Então aquele menino dos olhos azuis se levantou para se apresentar.
- Meu nome é Felipe, tenho quatorze, pois estou adiantado um ano e eu já estudava aqui antes. Aliás, sempre estudei nesta escola, desde o maternal.
Sua voz era tão calma, doce, ele falava quase sussurrando, o que combinava com sua carinha de anjo.
Ele era bem branquinho, com cabelos de franjinha na testa, meio dourados, mas com certeza eram seus olhos que me chamavam mais a atenção.
Nunca tinha visto olhos azuis assim.
Um azul forte demais e brilhante.
E era lindo. Nunca tinha visto um rapaz como uma beleza daquelas. Realmente parecia um anjo. Outra coisa que me chamou a atenção nele foi seu estilo: uma calça jeans desbotada, um All-Star preto e um moletom roxo e verde amarrado na cintura, bem comum, mas lindo.
Ele voltou a me olhar e até ensaiou um sorriso, mas me virei rapidamente, eu não queria em envolver com ninguém. Eu estava fechado para balanço e não sabia a data de reabertura.
Nas próximas duas aulas que se seguiram, houve mais apresentações, só que os professores já foram começando com a matéria. Eu prestava muita atenção, não queria desperdiçar o dinheiro que minha tia estava gastando comigo.
No recreio descobri que a sala era dividida em grupinhos e eu acabei ficando no que a Renata havia acabado de formar.
Percebi que a todo momento o Felipe me olhava e sorria. Eu sentia meu rosto corar e virava o rosto. Era uma sensação boa. Não tinha como ter certeza que ele tinha segundas intenções, mas eu adorava o jeito como ele me olhava e sorria. Eu me sentia admirado, querido...
Pode parecer pouca coisa, mas depois dos últimos fatos isso se tornou meu calcanhar de Aquiles.
- Aquele menino está me olhando demais, está ficando chato.
- Hã?
- É aquele da nossa sala, que senta no fundo, Felipe. Ele fica me olhando e sorrindo. Não gostei tanto dele assim.
Era a Renata.
Ela achou que Felipe olhava para ela. Eu sabia que não era porque ele tinha me olhado algumas vezes quando ela estava longe.
Eu sabia que era pra mim, e aquilo fazia meu coração bater mais rápido.
Eu não acreditava que aquele menino lindo estava me dando bola. Mas eu não podia. Eu não estava pronto para outro relacionamento. Eu não queria me encantar novamente por alguém para que logo depois eu voltasse a quebrar a cara.
Sem contar que eu não podia dar tanta bandeira assim, eu ainda não tinha decidido se ia contar sobre minha opção sexual ou não.
- Ah, deixa pra lá, depois ele desencana. - desconversei.
- Não gosto do jeito que ele me olha.
- Deve ser um doido qualquer.
- É, tem razão.
- Vamos voltar para a sala, o sinal já vai tocar.
- Vamos sim.
As três aulas seguintes foram tranquilas. Só que eu olhava para o Felipe toda vez que tinha oportunidade, e muitas vezes nossos olhares se cruzavam. Lógico que quando isso acontecia eu tratava logo de disfarçar.
Era meu ato falho.
O dia não demorou a passar. Tinha sido bem melhor do que nos meus pesadelos. No fim da aula me despedi de Renata e das outras pessoas que havia conhecido ali e fui embora. Não me atrevi a olhar novamente para o Felipe. Saí da escola e minha mãe já me esperava.
- Como foi seu primeiro dia?
- Foi muito bom, já fiz até amizade com uma menina, Renata. - falei enquanto íamos caminhando para casa.
- Isso é bom, contou para alguém sobre...
- Não. - interrompi - Ainda não é hora.
- Entendo. E teve alguém que te despertou algum interesse especial?
- Não. - menti pensando no Felipe.
O apartamento da tia Marta não ficava muito longe da escola, então chegamos rápido. Minha mãe foi fazer o almoço e eu a ajudei na cozinha, onde ficamos conversando sobre os detalhes do meu primeiro dia de aula. Minha tia logo chegou e nós três almoçamos juntos.
Mais tarde minha tia voltou ao trabalho.
