“Me empresta o pente?”

Um conto erótico de Sairjean
Categoria: Homossexual
Contém 4707 palavras
Data: 20/04/2024 22:14:06

Esta é uma história fictícia, vagamente baseada em fatos e personagens reais.

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Eu já tinha lavado as mãos e o rosto, escovado os dentes, limpado os óculos, já ia sair do banheiro, quando o cara me pediu. Ele estava pelado, tinha acabado de sair do box, nem tinha se secado ainda. Meu pequeno pente, daqueles de bolso, de plástico vagabundo, estava sobre a pia, junto com as outras coisas que eu havia tirado da mochila.

Eu, meio sem graça, mas um tanto curioso, passei pra ele, e me afastei um pouco da pia, dando espaço pra ele ficar diante do espelho. Ele, pingando água, deslizava o pente por seus cabelos escuros molhados, e eu observava ele de cima a baixo. Era um pouco mais alto que eu, que sou baixinho (1,65 m); moreno, da cor de doce de leite, enquanto eu estava mais pra leite condensado; e não muito forte, mas com o corpo bem trabalhado. Nada de se estranhar, já que estávamos no andar da Educação Física.

Eu estava ainda no segundo semestre da faculdade de Informática. Naquela época, a Uerj deixava bastante a desejar em termos de infraestrutura. Os únicos banheiros completos, que não faltavam papel higiênico, sabonete, toalhas de papel, tinham ducha funcionando, privadas e mictórios sempre limpos e nunca entupidos eram os do nono e do décimo andares. Dito assim, parece piada escatológica, mas o fato é que a Uerj inteira ia cagar na Educação Física!

Às vezes, acontecia de entrar no banheiro e ter alguém tomando banho, ou se secando, como naquela ocasião. Naturalmente, eram os rapazes mais bonitos e gostosos de toda a universidade, já que passavam mais tempo no ginásio de esportes do que nas salas de aula. Aquele ali nem era dos mais belos. Mas, com certeza, era bem mais do que eu, que não passava de um garoto magrelo.

Eu tentava parecer o mais natural possível. Mas era difícil, com aquele cara ali, do meu lado, a um metro de mim, peladão, todo molhado. Lembro bem das gotículas de água em seu ombro, em seu bíceps contraído. Outras gotas maiores escorrendo devagar por suas costas, seu flanco direito. Os pelos pretos de suas pernas alinhados todos pra baixo. Aquele cheiro delicioso de rapaz recém‐saído do banho.

Pelo espelho, eu podia ver seu peito liso de pelos, um pouco musculoso, e seu abdome chapado. Abaixo do umbigo, um filete de pelos levava a um púbis pentelhudo, mas nada exagerado. Ainda não tinha essa moda dos homens se depilarem, seria mal visto, até. Ele não usava barba, eu também não, embora o meu rosto precisasse já reencontrar uma gilete. Eu não fazia barba sempre porque ainda tinha espinhas, resquício da adolescência, e às vezes o aparelho as machucava. Já a pele dele parecia aveludada, naquela perfeição em que as espinhas já foram embora, e as rugas ainda não têm data para chegar.

E, lá embaixo, claro, o peru dele. Mais escuro, cor de cocada queimada. Murcho, enrugado pela água fria do chuveiro, parecia mais ou menos do tamanho do meu. Nada impressionante, uns oito ou dez centímetros. O saco era proporcional. Comum, nada demais. Apenas me chamou atenção que ele não tinha operado fimose, e nem tinha fimose pra operar. A ponta da glande emergia do prepúcio naturalmente. Já eu, desde os treze anos, tinha a cabeça do pau totalmente descoberta, por obra de um bisturi. A bunda dele, por sua vez, era redondinha, nem muito pequena, nem muito grande. Um pouco mais clara que o resto do corpo bronzeado, e sem estrias.

