Capítulo 2 - Prazer oculto
Tentei fazer com que o tempo me fizesse esquecer o que tinha lido naquele dia, mas foi em vão, mesmo passando algumas semanas do ocorrido eu continuava a pensar no conteúdo em que ela estava consumindo para sua leitura. Eu sei que ela é adulta, uma mulher bem mais madura do que as outras moças da sua mesma idade, mesmo assim eu não conseguia não me preocupar.
Estava pensando em chamá-la para uma conversa, mas depois pensei que eu poderia estar sendo precipitado, porém com aquela preocupação martelando minha cabeça, esperei ela sair para o trabalho para poder voltar a investigar melhor a situação.
Assim que ela saiu, fui em direção ao seu quarto e iniciei a procura pelo seu diário, fui mexendo no guarda-roupas, nas gavetas e escrivaninha, e nada de encontrar seu diário. Depois de revirar quase tudo, me vi quase sem esperança de encontrar, até que ao afastar o travesseiro dou de cara pelo que eu tanto procurava.
Sento-me na cama, começo a ler procurando saber o que ela tinha escrito, ia folheando página por página até que encontrei o que eu estava receoso em encontrar, o texto começava dizendo:
Querido diário,
“Acho que esse tempo todo em que estou presa em casa está me enlouquecendo, ultimamente tenho pensado em coisas estranhas, de um tempo pra cá, passei a ter uma inclinação imensa a leituras de contos eróticos, ainda mais quando se trata de um determinado assunto. O que está acontecendo comigo?”
“A cada leitura que faço mais excitada eu fico, mas isso não é o pior, o que vem me incomodando mais, é que quando eu estou a ler tais coisas me pego imaginando com uma certa pessoa”.
Quando li aquilo meus olhos quase saltaram da cara, como assim? O que está acontecendo? Questionei-me, mas continuei a leitura em busca de entender melhor aquilo.
“Meio que involuntariamente passei a inserir ele naquele mundo imaginário e essa ideia me deixava eufórica, empolgada, me fazendo sentir mais tesão ainda. Lembro de uma história que li, que enquanto me masturbava a figura dele me veio à mente. Logo, comecei a fantasiar eu e ele como se fossemos os personagens do conto até chegar ao orgasmo. Apesar do prazer imenso provocado por tal fantasia, bastou o tesão ir embora para que eu me sentisse super mal, minha mente ficava martelando que aquilo era totalmente inapropriado.”
Depois de terminar de ler aquelas linhas, dei uma leve pausa tentando assimilar aquelas coisas, nas páginas seguintes encontrei mais alguns relatos que me deixaram perplexo.
Querido diário,
“Esses últimos dias, tentei fugir do que me angustiava, não lendo mais sobre aquele assunto, porém essa noite tive um sonho com ele. Um sonho que não é normal de se ter com a figura que ele representa. Nele nós fazíamos amor, parecia tão real que acordei suada e com coração acelerado. E novamente fico a me questionar o que estava acontecendo comigo"
Nesse momento, eu parei a leitura ficando totalmente sem reação, confesso que no auge dos meus 50 anos ser um cara super mente aberta, vivi muita coisa quando era mais novo, mas aquilo já estava fora de qualquer coisa que passei. Fiquei pensando no que fazer, se eu tocasse no assunto, ia ficar evidente que tinha lido seu diário sem a permissão dela. Ao mesmo tempo, não podia ser omisso e deixar as coisas como estão, o que fazer? me vi em uma situação complicada.
Depois pensei, bom, já faz dois anos desde que ela escreveu aquelas coisas, era uma época complicada, estávamos todos presos em casa, as circunstâncias devem ter a deixado confusa, mas hoje ela não deve ter mais esse tipo de inclinação.
Eu precisava ter essa certeza, pois estava me sentindo mal por não ter percebido nada de diferente na época, poderia ter conversado com ela. A questão agora é saber como ela está hoje, as respostas deviam estar em seu diário, porém não tinha muito mais tempo, precisava ir trabalhar.
Após retornar do trabalho, no fim da tarde como de costume, notei que ela já tinha retornado do seu trabalho e estava no quarto. Fui tomar um banho e depois fiquei na sala assistindo tv. Pouco depois ela aparece já arrumada, vem em direção a mim sentando-se do meu lado e questionando-me:
- O que o senhor está assistindo?
- Nada demais, só uma série que acabei de encontrar, vou ver se é boa e você? já vai pra aula?
- Infelizmente, estou com uma preguiça enorme hoje.
- Eu imagino, mas pense o seguinte, isso já tá quase no fim, a parte mais difícil você superou e em breve você se forma.
Aproveitando que ela estava ali conversando comigo, resolvi sondar um pouco sobre suas leituras.
- E como vão suas leituras? Vi que na semana passada você comprou mais livros.
- Sim, comprei!
- São sobre o que?
- Os dois são de romance.
- A é!? e qual o nome dos livros? quem sabe eu me interesse em ler também.
- Um se chama “fiquei com o seu número” e o outro “entre quatro paredes”, aliás tem um dos livros que li que se tornou filme, se quiser podemos assistir juntos, o que o senhor acha?
- Pode ser.
- Pronto, então amanhã assistimos.
- Combinado.
Em seguida ela se levantou e saiu do apartamento indo para sua aula, pelo jeito eu não ia poder esperar dela a iniciativa de tocar no assunto, talvez não fosse algo que estivesse a incomodando a ponto de falar comigo, ou talvez ela tenha superado essa questão. Provavelmente, eu estava fazendo tempestade em copo d'água, será?