Ela tinha uma produtora de eventos, e minha mãe saiu dizendo que ia procurar um emprego.
Passei a tarde arrumando o resto das minhas coisas.
Recebi um telefonema dos meus avós, que só perguntaram como estavam as coisas e diziam que iriam nos visitar algum dia.
Decidi não perguntar do meu pai, e como eles também não tocaram no assunto, presumi que as coisas continuavam iguais. No meio da tarde quem me ligou foi o Zeca.
- Alô?
- Oi Bernardo, é o Zeca.
- Oi Zeca! E aí?
- Comigo está tudo bem; voltei às aulas hoje.
- É eu também.
- E como foi?
- Muito bom, eu estava com medo, mas fui bem recebido. Fiz até uma amiga, Renata.
- Que bom, ninguém mexeu com você não, né?
- Como assim?
- Uai, Bernardo, até parece que você não sabe. Pessoas como nós costumam ser discriminadas e alvo de brincadeiras na escola.
- Bom, não aconteceu comigo, é que não perceberam.
- Melhor assim. E nessa sua nova escola tem gatinhos?
- Muitos! - respondi rindo.
- Olha! Menino safado! - ele riu também.
- Safado nada, não tenho segundas intenções. Estou em um período celibatário no momento.
- Ai, que bobagem. Mas deixa para lá. Bom, algum desses seus lindos colegas chamou sua atenção?
- Hum... - demorei mais do que devia para responder.
- Ah, se entregou! Pode ir contando tudo!
- Ah, não é nada demais; é esse meu colega de sala, Felipe, que ficava me olhando e sorrindo.
- Hum, ele é bonito?
- Lindo! Lindo demais, Zeca. - corei com o entusiasmo com que respondi. - Os olhos dele são azuis escuros e brilhantes. Mas não é um azul assim comum, não. É um azul bem forte mesmo. E ele é loirinho e tem carinha de anjo, Ele é lindo e lindo e mais lindo ainda....
- Ahh, percebi um interesse mútuo aí.
- Nem vem, como eu disse, estou em um período de celibato.
Aquele nosso papo besta seguiu por mais alguns minutos e depois voltei minha atenção para arrumar minhas coisas.
Liguei o rádio para suprir a falta que a música me fazia e começou uma música que fez lembrar imediatamente do Felipe:
“Quer saber quando te olhei na piscina
Se apoiando com as mãos na borda
Fervendo a água que não era tão fria
E o azulejo se partiu porque a porta
Do nosso amor estava se abrindo
E os pés que irão por esse caminho
Vão terminar no altar, eu só queria me casar
Com alguém igual a você”
(No recreio – Nando Reis)
Dei um sorriso bobo pensando na letra da música e continuei a arrumar minhas coisas.
A tarde passou rápido. Minha mãe chegou feliz por ter conseguido um emprego para o qual minha tia a havia indicado. Ela ia ensinar piano em uma pequena escola de música. Não era grande coisa, mas fazia ela se sentir melhor.
Depois tia Marta também chegou e jantamos juntos.
Fui dormir ansioso para que o dia amanhecesse logo. E pela primeira vez, em muitos dias, consegui dormir com o coração leve.
Na manhã seguinte minha tia fez questão de me levar. Ela dizia que a escola ficava no caminho para a academia onde malhava antes de ir trabalhar.
Cheguei na escola cedo e entrei na sala. Tinha poucas pessoas, mas Renata já tinha chegado e ficamos conversando sobre bobagens.
Apesar do nosso papo, eu estava distraído. Felipe ainda não tinha chegado. Assustei-me com o fato de estar ansioso pela chegada dele.
Eu não queria me apaixonar de novo, me machucar de novo.
Mas mesmo pensando assim, senti meu coração se apertar à medida que o tempo passava e ele não chegava.
Ele chegou. Um pouco esbaforido, de bochechas vermelhas e com os cabelos ainda mais desarrumados, mas sempre lindo. Ele sorriu quando me viu olhando para ele, mas rapidamente voltei minha atenção para a conversa com a Renata antes que um sorriso espontâneo denunciasse meus sentimentos.