Ele, completamente absorto, calmamente passava o pente e a mão no cabelo abundante, ondulado, dividindo‐o ao meio de um lado. (Eu tinha cabelos grossos, meio enrolados, e os mantinha em corte baixo, e penteados para trás.) Não parecia nem um pouco envergonhado de estar ali, pelado, com outro homem, enquanto o meu constrangimento devia ser evidente. Eu simplesmente não sabia pra que lado olhar: se para o espelho, encontrar seu rosto; se para seu corpo nu e molhado, que me atraía; se para a entrada do banheiro, a fim de indicar pressa de sair. Acabava alternando entre o chão, o teto e as paredes; e, de soslaio, também seu belo corpo. Quantas horas durou aquela tortura? Provavelmente, nem dois minutos. Os mais intensos dois minutos que eu já havia vivido!

É óbvio, quem pratica esportes tem que ser mais desinibido mesmo. Não dá pra ter vergonha, quando se tem que trocar de roupa e tomar banho junto com outros caras todos os dias. Imagino que, pra eles, olhar pra um pau alheio não deve ser muito mais impactante que olhar pra uma mão ou um joelho. Mas, na minha cidade do interior fluminense, eu nunca havia tido esta experiência. Nunca tinha ficado pelado diante de outro homem, nem visto outro homem pelado, até ir estudar na capital.

Não que me faltasse vontade. Desde a puberdade eu sabia que gostava de garotos. (Também de garotas, mas menos.) Não foi nada fácil me aceitar assim, ainda mais numa época em que o preconceito era mais disseminado do que é hoje. E, numa cidade pequena, qualquer aventura que eu tivesse rapidamente cairia na boca do povo. Eu nem sei como meus pais reagiriam! Então, eu me defendia ficando no armário, como se diz. Para um CDF de carteirinha, era até relativamente fácil justificar a inexistência de namoradas. Bastava alegar que estava priorizando os estudos, o que não deixava de ser verdade. E ninguém espera mesmo que um nerd seja pegador. Resultado: aos 19 anos, eu ainda era total e completamente virgem. Nunca havia feito nada, nem mesmo beijado, qualquer moça ou rapaz.

Por fim, ele me devolveu o pente molhado. “Brigado!” (Ainda não era comum agradecer com um “valeu”.) Mas, tão logo eu peguei de volta, ele estendeu a mão num cumprimento. “Leonardo.” Olhos castanhos fixados em outros olhos castanhos. A boca entreaberta, lábios vermelhos, aquele tipo que parece pedir pra ser beijada. Eu demorei um ou dois segundos pra lembrar o que devia fazer em situações sociais como esta. Estendi o braço direito, disse “Sérgio”, e segurei, débil, sua mão molhada. A dele apertou a minha, firme. Esbocei um meio-sorriso sem jeito. Ele abriu um inteiro, que fazia covinhas nas bochechas. Em volta de sua cabeça, a luz esbranquiçada que vinha da janela alta lhe conferia uma “aura” toda especial. Parecia uma aparição! A visão dele, o cheiro dele, a presença dele; me arrastaram, me tragaram, me absorveram.

Ele estava no segundo ano da faculdade de Educação Física. Eu, no primeiro da Informática. Ele também era do interior, mas de outra cidade. Eu morava com uma tia; ele, com uma avó. Por coincidência, pegávamos a mesma linha de ônibus pra ir pra Uerj. Mas em horários diferentes; por isso, nunca nos encontramos antes. Mas, em comum, os dois ficávamos o dia inteiro no campus, apesar de termos aulas só de manhã. Eu, para aproveitar as bibliotecas e laboratórios; ele, as quadras de esportes. E também, claro, pra usufruir da convivência com os colegas.

