Luis foi surpreendido por Nando que o agarrou forte e beijou seu rosto por varias vezes, até finalmente chegar a sua boca, Kaio assistia a cena abismado, era inacreditável ver o brutamonte ali aos beijos com outro homem. Luis permanecia de boca fechada mais em nenhum minuto se desviou dos lábios de Nando, a maciez daqueles lábios e o arranhar da barba feita há dois dias lhe trazia lembranças da chácara e não demorou para o rapaz corresponder ao carinho recebido, logo estava ali entregue a Nando, beijando com fervor, o calor que subia entre seus corpos era diferente do que já havia sentido antes, era o calor da certeza de que ali nenhum sentimento era falso, Nando amava mesmo Luis e este também amava Nando.
Kaio: Tá se vocês dois já se acertaram, vamos parando com a troca de baba, que eu tenho um vôo pra pegar!
Nando: Eu também! Vem comigo meu amor, volta pra casa e vamos viver esse nosso amor juntos?
Luis: Não dá Nando. Não é que não quero viver com você, mais eu tenho que me acertar com o Ian primeiro, eu não posso ir sem me despedir dele, sem explicar o que aconteceu e me fez ir embora!
Nando: Não, você não tem mais nada pra tratar com esse cara, vamos embora agora, se você me quer mesmo, você vai deixar esse viado pra trás sem adeus, sem despedida, sem beijo de consolo, sem abraço de até mais, entendeu?
Luis: Isso parece tão errado, sinto como se apenas houvesse usado ele e agora jogado fora, mais eu vou com você...
Luis foi pro quarto e começou a arrumar suas coisas, iria voltar pra casa e viver com Nando, ele sabia que ainda sentia algo por ele, mais havia Ian, e ao imaginar o que o rapaz pensaria sentia uma dor no coração, então escreveu um bilhete e deixou-o no espelho do banheiro. Nele Luis explicava o porquê de ter ido embora, uma parte era direcionado a tia Emilia, deixava o número do celular de Ian para que ela entrasse em contato e lhe contasse todo o ocorrido.
Luis saiu pela porta do apartamento sentindo um grande aperto no coração, uma parte de si dizia que era o certo a se fazer, mais outra clamava para que ele continuasse ali e esperasse Ian voltar, pois era com ele que poderia ser feliz.
Ainda no avião Luis pensou em voltar atrás de sua decisão, mas já era tarde demais, já estava a caminho de Goiânia e teria que conviver com a triste lembrança de ter magoado aquele pobre rapaz que o escolheu para ser o seu primeiro e que o amou desde o primeiro momento que o viu.
À volta pra casa não foi da forma que Luis imaginou após conhecer Ian, parecia que um pedaço dele havia ficado no Mato Grosso, mesmo assim estava ciente de sua escolha e das consequências que isso traria.
Logo o fim de ano chegou e Luis viajou com Nando, Kaio e Vic para Caldas Novas, as águas termais, as festas e as bebidas tornaram aquela viagem significante para Luis, seus pensamentos foram clareando e novas idéias surgiram em sua mente. Sabia o que deveria fazer, estava decidido quando voltasse pra Goiânia tudo mudaria, e seria da forma que ele escolhesse.
Nas noites que passaram ali naquele lugar, Luis se entregou a Nando completamente, deixou-o saciar sua sede por seu corpo e também aproveitou aqueles momentos, sexo com um homem daqueles era estar no paraíso, e Nando demonstrava sua felicidade a quem quer fosse, fazia questão de andar de mãos dadas, beijava Luis indiferentemente do local onde estivessem e isso constrangia Luis, não estava acostumado a ser o centro das atenções e muito menos ser motivo de chacota pelas pessoas ao seu redor.
Foram nove dias de muito amor e melação. Na volta pra casa Luis fez questão de tomar algum remédio que o fizesse dormir, de certa forma a felicidade nos rostos dos três que o acompanhavam lhe trazia dor, mesmo não sabendo o porquê, preferiu evitar.
Após as festas de fim de ano e o recesso de ano novo Luis retornou ao trabalho e sua vida entrou em uma rotina já comum, trabalho, casa, casa, trabalho. Nando também trabalhava agora como personal em uma academia, e de certa forma aquele trabalho ajudou Luis a realizar os seus planos.
Era a última semana de janeiro quando Luis chamou Kaio e Marco para uma conversa, iria finalmente colocar seu plano em prática, realizar o que seu coração mandava.
Marco: Pode falar eu já imagino o que seja, estou preparado!
Kaio: Vocês estão me assustando!
Luis: Bom, a primeira coisa que tenho pra falar, é que eu resolvi aceitar a ajuda do meu padrasto e comprei esse apartamento já tem uma semana que ele está no meu nome...
Marco: Por essa eu não esperava mesmo!
Luis: A segunda coisa é sobre você Marco... Como sabe desde que completou a maioridade você não esta mais sobre minha tutoria, e já pode tomar suas próprias decisões. Acredite, eu não queria que fosse assim, me acostumei a tê-lo como uma espécie de filho...
Marco: Para né mano, você sempre será muito mais que um amigo, tu é meu irmão e acima de tudo foi o pai que o meu verdadeiro pai não foi, eu só tenho a te agradecer...
Luis: Então me deixa terminar porra...
Marco: Desculpa, pode falar!
Kaio: Vai se ferrou, o papai agora vai te dar uma taca!
Luis: Cala a boca Mané, eu ainda não terminei... Como tava dizendo você agora é livre pra fazer o que quiser e como sei que você e o Talles já contaram ao Fred que estão juntos e que pretendem morar juntos, eu estou disposto a oferecer o meu quarto pra vocês... Ele é o maior do apartamento e como casados vão precisar de todo o conforto possível...