O professor de matemática veio logo atrás e Felipe foi se sentar no seu cantinho.
A aula foi passando e eu seguia pensando nele. Hora ou outra trocávamos olhares rápidos, mas eu sempre disfarçava. Na segunda aula me levantei e fui ao banheiro. Entrei numa cabine e fiz xixi, mas quando eu ia saindo ele apareceu na minha frente.
Felipe foi mais rápido e entrou, nos trancando lá dentro.
Me assustei com seu ataque:
- O que você está fazendo?
- Eu não sei. Desde ontem quando te vi eu meio que perdi a cabeça. Nas últimas vinte e quatro horas só consegui pensar em você. Eu acho que estou ficando louco.
- Mas...
Não tive tempo de protestar. Ele veio com força e selou meus lábios com os seus.
Eu tentei resistir, mas seu hálito fresco e seu jeito suave foram me ganhando até eu abrir a boca.
Nossas línguas se tocaram começando uma delicada massagem. Foi então que veio tudo à minha cabeça de uma só vez. Eu me lembrei do meu beijo com Vítor, ainda no palco... me lembrei das palavras de Mariana, das risadas das pessoas, do meu pai me expulsando de casa, da minha última discussão com Vítor. Foi muito para a minha cabeça, eu o empurrei e ele caiu assustado contra a porta do box.
- O que foi? Você não quer isso?
- Eu... Eu não sei... - ainda estava assustado.
- Você é gay ou não?
- Não.
Eu falei sem pensar muito; precisava manter aquela mentira. Ele riu sem graça.
- Era tudo o que precisava: um gay enrustido. - ele falou se levantando.
- Eu sou homem! Não faça isso novamente!
- Pode deixar. Me desculpe mesmo, machão.
Ele falou indo embora; dando ênfase à última palavra.
Voltei a fechar a porta da cabine e me sentei no vaso sanitário.
Escondi meu rosto entre minhas mãos e fiquei relembrando tudo. Por que eu tinha feito aquilo? Ele me pareceu um garoto tão bom... Talvez fosse o que eu precisava para esquecer tudo o que tinha acontecido.
Não consegui chorar.
E eu queria chorar.
Por pra fora minha frustração por ser tão burro e ter dito aquela idiotice. Mas eu não conseguia. As lágrimas tinham secado. Me contentei em apenas fechar os olhos me penalizando pelo que havia dito.
Só saí de lá quando ouvi o barulho da multidão passando pelo corredor. Já era recreio. Saí do banheiro e encontrei com a Renata.
- O que aconteceu, Bernardo?
- Hã?
- Você saiu para ir ao banheiro e não voltou.
- Ah, é que eu estava passando mal, então fui na enfermaria.
- Ah tá.
Eu vi Felipe com seu grupinho, mas ele evitava me olhar.
“Mas que porra! Ele tinha que ter feito aquilo? Me beijar de repente? Essas coisas não acontecem assim. Que se foda, ele achou o que estava procurando.” - Pensei.
Ignorei ele também. Eu não era obrigado a aturar aquilo. Passei o resto do dia de cara amarrada, assim como ele.
Voltei para casa sozinho. Já tinha aprendido o caminho. Minha mãe me esperava com o almoço pronto.
Disfarcei meu mau-humor, e ela pareceu não ter percebido.
Depois do almoço fui me deitar e passei o resto do dia pensando no Felipe. Em apenas dois dias de aula eu tinha conhecido um menino que tinha feito meu coração acelerar e logo depois já brigamos. Eu não queria nem imaginar como seriam meus próximos três anos naquela escola.
Com o passar dos dias a tensão entre eu e Felipe foi aumentando. Não que nós nos odiássemos, mas a simples presença dele me gerava um incômodo enorme.
Meu corpo ficava elétrico, inquieto e meu coração já acelerava. Eu não tinha a menor ideia do que eu sentia por ele. Eu sabia que essa situação ruim entre nós poderia ser resolvida com um simples pedido de desculpas, mas o orgulho falava mais alto. Eu não queria ser quem dá primeiro o braço a torcer, então, se ele quisesse desculpas, teria que me pedir desculpas antes também.
Fevereiro foi passando e chegando o carnaval.