Diferente da escola, onde eu me sentia meio deslocado (nerds não eram muito populares), ali eu me vi surpreendentemente integrado. Ao contrário do que eu esperava enfrentar, tirando pelos filmes americanos sobre universitários, havia um clima geral de aceitação das pessoas. Também pudera, todo mundo ali tinha histórico de CDF, ou não teria conseguido passar num dos vestibulares mais concorridos do estado! Muitos haviam sofrido o que hoje chamamos de bullying, mas na época nem tinha nome. Sim, havia também os mais malandros, aqueles que ficavam mais fora que dentro das salas de aula, mais nos bares em redor que dentro do campus do Maracanã. Mas, mesmo esses, é porque estavam se descobrindo, se abrindo, se permitindo. É como se dizia antigamente: quem não conhece melado, quando come, se lambuza…

Mas o pessoal da Educação Física era diferente. Eles sempre haviam sido mais ligados nos esportes, mais sociáveis, mais populares, desde a escola. Na universidade, formavam uma casta à parte. Não se misturavam muito com o pessoal dos outros cursos. Não tinham porquê. Nós outros achávamos eles esnobes. E, por despeito, também os desprezávamos. Dizíamos que eles tinham muito corpo e pouco cérebro. Não teria sido por acaso que optaram por um dos cursos menos concorridos no vestibular, que exigia notas menores pra entrar. Preconceito besta, claro. Essas rivalidades idiotas que existem entre alunos de diferentes cursos. Faculdades têm muito disso…

Por isso mesmo, eu estava surpreso com esta inesperada e improvável amizade. O Leo era um cara bacana. Inteligente, simpático, bem humorado. Atencioso com as pessoas, principalmente com as garotas, claro. E elas pareciam gostar da companhia dele, mesmo havendo outros caras muito mais gatos à disposição delas. (Talvez porque, além de mais bonitos, fossem também mais babacas.) Mas, é claro, elas nem me enxergavam quando eu estava junto dele. O que, aliás, se tornava cada vez mais frequente, desde aquele dia no banheiro.

Talvez, por seremos os dois do interior, morando com parentes na capital. Ambos filhos únicos, longe dos pais. E da mesma idade. Vai saber qual o mistério que faz duas pessoas simpatizarem uma com a outra, dois caras gostarem um da companhia do outro, e passarem a andar juntos. Mesmo sendo eles, fisicamente e psicologicamente, muito diferentes. A gente costumava combinar pra lanchar juntos no meio da tarde, tomar um café. Almoçar não dava, porque ele era adepto de comidas mais naturebas, enquanto eu preferia arroz com feijão mesmo.

Eu passei a estudar na biblioteca no décimo andar, onde, de vez em quando, ele também ficava, nas épocas de prova. Nessas ocasiões, ele sempre saía da mesa onde estava com os colegas de turma e vinha pra minha. Dizia que eles puxavam muita conversa e o distraíam, enquanto, comigo, que era mais quieto, ele conseguia se concentrar melhor. Eu é que tinha dificuldade de me concentrar na mesma mesa que ele! Às vezes, o vento vinha da varanda e brincava com seu cabelo, como muitas vezes eu quis fazer. Ou, quando estava calor, uma gota de suor escorria, acariciando seu rosto desde a testa até o queixo. Ou ainda, quando tudo estava parado, eu prestava atenção em cada pequeno movimento muscular de seu rosto, cada mínima torção de sua boca, cada franzir de sua testa, cada piscadela, cada respiração.

Perdido nessas pequenas maravilhas, eu às vezes era flagrado pelo seu olhar, que parecia me perguntar em silêncio, “O que foi?” Eu rapidamente baixava os olhos pro livro ou pro caderno, como que respondendo, “Nada.” Mas percebia, pela periferia de meu campo visual, que ele continuava me olhando, me indagando, me avaliando. Quando ele parava de me olhar, eu reerguia os olhos brevemente e via em sua boca um esboço de sorriso. O que será que ele estava pensando? Seria “Já saquei qual é a tua”?

Era óbvio que eu estava me apaixonando! Mas não me dei conta de imediato, porque era a primeira vez que isso acontecia comigo.

