Capítulo 1 - Querido Diário
Com o meu expediente próximo ao fim, me levanto e vou em direção a janela, de onde passo a observar o movimento do trânsito e as pessoas caminhando pela rua despreocupadas diante de um sol escaldante. Nesse ponto eu refletia como as coisas mudam rapidamente, até outro dia, estávamos todos enclausurados por conta da pandemia e agora agimos como se nada tivesse acontecido. Em meio as minhas elucubrações escuto a senhora do serviço de limpeza bater na porta me chamando:
- Senhor Carlo? Senhor Carlo?
- Oi! pois não.
- O senhor vai ficar por mais tempo?
- Não, não, já estou de saída.
- Ok! Vamos fazer uma limpeza geral agora, por isso perguntei.
- Sem problema.
Minha rotina é basicamente essa, trabalho das oito da manhã às duas da tarde e fico o restante do dia em casa, mas essa realidade estava prestes a mudar por conta de uma orientação médica. Meus exames recentes estavam sinalizando que se eu não mudasse meu estilo de vida rapidamente, não iria durar muito.
Devido a isso, meu médico me orientou a prática de exercícios, além de um acompanhamento com nutricionista para me orientar sobre alimentação, já que eu estava um pouco acima do peso.
Alarmado pelo médico, segui à risca as recomendações que me foram passadas, me matriculando em uma academia e marcando a consulta com o nutricionista.
A academia em questão, era a mesma em que a minha filha, Lara, frequentava. Ela, diferente de mim, tinha uma preocupação com sua saúde e corpo, praticava musculação e yoga.
Por falar nela, ela é minha caçula, tinha 24 anos, e a única que ainda morava comigo, já que os outros quatro filhos seguiram com suas vidas. Eu me casei duas vezes, mas acabei me divorciando delas passando a viver minha solteirice.
Em resumo, eu não tenho muito o que reclamar da minha vida, tenho uma boa condição financeira, estou cada vez mais perto de me aposentar do serviço público e todos da família tem a vida encaminhada.
Já em meus aposentos, deito-me em meu sofá e começo a assistir minha série favorita. Não demora muito, eis que para a minha surpresa, surge Lara com alguns cadernos nas mãos, uma bolsa cinza, de óculos de grau e cabelos amarrados estilo "rabo de cavalo".
Ao vê-la lhe pergunto:
- Não é cedo demais pra você tá em casa?
Em seguida com sua voz mansa de sempre Lara diz:
- Esqueceu que hoje é quinta? É o dia que chego mais cedo da faculdade!
- É verdade, tinha esquecido, que cabeça a minha.
- Olha a idade chegando. (risos)
- Vai brincando, não demora muito e chega a sua vez também (risos)
Logo depois de tirar sarro de mim, ela sai caminhando em direção ao quarto, depois de alguns minutos ela retorna com seus cabelos pretos soltos, de banho tomado e vestida com seu baby doll azul com figuras de coração, passando a assistir uma série que concordamos em acompanhar juntos.
Enquanto assistíamos a série, conversávamos como tinha sido o dia um do outro, até que fui vencido pelo sono e precisei me retirar. Antes de ir, me levantei, indo em direção a ela lhe dando um beijo em sua cabeça e lhe desejando boa noite. Ela respondeu me desejando boa noite e dizendo que ia ficar mais um pouco.
Na manhã do dia seguinte me acordo com um barulho de algo caindo no chão, meio atordoado, pego meus óculos na mesa ao lado da cama e saio do quarto. Quando chego na cozinha, vejo Lara pegando alguns objetos do chão e lhe pergunto o que houve, ela pede desculpas pelo barulho e diz que está super atrasada.
Pergunto se ela perdeu a hora dormindo até mais tarde e ela meio que com um sorriso sem graça diz que sim, então chamei a atenção dela com relação ao horário já que ela vinha se atrasando com frequência.
Ela só sorriu e disse que tinha se viciado em uma série e por isso vinha perdendo o horário, mas que estava tentando resolver isso. Em seguida se aproximou de mim aplicando um beijo na minha bochecha para depois sair em disparada em direção a porta.
Agora sozinho, olho as horas no relógio da parede e vejo que tenho tempo de sobra até ir para o trabalho. Pensei em voltar a dormir, mas cheguei à conclusão que não valeria a pena e que eu poderia acabar perdendo a hora e me atrasar que nem a Lara.
Optei por ficar acordado, e fui procurar arrumar a casa, deixando as coisas adiantadas para o fim de semana. Fui arrumando coisas aqui e ali, restando apenas o quarto de Lara. Assim que eu entro vejo a cama ainda revirada e o que parecia ser uma agenda caída no chão.
