TRAVESSIA [05] ~ Brigas

Da série TRAVESSIA
Um conto erótico de Bernardo
Categoria: Gay
Contém 1090 palavras
Data: 10/04/2024 18:36:17
Assuntos: Gay, Início, Sexo, Traição

- Bernardo... - ele pareceu tomar coragem - eu queria conversar sobre o beijo.

Engoli seco. Com os tumultuados últimos acontecimentos, eu vivia me esquecendo do nosso beijo. Nem tive tempo de pensar um pouco sobre o ocorrido.

- P-Pode falar. - gaguejei.

- Bom, eu queria me desculpar.

- Hã?!

- É, você estava frágil, eu não poderia ter me aproveitado de você.

- Não, Zeca, eu gostei!

Falei rápido sem pensar. Ele me olhou com os olhos arregalados e nós dois começamos a rir daquela situação.

- Menos mal, mas mesmo assim me desculpe.

- Sem problemas, mas Zeca, por que você fez aquilo?

Ele ficou vermelho de vergonha com a pergunta.

- Ah, não sei. Acho que fiquei excitado com todas as nossas brincadeiras durante o dia e naquela hora você estava muito bonito. Tive um momento de fraqueza.

- Bonito, eu? Não precisava puxar o saco. - Respondi rindo.

- Sério! Se dê mais valor, você é um lindo rapaz. O Vítor é idiota de não querer você.

Fiquei sério novamente ao lembrar do Vítor. Era incrível como tudo nos últimos dias se resumia a ele.

- E falando nisso, como vão as coisas com ele?

- Normais; mais ou menos. Ele me aceitou, mas mesmo assim está mudado, sabe? Nossa amizade se modificou depois disso. Ficamos mais distantes.

- Entendo, mas isso é normal. Não deve ser fácil para ele também isso tudo que está ocorrendo.

- É.

Novamente o silêncio.

- Bom, queria te fazer um convite.

- Qual?

- Passar o dia na fazenda comigo amanhã, antes de eu ir embora.

- Como assim ir embora?

- Uai, tenho que voltar para Belo Horizonte. Minhas aulas recomeçam em duas semanas, tenho que ajeitar as coisas por lá.

Me bateu um tristeza imensa. Eu ia ter que ficar longe de um dos meus, desde já, melhores amigos. Ele que tinha sido uma muleta para mim nesses dias conturbados, ia embora.

- Ahh, queria que você ficasse mais por aqui...

- Queria? - ele sorriu perguntando.

- Claro, gosto muito de você.

- Também gosto muito de você.

Ele ficou me encarando carinhosamente.

- Então, aceita meu convite ou não?

- Claro que sim!

- Bom, então eu passo amanhã cedo na sua casa. Avise seus pais.

- Pode deixar, eu aviso.

Nos levantamos e ficamos nos olhando.

- Bom, então tchau, até amanhã.

- Até amanhã.

Nos despedimos com um abraço apertado. Pude sentir seu coração bater acelerado.

Depois de passar no mercado e pegar com meu pai as coisas que minha mãe pediu, fui para casa, ainda com Zeca na cabeça. Fui pelo caminho pensando no quão bom foi seu beijo e o bem que sua presença me fazia. Na minha cabeça veio a imagem do Vítor me perguntando:

“O que você sente por esse cara, afinal?”

A resposta ainda era não sei. Sem dúvida era uma coisa boa e forte. Era uma grande amizade. Talvez tão grande quanto a que eu sempre tive pelo Vítor. Isso me assustava, em duas semanas eu havia construído com Zeca uma amizade tão forte quanto a que eu demorei anos para construir com o Vítor. Onde isso iria parar?

Não tive muito tempo para pensar, pois logo cheguei na porta de casa e vi Vítor sentado na soleira.

- E, aí?

- Tudo bem, e com você?

- Bem também. Passei por aqui pra gente andar por aí, jogar videogame, qualquer coisa.

