Adauto Cantábria chegou no boteco com uma cara amuada. Precisava desabafar, e o balconista serviu a de sempre. E enquanto ele esperava a espuma baixar, foram encostando os chapas. O mais safado e cínico, é o Adalberto, que sentando na cadeira ao contrário, e por conhecer o Adauto de longa data, arriscou:
- Aposto que ela aprontou de novo! A dona Andrea.
- Dona Andrea só me dá orgulho. De cima à baixo, é uma perfeição em pessoa. - e fez a mímica da silhueta com a mão.
Vendo isso, até uns dois estranhos se achegaram para sentar perto. E era mesmo, de causar comoção, esse papo "meio de bêbado", e com tema de sofrência.
- Conta aí, meu chapa! Do que o senhor já tá sabendo? - perguntou um dos neguinhos espivetados.
- Não tô sabendo de nada! Mas anteontem, quando cheguei em casa de manhã, tudo tava revirado.
- Eu sei. Mas o senhor também toca na banda, e sabe que é assim mesmo, e em época de festa, a esposa curte em casa.
- Tu tá curtindo com a minha cara?
- Eu participei. Ela foi para a garagem com o motorista, e voltou com alguma coisa gosmenta na boca. - disse um outro que estava presente.
Adauto fungou antes de responder:
- Deve ser uma base-creme que ela passa. Fica muito elegante, que mulher encantadora!
- Escuta, ela sabe rebolar, não sabe?
- Divinamente! Nos bailes em que fui tocar, e ela me acompanhou, vi quando ela dançou com os caras. Mas por que o amigo tá falando isso?
- É que mais tarde no quarto, ela tava com um professor de ginástica, daqueles bem caralhudos. - pegou na própria virilha - Escutei ele gritando: "Rebola, sua vaca, que não tá entrando!".
Adauto suou a testa, deu mais uma bicada no chopp e falou:
- Entrando o quê? Ah, é o passo Jansen. Mas foi no quarto? Que babaca! Na sala tem muito mais espaço.
- Mas por que o treinador a chamou de vaca? - perguntou outro oportunista.
Adauto sorriu e comentou:
- É força de expressão. Ela é a peituda mais linda que eu conheço! Eles já tem muita intimidade.
- Bota intimidade nisso, que ela gritava mesmo, "soca, seu cachorro! " - disse o neguinho.
Adauto engoliu em seco, mas verteu o líquido para dissipar.
- Não entendi o cachorro! Mas o soco, ele dá no ar, só para marcar o ritmo.
A dona do boteco, que também é depiladora, estava ouvindo e interferiu:
- Da parte de trás, eu não entendo muito, que não sou proctologista. Mas a perereca da Andrea tava muito vermelha ontem.
Adalberto seguiu com o sarro:
- Xiii, é melhor espirrar com esse professor!
- Chiba! - espanou Adauto! - É ele que deixa a minha mulher linda nessa malhação. As coxas por exemplo, são uma gelatina firme.
- Nem tão firme! - intrometeu-se um cara que tava "de costas" em relação à conversa - Esses dias eu senti meio mole, quando errei na hora de trocar a marcha.
Adauto ignorou a interferência do motorista de aplicativo, mas percebia-se que a indignação era por ter menosprezado a sua mulher.
- Mas fala aí mano, como ficou depois. A tua mulher tava sentando bem, e essa alergia, desculpe perguntar, na periquita?
- Nããão! - espantou Adauto com a mão. - Por 2 dias, ela ficou meio indisposta. Não me mostrou a perereca, mas acho que tá pronta para outra.
Viu que tinha falado besteira, olhou para os lados, e ao fundo um burburinho. Andrea vinha chegando, e antes de 2 metros, perguntou:
- Outra o quê?
- Depilação, uai! - disse Adauto.
PLAFT, tomou uma no pé da orelha. Pendeu para o lado, e a esposa o juntou pela orelha, dando outra do outro lado. Depois disse:
- Pára de falar da minha pessoa, e vem que estou esperando no carro.
Saiu de passo duro, naquele andar sexy, e com as nádegas rebolando sob o vestido de tecido molinho. Adauto viu o neguinho olhando para a bunda de Andrea, e estando a massagear a face, questionou:
- Tá olhando o quê, rapaz?
- Nada! O que foi aí?
- Não foi nada! Só um arranhãozinho! - continuou com a mão no rosto.
Adalberto também perguntou:
- Mano, tua mulher tava aí fora, esse tempo todo?
Adauto matou a saideira, antes de responder:
- Não! Deve ter chegado da massagem terapêutica, não me encontrou em casa, e veio me buscar. Que fofo! Ela tem muito ciúmes do papai.
Foi Adauto sair, e o neguinho perguntou a Adalberto:
- Massagem terapêutica?
Este respondeu:
- Sim. Terapia pra deixar de ser puta. É que ela morre de medo de perder o Adauto.