TRAVESSIA [06] ~ Beija-Flor

Um conto erótico de Bernardo
Categoria: Gay
Contém 4303 palavras
Data: 11/04/2024 18:29:55
Assuntos: Gay, Início, Sexo, Traição

Ele se assustou e me olhou com lágrimas dos olhos. Não tive pena dele, ele não era digno de pena naquele momento. Me virou as costas e saiu do quarto em silêncio. Tranquei a porta e me joguei na cama deixando as lágrimas correrem livremente. Era muita coisa na minha cabeça ao mesmo tempo. Meu mundo desmoronava aos poucos.

Apesar de toda a tragédia, ri sem graça cantarolando a minha triste situação:

“Zeca, que amava Bernardo, que amava Vítor, que amava Mariana, que amava...”

Não consegui dormir aquela noite, chorando, o que já estava virando um hábito. Vítor tinha ido longe demais, eu chorava de ódio relembrando suas palavras. Ele não tinha o direito de me ter dito aquelas coisas. Ele não tinha direito nenhum sobre mim.

Agora outra coisa ocupava minha cabeça:

- “Aliás, o que te incomoda tanto nele?

- Ele te ama!”

Aquilo ficava ecoando na minha cabeça. Será mesmo? Zeca estava apaixonado por mim? Bom, isso justificava seu comportamento estranho na nossa última conversa. Mas eu ainda não sabia se isso era bom ou ruim.

Se por um lado eu tinha um cara maravilhoso que amava, pelo outro ele estava indo embora dentro de algumas horas. Soma-se a isso o agravante que eu não sei se eu estou apaixonado por ele. Obviamente eu gosto muito dele, mas não é aquela coisa avassaladora, qual uma força da natureza, que sentia pelo Vítor. Cada vez que pensava no assunto, mais confuso e indeciso eu ficava.

Às altas horas da madrugada consegui dormir com umas das poucas coisas que estavam me animando: eu ia passar o dia com o Zeca, e eu tinha certeza que seria ótimo.

Acordei bem disposto na manhã seguinte. Eu estava decidido a esquecer o Vítor, pelo menos por um dia, e me dedicar totalmente ao Zeca, esse sim merecedor dos meus pensamentos.

Tomei banho, fiz toda a minha higiene matinal e desci para tomar café. Minha mãe estava sentada na mesa lendo o jornal e desviou os olhos para me ver quando entrei na copa.

- Bom dia!

- Bom dia, mãe! - me sentei e comecei a me servir - Cadê o pai?

- Já foi trabalhar.

- Ah tá. Vou tomar café rapidinho porque daqui a pouco o Zeca chega para me buscar.

Ela pousou na mesa a xícara de café que bebia e me olhou fixamente.

- Meu filho, posso te fazer uma pergunta?

- Claro. Qual?

- O que você tem com esse Zeca?

Gelei. Acho que eu estava dando pinta demais com ele.

- Como assim mãe? - me fiz de desentendido.

- Uai, você conheceu esse rapaz outro dia e já estão tão próximos. Você está todo feliz por passar o dia com ele e eu percebi que o Vítor fica incomodado quando se fala nele.

- Ah, ele e só meu amigo. Um grande amigo. E o Vítor só está com ciúme porque descobriu que o Zeca pode ser um amigo melhor para mim do que ele. - respondi com raiva pensando em Vítor.

- Bom, se você diz, eu acredito, mas tome cuidado com as pessoas com quem anda, viu?

- Certo, mãe! Pode deixar que eu me cuido sim.

Nesse exato minuto ouvi a buzina da caminhonete.

- Deve ser ele, tchau mãe! - falei lhe dando um beijo na bochecha e correndo pra fora de casa.

- Não volta tarde!

Bati a porta e pude admirar aquela bela paisagem: Zeca encostado naquela picape vermelha com o Sol da manhã iluminando seus cabelos negros. Quando me viu abriu um grande sorriso, e eu não pude deixar de retribuir da mesma forma.

- Bom dia!