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Léo me chamava pra assistir alguns treinos de vôlei e handball dele no Ginásio de Esportes, e eu fui algumas vezes. Sempre que me via na arquibancada, ele sorria pra mim, aquele sorriso lindo dele. E eu ficava admirando seus movimentos, sua agilidade, seu físico. Nem prestava atenção no jogo, só nele! Depois das partidas, ele me chamava pra quadra, e insistia pra que eu fosse pro vestiário com ele (e o resto do pessoal, que eu mal conhecia), “pra gente conversar”, dizia. Eu lembrava de nosso primeiro encontro, e ficava nervoso. Se eu já tinha ficado sem jeito daquela vez, só com ele pelado do meu lado, imagine no vestiário, com um monte de caras nus, zanzando pra lá e pra cá! Eu inventava uma desculpa qualquer e dizia, “Deixa pra outra vez”. Ele apenas respondia com aquele mesmo olhar investigativo e o mesmo sorriso enigmático da biblioteca. Parecia me dizer, “Já saquei qual é a tua”.

Uma tarde, o time dele venceu uma partida no vôlei, em que ele, apesar de ser o mais baixo da equipe, teve uma participação decisiva, fazendo vários pontos. Ele saiu eufórico da quadra, bateu vários “high five” com os colegas. Eu fui cumprimentá‐lo, e ele simplesmente me agarrou e me ergueu do chão, com mochila e tudo! (Aquele corpo quente, suado, vigoroso, aqueles braços fortes me apertando…) “Hoje você vem comigo!” E foi me arrastando em direção ao vestiário, com o braço esquerdo sobre meus ombros. Eu gelei. Mas, no canto da quadra, ele me empurrou pra subir uma escada na arquibancada, em direção a um banheiro que ficava na parte de cima. Ele vinha atrás de mim, com as duas mãos sobre meus ombros, sem me dar chance de escapar.

Assim que entramos, ele foi logo tirando a camisa, e sentenciou, “Vem, vamos tomar um banho!” Abriu sua bolsa, que tinha deixado ali, sobre um banco, ao invés de nos armários do vestiário, pra onde os outros tinham ido. (Ele tinha planejado isso?) Eu tentei uma desculpa, “Mas eu não trouxe nem toalha!” “Você seca com a minha.” Dessa vez, eu não teria escapatória… Ele tirou o short junto com a cueca e jogou no banco. E entrou pro box, enquanto eu fui tirando a roupa. Ouvi ele ligar um chuveiro, e entrei. “Puxa a porta”, ele falou, e eu atendi. Diferente dos boxes coletivos do vestiário, o deste banheiro dava um pouco mais de privacidade. Tinha só dois chuveiros em cantos opostos do espaço retangular. Só vertiam água fria. (Ainda bem que fazia bastante calor naquele dia.)

Desde que eu entrei, todo envergonhado, eu procurei me manter sempre de costas pra ele. Mas, assim que eu liguei o chuveiro, e a água fria começou a me molhar, senti as duas mãos dele me pegando os braços e me virando rapidamente. Eu escorreguei, só não caí porque ele me segurava firme. Dei de cara com seu rosto, a uma certa distância (seus braços estavam esticados), que dava pra ter uma visão de seu corpo inteiro ― e ele do meu. Ele arfava, não sei se ainda ofegante da partida ou ansioso por aquela situação. Sem cerimônia, ele me olhou de alto a baixo, bem devagar, parecendo reparar em cada detalhe do meu corpo. Especialmente “naquele” detalhe. Eu senti o rosto arder. Ele olhou pra mim, soltou um riso gostoso e largou meus braços.

“Cê tá vermelho feito um pimentão!” Eu baixei os olhos, não sabia o que dizer. “Relaxa, cara! Somos amigos. E você já tinha me visto pelado. Era justo que eu também te visse, não?”

Eu olhei pra ele e ri, enquanto a água fria caía sobre mim. Me senti meio patético. Ele delicadamente afastou uma mecha de cabelo da minha testa (estava maior do que eu costumava deixar).

