mas Nando eu não estou fazendo nada... Só estou conversando com um amigo...
Nando: Faça-me rir Mateus, isso, me faça rir. Tu acreditas mesmo que sou burro né? Tu acreditas mesmo que eu engoli essa história de amigos, você é esse ser pecaminoso aqui não são amigos coisíssima nenhuma... Eu nem me atrevo a dizer o que vocês são... Por que isso é pecado, ouviu é pecado!
Mateus: Nando, por favor, me deixa resolver uma coisa com o Luis e eu prometo que volto... A gente vai só conversar.
Mateus estava com as mãos no bolso e de cabeça baixa, falava quase que sussurrando, era visível o medo que tinha do irmão mais velho. Luis apenas assistia a cena, enquanto fumava, vendo que aquilo não acabaria bem jogou o cigarro no chão e o pisou, olhou para Mateus e balançou a cabeça negativamente, apenas virou-se e saiu caminhando em direção à rua.
Mateus: Luis aonde vai cara?
Luis: E é da sua conta otário?
Mateus nada disse, mas uma lágrima desceu de seu rosto, Fernando olhou toda aquela cena com um sorriso de orelha a orelha.
Nando: Então esse que é o seu amor? Alguém que te despreza e ignora que finge que você nem existe? Que te chama de otário? Francamente Mateus você me decepciona... Se humilhar assim por causa de uma bixa escrota...
Mateus: Nando faça-me o favor e cala essa porra de boca!
Nando se surpreendeu com o irmão, ele jamais havia levantado a voz contra ele, e jamais havia falado um palavrão se quer em sua presença, ele não reconheceu aquele garoto e a vontade que teve foi de surrá-lo ali mesmo, mas aquilo seria contra sua postura de bom moço que fazia pra comunidade, mas Mateus não perdia por esperar, em casa teria seu castigo.
Nando: Ok! Me cale, mas ouça só seu viado escroto em casa eu juro que te conserto... Nem que tenha que te matar...
Mateus: Então tenta maluco... Tenta... Coloque a mão em mim de novo e eu juro que te coloca na cadeia seu maníaco...
O próprio Mateus estava assustado com toda aquela coragem, provavelmente assim que o nervosismo passasse se arrependeria de ter feito isso e acabaria apanhando do irmão, mas o que ele queria agora era voltar a ser pelo menos amigo de Luis e foi o que fez, saiu atrás do amigo, Nando ficou na porta da igreja parado, seus olhos eram ira pura, não iria permitir que o irmão desobedecesse e logo o teria em suas mãos e mostraria que não tinha medo de policia ou a merda que seja. Mateus deixou o irmão na igreja e tentou alcançar o ex-namorado, mas este já havia virado a esquina e com certeza estava a poucos metros de sua casa, Mateus correu o desejo de ter finalmente uma conversa franca com o ex-amor era maior que qualquer medo que tinha do irmão mais velho. Luis já estava em casa, e ali não se aguentou e chorou, a dor que sentia no peito era maior que qualquer força que tinha para menosprezar o ex-namorado. Todo aquele tempo sem vê-lo não havia curado todo o amor que sentia por Mateus, queria muito poder abraçar e beijar o garoto, mas também pensava no que o padre havia dito na igreja, ser homossexual parecia tão errado, tão pecaminoso, mas amar Mateus tinha sido a melhor coisa que lhe acontecerá em toda sua vida, como isso poderia ser errado? Luis estava sentado no sofá da sala, chorava compulsivamente. Não admitia gostar ainda de Mateus, mas seu coração doía somente ao se lembrar do rosto do amado, como poderia sobreviver a um amor como esse, se era algo novo, único, e que parecia eterno. Quando tocaram a campainha Luis já imaginava quem seria. Ou desejava que fosse Mateus, ainda relutante em ver comprovada sua suspeita, levantou-se limpou as lágrimas remanescentes e da sala ainda apertou o botão que abria o portão, não quis sair e ver quem era, preferiu esperar seu visitante na sala mesmo. Mateus ficou meio constrangido ao ver o portão se abrir e não ter ninguém ali para recebê-lo, ainda em duvida dirigiu-se ate a porta de entrada, não chamou dessa vez, apenas girou a maçaneta e lá estava a sua frente o grande amor da sua vida, viu os olhos marejados de Luis e soube naquele momento que o garoto ainda gostava dele e que sofria por estar afastado. Luis olhava o outro rapaz com um desejo imenso de beijá-lo, mas ainda receoso com aquele encontro apenas apontou o sofá a sua frente para que Mateus se sentasse, esse apenas assentiu com a cabeça e se sentou, ambos não sabiam como iniciar aquela conversa e como sempre foi o garoto olhos de esmeralda que se pronunciou primeiro.