- Está certo; deixa eu só entregar essas coisas para a minha mãe.

Entrei e fui pra cozinha deixar as compras. Minha mãe me esperava.

- Demorou, hein?!

- Ah, é que encontrei com o Zeca no caminho e a gente ficou conversando.

Senti o Vítor tremer ao meu lado.

- Ah, que bom.

- Ele vai embora essa semana, me convidou para ficar lá na fazenda com ele amanhã, posso?

- Claro, pode.

Ela disse sim, mas havia um brilho estranho em seu olhar. Ela parecia desconfiar que havia algo mais no ar.

- Vou subir com o Vítor para jogarmos videogame, tá?!

- Certo, daqui a pouco eu chamo vocês para almoçarem.

Subimos as escadas em silêncio. Eu sabia que tinha aborrecido o meu amigo falando sobre o Zeca, mas era inevitável. Não falei de propósito, para magoá-lo, apenas aproveitei o assunto para pedir a permissão. Chegamos no quarto e eu fui ligar o videogame, mas ele já foi logo falando ao fechar a porta.

- Você vai passar o dia com aquele cara?

Seu tom era ríspido, agressivo. Meu sangue subiu também, ele não tinha o direito de julgar minha amizade pelo Zeca.

- Vou, por quê? Algum problema?!

- Todos! Você vai passar o dia com aquele cara!

- “Aquele cara” é meu amigo e eu exijo respeito.

- Amigo? Não parecia aquele dia...

Seu tom variava da raiva à ironia, o que me deixava mais nervoso. Eu nutria por Vítor sentimentos muito intensos, e percebi que aquela era a primeira de muitas vezes que os sentimentos mudavam.

- Você é um idiota. Finge que me aceita, que é meu amigo apesar de tudo, mas esperou a primeira oportunidade para jogar tudo o que sabe na minha cara! - eu tremia de raiva.

- Não vire essa conversa contra mim. Eu estou te dando todo apoio. É difícil pra mim também, porra! De uma hora para outra tudo entre nós mudou.

- Isso não é justificativa para você tratar a mim ou a ele assim! - a atmosfera no quarto era pesada - Aliás, o que te incomoda tanto nele?

- ELE TE AMA! - ele gritou.

Ficamos em silêncio. Eu assustado pelo o que ouvi e ele assustado pelo que disse. Aquela conversa estava cada hora pior.

- O quê?

- Ele gosta muito de você. - Ele falava baixo, como se tivesse dificuldade para isso.

- E o que isso tem a ver, meu Deus do céu?! - Eu estava confuso.

- Você ainda não entendeu?!

- Não, não entendi. Não entendi qual o seu problema. E se eu gostar dele também?

Ele deu uma risada sem graça, desagradável e falou:

- Então é isso! Vocês vão passar a tarde juntinhos! - Seu tom era de deboche - Você vai lá para passar o dia dando o cu para ele, você tá doido pra ele fazer de você sua putinha!

Eu paralisei. Não conseguia acreditar no que tinha acabado de ouvir. Aquilo foi a pior coisa que ele podia ter me dito naquele momento. Não doeu, não senti nada. Foi como se estivesse anestesiado, ainda em choque com suas palavras. Uma lágrima desceu lentamente pelo meu rosto. Ele me olhou aflito, enfim parecia ter se dado conta da maldade que havia dito.

- Bernardo, me desculpe eu... - ele se aproximou e eu me afastei.

- Fora da minha casa. - falei friamente, sem olhá-lo.

- Hã?!

- Fo-ra da mi-nha ca-sa. - repeti sílaba por sílaba.

- Bernardo, eu...

- FORA DA MINHA CASA!!! - gritei.

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Comentários

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O conto esta ficando muito bom de ler, mas na minha humilde opinião os capítulos poderiam ser um pouco mais longos para o conto nao se estender muito. Pprt que pessoalmente acabo perdendo o interesse e desistindo da leitura.

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Claramente o Vitor também gosta do Bernardo e está com ciúmes

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