“Não tem porque você ter vergonha.”

“Se eu tivesse um corpo como o seu, eu não teria!”

“Você pode ter, se quiser.”

Na hora, eu não me toquei da ambiguidade desta frase. Ele queria dizer que eu poderia malhar pra ficar igual a ele, ou que eu podia “desfrutar” do corpo dele?

“Pode me olhar, cara.”, Ele falou. “Fica à vontade. Eu também vou te olhar. Todo mundo olha pro pau dos outros no chuveiro. Pro pau, pro saco, pra bunda. E todo mundo disfarça, finge que não olha. É a maior hipocrisia! Mas não precisa ter isso entre a gente.”

Ele voltou pro seu lado do box, entrou de novo debaixo do chuveiro, e começou efetivamente a se banhar, mas sempre voltado de frente pra mim. E eu também fiquei de frente pra ele. Eu finalmente fui relaxando, aos poucos. Conversamos enquanto nos banhávamos (e nos olhávamos), mas não lembro direito os assuntos. Certamente, coisas banais da vida universitária: fofocas dos alunos, reclamações dos professores, fatos curiosos e engraçados. Nossas vozes reverberavam animadas ali, naquele espaço, com o barulho da água caindo. Ele me emprestou o sabonete, emprestou o xampu. Parecia que nem eu, nem ele queríamos terminar aquele banho.

Mas, por fim, ele fechou o registro. E eu fiz o mesmo, logo depois. Só que, ao invés de pegar a toalha pendurada para se enxugar, ele veio e sentou no chão, os joelhos dobrados, recostado na parede, à meia distância entre o chuveiro dele e o meu. E me olhou, me convidando a sentar ali, ao lado dele. (Já era assim entre a gente; às vezes, nos entendíamos só pelo olhar.) Eu fui. Imitei sua pose. Os antebraços dele estavam pousados sobre os joelhos, e ele recuou um pouco os cotovelos, fazendo o braço esquerdo dele, um tanto musculoso, encostar no meu braço direito magro, sem bíceps nem tríceps. (A suavidade de sua pele fresca…) Ele me olhava nos olhos, e, às vezes, pro meu pau. Eu fazia o mesmo, já que não era pra ter fingimento entre a gente, como ele tinha falado. E o Leo interompeu o breve silêncio que se fizera entre nós, dizendo o que eu tinha vontade de dizer.

“Como é bom estar aqui com você!”

Eu sorri. “Você é muito maneiro, Leo!”

“Você também é!”

“Ah, que nada! Sou todo sem graça. Nem sei como um cara como você…”

Na hora, percebi que tinha desandado a falar mais do que devia.

“Como eu o quê?”

Meu coração disparou. Eu não consegui pensar em nada pra completar a frase, a não ser a verdade.

“…Como você pode me enxergar, preceber que eu existo!”

Ele me fitou surpreso.

“Como assim? Do que cê tá falando? Por que eu não iria… te enxergar?”

Nessa hora, não sei o que me deu, mas toda a minha insegurança veio à tona.

“Olha pra mim, cara! E olha só pra você! Sabe como eu me sinto do seu lado? Um homem que não deu certo! Magrelo, feioso. Sem açúcar, sem sal, sem graça. Enquanto que você… É um homem que deu certo! Cresceu, se tornou o que tinha que ser. Um homem completo, forte, másculo, viril. Admirado pelos outros homens, desejado pelas mulheres…”

Eu baixei a cabeça depois desta confissão, de culpa e de vergonha. Só sentia um aperto no peito, e as lágrimas escorrendo de meus olhos. Era a primeira vez que eu me abria assim com alguém. Ele tocou a mão direita em meu queixo e suavemente virou meu rosto pra encará‐lo.