Meus avós vieram nos visitar, só para matar as saudades mesmo.
Nem sinal do meu pai.
Minha amizade com o Zeca foi aumentando. Como éramos os únicos amigos gays um do outro, servíamos para trocar confidências e desabafar. No final de março ele insistiu em me apresentar o cara da faculdade dele com quem ele estava de rolo. Combinamos de ir a um shopping perto de onde eu morava. Zeca me buscou de carro e ficamos conversando na praça de alimentação enquanto o tal Léo não chegava.
- Já sabe quando vai se acertar com o Felipe?
- Provavelmente nunca.
- Ah, não fala assim; você tem que engolir esse orgulho.
- Sem chance, ele me chamou de gay enrustido.
- E agora você está parecendo uma criança emburrada com um apelido feio que te deram. - ele zombou.
- Ah, mas tinha que ser daquele jeito? Foi tudo no susto, ainda não estou pronto para isso.
- Eu te entendo, claro; eu estava do seu lado quando tudo aconteceu. Mas ele não sabe. Como você pode esperar dele um pedido de desculpas assim? Na cabeça dele você é o único errado, por isso insisto que você dê o primeiro passo.
- Ah, não sei.
Zeca conseguiu me deixar mais confuso. Por um lado tudo que ele dizia era verdade, mas meu orgulho era maior. Talvez a questão nem fosse meu orgulho, mas sim o medo que eu tinha de me relacionar novamente com alguém. Tudo estava muito recente ainda.
- Olha o Léo chegando.
Ele se levantou e abraçou forte o rapaz que tinha chegado até a nossa mesa. Ele era moreno claro, parecia ter um corpo normal e cabelos cacheados castanhos. Era bonito; não lindo, mas bonito sim. Seu rosto era uma incógnita, ele não demonstrava alegria nem tristeza, apenas um sorriso ambíguo.
- Você deve ser o Bernardo. Prazer, Léo. - disse oferecendo a mão.
- Prazer. - respondi lhe cumprimentando.
- O Zeca fala muito de você.
- De você também.
Ele sentou e nós três começamos a conversar. Léo me olhava de um jeito estranho. Eu não sabia dizer o que era aquela energia negativa que ele me transmitia, mas eu não gostava. Embora estivesse sempre sorrindo para mim, seus olhos me diziam outra coisa. E não era uma boa coisa.
Zeca parecia não perceber nada. Ele estava feliz por, aparentemente, eu e Léo estarmos nos dando bem. Decidi não incomodá-lo com minhas dúvidas; eu não tinha o direito de tirar dele aquela felicidade.
Depois Zeca me levou em casa. Já era fim de tarde, e enquanto esperava que minha mãe e minha tia voltassem do trabalho, me deitei na cama e fiquei pensando sobre as palavras de Zeca.
Eu teria que dar o primeiro passo?
Ou ainda; eu estava pronto para dar o próximo passo?
Mesmo depois de quase dois meses, tudo estava muito recente na minha cabeça e me apaixonar novamente não estava nos meus planos, mas quem disse que a gente manda no coração?
Desde que eu conheci Felipe eu só pensava nele, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana.
No dia seguinte quando cheguei na escola, vi que havia um burburinho entre meus colegas de sala. Fiquei curioso, mas resolvi ficar na minha. Logo Renata já chegou me contando as novidades:
- Ai, Bê, já está sabendo?
- Não, o quê?
- Vai rolar festinha na sexta! - ela falou animada.
- Que legal.
- Ai, mais animação, por favor?!
- Ah, desculpa, é que não sou muito fã de festinhas.
- Ah, mas sem chance! Você vai!
- Ah, Rê, não sei não...
- Vai! Não estou te perguntando, estou ordenando.
- Ok, ok... - falei rindo - E festinha aonde?
- Na casa do Felipe.
Gelei.
- Hã?
- É, é aniversário dele e vai rolar festa lá.
- Ah, Rê, mas eu nem fui convidado... - tentei fugir.
- Ih, ninguém foi ainda, ele vai começar a convidar o povo hoje, mas é que a fofoca sempre corre antes, né? - falou rindo.