Marco: Mas...
Luis: Não tem mas Marco, é aceitar ou aceitar, e também aquele quarto me faz lembrar muito do Mateus e eu não quero estas recordações, por isso quero que fique com ele... Agora você Kaio, lembra que prometi conversar com o pai pra você ficar aqui?
Kaio: Lembro sim, você falou?
Luis: Falei, e ele só concordou em deixar você ficar, se arrumar um trabalho e focar nos estudos, então eu tomei a iniciativa e consegui uma vaga de auxiliar de escritório no escritório do meu padrasto, por enquanto você vai ser só um estagiário, mais terá carteira assinada, salário mínimo, vale transporte e alimentação, e se você tiver um lugar fixo pra morar, eu consigo uma declaração judicial de emancipação assim você fica livre do julgo do nosso pai. Por essa razão eu transferi mais cedo o apartamento pro nome de vocês dois, a partir de agora Marco e Kaio vocês são os donos do apartamento e estão emancipados tanto de seus pais quanto de mim...
Kaio: Calma ai, como assim emancipados de você, aonde você quer chegar com essa conversa?
Luis: Ainda não é a hora de vocês saberem, mas resolvi mudar minha vida drasticamente, e não poderia começar antes de resolver a situação de vocês. Marco, o meu padrasto também vai arrumar uma vaga de trabalho pra você, assim vocês poderão sustentar seus gastos e o do apartamento sem depender de mim!
Marco: Estou igual ao Kaio, não entendo aonde você quer chegar Lui!
Luis: A questão é que eu estou voltando pra casa da minha mãe, vou morar lá com ela, por uns tempos, até esse meu rolo com o Nando se ajeitar de verdade!
Marco: Mas pra isso você não precisa sair do seu próprio apartamento, até parece que ta planejando se matar e por isso está organizando tudo antes da partida definitiva...
Kaio: Você vai se matar mano?
Luis: Não gente, não vai haver suicídio, eu não vou me matar só que eu não consigo mais viver nesse apartamento e se as coisas entre mim e o Nando se ajeitarem ele tem o AP dele logo aqui embaixo e eu poderia muito bem morar com ele!
Mesmo com todas as explicações, algo parecia estranho para Marco, e até mesmo para avoado Kaio, era como se fosse uma despedida de alguém que não vai mais voltar. Mesmo cheios das dúvidas a felicidade que Luis os proporcionou era maior, havia telefonemas a serem dados, beijos a serem distribuídos e muita festa a ser combinada.
A mudança de Luis para a casa da mãe foi surpresa não só para seus companheiros de apartamento, mas também para a própria Laís e Leo. Apenas Raul não se surpreendeu com a súbita mudança, era como se já soubesse do que estava por vir.
O mês de fevereiro era um mês festivo, mesmo com o carnaval caindo em um dia de semana, Nando organizava uma viagem para o Rio, queria comemorar o carnaval com o namorado, mais Luis preferia ficar em casa e ver o desfile pela televisão.
Nando: Por que amor? Eu não entendo, uma viagem dessas não se faz duas vezes na vida, é a chance de sairmos sozinhos, só eu e você, vamos, por favor?
Luis: To sem clima Nando, não vejo motivos para viajar, por que a gente não fica aqui no teu AP mesmo, a Vic vai viajar com o Kaio lá pra casa do meu pai, ai a gente vai ficar só, dá pra curtir da mesma forma que em um hotel em Ipanema!
Nando: Não é a mesma coisa. Sabe eu não entendo você, parece que tem vergonha de ser visto comigo, dos outros saberem que a gente namora. Logo você vem morar aqui e ainda não contou pra sua mãe sobre nós dois...
Luis: Se você vai ficar me cobrando é melhor eu ir embora, você sempre soube que sou super caseiro, pergunte ao seu irmão, ele vai dizer que quando estávamos juntos era raro as vezes que viajávamos. Muitas vezes ele viajou sozinho...
Nando: E por isso você o perdeu, às vezes um cara procura mais do que apenas sexo em uma relação sabia, do que adiante ter teu corpo, se teu pensamento se difere do meu!
Luis: Cara eu to indo, chega, não quero mais ouvir suas reclamações, se quiser ir pro Rio que vá, eu sei que eu vou estar em casa, se resolver ficar e não quiser mais brigar, me liga!
Enquanto descia as escadas Luis começou a ver que de certa forma Nando estava certo, havia perdido Mateus por abandoná-lo em suas viagens, até mesmo ás de trabalho, foi assim que Priscila apareceu na vida dele e o conquistou, ela era o oposto de Luis, era a animação em pessoa. E agora estava grávida e noiva de Mateus.
Quando Luis se quer pensou em imaginar um final assim, namorando o irmão brutamonte e preconceituoso, enquanto o tímido e fraco afrescalhado irmão caçula se casava com uma linda mulher e ainda teria um bebê.
Ainda naquele dia Luis estava sozinho em casa, a mãe e o padrasto haviam viajado para a fazenda dos parentes de Raul, como sempre todo feriado deveria ser passado na roça, Luis evitou os convites e preferiu ficar em casa, Leo estava por ai com a namorada Manu, os dois se amavam cada dia mais e Luis sentia inveja do irmão por ele ter alguém que o amasse e que ele também amasse.