Para tirar minha dúvida, precisaria olhar novamente seu diário, e foi isso que decidi fazer, fui até o quarto, olhei debaixo do travesseiro e o encontrei no lugar de praxe. Abri o diário à procura de respostas.
Minha intenção era achar algo mais recente, mais próximo da data em que nos encontrávamos. Fui ao fim do diário, passando a folhear as páginas de trás para frente. Demorei mais enfim encontrei algo que dizia:
Querido diário,
“As minhas leituras me fazem viajar por vários mundos diferentes, alguns até a pouco tempo eram inimagináveis, esses eu tento evitar visitá-los. Só que muitas vezes o desejo fala mais alto, o meu prazer clama que eu retorne a esse caminho. Fico angustiada, me sinto mal por isso, mas ao mesmo tempo não consigo evitar. Hoje mesmo enquanto terminava a leitura de um conto, fiquei a imaginar como seria a rola dele e qual seria a sensação de tê-la em minhas mãos.”
“Novamente uma voz lá no fundo do meu ser, falava pra eu parar de imaginar tais coisas, mas eu a silenciava em nome de um mero instante de prazer. Imaginar aquilo me fazia ir a loucura, ficava arrepiada.”
Naquele ponto da leitura, eu não sabia o que pensar, minha cabeça girava tentando entender aquela loucura, continuei avançando as páginas, quase que no piloto automático, até chegar em uma outra data que dizia:
Querido diário,
“Hoje meu dia foi maravilhoso, consegui um estágio na minha área, agora posso desempenhar efetivamente as atribuições do curso que faço. De resto segui minha rotina de ir para academia pela tarde e à noite ir para faculdade, acabo que me vejo cada vez mais sem tempo para fazer minha yoga, mas não tenho motivo para reclamar dessa vida agitada, é ótimo saber que as coisas estão normais, bom, pelo menos era o que eu achava, pois algo que não vinha acontecendo há algum tempo voltou a acontecer.”
“Quando acordei hoje pela manhã, me vi perturbada com um sonho que tive, era novamente sobre “aquilo”. Eu fiquei alguns minutos sentada na cama processando o motivo de ter voltado a sonhar com essas coisas depois de tanto tempo.”
“Esse sonho foi tão real, quanto outros que tive, nesse eu estava dentro de um castelo cercada por pessoas de máscara, até que um deles se aproximou, era um homem alto. Ele foi se aproximando de mim aos poucos, já bem na minha frente, começou a me despir, eu não conseguia me mexer, mesmo não tendo nada prendendo meu corpo."
“O tal homem também começou a se despir exibindo um corpo malhado, com veias pulsando do seu braço, além do abdômen definido tal qual aquelas estátuas gregas. No instante seguinte já estávamos transando na frente das outras pessoas. Ele me colocou em cima de uma mesa iniciando a penetração suavemente, aos poucos o vai e vem ia ganhando um ritmo cada vez mais acelerado, ele parecia conhecer o jeito que eu gostava, no mesmo instante passou a estimular meu clitóris.
“Eu ia a loucura, gemia alto, nesse momento passei a me sentir novamente em pose do meu corpo, ao me libertar dessas amarras invisíveis entrelacei minhas pernas sobre a cintura dele. Ele me pegou no colo e ficamos transando em pé, eu lhe agarrava o pescoço enquanto os braços deles envolviam meu corpo".
" Seu pau entravam e saia de mim cada vez mais rápido, os meus gemidos ecoavam pelo espaço onde nos encontrávamos, e aquelas pessoas ao redor nos observando me fazia ficar mais excitada ainda. Estava chegando no ápice do prazer, quando ele me carregou até uma cama, me deixando ficar por cima, onde pude me mexer a vontade por cima dele.
"Agora eu me movimentava pra frente e para trás enquanto segurava o pescoço dele com força, ele me olhava com um olhar penetrante como se quisesse me desafiar. Em seguida ele esticou seu braço agarrando minha cintura enquanto eu gemia gozando no pau dele. Após perder minhas forças deitou meu corpo sobre o peito dele, antes que eu adormecesse retiro sua mascara revelando ser o rosto da pessoa com quem tenho fantasiado por algum tempo."
"Assustada, saio de cima do corpo dele e me questiono como era possível ser ele, já que a figura que se encontrava na minha frente tinha um porte físico completamente diferente do meu pai, que era baixinho, tinha no máximo 1,70, com uma barriguinha saliente, de barba e já com alguns cabelos grisalhos.
“Eu não queria admitir, mas só de escrever o que estou relatando aqui já fico com um leve calor, sei que não é correto ter esses tipos de sonhos, mas isso foge ao meu controle, não é intencional, me questiono até quando vou continuar tendo esses sonhos.”
Enquanto lia aquilo senti minha garganta secar, comecei a coçar a cabeça meio que de nervoso. Eu não sabia o que pensar diante daquilo, foi quando tocou a campainha me fazendo levar um baita susto. Quem poderia ser? minha filha não havia de ser, pois ela tem a chave.
Coloquei o diário em seu lugar e fui até a porta, quando olhei pelo olho mestre, vi se tratar do vizinho do lado. Quando abri a porta, fui questionado se estava faltando água no meu apartamento, pois em alguns tinha ocorrido, eu disse que não e ele saiu dizendo que ia verificar com outros moradores.
Eu estava tão anestesiado, que mal refleti que o problema da falta de água poderia me atingir, fiquei sentado no sofá pensando em tudo o que li. Eu olhava em direção ao quarto dela pensando em voltar e ler mais coisas, mas ao mesmo tempo pensava que já tinha sido o suficiente por aquela noite, no fim, acabei optando em não lê.