Mateus: Não vim até aqui esperando que me escute ou que me perdoe, mas te peço, por favor, vamos buscar uma solução para esse nosso (fazendo aspas com os dedos) “problema”!
Luis: Sou todo ouvidos, acredito que já esta na hora de bancarmos os adultos que somos e colocar um ponto final nessa história, chega de reticências ou parágrafos incompletos!
Mateus: Primeiramente... Creio que seja eu quem deva começar...
Mateus permaneceu em silêncio como se esperasse que Luis o interrompesse ou o contradissesse, mas o outro apenas o observava com um olhar triste e sereno. Diante do silencio de Luis prosseguiu.
Mateus: Creio que Victoria tem lhe dito o porquê fiz o que fiz no dia do meu aniversário... Sei que nada justifica minha covardia diante de meu irmão ou meu ato após a sua ligação, mas compreenda após perceber que tudo entre a gente iria acabar por causa do Nando, resolvi dar o que ele queria... Apenas esperava que ele me deixasse em paz após isso... Que após lhe provar minha masculinidade ele parasse com suas perseguições, mas não foi o que aconteceu, a sua ligação apenas piorou tudo... Entenda não o culpo... Não mesmo, mas após aquele dia Nando passou a monitorar os meus passos, passou a me levar e buscar na faculdade, e aquele dia na lanchonete quando a Manu contou sobre a festa e do teu amigo Marcelo, o ciúme me dominou, não sei se você ficou ou não com ele, mas isso não é da minha conta, até por que estávamos brigados naquela época e não seria traição nos envolvermos com outras pessoas... Após sair do bar telefonei para o Nando que ficava sempre na casa de uma namorada próximo a faculdade, disse que não me sentia bem e pedi que ele fosse me buscar.
Luis: E ai eu te segui e piorei tudo não é?
Mateus: Isso! Ao te ver me segurando, Nando deduziu que você estivesse me obrigando a manter um relacionamento, e tu o provocaste ainda... E pra ele tudo se resolve na base da pancada... Desde aquela noite tenho pensado em ti... Em nós... Sinto a sua falta...
Luis: Eu entendo, mas antes de resolvermos qualquer coisa, você tem que saber que eu jamais tive alguma coisa com o Marcelo, àquela noite foi à única vez que nos vimos pessoalmente, eu estava brigado com você e precisava esfriar a cabeça então aceitei o convite do Celo para aquela festa, nos somos amigos e nos respeitamos. Naquela noite ele ficou com alguém, uma garota... Eu não consegui mesmo se quisesse ainda não me via separado definitivamente de ti, não poderia traí-lo. Agora aquele dia no bar eu notei alguma coisa estranha em você parecia que queria me provocar, me mostrando sua felicidade exagerada... E foi por isso que elogiei o Celo, queria lhe provocar ciúmes, mas quando você saiu daquele jeito eu fiquei puto... Você ate então era o único errado na minha percepção não tinha motivos para ficar grilado comigo, e por isso fui atrás, ate pensei em te pedir desculpa, ate mesmo em reatar com você, mas quando teu irmão me agrediu e você permaneceu parado e não me defendeu... Foi como se o mundo parasse...
Mateus: Eu te entendo... Admito que seja um covarde quando se trata do Nando!