Nando acabou não viajando no carnaval, ficou em casa sozinho, bebeu o feriado inteiro. Algumas vezes ligou para Luis e o ofendeu por telefone, outra vez foi até sua casa e gritou aos quatro ventos que o amava e não entendia por que tanta frieza naquele relacionamento.
Mais isso não era culpa de Luis, ele ainda se sentia dividido, seu coração em pedaços batia não só por Nando, mas também ansiava em ver Mateus, outra parte dizia para deixar todos e correr para os braços de Ian. Sentia-se sujo, imundo em ficar com Nando mesmo tão dividido. Por isso havia dado o apartamento aos irmãos, por isso havia voltado pra casa da mãe, fugia dos relacionamentos que criou ao longo do tempo, todos originados em Mateus, a pessoa que mais desejava odiar, mesmo não conseguindo, queria se afastar de tudo que lembrava o rapaz. Sabia que doía ver Nando só, sofrendo por um amor não correspondido, não da forma que ele desejava, Luis estava em frangalhos, mais uma decisão ele teria que tomar. Deitado em sua cama, fitava o teto quando uma mensagem em seu celular o tirou de sua meditação.
Nela estava escrito algo que o fez sorrir, algo que trouxe um pouco de luz ao seu coração e paz a sua alma.
“Demorei a perceber o porquê das coisas acontecerem assim, mais finalmente entendi o seu lado, espero com todo o meu coração que tudo se resolva.
So don't be scared, I'm right here /We can go anywhere, go anywhere/ But
first/ It's your chance, take my hand...
Ps: Meu amor por você ainda não encontrou um fim como você mandou ele fazer... “Te amo meu goianinho”
1: Tradução: Então não tenha medo, eu estou bem aqui/Podemos ir em qualquer lugar, ir em qualquer lugar.../Mas primeiro/É a sua chance, pegue minha mão...
https://www.youtube.com/watch?v=UAHfk_wqnuA
Naquele feriado Luis evitou Nando a todo custo. Na quarta-feira dia vinte dois, ele voltou a trabalhar, estava disposto a ficar o mais longe possível do atual namorado, tinha algumas idéias na cabeça e só assim poderia executá-las. Dessa vez não seria ele quem sofreria com as dúvidas e traições, era à hora de virar a moeda.
Era fim de expediente e Luis ainda estava na sala de Fred, os dois conversavam trivialidades do trabalho, até que a conversa tomou um rumo diferente.
Fred: Mano agora que todo mundo foi embora, tenho que te contar um babadão, to que não me aguento de vontade de contar isso pra alguém!
Luis: Babadão?! E depois eu que sou o gay né!
Fred: Cala a boca feladamãe, e deixa eu falar! Poxa tu não sabe o que aprontei ontem com a Sanmia...
Luis: Hellooooo? Esqueceu que eu sou diva mané, não tem como eu curtir as suas safadezas com uma prexeca!
Fred: Ta continua zoando, ta muito engraçado, olha como eu to rindo!
Luis: Nossa hoje eu to divando! Só no salto alto, bermudinha curta e pochete na cintura!
Fred: Porra pochete! Pra que isso carregar as moedas de dez centavos que tu vai cobrar pra alguém arrombar teu cu?
Luis: Aiai, você depois que descobriu que eu sou gay, não perde hein?
Fred: Vai me deixar falar sério agora ou vai continuar bancando a loca?
Luis: Ta fala então, ai você pegou a Sanmia e creu na noivinha?
Fred: (RISOS) Para vei, vamo fala serio, agora é seu chefe que ta falando, não suas colega do terminal do Dergo!
Luis: Então manda meu cafetão gostoso!
Fred: Porra o que te deu hoje, nunca te vi tão alegre assim!
Luis: Mano só to vivendo, cansei de ser o babaca responsável, agora eu quero é curtir minha juventude, antes que acabe uma bicha velha e caquética... Mas fala aí, o que você fez com a Sanmia, só não venha descrever tua transa, se não vai ter que me ouvir narrar as minhas com os meus bofes!
Fred: Não mano o papo é serio mesmo, ontem à noite eu levei a Sanmia pra jantar, porra foi um puto jantar, levou todos os meus dólares, serio lugarzinho caro da peste, mais valeu a pena, eu, pedi ela em casamento!
Luis: Fala sério mano? Então finalmente agora sai o casório?
Fred: Já tava na hora né, eu fui adiando desde aquela historia lá no outro escritório e acho que aquele noivado venceu, então tentei fazer tudo da forma mais especial possível, e ontem eu arrematei de vez o coração da minha pequena, a gente vai se casar em maio e eu quero você pra padrinho!
Luis: Nãoooooooooooooo manoooo, ai eu arrepiei até o cabelo do dedão! Poxa fico honradíssimo e aceito com muito orgulho, mais tem um pequeno probleminha!
Fred: Eu sei que eu vou me arrepender, mas lá vai... Qual probleminha?
Luis: Acho que nenhum dos meus bofes ficaria bem em um vestidinho de dama de honra ou de madrinha!
Fred: Serio... Você não existe mesmo! E que historia é essa de meus bofes, por acaso além do Nando tu ta pegando mais alguém?
Luis: Atualmente nem o Nando eu ando pegando, mas até lá quem sabe eu não tenha uns sete bofes, um pra cada dia da semana!
Fred: Serio mano, mais o que aconteceu entre vocês?
Luis: Falando sério?
Fred: Por favor, né!
Luis: Cara eu to testando ele, sofri demais na mão do Mateus e não quero passar por isso de novo, então to fazendo uma série de testes com ele. Quero ver se ele me ama de verdade, se vai ser sincero, fiel e não vai fazer a mesma covardia que o Mateus fez!