- É verdade... - respondi rindo também, mas de nervoso.
Mais alguns minutos se passaram e Felipe chegou. Lógico que o povo foi falar com ele, puxar o saco e tals, mas ainda não tinha havido nenhum convite.
O clima entre nós ainda estava estranho, e por causa disso eu tinha certeza que não seria convidado, mas lá no fundo eu tinha esperança de que ele se lembrasse de mim. As aulas foram passando e nada de convite para ninguém. O pessoal foi ficando nervoso, mas não falavam nada, até porque pega muito mal se convidar para a festa dos outros.
O recreio chegou e todo mundo foi saindo. Disse para a Renata me esperar na cantina porque eu tinha que passar no banheiro antes. Entrei numa das cabines, fiz o que tinha para fazer e quando fui sair dei de cara com Felipe me esperando. Devo ter feito uma cara de susto, porque ele foi logo se explicando:
- Não se preocupe, não vou te beijar!
Ele parecia preocupado com o que eu pensei, o que me fez rir. Ele também riu, mas o clima pesou quando acabou a graça.
- Ah, bom... - ele parecia sem jeito - Eu queria te convidar para minha festa de aniversário, sexta-feira.
Fui pego de surpresa, eu realmente não esperava aquilo.
- Hã?
- Eu queria te conv..._
- Isso eu entendi. - o interrompi -Só não esperava ser convidado.
- Por quê?
- Uai, por causa desse clima ruim entre a gente.
Ele ficou pensativo me olhando.
- Bom, podemos tentar começar de novo?
Pensei um pouco e sorrindo, respondi:
- Se você não tentar outra gracinha, podemos sim.
- Pode deixar. - ele sorriu também.
- Sexta à noite então?
- Sexta à noite. Mais tarde eu passo o endereço para todo mundo.
- Certo.
- Até mais.
Ele foi saindo do banheiro, mas uma dúvida me veio à cabeça.
- Felipe!
- Sim? - ele se virou para mim.
- Não podia ter esperado eu sair do banheiro para me convidar?
Ele pareceu um pouco constrangido, mas riu e respondeu:
- Eu não sei o que eu sinto por você, mas sei que a pessoa que eu mais quero lá é você, por isso achei justo que você fosse o primeiro a ser convidado. Tchau.
Ele se virou e foi embora. Fiquei sem chão e me peguei com um sorriso bobo no rosto. Ele gostava de mim de verdade, me queria por perto. Só faltou eu dar pulos de felicidade dentro do banheiro. Eu estava completamente confuso sobre o que fazer, mas também estava realmente feliz pela primeira vez em muito tempo.
Quando saí do banheiro, pude perceber que ele já foi convidando um monte de gente, porque o assunto era só esse nos corredores. A Renata já estava eufórica na cantina e passou o resto do recreio explicitando sua animação.
De vez em quando meu olhar cruzava com o do Felipe, provocando aqueles risos bobos e sem motivos. No fim da aula ele me deu um tchau todo especial e eu me derreti todo. Eu estava completamente caidinho por ele.
Ia saindo da escola distraído, com a cabeça longe, quando ouvi um carro buzinar para mim. Era o Zeca. Sorri feliz, mas ele não aparentava estar no seu mais puro estado de alegria. Entrei no carro.
- Olá.
- Oi; o que você veio fazer aqui?
- Não gostou da surpresa?
- Adorei; só que realmente foi uma surpresa.
Ele riu e falou:
- Você vai almoçar comigo hoje, já avisei a sua mãe.
- Que ótimo. Isso é bom, porque tenho novidades.
- É? Pode ir contando!
Enquanto ele dirigia, eu fui contando toda a história da festa do Felipe e seu convite especial para mim.
- Fico feliz por você meu garotinho, conseguiu seguir em frente. - ele falou descendo do carro em um restaurante próximo ao centro de Belo Horizonte.
- Ah, ainda não sei como vai ser. E se ele só estiver brincando comigo?
- Bernardo, eu sei que tudo o que aconteceu está muito recente ainda e que você não se recuperou completamente, mas uma hora você tem que seguir com sua vida. E agora, que você encontrou esse menino que gosta tanto de você, é a hora.