- Bom nada, vou fazer você ter um ótimo dia! - ele disse me abraçando amistosamente e abrindo a porta do carro.

- Nossa, só aumentou minha ansiedade.

No caminho começamos um papo descontraído sobre nossas vidas.

- Zeca, seus pais sabem de você?

- Não, nem pretendo contar a eles.

- Por que não?

- Ah, eles são de outra geração, Bernardo. Eles não aceitariam bem. Fazê-los sofrerem com isso pra quê? Prefiro deixa-los na ilusão que um dia eu vou chegar com uma moça da cidade anunciando casamento.

- Mas isso não seria crueldade?

- Crueldade seria destruir todos os sonhos que eles têm pra mim. Ser gay é um peso muito grande, mas eu pretendo carregá-lo sozinho, não vou compartilhar o problema com minha família.

Fiquei pensando um tempo no que ele havia me dito. Será que eu havia sido muito precipitado em contar pra minha mãe? Ele continuava dirigindo sem desviar a atenção. Seu rosto estava relaxado, como se ele estivesse acabado de contar o problema de um desconhecido.

- Eu nunca cogitei a possibilidade de guardar isso para mim mesmo...

Ele me olhou e deu um sorriso confortador.

- Ah Bernardo, cada caso é um caso. Você deve ter tido uma criação diferente da minha. Não tem como comparar. E você deve agradecer pela sua mãe te aceitar, nem todas são assim.

- É, eu sei...

Já estávamos chegando na fazenda dos meus avós.

- E como vão as coisas com o Vítor?

Foi só ouvir aquele nome que toda a raiva que eu senti voltou, mas disfarcei com um sorriso torto. Eu não ia deixa-lo estragar meu dia.

- Nada de Vítor hoje, vai ser só eu e você.

Zeca me olhou surpreso e abriu um caloroso sorriso.

- Ok então, seu desejo é uma ordem. Vamos ser só eu e você hoje.

Ele estacionou o carro próximo à sede da fazenda e descemos. Fui cumprimentar meus avós e depois fomos pegar cavalos para andarmos. Fazia um tempo agradável, com o céu muito azul e limpo, ideal para o dia que pretendíamos ter.

A primeira coisa que fizemos foi apostar corrida com os cavalos até a cachoeira. Ríamos como dois malucos enquanto os galhos das árvores batiam em nossos rostos. O Zeca tinha essa característica de me encher de vida e fazer com que eu esquecesse meus problemas. Logo chegamos na cachoeira, amarramos os cavalos numas árvores próximas e tiramos as roupas, ficando apenas de cueca. Era incrível como eu não cansava de admirar o corpo dele, era todo definido, bonito, viril. Me dava muito tesão, mas antes que ele percebesse isso, corri para a água. Estava gelada, afinal ainda era cedo. Nadávamos e brincávamos de um tentar afogar o outro, sem haver um toque mais íntimo.

- Zeca, você já ficou com outras caras?

Ainda estávamos na água, descansando das brincadeiras.

- Sim, por quê?

- Ah, me conta!

- Não, eu tenho vergonha. - ele disse rindo.

- Ah, conta vai! Eu morro de curiosidade para saber como é.

Ele me olhou de um jeito malicioso durante um tempo e depois começou:

- Está bom. Foi quando eu tinha 16, eu já morava com meus tios em BH. Tinha um menino lindo na minha sala de aula, chamava-se Diego. Ele era loiro, olhos verdes, um sorriso lindo, enfim um sonho. - ele suspirou e eu ri.

- E aí?

- Bom, um dia nós tivemos que fazer um trabalho em dupla e combinamos de eu ir na casa dele. Juro que não tinha segundas intenções. - ele riu.

- Cheguei lá na hora marcada, bati a campainha e ele veio me receber sem camisa, apenas com um short curto sem forro, e o cabelo todo atrapalhado, como se tivesse acabado de acordar.

Eu e ele suspiramos juntos imaginando a cena e caímos na risada.