Me aproximei, arrumei a cama e peguei a tal agenda do chão passando a ler uma ou duas páginas, foi então que me vi surpreso ao constatar de que se tratava de um diário. Eu sempre soube que Lara tinha um diário, mas achava que ela tinha se desfeito dele na adolescência, mas pelo visto, mesmo aos 24 anos de idade ela continuava com esse hábito.
Quando eu já ia pôr o diário em cima da cama, algo me chamou atenção, não tive como evitar e comecei a ler o relato desde o início, ele começava dizendo o seguinte:
Querido diário,
“A cada dia que passa, eu me debruço mais e mais sobre os livros, eles têm sido um bom companheiro nesses tempos de isolamento. De um tempo para cá, há cerca de um mês venho absorvendo um novo tipo de leitura, a erótica.”
“Eu já li alguns livros quentes antes, mas tenho notado que tenho procurado com mais frequência sobre esses assuntos. Será a falta de sexo mexendo comigo? Penso que sim, já que tem um certo tempo que não transo”
“Por esses dias estava a pesquisar na internet livros e contos com essa temática, foi quando encontrei os mais diversos assuntos, tanto que não sabia por onde começar.
“Olhando por cima um por um, acabei focando a minha leitura em um que me pareceu mais instigante. Quando terminei a leitura, fiquei de boca aberta com a capacidade que o autor teve em me fazer ficar excitada. Eu estava pegando fogo, minha vontade era pegar o primeiro homem que aparecesse e transar com ele. Com o tempo, passei a acompanhar os autores com os quais as leituras mais me agradavam e fui satisfazendo meu tesão conforme lia”
Nesse momento da leitura, pensei em parar, já tinha sido o suficiente, o que eu estava fazendo era violação de privacidade, porém o que eu tinha visto antes me instigavam a continuar e ler tudo, do começo ao fim, a parte seguinte dizia:
Querido diário,
“Parece que estou presa em um loop, faço praticamente a mesma coisa todos os dias, hoje estava sentada na cama lendo meu livro “de repente uma noite de paixão”, até que vejo no meu celular um alertar, era um e-mail que tinha acabado de chegar. Quando vi que se tratava de uma postagem do meu autor erótico preferido, corri em direção ao site para ler o que ele tinha escrito depois de um hiato de alguns dias.”
"Quando cheguei até o texto, vi se tratar de um tema no mínimo polêmico, era de incesto, confesso que tive uma certa resistência em continuar, porém movida por minha curiosidade aguçada, dei uma chance a ele e iniciei a leitura."
"Conforme ia lendo, mais envolvida pela história eu ficava, até que em um momento eu já estava torcendo para que a personagem(filha), realizasse seu objetivo. Toda vez que ela se inclinava em direção a saciar seu desejo proibido meu coração disparava. Eu dizia: “É agora!!” e não acontecia. Quanta aflição!!"
“Naquela altura eu já não sabia explicar o que eu estava sentindo, era uma montanha russa de sentimentos. Não queria acreditar, mas eu estava excitada com a história, minha mente fantasiosa já tinha tomado conta de mim.”
“De repente comecei a me imaginar na situação dela, o que me fazia ficar cada vez mais excitada, quando dei por mim, já estava com uma das mãos sobre o meu sexo começando a me massagear de leve.”
“Enquanto isso, meus olhos continuavam vidrados na tela do celular, atenta ao final da história e quando enfim os personagens se entregam ao prazer, já não estava mais com o controle do meu próprio corpo, joguei o celular de lado, afastei minha calcinha e passei a me tocar com mais intensidade.
“Fechei os olhos e voltei a me imaginar dentro daquele mundo criado pelo autor, perdida na fantasia comecei a soltar leves gemidos, chegando cada vez mais perto do orgasmo. Podia sentir a temperatura do meu corpo aumentando, o tesão vindo cada vez mais forte, e mais forte e mais forte. Foi então que explodi de prazer, eu me remexia na cama e apertava o lençol com força sentindo toda aquela energia atravessar meu corpo.”
“Aos poucos fui me recompondo e despertando em mim uma certa preocupação se meus gemidos, mesmo não tão altos, tinham alcançado a sala, então olhei em direção a porta e não percebi barulho nenhum vindo de fora. Fiquei aliviada em não ter chamado atenção, mas eu mal podia acreditar que tinha gozado lendo aquele tipo de história.”
Tinha mais coisas escritas, mas preferi parar de ler, comecei a sentir um certo mal-estar, fiquei meio confuso, não sabia muito bem o que pensar sobre aquilo.
Coloquei o diário sobre a cama e fui procurar me arrumar para sair para o trabalho. Passei a tarde toda com uma sensação estranha, um desconforto que não sabia explicar, ler aquelas coisas do diário dela tinham me feito mal e eu precisava pensar em algo para resolver aquilo.