Entramos no restaurante, e como estava cheio, nos sentamos numa mesa mais afastada.
- Você acha?
- Acho. Já está na hora de você superar tudo. Você queria uma nova vida, uma nova chance de fazer as coisas de modo certo, e agora você tem. Não desperdice essa grande oportunidade, porque ela é ofertada para muito poucos.
- Você está certo.
- Eu sei. - falou rindo.
Fizemos os nossos pedidos e percebi que ele voltou a ficar com uma carinha triste. Notei que ele me chamou para almoçar para desabafar alguma coisa, mas estava sem jeito de começar o assunto. Era uma inversão de papéis, já que era sempre eu que precisava de ajuda, mas vendo meu amigo naquele estado, decidi que era hora de retribuir tudo o que ele tinha feito por mim.
- O que foi Zeca?
- Hã?
- Eu percebi que você quer me falar alguma coisa, mas está sem jeito. Pode ir falar.
- Ah, Bernardo, não quero de encher com meus problemas.
- Está louco? - falei isso um pouco alto demais e as pessoas à nossa volta nos olharam. - Você sempre me ajuda quando eu preciso; que tipo de amigo eu seria se não retribuísse tudo?
Ele me olhou um pouco, sorriu triste e falou num suspiro:
- É o Léo.
- O que tem ele?
- Eu tive que terminar com ele.
- Uai, por quê?
- Ah, Bernardo...
- Fala.
- Bom, sabe aquele dia no shopping? - confirmei com a cabeça - Então, quando fui levá-lo embora, ele teve uma crise de ciúme.
- Como assim?
- Ele ficou com ciúme de você.
- De mim? - novamente falei alto demais - Por quê?
- Ele sabia que somos muito próximos. Já tinha contado para ele sobre a nossa amizade, mas parece que ele quis te conhecer primeiro antes de mostrar suas garras. - sua voz era triste.
- Ah, Zeca...
- No carro ele teve a ousadia de me mandar escolher entre ele e você!
- E você?
- Bom, eu estou aqui, né? Está claro quem foi o escolhido.
Fiquei com peso na consciência. Ele terminou o namoro por causa de mim.
- Ai Zeca, estou me sentindo tão culpado...
- Por quê?
- Uai, você terminou por minha causa.
- Nada disso, meu menino. Você me ajudou demais. Se isso não tivesse ocorrido, eu ia me envolver mais com ele e mais tarde quando terminássemos, porque isso ia acontecer uma hora ou outra, eu me machucaria demais.
- Mesmo assim...
- Só queria desabafar mesmo, não estou triste. Do mesmo jeito que ele se foi, outro vem já, já.
- Torço para que sim.
Mesmo com suas palavras, fiquei envergonhado e baixou aquele climão ali na mesa.
Ele não pareceu nada constrangido e mudou o assunto:
- Viu aquela placa?
- Não, qual?
Ele me mostrou um cartaz num canto do restaurante anunciando música ao vivo toda noite.
- O que tem?
- Quando você vai voltar a cantar?
- Nunca.
Eu realmente não pretendia voltar a subir num palco. Aquele foi um trauma sério demais.
- Como assim?
- Depois de tudo que aconteceu você acha que eu tenho a mínima vontade de voltar a cantar?
- Mas estávamos falando agora de seguir em frente e essa questão passa por isso.
- Sem chance! São duas coisas diferentes. Minha vida amorosa e a música. Eu acho que fiquei traumatizado com o palco.
- Mas Bernardo, você canta tão bem que chega a ser um pecado permanecer calado.
- Não adianta Zeca. Só eu sei o que senti quando Mariana começou a falar.
- Bernardo, - ele disse me olhando fundo - e o que você sentiu antes da Mariana aparecer?
Parei para relembrar os sentimentos que senti quando estava cantando. A felicidade, a certeza de que aquele era meu lugar no mundo, a sensação...
- Hein?
- Eu me senti muito bem.
- Então, isso é que importa.
- Não, eu nunca vou esquecer o rosto daquelas pessoas ouvindo sobre aquelas coisas todas. - falei triste.