Fred: Poxa, e você acha isso certo?
Luis: Claro que não, eu estou me sentindo um lixo fazendo isso, mas cara a gente cai uma vez e se levanta, cai duas vezes levanta e sacode a poeira, mas se cai três vezes o cara tem que aprender a dar uma rasteira em quem te derruba!
Fred: Você ta certo, mais vai com calma, por que é fácil de mais isso dar errado e você acabar perdendo ele de verdade!
Luis: E você acha que não sei disso, moço eu abandonei o cara mais fofo que conheci, e que tinha certeza, ele me amava e jamais faria uma cagada comigo. Então vai ser do meu jeito, ele foi minha aposta e eu vou ganhar com ela!
Fred ia dizer mais alguma coisa quando seu celular começou a tocar, ele olhou o visor e viu a foto do irmão, deslizou o dedo na tela e em seguida atendeu.
Fred: Fala maninho!
Talles: Fred você ainda ta no escritório?
Fred: To sim por quê? Que voz é essa, você esteve chorando?
Talles: O Luis também ta ai?
Fred: Aqui na minha frente, por quê?
Talles: Por favor, vem aqui no AP do Marco e trás ele com você... Vem rápido, por favor!
Fred desligou o telefone, em seguida olhou apavorado para Luis, que não entendia nada da situação, esperava alguma resposta, mas ele parecia absorto em pensamentos.
Luis: Fred?! Fred?! Acorda mano! O que aconteceu?
Fred: Não sei mano... Mas vamos depressa pro AP dos garotos, parece que alguma coisa aconteceu...
Luis: Mas aconteceu o que?
Fred: Não sei, o Talles desligou antes mesmo que eu perguntasse!
Luis: Então ta esperando o que, vamos logo!
Os dois saíram correndo porta a fora, o elevador demoraria a chegar por isso desceram os cinco andares do prédio pelas escadas, acabaram na garagem onde o carro de Fred estava estacionado.
Luis: Você vai ter que me dar uma carona, o meu carro ta na oficina!
Fred: Beleza, entra ai!
Os dois saíram o mais depressa que podiam do prédio, Fred xingava cada semáforo que era obrigado a parar, Luis se agarrava firme ao banco do carro, como se temesse que o descontrole de Fred provocasse um acidente.
Luis: Vai com calma Fred, a gente precisa ta vivo pra chegar lá e descobrir o que aconteceu!
Fred não disse nada apenas sorriu de lado e diminuiu um pouco a velocidade, era horário de pico, e parecia que todos os carros de Goiânia estavam nas ruas aquele dia, demorou quase trinta minutos para chegarem até o prédio dos garotos, Luis ainda tinha o controle da garagem e abriu dando passagem para o carro de Fred.
Novamente os dois subiram pelas escadas, chegaram à porta do apartamento cansados, a respiração ofegante, Luis se quer notou quando passou pela porta do apartamento de Nando. Não bateram, não tocaram a campanhia, abriram a porta e se colocaram pra dentro, na sala estava sentado no sofá Talles que tinha o rosto todo vermelho de tanto chorar em seu colo estava Marco parecia dormir.
Kaio e Vic estavam sentados no outro sofá cada um com uma cara mais triste do que a outra.
Fred: O que aconteceu Talles, você quase nos matou de preocupação!
Talles: Fala baixo, foi um custo fazê-lo dormir... Vic leva os dois lá pra dentro e conta o que aconteceu!
Vic sinalizou para que os dois a seguissem até a cozinha, a voz da garota durante as primeiras palavras estava abafada, como se o choro preso quisesse romper suas amígdalas e gritar toda a dor que sentia.
Fred: Fala mais alto pelo amor de Deus!
Vic: Desculpa. E que estou em choque ainda!
Luis: Mas o que aconteceu Victoria?
Vic: Minha mãe ligou agora a pouco, pra contar que meu pai havia sofrido um acidente de carro, mas que graças a Deus nada tinha acontecido com ele, só que o carro... O carro que bateu nele (soluços) o homem que dirigia... Morreu (choro)!
Luis: Meu Deus, mas pelo menos o teu pai está bem né?
Vic: Não é pelo meu pai que estou chorando Lui, o motorista do outro carro, era o pai do Marco!
Luis: Meu Deus, como pode isso?!
Vic: Cara o pior é que a mãe dele ligou e contou de qualquer jeito, disse que ele deveria estar feliz que finalmente ele tinha matado o pai dele de desgosto.
Fred: Que idéia besta é essa?
Vic: Ela disse que o pai dele passou a beber desde que descobriu que ele era gay, e quando aconteceu o acidente ele estava bêbado, invadiu a pista contraria a toda velocidade e bateu de frente com o carro do meu pai, meu pai só se salvou por que o carro dele tinha air bag, agora o carro do pai do Marco já era velho, ficou destruído, ele teve as duas pernas amputadas... (choro forte)
Kaio correu pra auxiliar a namorada, e após ver que ela tinha se recomposto, procurou o irmão e disse.
Kaio: Mano a gente tem que acompanhar o Marco no velório, não podemos deixar ele encarar tudo isso sozinho, ele já disse que vai de qualquer forma, a mãe dele, a família, o povo da cidade, vão tudo apontar pra ele, rir da cara dele, ele precisa da gente lá!
Fred: O Kaio está certo Lui, eu também vou, com certeza o Talles vai querer acompanhar, eu levo eles no meu carro...
Luis: Droga, o meu ainda ta na oficina, não tem como eu ir!
