Theo é meu vizinho de apartamento. Theobaldo, o nome dele. Nome feio da porra! Parece nome de alguém do século XIX. Melhor Theo. Além do mais, é deus...
Depois que me separei e saí de casa, abominando qualquer espaço maior que o suficiente para eu viver, comer, dormir e trabalhar, mudei-me com um terço das minhas coisas (o resto sumiu da minha vida, numa forte crise de desapego) para um minúsculo apartamento, uma minikitinete, quase-menor que a vaga de garagem.
O primeiro contato para a locação foi com a proprietária, mas, a partir daí, tratava tudo com o filho dela, o tal do Theo – um belo guapo de seus 25 anos. Na condição de senhorio-substituto, foi várias vezes ao apartamento, resolver algum problema, ajudar na arrumação da quase-nenhuma mobília e passar o tempo, que ele pouco ou nada fazia, além de supervisionar os imóveis da mãe.
Simpático, bonito, conversador às vezes, outras macambúzio – era quase noivo. Desde o começo, fiz-lhe ver minha condição de recém saído de um relacionamento que eu pretendia ser o último da minha vida; também deixei clara minha ojeriza a convencionalidades sociais (ele vibrou – também dizia estar cagando para essas idiotices). E óbvio, deixei evidente, desde o primeiro momento, minha condição de naturista e agora que morava sozinho, minha firme disposição de usar roupa alguma em casa. Ele achou massa e pareceu não estranhar, numa de suas visitas, eu o ter recebido completamente nu.
O fato é que suas visitas ao imóvel foram além das necessidades e ficávamos conversando e conversando bobagens ou coisas sérias, às vezes filosofia e muitas vezes literatura, porque ele era doido por poesia. Eu já não usava mais roupa alguma em casa, o tempo todo, e aos poucos ele também foi se desnudando: primeiro a camisa, depois a bermuda – mas a cueca boxer ainda resistia. Eu por vezes me pegava olhando seu corpo e sentia enrijecimento, mas raramente conversávamos sobre sexo.
Eu gostava porque não tinha esse negócio de cobrança de atenção – se em algum momento que ele chegasse eu estivesse ocupado no trabalho ou simplesmente sem saco para conversar, ele sacava, pegava sem-cerimonialmente algum livro de poesia da minha biblioteca encaixotada e ia ler. Degustava cada verso, respirava fundo, fechava os olhos. Às vezes voltava a ler, outras fechava o livro. Algumas vezes eu já estava disponível e conversávamos, outras ele concluía a leitura, se vestia, fechava o livro e se mandava.
Certo dia, ele chegou (não mais tocava a campainha, já entrava direto), me deu um cheiro no pescoço (eu estava produzindo um texto, ao computador) que me arrepiou os pelos das coxas; trazia nas mãos um livro de poemas homoeróticos da Antiguidade (mostrou-me ligeiramente a capa: “Por que calar nossos amores?” – eu quis sentir nesse gesto uma cantada). Dirigiu-se ao quarto e o silêncio se fez, apenas quebrado pelo meu teclar inconstante.
A carícia no pescoço fora mais que um cumprimento para o meu corpo. Somando-se ao título do livro, eu me sentia estranhamente excitado; o pau estava a meio mastro. Desconcentrara-me, não conseguia mais concatenar ideia alguma. Salvei o texto, espreguicei-me e me levantei. Primeiro dei dois passos até a geladeira, tomei água gelada, a ver se acalmava o ardor lúbrico – inutilmente. De onde eu estava, vi seus pés cruzados sobre a cama – deveria estar lendo sentado.
Ao entrar no quarto, o quadro encantou-me. Recostado à cabeceira, cabeça enterrada nas folhas do livro, estava finalmente sem cueca e sua rola duríssima palpitava no ar – a minha acompanhou o ritmo. Sem nada dizer, aproximei-me, me abaixei e beijei a cabeça de seu pau, sentindo seu cheirinho bom – a pica reagiu à carícia, mas ele continuou lendo. Passei a lamber e em seguida a chupar seu falo, e agora gemidos discretos e requebros dengosos dos quadris respondiam ao meu afago.
Ele pôs o livro de lado, foi deslizando no leito até deitar e passou a acariciar minha nuca, pressionando-a levemente contra seu pinto, que eu sentia invadir minha garganta. Ao experimentar o gostinho salgado de sua babinha, e constatar-lhe devidamente lubrificada, subi meu corpo até seu rosto e rolou avidamente nosso primeiro beijo. Enquanto nossas bocas se comiam e nossas línguas se digladiavam, fui posicionando meu corpo sobre o dele e aprumando meu buraquinho sobre seu mastro. Ao perceber encaixado, comecei a sentar e em pouco sentia-o completamente dentro de mim.
Os movimentos de sobe e desce, de entra e sai eram cadenciados, ao mesmo tempo em que não nos largávamos as bocas, sentindo vibrar, uma dentro da outra, os abafados gemidos que emitíamos. Até que o senti mais rígido e o jato percorrer o interior de seu pênis até começar a explodir em minhas entranhas. Ele me apertava freneticamente, seu corpo serpenteava sob o meu, sua energia detonava um orgasmo intenso e belo.
Ele ofegante, eu feliz, ambos cansados, adormecemos agarrados, eu sobre ele, por alguns minutos. Ao acordarmos (não sei quem primeiro despertou, acho que foi ele), retomou o livro e leu para mim, a voz ainda embargada de prazer: “Queres fogo? Anda! Queres? Fogo é o homem. Se toco um dedo, logo acendo toda a selva, tudo o que vejo – é chama.” E nos beijamos mais e nada mais nos dissemos.
Perdi a noção do tempo...
Ele levantou-se, vestiu-se, me beijou mais uma vez e foi embora. Fiquei na cama, feliz e bem. Depois de algum tempo, levantei-me, tomei uma ducha e, sentindo-me novamente inspirado, voltei ao meu trabalho.
E tem sido assim, desde então. Vez em quando, ele aparece, sempre sem aviso. Me beija, tira a roupa, pega um livro e vai ler. Ou se não estou ocupado, conversamos. Pedimos comida e comemos juntos. Conversamos sobre seus amores, sua noiva, eu sobre os meus dissabores. Quando nos sentimos instigados pelo desejo, nossas varas em riste, nos acariciamos e nos comemos. Ele também chupa muitíssimo bem e tem um cu delicioso. Tem vez que chego em casa, ele está deitado na rede (que ele já ocupa minha casa sem eu estar, assim como ocupa meu corpo), lendo e de pau duro...
Mas não é meu namorado, nem meu amante. É um amigo íntimo. Só isso.