- Ai, eu estava na plateia e posso te afirmar que antes de tudo aquilo acontecer, aquelas pessoas estavam embasbacadas com você cantando. E você pode repetir essa sensação em qualquer plateia.
- Pronto? Já falou tudo? Podemos ir? - desconversei.
- Ok, ok... - ele concordou rindo.
Ele me levou embora, mas aquela conversa ficou na minha cabeça.
Eu tinha decidido que a música era um capítulo encerrado da minha vida, mas aquela conversa com Zeca me balançou.
A ferida era muito profunda e não tinha se cicatrizado. Ainda doía muito. Toda vez que eu ouvia uma canção no rádio e me imaginava cantando, aquele sentimento ruim voltava ao meu peito. Mas, se eu estava dando uma nova chance ao amor, não deveria dar uma nova chance à música também?
Eu acordei uma pilha de nervos na sexta-feira. Estava muito ansioso com a festa do Felipe mais tarde. Eu ainda tinha que comprar um presente e, claro, eu não sabia o que comprar. Não conhecia seus gostos e seu estilo. Também me preocupava o fato de eu não ter roupa para ir. Era um exagero; lógico que eu tinha um monte de roupas; só não conseguia achar uma adequada para a ocasião.
Eu queria estar impecável, lindo, o que na minha visão era difícil. Sim, eu tinha problemas de autoestima, como a imensa maioria dos adolescentes. Resolvi pedir ajuda para a minha mãe, que estava na sala tomando café da manhã com minha tia.
- Bom dia, meu amor!
- Bom dia. - falei seco.
- O que foi que aconteceu para estar de mau-humor?
- É a festa de hoje à noite.
- Nossa, fui contagiada pela sua excitação. - debochou minha tia.
- É porque estou nervoso.
- E por que esse nervosismo, meu filho?
- Eu acho que tem um pretendente na jogada... - riu tia Marta e eu fiquei vermelho de vergonha - Viu? Ele até ficou encabulado!
- E quem é, Bernardo?
- Ninguém ainda... - não estava afim de conversar sobre isso com as duas e elas perceberam.
- Ok, mas não precisa ficar nervoso, vai dar tudo certo.
- Mas eu nem comprei um presente! - desabafei.
- Sem problemas, a gente vai ao shopping à tarde e compra alguma coisa.
- Mas eu nem sei o que comprar!
- Calma, a gente vai encontrar algo.
- Mãe, você se importa de eu comprar algo pra eu usar também?
- Mas meu filho, você está cheio de roupa. - minha mãe disse fechando a cara.
- Não mãe, eu não tenho nada para usar hoje à noite!
- Finalmente! - falou minha tia.
- Finalmente o quê, Marta?
- Finalmente ele está parecendo um adolescente de verdade! - ela falou rindo e nos fez rir também, descontraindo o ambiente. - Deixa ele, Luiza, você já teve a idade dele, sabe como essas coisas funcionam.
Minha mãe se deu por vencida por não querer discutir com nós dois e prometeu que compraríamos algo mais tarde, e assim foi.
No shopping eu estava cheio de dúvidas, mas resolvi comprar uma camisa que eu achei que faria o estilo dele. Depois fomos cuidar da minha parte. Comprei uma nova camisa para mim que ia combinar com uma calça jeans que eu tinha. Quando estávamos indo embora, vi um lindo tênis All-Star numa vitrine.
Me encantei pelo modelo e insisti até minha mãe me deixar comprar. No caminho para casa ainda passei num salão para cortar meu cabelo. Mais à noite me arrumei todo. Eu usava um jeans claro, uma blusa azul-marinho sem estampas e o meu All-Star da mesma cor.
Parei em frente ao espelho para me admirar e gostei do que vi. Não estava me achando lindo, mas achei que estava aceitável.
Tínhamos combinado que o pai da Renata ia nos levar e minha mãe nos buscaria, então fui esperá-los na portaria do prédio. Enquanto eles não chegavam, fiquei pensando no que estava acontecendo. Depois de toda aquela tempestade de coisas ruins, ali estava eu, literalmente pronto para amar de novo.
Mas eu iria me entregar mesmo ao Felipe?