Fred: Putz, no meu cabe quatro pessoas, Marco, Talles, Vic e Kaio!
Kaio: Pede o Nando pra te levar mano, ele vai assim que avisar o patrão que vai ter que faltar amanhã!
Luis: Não dá, eu nem sei em que pé estamos, não, eu vou de ônibus!
Fred: Pelo amor de Deus Lui, isso é hora pra se pensar nisso, o Marco precisa de você lá, engula esse orgulho e liga pra ele!
Luis telefonou para Nando que se colocou imediatamente a sua disposição, logo que Marco acordou Talles o levou para o banheiro e o ajudou a se lavar, depois seguiram viagem com Fred, Luis pegou a chave de Vic e esperou Nando no seu apartamento. Fred e os outros saíram às seis e meia da tarde, Nando somente retornou ao apartamento às oito horas, Luis já estava se descabelando enquanto esperava.
Luis: Ai até que enfim chegou que demora meu!
Nando: Oi pra você também... Só demorei por que tive que atravessar a cidade pra encontrar o meu chefe, o diabo do velho não atendia ao telefone, mas já avisei e agora a gente pode ir!
Luis: Por favor né?
Nando: É desse jeito que você trata o seu namorado depois de tanto tempo sem vê-lo?
Luis: Ué e desde quando você decidiu que eu seu namorado, idiota?
Nando: Nunca te achei idiota meu gatinho lindo, e você é o meu namorado sim, desde o dia em que aceitou voltar pra casa comigo!
Luis: Pensei que você mudaria de idéia depois de passar o feriado todo sendo ignorado?!
Nando: Meu anjo pensa bem, há quanto tempo você acha que eu te amei em segredo?
Luis: Sei lá, desde o primeiro soco que você me deu?
Nando: (risos) Poderia até concordar com isso, mas acredito que te amo desde o primeiro momento que te vi. E acho que desde então eu venho me acostumando ao seu temperamento, a ser abandonado, pisado, chutado e desprezado, o seu namoro com o meu irmão serviu de treino para esse nosso namoro, eu aceito todas as suas excentricidades, defeitos e qualidades...
Luis: Tá certo, se você diz eu vou acreditar, não vou mais te provocar e nem brigar com você por motivos fúteis, vou ser o maduro da relação, esse papel não combina com um brutamonte cheio de músculos como você!
Nando: Então a gente ta bem de novo?!
Luis: Sim!
Nando: Ufa, não saberia o que fazer se você continuasse me ignorando!
Quando Luis e Nando chegaram à cidade, ambos ficaram apreensivos com o que poderia acontecer ali, mesmo que nenhum dissesse algo, o outro sentia o que se passava no coração do outro. Nando temia que Luis ao rever Mateus o perdoasse e Luis temia magoar Nando.
O velório estava sendo realizado na capela municipal o que facilitou para os dois rapazes, já que não teriam que entrar na casa de ninguém, assim que Nando estacionou ao lado da capela Luis telefonou para Kaio e pediu que ele fosse os encontrar. Não demorou e Kaio apareceu na esquina seguido por seu pai, Luis se assustou ao ver o velho ali, fazia alguns meses que ele havia se mudado com toda a família para o sul.
Luis: Bença pai?
Luis Carlos: Deus te abençoe meu filho... e você não vai pedir benção pro seu sogro não senhor Fernando?
A surpresa foi geral, Luis não conseguia respirar, suas mãos tremiam, seu coração parecia que iria parar e sua face parecia um tomate super maduro, Nando também havia sido pego de surpreso e não sabia pra onde olhar, ou onde colocar suas mãos.
Luis Carlos: Francamente Luis, você achou mesmo que eu não iria descobrir, me sinto envergonhado de ter um filho que...
Kaio: Pai pelo amor de Deus vê muito bem o que o senhor vai falar!
Luis Carlos: Não me interrompa moleque, eu sei muito bem como devo falar com os meus filhos... Bem, como eu ia dizendo, você me envergonha Luis, achar que eu não o aceitaria apenas por ser gay, que eu o desprezaria, o pior de tudo, e que eu pensei que a gente havia se reaproximado, mas não, nós continuamos distantes da mesma forma, você namorou o Mateus de baixo do meu teto, e nunca me contou nada, todo mundo sabia menos eu!
Luis: Pai me desculpa, mas eu não sabia como contar, eu tinha medo de perder o senhor, e também não é só o senhor que não sabia, minha mãe e o Raul também não sabem... Eu ainda não tive coragem de me assumir, por favor, entenda!
Luis Carlos: Meu filho eu entendi isso desde o inicio, e te aceitei, você deveria ter percebido que eu não sou tão ingênuo, sempre soube de você e do Mateus...
Luis: Mas como o senhor soube e desde quando sabe?
Luis Carlos: Eu já desconfiava desde o dia na igreja que esse ai ficou te encarando (apontando a cabeça pro Nando) e tudo se confirmou quando você assumiu a responsabilidade pelo Marcola, naquele dia você se assumiu para os pais dele, e não demorou muito pra eles virem jogar isso na minha cara. Mesmo tendo sido um idiota nos últimos momentos de vida aquele homem deitado naquele caixão me foi de grande ajuda a vida toda, principalmente no momento em que tive certeza sobre você, foi ver o monstro que ele estava sendo com o filho, que me fez te aceitar e não te perguntar nada...
Luis não disse nada abraçou o pai chorando, um de seus maiores medos era perder o carinho dos pais, e agora ele sabia que pelo menos aquele pai ele não perderia jamais, que ele o aceitava como ele era.