- Continuando; fiquei até um pouco sem ar quando o vi, mas consegui disfarçar. Entramos e começamos a fazer o trabalho. Na verdade eu comecei a fazer o trabalho, coitado, ele não era uma das pessoas mais inteligentes que eu conhecia. Terminamos o trabalho e ele me convidou para assistir o filme que passava na TV. Sentamos no mesmo sofá, eu comportadinho e ele encostado, com as pernas meio abertas. Num momento eu olhei para a abertura do seu short e percebi que ele não estava usando cueca...

Nessa hora meu pau deu uma fisgada imaginando a cena, mas nem me preocupei já que estávamos dentro da água.

- Aquilo me encheu de tesão. O pau dele era branquinho mesmo e sem pelos. E eu já tinha um pouco de pelos. Eu fiquei bobo olhando aquilo. Dava para ver direitinho pau dele lá dentro. Ele de repente segurou o pau com força por cima do short e balançou. Eu me assustei, saindo daquele transe e percebi que ele tinha me visto secando ele.

Fiquei todo sem graça e pedi desculpas.

Ele me disse que não foi nada, e que gostava de ser admirado. Aí ele me perguntou se eu não queria ver mais de perto...

Caí na gargalhada imaginando a cena. Zeca acabou rindo também, parecíamos dois idiotas.

- Que coisa brega!

- É eu sei, mas muito eficaz, com certeza. Lógico que eu disse que aceitava. Fui chegando mais perto, ele pegou minha mão e a posou em cima do short. Eu comecei a alisar aquilo e logo perdi a vergonha colocando a mão dentro do short e segurando o pau dele.

- Safado! - mais safado era eu que estava super excitado com aquilo.

- Nem sou, qualquer um teria feito a mesma coisa. Bom, ele já estava duríssimo, aí desci o short dele e comecei a bater uma para ele. Ele gemia alto, o que só me deixava com mais tesão ainda. Ele então pulou em cima e caímos um sobre outro no chão. Ele me deu um super beijo. Nossa! Foi incrível, era meu primeiro beijo. O cara mandava muito bem no beijo.

Eu já estava quase gozando imaginando a cena e nem disfarçava. O Zeca também parecia estar gostando de revisitar aquelas lembranças, pois de vez em quando fechava os olhos.

- Começamos a rolar no tapete enquanto nos beijávamos. Ele foi deslizando pelo meu corpo, tirou minha camisa, beijava meu peito, minha barriga, minha virilha... Até que chegou na minha calça. Ele tirou tão rápido que eu nem lembro direito. – riu.

- Oba! Tá chegando na melhor parte.

- Então, ele começou a me chupar. Nossa, o cara, definitivamente, sabia usar a língua muito bem. Aquilo era um máximo, maravilhoso. Tomado pelo tesão, ele subiu em cima de mim, passou cuspe na mão e começou a sentar no meu pau devagarzinho...

- Sem camisinha?!

- Ah, naquela época não tínhamos tanta informação ainda, e éramos mais inocentes, garotos da nossa idade não andavam com camisinhas na carteira. - ele riu e continuou - Bom , ele começou a cavalgar em mim. No começo fez cara de dor, mas depois fechou os olhos delirando. Não preciso nem falar que eu estava no paraíso, né? Aquele garoto lindo estava sentando gostosamente no meu pau!

Eu delirava cada vez que ele usava essas palavras mais chulas.

- Para retribuir o favor, recomecei a bater uma para ele. Ficamos naquilo por uns dez minutos e nós dois gozamos, ele na minha barriga e eu no seu cu. Depois deitamos no chão e ficamos olhando pro teto, sem palavras, só se ouvia a nossa respiração ofegante.

- Uau. Deve ter sido incrível mesmo. Até eu que só estou ouvindo fiquei com tesão...

- É, percebi. - ele falou com um sorriso malicioso.

- Hã?

Ele olhou para baixo e eu acompanhei seus olhos. Eu estava de cueca branca, molhado e a água era cristalina. Lógico que dava para ver meu estado. Como eu fui burro!