“Não fale assim! Eu não te vejo assim! De jeito nenhum! Eu te vejo como um homem! Homem como eu! Em muitos aspectos, melhor que eu! Um cara do bem. Determinado, responsável. Dedicado, esforçado. Parceiro, amigo. Corajoso, capaz de sair da sua casa, da sua sua zona de conforto, pra vir pra uma cidade grande, assustadora. Pra vir realizar um sonho, batalhar por uma vida melhor, vencer pelo estudo. Cara, eu olho pra você e, juro por Deus, admiro muito você! Você tem as melhores qualidades que um homem pode ter. Um homem completo, um homem de verdade! Não isso aí que você falou.”

Ele continuou.

“Quanto ao seu físico, isso é o de menos. Pra mim, é o de menos. E você pode mudar, se quiser. Eu posso te ajudar nisso, se você quiser. Se isso te incomoda. Mas, se não quiser, não tem problema. Você não é menos homem por isso. Não pra mim. Eu gosto de você! Assim, do jeito que você é. Com a sua cabeça. Com o seu coração. E com seu corpo. Com tudo que você tem! Tudo que você é!”

Eu não sabia o que dizer. Não sabia o que pensar. Não sabia o que fazer. E ele arrematou.

“Só o que resta saber é… Se você também gosta de mim! Assim, como eu sou. Como eu gosto de você. Como eu… amo você.”

E, pela primeira vez desde que conheci o Leo, eu percebi um tom de receio em sua voz, uma sombra de insegurança em seu olhar, uma aflição de ser rejeitado em seu semblante.

“Meu Deus, Leo! Logo você, me perguntando isso!? Como alguém pode não gostar de você? Como EU posso não gostar de você? Como eu não vou… amar você?”

O tempo parou. O mundo parou. Uma gota que pingou de uma mexa de seu cabelo molhado ficou suspensa no ar. E, depois, tudo recomeçou a andar. Em câmera superlenta. Aumentando a velocidade bem aos pouquinhos. A gota de água caída de seu cabelo alcançou o meu ombro. Um sorriso foi se formando na boca vermelha dele, revelando aqueles dentes brancos lindos, marcando aquelas covinhas charmosas nas bochechas. Uma exalação morna, nascida de um suspiro, soprou de sua boca e seu nariz e veio acariciar meu rosto. E o rosto dele foi crescendo em meu campo visual. A boca dele foi se abrindo. Um véu escuro desceu junto com minhas pálpebras. E um toque suave, a princípio quase imperceptível; depois leve, macio, úmido, fresco; por fim morno, quente e denso; foi sentido pelos meus lábios. E aquele sabor, aquele gosto, inigualável, indescritível, indefinível. O gosto do Leo, o sabor do Leo!

O beijo foi, aos poucos, sugando o sopro de minha boca, o fôlego de minha garganta, o ar de meus pulmões. Acabou sugando a alma de meu corpo. Sugou‐me inteiro pra dentro dele! Pra dentro do Leo. E foi assim, numa tarde quente de outubro de um ano perdido da década de 90; num ginásio poliesportivo vazio dentro de um campus universitário; no chão molhado e fresco de um banheiro, na intimidade secreta de um box compartilhado; que o mundo, pela primeira vez pra mim, se tornou um lugar maravilhoso!

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Minha cabeça girava. O estômago apertava. A respiração descontrolada. O coração parecia que ia pular pra fora do peito. Os braços do Leo envolveram meu tronco, e eu segurei desajeitadamente em seus flancos. A perna esquerda dele, forte, morena e peluda, se dobrou sobre a minha perna direita, peluda também, mas magra e branca. o corpo dele se avolumou aos poucos sobre o meu, me forçando a inclinar de lado, e, por fim, deitar no chão frio e molhado do box. Afastamos as bocas, olhamos fundo nos olhos um do outro, enquanto arfávamos, tomando fôlego. Nos acomodamos no chão, eu de costas, ele de bruços sobre mim. Senti seu pau duro roçando minhas coxas, procurando o meu, também duro. Ele levou uma mão para baixo e juntou os dois, num aperto firme. Olhamos os dois para nossos paus unidos, pulsando. Surpreendentemente, o meu era um pouco maior, e mais grosso também. Não que o dele fosse pequeno. Éramos ambos acima da média, nesse quesito. Também dava pra sentir o saco dele, como uma almofada, cobrindo o meu.