Luis Carlos: E você senhor Fernando vai continuar calado ou vai dar um abraço no teu sogro?
Fernando: Err... é desculpa Seu Luis!
Fernando abraçou o sogro que o apertou forte contra o seu próprio corpo e sussurrando no ouvido do rapaz disse.
Luis Carlos: Uma coisa eu te falo, se você fizer o meu filho sofrer de novo ou agir como o seu irmão agiu eu juro que eu te amo ouviu?
Nando se assustou com aquilo e tentou se soltar do sogro, mas o velho o manteve firme ainda abraçado, a Nando coube apenas respirar fundo e aceitar as ameaças do sogro, depois de alguns segundos, já mais calmo surrou no ouvido do velho.
Nando: Não se preocupa sogrão, eu amo demais aquele garoto ali, pra fazer qualquer bobagem que me faça perdê-lo.
Luis Carlos soltou o rapaz, olhou bem em seus olhos sorriu e estendeu-lhe a mão direita.
Luis Carlos: Bem vindo à família Nando!
Depois daquela estranha recepção Luis entrou com o pai o irmão e o namorado na capela, havia muita gente ali naquele lugar, e Luis pode ver que o pai de Marco mesmo sendo tão arrogante como era tinha bons amigos. Mais tarde Luis descobriu que o seu pai e o pai de Marco haviam sido amigos de infância quando o velho Luis passava as férias na casa que tinham na cidade.
Luis se aproximou de onde estava Marco e Talles ali ficou abraçado ao amigo dividindo sua dor, Vic, Kaio e Nando se sentaram um pouco mais atrás dos dois rapazes, ao lado do caixão Luis viu a mãe de Marco sentada, a velha chorava copiosamente, e só se via um pouco de alegria em seus olhos quando ela olhava na direção de Marco e Luis.
Marco: Mano?!
Luis: Fala meu anjo!
Marco: Quando eu cheguei minha mãe veio falar comigo. Sabe, eu achei que ela fosse me expulsar, mas pelo contrário ela me abraçou chorando e pediu perdão... Cara doeu tanto sentir suas lágrimas caindo no meu ombro. Mano ela me contou que o meu pai mesmo quando estava morrendo não me aceitou como seu filho, ele morreu me odiando...
Marco não conseguiu mais dizer nada, a dor que ele sentia não dava pra ser medido com as lagrimas, não era só a dor de perder o pai era a dor de saber que nunca mais seria perdoado e aceito pela pessoa que sempre havia sido sua muralha, seu guia, seu mentor.
O velório levou o dia todo e a noite também, havia alguns parentes que moravam em outros estados e que chegariam no outro dia cedo.
Foi difícil para Marco continuar ali, doía muito saber que o pai havia morrido odiando-o. Algumas pessoas o olhavam com rancor, descriminação, até mesmo familiares, primos que cresceram juntos a Marco, não lhe dirigiam a palavra, todos pareciam contagiados com o ódio do defunto.
A mãe do rapaz parecia perceber o que acontecia, em certo momento ela se levantou de seu lugar ao lado do caixão, foi ate onde estava o filho, e o pegou pela mão levando-o ate o lado onde o pai jazia dormindo eternamente, em seu ouvido ela sussurrou: “Quero que você, seu namorado e seus amigos levem o caixão na hora do sepultamento, já chega de preconceitos, não quero viver mais com isso...”
Marco não disse nada apenas chorou abraçada a mãe.
Em certa hora da madrugada Talles já não se aguentava mais de pé, Kaio dormia debruçado sobre Vic, todos estavam exaustos, precisando de um banho, foi quando Nando teve a ideia de irem para a casa de seus pais e descansarem um pouco.
Luis: Mas amor, eu não acho que isso seja uma boa ideia!
Nando: Você diz isso por causa do Mateus que está lá, ou é por causa dos meus pais?
Luis: Não vou mentir, se pudesse evitar de encontrar com eles eu agradeceria!
Nando: Meu amor não da pra ficar fugindo sempre, uma hora ou outra eles terão que aceitar nosso relacionamento, ou morrerão como o pai do Marco, mas se bem que isso não me importa. A única coisa que me basta é ter você comigo e minha irmã que amo tanto!
Luis: Você ta certo, e também eu não tive a conversa definitiva com o Mateus, talvez seja essa a hora pra isso!
Nando: Eu disse encarar, não procurar confusão, e eu também não sei ao certo se confiaria em vocês dois conversando...
Luis: Pode parar né? Estou com quem agora?! Com ele que não é, então vê se confia mais no teu taco manezão!
Kaio: Viu tomou papudo!
Nando: Volta a dormir bebe babão!
Kaio mostrou a língua pro cunhado e fez uma cara de criança com sono que foi praticamente impossível segurar o riso, se não fosse o local e a ocasião, todos teriam rido do eterno crianção. Quando se preparavam para sair o pai de Luis surgiu novamente na frente da turma.
Luis Carlos: Vocês já vão?
Nando: Não, nós apenas vamos ate minha casa descansar um pouco!
Luis Carlos: Luis você poderia passar a chave do seu apartamento, eu sua madrasta queremos ir antes do enterro, minha saúde não me ajuda muito sabe...
Luis: E tem jeito não pai, eu não tenho mais apartamento, ele agora é do Kaio e do Marco, eu moro com a minha mãe agora!
Nando: Por pouco tempo eu posso garantir!
Luis Carlos: Então me passa a chave você Kaio, eu vou ficar lá até amanhã à noite, se vocês puderem voltar antes, gostaria de ter uma reunião em família com vocês, e isso inclui você Nando, Victoria e o Marco também.