- Ai, que vergonha! Desculpa.

- Sem problemas, também fique, óh - e apontou pra própria cueca.

O pau dele estava duro por baixo do tecido branco também. A água distorcia um pouco, mas dava para perceber que era bem grande e grossinho.

Fiquei um pouco encabulado com a cena e desviei meus olhos para o seu. Ele também me olhava, não com tesão, mas com ternura. Sem que eu ordenasse, minhas pernas começaram a caminhar na sua direção. Era instintivo, nós nos atraíamos. Ele também foi vindo em minha direção e ficamos bem próximos. Eu sentia sua respiração forte na minha pele. Nossos lábios foram se aproximando lentamente até se encontrarem. Era um beijo romântico, carinhoso, sem malícia. Nossas línguas se massageavam intensamente. Nos soltamos e ficamos novamente trocando olhares cúmplices.

- Me desculpe, eu não sei... - ele foi falar, mas o interrompi colocando o dedo em seus lábios.

No seu beijo não havia dúvidas, não havia medo, não havia problemas. Quando nos beijamos havia só eu e ele no mundo. Eu queria arriscar, estava cansado de sofrer, queria sentir essa forte e maravilhosa sensação de ser desejado. O agarrei com ferocidade e selei seus lábios com outro beijo. Desta vez nosso beijo era apressado, selvagem, como se o mundo fosse acabar em poucos instantes. Ele correspondeu com a mesma vontade, me segurando forte pela cintura. Eu segurei seus cabelos negros e pressionava sua cabeça contra a minha.

Nos afastamos.

- O que você está fazendo comigo garoto? - ele me perguntou sem ar ainda me segurando.

- Não sei, só sei que eu quero. Não tenho medo, você não pode me machucar, aliás, você parece ser o único incapaz de me machucar. Eu quero arriscar com você, quero mergulhar de cabeça nesse lago de águas calmas.

- Ai, garoto... - ele falou com a voz embargada - eu não vou te machucar. Prometo cuidar de você para sempre.

- Para sempre não é muito tempo? - perguntei sorrindo.

- Não, perto de você para sempre parece pouco.

Ele voltou a me agarrar e a me beijar. Desta vez nossos corpos estavam muitos próximos, nossos paus se roçavam dentro das cuecas molhadas.

Ele me pegou no colo e me levou para fora da água, me deitando na pedra, com nossos lábios ainda unidos. Ele se deitou também e ficamos os dois ali, abraçados nos beijando. Não tem como descrever a felicidade que eu estava sentindo no momento. Aquela troca de carinho, de amor, era quase palpável, de tão intensa.

Zeca me amava, ela havia me confidenciado isso sem que fosse preciso palavras. O que eu sentia por ele? Não sei, ainda estava confuso. Era amor sem dúvida, mas não na mesma intensidade. Era um amor fraternal, aliado a um tesão muito forte por aquele seu jeito viril.

Ficamos por um longo tempo ali, naquelas carícias, sem tentar nada mais ousado. Quando nos cansamos, deitamos na pedra, ambos admirando o céu azul, abraçados, como um casal de namorados.

- Eu te amo. - ele disse.

Apesar de esperado, me surpreendi. A declaração saiu nua e crua da sua boca. Ele abriu o coração, sem joguinhos, sem insinuações. Ele apenas abriu seu coração. Eu fiquei sem palavras, não só pelo susto, mas também por não saber como proceder. Ele entendeu minha hesitação:

- Não precisa dizer nada. - falou sorrindo - Sei que você gosta do Vítor e esse é um sentimento muito forte, não some de uma hora pra outra. Mas eu quero que você saiba que o dia que você estiver pronto para viver esse amor, eu vou estar aqui, do seu lado.

Me emocionei com suas palavras. Ninguém nunca havia dito coisas assim para mim.

- Eu te amo também. - falei em meio às primeiras lágrimas que desceram pelo meu rosto - Ainda não conheço a natureza desse amor, mas eu não tenho dúvida que o que sinto por você é amor. Eu te amo também.