Aquela junção de nossos sexos era muito tesuda. Eu nunca havia me sentido tão másculo, tão macho, tão homem! Era como se meu sangue fervesse de testosterona. Instintivamente, começamos a mover nossos quadris, esfregando nossos paus dentro da mão fechada do Leo. Diferente do meu, o pau dele era babão, e logo lubrificou a nossa… dá pra dizer “foda”? Nos olhávamos nos olhos, as bocas entreabertas. A expiração quente e úmida de um era a inspiração profunda do outro. Queríamos absorver um ao outro! Conversávamos por gemidos. Era fantástico ter a consciência de estar sentindo o mesmo tesão que ele, o mesmo prazer que ele. Eu envolvi suas costas com meus braços magros e apertei seu corpo contra o meu com toda pouca força que eu tinha. Eu queria me fundir com o Leo, me tornar parte dele.

Voltamos a nos beijar, e agora gemíamos um dentro da boca do outro. A sensação que emanava de nossos caralhos vinha em ondas cada vez mais fortes e intensas. Nossas pernas enroscadas se moviam quase sem controle. Senti um arrepio quente, uma eletricidade percorrendo todo meu corpo. Agarrei a bunda do Leo com as duas mãos, e explodi num gozo intenso. Como eu nunca havia sentido antes, nas minhas punhetas solitárias. Imediatamente, o Leo gozou também, urrando de prazer, a cabeça erguida, inclinada para trás. Eu, ainda sentindo os últimos espasmos do meu próprio orgasmo, levantei um pouco o rosto e abocanhei o seu proeminente pomo de Adão. Beijei e saboreei mais aquele item exclusivo da masculinidade do Leo, como se fosse uma fruta fresca e suculenta. Ele voltou o rosto pra baixo e sequestrou minha boca em um beijo que, não sei como, me transmitiu um sabor adocicado, até então desconhecido para mim. Nossos gemidos, agora, soavam como agradecimentos mútuos por aquela experiência maravilhosa que tínhamos proporcionado um ao outro.

Sendo maior que eu, o Leo deu um jeito de se aconchegar todo em mim, me cobrindo inteiramente com seu corpo delicioso. Nossos espermas misturados faziam nossos ventres deslizarem. Nossos paus hipersensíveis, já libertos da mão forte do Leo, ainda pulsavam unidos. Leo pousou seu rosto sobre meu ombro direito, e eu levei minhas duas mãos à sua cabeça para afagar seus cabelos úmidos. A satisfação que eu senti naquele momento foi uma coisa única. Eu queria falar alguma coisa, fazer alguma coisa, mas tudo que eu conseguia fazer era ficar ali, em silêncio, totalmente entregue ao Leo. Eu não queria mais nada na vida. Tudo que eu queria era ficar ali, com ele, para sempre. Tinha descoberto o verdadeiro propósito de minha existência: simplesmente, sentir o Leo!

Nós dois quase adormecemos, ali, no chão daquele box do banheiro da arquibancada do ginásio da universidade. Em tempo do zelador chegar e nos flagar. Mas o Universo colaborou com nossa felicidade, e ninguém apareceu. Éramos só nós dois ali. Só nós dois em todo o mundo. Muito lentamente, fomos saindo do transe do amor. Léo saiu de cima de mim, sentou-se ao meu lado, respirando fundo. Eu também me sentei. Nos olhamos e rimos feito bobos. Já estávamos quase que totalmente secos de água, mas ainda melados de porra.

“Agora vamos ter que tomar outro banho.” Eu disse.

“Pra quê?”