Nando: Pode deixar seu Luis eu garanto que estaremos lá...
Todos se despediram do seu Luis e caminharam para a casa dos pais de Nando, naquela hora todos deveriam estar dormindo, então Nando preferiu entrar pelos fundos para não fazer barulho, as luzes do andar de baixo estavam todas apagadas, e pé ante pé, Vic e Kaio subiram para o quarto da garota, Nando arrumou o quarto de hospedes para Talles e logo foi com Luis para o seu antigo quarto.
Nando: Incrível, está tudo como eu deixei... pensei que não haveria mais nada meu aqui!
Luis: Amor, seus pais não são desnaturados que abandonam um filho apenas pela opção sexual dele, não fizeram isso com o Mateus quando ele estava comigo e não farão com você, se bem que sua mãe me dá medo...
Nando: Não se preocupe meu anjo, eles não devem estar em casa, duvido que eles perderiam a chance de ir a um velório, ainda mais depois que meu pai decidiu se lançar candidato a vereador na eleição deste ano!
Luis: Fico mais aliviado, mas mesmo assim vamos dormir logo pra acordar bem cedinho e voltar pro velório, o Marco precisa da gente lá!
Nando: Não dá tempo nem pra uma brincadeirinha?
Luis: Não! Agora o máximo que da pra fazer é dormir de conchinha!
Nando: Seu malvado, sorte sua que eu adoro o cheiro do seu cabelo!
Os dois se despiram ficando apenas com as cuecas e deitaram na cama, havia um cheiro de poeira no quarto, como se estivesse fechado há muito tempo, mas aquilo não atrapalhou os dois a dormirem, logo Nando tocava uma sinfonia de roncos nos ouvidos de Luis, que vencido pelo cansaço se quer se incomodou com o barulho do namorado.
Algumas horas depois Luis acordou sufocado, havia algo apertando seu pescoço, ou melhor, enforcando-o. Com muito custo se viu livre do que lhe tirava o ar, Nando o abraçava forte enquanto sonhava e praticamente tentava matá-lo enquanto dormia. Depois de se livrar dos braços fortes de Nando, Luis ainda tentou recuperar o sono, mas parecia impossível, depois de um tempo resolveu se levantar e tomar um pouco de água gelada.
Ficou receoso de encontrar alguém da casa, então desceu sorrateiramente até a cozinha, já no cômodo ficou um pouco despreocupado, dificilmente Mateus ou Nando acordariam com algum barulho, os dois dormiam feito pedra a noite toda.
Luis estava sentado com o copo nas mãos, estava de costas para a porta da cozinha, e não ouviu ou viu quem se aproximava, até ser surpreendido pelas luzes se acendendo.
Rapidamente Luis se virou para ver quem estava atrás dele, e para sua surpresa a pessoa que ali estava era sua conhecida de outros carnavais, ou melhor, de outras festas, nada mais nada menos de que DJ Priscila Pink, a mulher que havia roubado Mateus.
Priscila: Boa noite Luis!
Luis: Bo... bo... Boa noite!
Priscila: Relaxa cara, não tem por que ficar envergonhado de estar aqui, você tem todo o direito vir aqui, de dormir ou até mesmo de andar pelos cômodos da casa apenas de cueca!
Luis: Nossa me desculpa, nem percebi, perdi o sono e desci pra tomar água.
Priscila: Não precisa se explicar meu anjo, e também não precisa ter medo ou raiva de mim, ambos fomos enganados pelo Mateus então nenhum de nós tem a culpa pelo que aconteceu ano passado.
Luis: Você tem razão, mas vejo que você o perdoou. Se não tivesse não estaria aqui agora!
Priscila: Ai é que você se engana, eu não poderia perdoar o Mateus se ele tivesse um caso com uma mulher, imagina sendo com um homem!
Luis: Então o que você faz aqui mulher?
Priscila: Olha pra mim querido, vê isso (acariciando a barriga) é o resultado das mentiras do Mateus, eu estou grávida de quatro meses...
Luis: Eu havia ouvido qualquer coisa a respeito disso, mas isso não explica o fato de você estar aqui!
Priscila: Você não imagina que inferno virou minha vida depois daquela festa meu anjo, eu chutei o Mateus, mas o fantasma dele me perseguiu, e quando eu descobri estar grávida. O patife do meu irmão o Douglas, sei que você se lembra dele, ficou jogando na minha cara que eu ia ter um filho de um veado escroto e não sei o que mais, um dia meu pai escutou essa conversa, e veio pra cima de mim querendo explicação. Cara quando eu vi já tinha vomitado tudo, contei sobre o Mateus, sobre você, contei sobre as chantagens do Douglas, sobre as drogas que ele dava ou vendia pro Mateus, tudo mesmo.
Priscila: Nossa minha casa virou um inferno e no fim das contas eu não aguentei mais viver lá, sai de casa sem dinheiro e como diz a musica sem lenço nem documento.
Luis: E então você acabou vindo parar aqui?
Priscila: Isso, o Mateus ofereceu a casa dele pelo menos ate o bebe nascer!
Luis: Mas vocês não voltaram? Não rolou nem um bis?
Priscila: Confesso que ele tentou muitas vezes me reconquistar, e que eu ate desejei isso, mas não dá cara, eu tenho nojo dele, não pelo fato dele ser gay, mas sim o que ele fez comigo e com você. Eu não vejo só o meu lado, mas também imagino o que você passou quando soube de tudo, e o pior é que quando vim pra cá, o Mateus me deu um pendrive com toda a historia de vocês, segundo ele um amigo seu escrevia em co-autoria com você e publicava no Orkut, certo?