- Obrigado... - ele respondeu sorrindo e me dando um selinho carinhoso.

- Você vai mesmo me esperar?

- Por quanto tempo for preciso. Agora que eu entrei na sua vida, não tenho intenção de sair. Você vai ter que me aturar até ficarmos velhinhos.

- Tomara!

Rimos como bobos enquanto nos vestíamos e voltávamos para a sede da fazenda para almoçar. Minha avó tinha feito um verdadeiro banquete, afinal a ocasião era especial, no dia seguinte Zeca iria embora. Os pais dele estavam presentes à mesa. Eram pessoas visivelmente humildes, com um sofrimento no olhar característico de quem teve que lutar muito na vida. Quando os vi entendi a razão de Zeca esconder sua sexualidade deles. Eles viviam em outro mundo, não o entenderiam, e não precisavam mesmo de outro problema na vida.

Depois do almoço fomos descansar deitados embaixo de uma grande árvore que ficava num canto mais isolado da fazenda. Ele me puxou e fez com que eu descansasse a cabeça em seu ombro. Ficamos em silêncio naquela posição reconfortante por um longo tempo. Logo o tesão voltou e começamos a nos fazer carinhos singelos, sem malícia. Quando vimos as carícias foram ficando mais ousadas. Eu passava a mão em seu peito, desci pela barriga e pela virilha até chegar no seu pau, onde apertei com vontade. Ele deu um pulo de susto e depois riu.

- É melhor não, Bernardo...

- Por quê? - perguntei inconformado.

- Porque eu quero fazer isso direito. Se um dia ficarmos juntos vai ser para valer, não vou abusar assim de você.

- Mas eu quero ser abusado

Ele soltou uma sonora gargalhada e continuou:

- Eu sei que você quer, mas ainda é muito cedo, teremos tempo, meu beija-flor.

- “Beija-flor”? - olhei para ele segurando o riso.

- É, beija-flor. Vou te chamar assim agora.

- E posso saber por quê?

- Porque você canta como um passarinho e beija-flor é meu pássaro favorito.

Rimos da situação. O apelido era ridículo, e minha voz nem era tão afinada quanto a de um passarinho, mas fazia eu me sentir bem. Com o Zeca eu ficava mais leve, rindo à toa.

- Canto, é? Achei que você não gostasse de me ouvir cantar...

- Eu?! Adoro o som da sua voz, um dia ainda compro uma casa só para nós dois, assim posso de ouvir quando quiser.

- Ah, é? Seus planos incluem sequestro? Bom saber, tenho que tomar cuidado. - continuava segurando o riso.

- O único cuidado que você ia ter que tomar é o de não ficar rouco, porque eu te obrigaria a cantar para mim de três a cinco vezes por dia!

- Bobo! - ri – E o que você gosta de me ver cantar?

- Eu acho que você arrasa cantando MPB, baixinho, com sentimento e tal, mas acho que você arrasaria cantando jazz e rock. Você tem uma voz forte, combina mais com você.

- Hum, e música brega, se eu cantasse você ouviria?

- Ah, eu ouviria você cantando até funk!

- Aí não, né! Não precisa apelar...

Gargalhei com a comparação e de repente tive um estalo. Me levantei e me posicionei de frente para ele.

- O que você está fazendo?

Limpei a garganta, fiz uma cara sensual que devia estar ridícula e comecei:

Quando caminho pela rua lado a lado com você

Me deixas louca

Ele reconheceu a música e esboçou um sorriso divertido.

Quando escuto o som alegre do teu riso

Que me dá tanta alegria, me deixas louca

Me deixas louca quando vejo mais um dia

Pouco a pouco entardecer

E chega a hora de ir pro quarto escutar

As coisas lindas que começas a dizer

Me deixas louca

Comecei a fazer uma dança sensual, me insinuando para ele.