“Pra limpar essa porra toda, ora!”

“De jeito nenhum!”

“Como?”

“Porra não é sujeira. É a nossa essência de machos!”

“Tá de brincadeira!”

“Não, é sério. Quero sua porra junto com a minha grudadas em mim o resto do dia!”

Ele disse isso alisando nossos espermas em sua barriga. “É uma maneira de levar uma parte de você comigo.”

“Você está certo.” Eu cedi. E pensei, “Deus, como eu amo esse cara!”

Vestimos nossas roupas em silêncio. Quando o Leo me diz, “Tem aquele pente aí?” Eu pego o pente na mochila, mas não entrego a ele. “Deixa que eu faço.” E começo a realizar minha fantasia secreta, de pentear aqueles cabelos negros. De tanto observá-los, admirá-los nos últimos meses, eu sabia exatamente em que altura da cabeça o Leo repartia o cabelo do lado esquerdo, exatamente como ele alinhava cada mecha, como ele dispunha o cabelo na parte de trás da cabeça. No final, ele nem se deu ao trabalho de olhar no espelho pra ver se eu tinha feito certo. Um voto de confiança. Ele simplesmente sorriu, pegou o pente de minha mão e disse, “Minha vez.” Leo demonstrou que, ele também, tinha prestado atenção em como eu fazia. Penteou direitinho meu cabelo cacheado para trás, tentando domar as mechas que, ao final, sempre se rebelavam. A carícia de sua mão deslizando em minha cabeça era uma delícia!

Terminado aquele ritual, peguei o pente, guardei na mochila. Virei pro Leo e perguntei, aflito: “Como vai ser, a partir de agora?” Nós dois sabíamos que havíamos atravessado um Rubicão. Eu sentia, ao mesmo tempo, um frio na barriga e uma empolgação sem tamanho.

“Eu não sei.” Ele respondeu, sério. “Só sei de uma coisa, cara.” Ele segurou meu rosto suavemente com uma mão. “Eu te amo, e quero ficar com você. Não importa o que aconteça.”

Sorri de orelha à orelha. Ele correspondeu meu sorriso. E, só pra oficializar, respondi, “Também te amo. E quero ficar com você. Não importa o que aconteça.”

Demos as mãos e saímos daquele banheiro. Saímos para a vida! Dois garotos cheios de si. Sem consciência alguma de como éramos ingênuos. Mas nos mantivemos fiéis um ao outro, ao pacto de amor que fizemos naquela tarde.

Hoje, eu não tenho mais cabelos, e os dele são grisalhos. Mas ainda guardo, numa gaveta do criado-mudo, ao lado de nossa cama, aquele pequeno pente de bolso que, trinta anos atrás, emprestei pra um cara exibido no banheiro do nono andar.

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Comentários

Foto de perfil de Tito JC

Eu sou autor, mas como leitor, eu sou muito atraído por títulos de histórias. Ao contrário da maioria dos leitores de contos eróticos, títulos inusitados me chamam a atenção e foi assim que cheguei até esse texto maravilhoso. Eu fico muito feliz quando descubro novidades boas aqui ou em outros sites onde escrevo. Gosto de novos autores, novas postagens de qualidade como essa. Muito bom!!! Um texto de primeira qualidade!!!

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Caramba. Que conto gostoso, que história, que escrita!! Mergulhei nesse vestiário, me senti um voyeur espiando vocês dois, de tão bem que você escreve. Poste mais!!

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Kralho, que conto foda. E i ambiente dos banheiros é exatamente assim mesmo.

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Aposto que você nos vestiários deixa os caras babando, né, Bentinho? Dá aquela pegada inocente, fica desfilando peladão..heheh

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Acredita que eu nunca nem parei pra pensar nisso? kkkk

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Sei... começa a reparar então. Um novinho gostoso que nem você não passa despercebido não! Hahaha

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Excitante, poético ótimo de ler e tentar acreditar no amor. Sucesso.

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