Luis: Certo, mas eu não fazia ideia de que ele sabia do conto!
Priscila: Parece que ele descobriu depois da festa, quando voltou ao seu apartamento e você não tava, ai segundo ele foi procurar no seu PC se você havia visitado algum site de passagens aéreas ou conversado com alguém, ai ele viu no histórico varias visitas a uma pagina chamada trident de melancia, foi então que ele descobriu tudo.
Luis: Não me importo, eu já não participo mais do conto, nem mantenho contato com o Marcelo, justamente por causa do Mateus, ele teima em terminar o conto, e tem a ajuda dos pestes dos meus irmãos e amigos para fofocarem minha vida pra ele, não posso fazer nada contra por que eu aceitei que ele escrevesse essa historia não foi!
Priscila: Como eu dizia: após ler tudo aquilo eu fiquei com mais ódio dele ainda, tudo que vocês passaram pra ficar juntos, todo aquele teatro sobre drogas e amor pra depois te trair, me usar?
Luis: Eu entendo, também não sei se poderei perdoá-lo um dia, pelo menos eu pude conhecer o Nando, e estou feliz ao lado dele, pelo menos isso foi bom na minha relação com o Mateus!
Priscila: Pois é, eu às vezes me pego pensando no quanto o Nando era um estúpido com você e depois toda aquela birra se transformou em amor, é uma historia quase inacreditável!
Luis: Também acho... Priscila eu posso te dar um conselho?
Priscila: Claro.
Luis: Tenta aplacar esse ódio que você sente pelo Mateus, vocês terão um filho, e ele vai precisar que os pais no mínimo se deem bem, além do que todos os seus sentimentos são compartilhados com o feto, não o deixe nascer com rancor e ódio contra o pai, eu cresci me sentindo assim, você deve ter lido no conto né, então o amor de um pai é super importante para uma criança, e a imagem que a mãe traz acaba passando pra criança e a influenciando negativamente!
Priscila: Vou pensar em tudo isso que você me disse, mas agora eu vou me deitar, vivo enjoada e com tonteiras que só passam quando estou deitada...
Luis: Tudo bem! Olha se um dia estiver na capital me faz uma visita ta, eu ainda moro no mesmo prédio, só que no andar de baixo, e alem do mais creio que serei tio desse pedacinho de gente e adoraria poder vê-lo crescer!
Priscila: Você é mesmo uma pessoa incrível, deveria me odiar e odiar essa criança, mas pelo contrário quer o bem pra gente e até pro crápula do pai dele.
Luis: Depois que a gente leva uns tombos na vida, passa a ver além do nosso próprio umbigo, já fiz canalhices como às do Mateus, eu acredito que essa seja a razão de não odiá-lo como pensei que odiaria, e também a razão de ter dado uma chance pro Nando. Você deve ter lido no conto sobre a Laila, o que eu fiz com ela não há perdão, ela acumulou um ódio mortal, fez maldades inimagináveis, perdeu nosso filho e ainda a chance de ser mãe e mesmo assim me procurou e se desculpou comigo, me perdoou pelos meus erros e até quis minha amizade, ela sim é uma pessoa incrível, não dá pra continuar o mesmo após vivenciar isso, né?
Priscila: Não sabia do perdão, mas fico feliz, por mais que no conto a visão do autor a transforme em um tipo de monstro, assim como o Nando ela me parecia apenas uma pessoa apaixonada, mas mesmo assim não sei se conseguirei perdoar o Mateus um dia, talvez no futuro possamos ser amigos, mas o amor que eu sentia por ele era como essas xícaras de porcelana que a dona Lia tanto ama, depois de quebrado não há como concertar!
Luis: Eu te entendo, mas como dizem o tempo é remédio pra tudo... Uma ultima pergunta Priscila, o Mateus esta lá em cima?
Priscila: Não, ele e os pais estão no Rio de Janeiro, aquele malandro usou o nosso filho que nem nasceu ainda pra conseguir um apartamento dos pais, ele me ligou hoje de manhã pra comentar sobre o apartamento em Copacabana, sabe era como se quisesse esfregar na minha cara o que eu perderei ficando longe dele!
Luis: Legal, fico feliz por ele, mas é difícil acreditar que ele tenha se tornado essa pessoa tão mesquinha e cruel!
Priscila: Ou talvez ele sempre tenha sido assim e a gente é que nunca notou... em um livro que li quando estava na faculdade à autora dizia algo mais ou menos assim: “Para os psicopatas, as outras pessoas são meros objetos ou coisas, que devem ser usados sempre que necessários para a satisfação do bel-prazer.” Não sou psiquiatra pra afirmar que ele seja um psicopata, mas às vezes me da medo ver a frieza das suas ações!
Luis: Acho que já li isso em algum lugar, mas mesmo que se encaixe na nossa realidade, eu prefiro acreditar que o Mateus seja apenas uma criança malcriada que se cansa fácil de um brinquedo e deseja o do irmãozinho!
Priscila: Pode ser... Me desculpa, mas eu tenho que me deitar mesmo Luis!
Luis: Eu vou com você!
Luis subiu as escadas, acompanhado por Priscila e depois de deixá-la em seu quarto voltou para o quarto de Nando. O namorado estava deitado com os braços sob a cabeça, os olhos estavam fechados, mas sua expressão era de raiva, Luis sentou-se na cama e preparava-se para deitar quando ouviu Nando respirar fundo, como se criasse coragem ou apenas tentasse manter a raiva em um nível suportável.