Quando me pedes por favor que nossa lâmpada se apague

Me deixas louca

Quando transmites o calor de tuas mãos

Pro meu corpo que te espera

Me deixas louca

Eu alisava meu próprio corpo, como se aquilo fosse a coisa mais sexy do mundo. Eu estava ridículo, mas ele não ria, apenas assistia a cena com admiração.

E quando sinto que teus braços se cruzaram em minhas

costas

Desaparecem as palavras, outros sons enchem o espaço

Você me abraça, a noite passa

me deixas louca!

(Me deixas louca - Armando Manzanero/ Paulo Coelho)

Terminei a música lhe dando um selinho carinhoso. Ele exibia aquele seu lindo sorriso.

- Sabe, eu adoro essa música. Agora ainda mais, porque eu tenho na memória sua interpretação dela.

- Ai, para! Que vergonha! Não sei por que fiz isso.

- Ei, quantas pessoas vão ter que te dizer que você canta muito bem até você acreditar?

- Muitas. - brinquei.

- Sério; você tem talento, devia investir nisso.

- Talento eu? Não puxa o saco.

- Eu estou sendo honesto. Você tem extensão vocal, afinação, bom gosto, bom ouvido musical, divisão rítmica e sabe exprimir muito bem suas emoções na música. Ou seja, você tem toda a ferramenta, deveria trabalhar mais isso.

- Ok, vou pensar nisso.

- Quem sabe virar um grande artista com grandes shows e tudo mais?

- Não exagera. Eu não teria coragem. - falei rindo.

- Você precisa se arriscar, só assim não vai se arrepender quando ficar velhinho e olhar para trás.

Aquela foi a primeira vez que olhei para a música como algo diferente; como uma profissão de verdade. Eu não havia decidido nada ainda; a música continuava apenas como um hobby para mim, mas Zeca abriu meus olhos para uma outra realidade, um novo futuro.

Passamos o resto da tarde juntos, aproveitando cada minuto que nos restava. Cochilamos mais um pouco na sombra da árvore, apostamos corridas com os cavalos, nadamos; e sempre rindo e conversando. Foi um dia maravilhoso, mas como dizem, tudo que é bom dura pouco. O Sol se pôs e o telefone tocou na fazenda. Era minha mãe pedindo que eu fosse embora. Meu coração se encheu de tristeza por me separar do Zeca. Sabe-se lá quando o veria de novo. Justamente agora, em que nós nos descobrimos, temos que nos separar. Uma pena, mas eu prometi que não ia chorar, até porque, não era definitivo, logo eu o veria de novo. Ele se prontificou a me levar de volta para a cidade, e obviamente eu aceitei. Ao contrário do que aconteceu durante todo o dia, desta vez imperava entre nós o silêncio e a tristeza. Não queríamos nos despedir. Quando estacionamos em frente à minha casa, a hora do adeus chegou.

- Bom, é isso, né... - falei com a cabeça baixa.

- É, mas nos veremos em breve.

- Quando você volta?

- Provavelmente no carnaval.

- Mas ainda falta um mês! - falei indignado.

- Eu sei; meu bem, mas tem que ser assim.

- É, eu sei... Mas saiba que vou contar os dias ansiosamente.

- Eu também, claro. - seus olhos estavam cheio de lágrimas, mas eu ainda segurava as minhas.

- Como eu vou me virar por aqui sem você?

- Você se dá pouco valor. É mais forte do que pensa. E qualquer coisa, me liga, já dei meu telefone.

- Ok, obrigado...

- Eu te amo.

- Eu te amo também.

Ficamos nos olhando muito intensamente. Nos aproximamos lentamente e eternizamos aquele momento com um beijo suave. Nem pensamos na probabilidade de alguém nos ver ali. Com dificuldade, me soltei e abri a porta do carro.

- Tchau. - ele falou.

- Até logo. - respondi e ele riu.

Entrei em casa com o coração muito pesado. Me despedir dele doía. Doeu ainda mais quando ouvi o som do motor da picape se afastando. Minha mãe me esperava e veio me abraçar.