Luis: Graças a isso cometi um erro irreparável... Naquela noite Manu me levou pra casa e disse a todos que era minha namorada e que eu tinha brigado para defendê-la, ela deduziu que eu e você tínhamos algo, eu acabei a expulsando e quando ela saiu Laila esteve la em casa se apresentou como minha namorada... E eu vi ali a chance de te magoar, de te pagar com a mesma moeda. Admito que isso foi baixo, cruel e criminoso... Eu transei com ela, dei lhe o que ela desejava e após tudo terminado fui o mais cruel possível eu a ofendi e ridicularizei. Após o sangue esfriar e a raiva passar vi que o que tinha feito era errado demais pra suportar e quis fugir pra longe de tudo, pra longe de você... Só não imaginei que o encontraria logo aqui...
Mateus: Acho que devo explicar o porquê de ter escondido de onde sou... Bom acontece que sempre fui odiado por todos nessa cidade, por vir de uma família um pouco mais abastada que o normal, nunca dei motivos, mas o simples fato de ter mais dinheiro que todos sempre fui ridicularizado e perseguido. Quando consegui a vaga na faculdade publica na capital pensei que me livraria de tudo isso, planejava morar lá, mas meu irmão convenceu meu pai a não deixar e eu passei a ir todos os dias de ônibus e voltar... Tinha medo de que ao saberem que eu era do interior e considerado rico as pessoas me vissem como todos daqui, eu não queria ser o Riquinho novamente, nem muito menos o Ricardo, queria ser apenas o Mateus e foi assim que toda essa história começou...
Luis: Sabe o que me intriga... É que mesmo dizendo que me amava você tenha mantido isso em segredo até de mim...
Mateus: Não espero que me entenda, assim como também não entenderei como pode ter ficado com a Laila, mas ambos cometemos erros, e se há amor de verdade entre a gente, o melhor a fazer é passar uma borracha sobre isso e tentarmos juntos superar todos os desafios e ser felizes juntos... O que me diz?
Luis: Jamais te direi que não te amo... Ou que não sinto falta de ti, pelo contrário a cada dia te amo mais, cada dia longe de ti, é como se arrancassem uma parte do meu coração, mas não acredito que seja o momento certo para voltarmos...
Mateus: Então isso quer dizer que você não me perdoa?
Luis: Não é isso... O que quero dizer e que eu não te conheço ainda, por que o Mateus que conheci não existe... E que o que posso te oferecer agora é apenas minha amizade, se isso lhe servir, conte comigo, se não encerramos essa conversa aqui...
Mateus: Não sei se conseguirei ser apenas teu amigo, mas prometo tentar, vou te conquistar novamente, você conhecerá o verdadeiro Mateus Ricardo XXXXX XXXXX, e juro seremos muito felizes juntos.
Luis: Não sei se acredito, e teu irmão como fica nisso tudo?
Mateus: Deixa que com ele me entendo, já chega de ser o irmão caçula que vive morrendo de medo e se esconde atrás do irmão maior, serei forte por você...
Luis: Quero organizar minha vida, e se você estiver ao meu lado, tenho certeza que serei feliz!
Mateus: Tenho que ir agora, mas queria te pedir uma coisa antes de ir, por favor, atenda esse pedido e juro que não te pedirei novamente a não ser que você queira... Me dê um beijo de despedida...
Luis sorriu olhando para aqueles olhos esmeralda, desejava aquilo mais que tudo na vida, e não pensou em não atender ao pedido do amado, caminhou devagar ate o garoto, segurou-lhe a face e sentiu o calor de tua pele nas mãos, afagou as madeixas castanhas de Mateus e de olhos fechado beijou aqueles lábios carnudos e com gosto de trident de melancia. Como era bom aquele gosto, como era bom se sentir amado e desejado novamente, como era gostosa a textura da boca de Mateus. A língua dos dois se digladiavam em busca da boca do outro, o abraço super apertado demonstrava todo o desejo que ambos sentiam, e a excitação dos dois era visível de longe. Um barulho no portão interrompeu o beijo, era a família de Luis voltando da igreja, Mateus selou o ex-amante novamente e se despediu, cruzou ainda com o cunhado e com o sogro, o sorriso no rosto, confirmou as suspeitas de Kaio e em seu rosto também surgiu um sorriso de felicidade.