- Demorou, hein? O dia foi bom?

- Foi ótimo... - não conseguia disfarçar minha tristeza.

- Tudo bem, meu filho? - ela parecia preocupada.

- Sim, mãe, é só cansaço.

- Bom, se você diz... Venha jantar.

- Não precisa, comi lá na fazenda, vou tomar banho e me deitar.

- Certo. Ah, quase esqueci, você tem visita.

Subi as escadas sem nem mesmo analisar a informação. Eu estava em cacos. Entrei no meu quarto e Vítor estava sentado na cama me esperando. Olhei para ele e parecia diferente, triste, amassado, parecia ter passado o dia inteiro dormindo, ou chorando, sei lá. Eu não tinha forças para enfrentá-lo de novo, não naquela noite, não depois de me despedir de Zeca.

- Bernardo, eu... - ele começou.

- Não, Vítor. - interrompi - Hoje não, por favor!

- Eu queria pedir desculpas, eu fui um idiota. Eu disse aquela coisa estúpida, que nem tenho coragem de repetir, num momento de raiva. Você estava certo, depois que eu descobri de você fiquei um pouco mais distante, mas já me acostumei com a ideia que você continua o mesmo. Ainda é meu melhor amigo. Por favor, me perdoa, não suporto a ideia de não ser seu melhor amigo também.

Suas palavras pareciam sinceras. Eu sei que devia gritar, espernear, colocar para fora toda a mágoa e raiva que ele me fez sentir, mas eu simplesmente não consegui. Não consegui nem mesmo me sentir feliz por fazer as pazes com ele.

- Ok, está desculpado. Pode ir agora, eu quero muito deitar.

Ele me olhou intrigado e triste.

- Você me perdoou mesmo? Não está parecendo.

- Sim eu te perdoei. - num lapso, vi nele novamente meu melhor amigo e senti a vontade de desabafar - Eu acabei de me despedir dele. Não sei quando ele volta. Ele foi e eu fiquei. Eu estou cansado Vítor. Estou cansado de não conseguir ser feliz por completo, de ver meus sonhos morrerem na praia, de descobrir tarde demais o amor. Estou cansado de ser burro e de gostar das pessoas erradas.

Eu chorava. Todas as lágrimas que vinha segurando no carro saíram de uma só vez. Ele não disse nada, apenas se aproximou, me abraçou e pousou minha cabeça em seu ombro. Eu o segurei pela cintura e me confortei no seu corpo. Fechei os olhos por um segundo e respirei seu doce perfume. Na minha cabeça se alternavam imagens dele e de Zeca. Eu estava, mais uma vez, confuso. Aqueles dois ainda me deixariam loucoVítor e eu conversávamos animadamente naquela noite. Já tinham se passado dez dias desde que Zeca voltou para Belo Horizonte, mas eu não estava triste. Tinha ele dentro do peito como uma doce e feliz lembrança. Vítor me fazia sentir assim. Era incrível como ele me fazia esquecer do Zeca tão rápido quanto o mesmo me fazia esquecer dele. As sensações que os dois provocavam em mim deviam ser objetos de estudos.

Vítor iria dormir na minha casa aquela noite, como sempre havíamos feito. Desta vez era especial porque seria a primeira vez que ele dormiria lá desde que descobriu de mim. Eu estava nervoso, pois o teria por perto a noite toda. Mesmo achando improvável que alguma coisa acontecesse entre nós ali, meu coração palpitava descontrolado.

- E como vão as coisas com a Mariana?

Já conseguia perguntar aquilo sem me machucar tanto. Acho que já havia me acostumado com a ideia de amá-lo à distância.

- Mais ou menos. Depois do beijo ficamos um pouco distantes.

- Por que? - me interessei.

- Sei lá, acho que perdemos o fogo. - riu - Bom, ela parece ter perdido, eu continuo bem aceso.

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Comentários

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O conto ta foda, o tamanho perfeito e a estória muito bem elaborada; acho que, quem curte esse estilo, vai gostar bastante.

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