Sim, porque se deixar envolver e curtir o momento é uma coisa, mas abrir novamente meu coração para algum garoto é outra totalmente diferente.
Ele tinha se mostrado uma ótima pessoa, que merecia uma chance de me fazer feliz, mas me bateu a dúvida: será que ele pensa assim também? Eu sou uma pessoa complexa, difícil; não sou fácil de se conviver. Ele estaria a fim de encarar isso e assumir os riscos?
Dificilmente.
Ia ser alguma coisa de momento, uma paixãozinha, porque quando ele me conhecesse, e por extensão conhecesse meu passado, ele me deixaria.
Por um instante, senti saudades do Vítor.
Antes dele ter se mostrado o verdadeiro covarde que era, demonstrou ter me amado acima de todos os meu defeitos. Mas para mim ele estava morto, junto com o resto da população daquela maldita cidade.
Acordei do meu pequeno devaneio com a buzina do carro do pai da Renata. Entrei, cumprimentei os dois e seguimos para a casa do Felipe.
Quanto mais perto chegávamos, mas nervoso eu ficava.
Renata não parou de tagarelar um minuto, mas eu nem a ouvia, ainda estava disperso em pensamentos e só a respondia com monossílabos.
Chegamos à frente de uma propriedade enorme, onde todos pareciam muito animados.
Já devia ter muita gente lá e o som estava bem alto. Engoli minha ansiedade e entrei junto com Renata.
Admirei por um momento aquele imenso gramado com a casa branca, grande, no alto de uma suave colina. As pessoas estavam por todos os lados, e ao contrário do que se pensava, tinha gente de todas as idades. Deviam ser parte da família dele. Havia também algumas pessoas que eu conhecia de vista da escola.
- Vamos achar ele, Bernardo! - disse a Renata me puxando.
Nós dois começamos a procurá-lo entre os convidados e minha aflição só ia aumentando.
Logo o vimos cercado por um grupinho de pessoas.
Como a Renata não tinha vergonha nenhuma na cara, gritou por ele, que foi obrigado a se virar para ver quem era.
Quando nossos olhares se cruzaram, sorrisos largos apareceram automaticamente tanto no meu rosto quanto no dele. Ele veio correndo até nós, mas antes que pudéssemos falar algo a Renata já foi logo o abraçando e desejando feliz aniversário.
Depois foi minha vez de abraçá-lo. Ele me apertou forte, com vontade e senti o seu perfume delicioso entrar no meu nariz. Eu estava me apaixonando por ele. Ele se afastou e ficou me olhando nos olhos por alguns instantes até Renata voltar a falar:
- Nossa... isso é que é festa, hein?
- Ah, minha mãe tem mania de grandeza.
- Percebi. - rimos os três.
- Nossa, se arrumou para mim? - ele me perguntou.
- A ocasião pede. - me envergonhei, mas decidi entrar no seu jogo de elogios.
- Assim eu fico embaraçado. Até um All-Star colocou em minha homenagem...
- Haha, verdade! Achei que ficaria bem; em você funciona.
- Uau, um elogio rasgado, assim eu vou ficar me achando.
- É a ideia.
Sorte nossa que a Renata era meio lenta e não captou a maldade da conversa, porque senão estaríamos perdidos.
Nosso diálogo era muito explícito. Logo um grupo de amigos nossos nos chamou de longe.
- Eu queria conversar com você depois. - ele falou enquanto eu e Renata nos afastávamos.
- Claro, é só chamar.
Eu e Renata cumprimentamos nossos conhecidos e começamos a conversar, mas minha cabeça estava longe...
Eu só pensava em Felipe, e isso era bom.
Era visível a alegria no meu rosto. A toda hora nossos olhares se encontravam e ríamos como bobos. Bobos apaixonados.
Eu havia decidido: iria viver com ele o que quer que fosse, sem medo.
Não me importava se era só atração, uma paixão passageira ou um grande amor; eu ia viver intensamente aquela emoção. Eu tinha o direito de ser feliz, de ter um meu final feliz.
Eu ainda não sabia, mas aquele era um novo Bernardo que ia se moldando, e Felipe teria uma grande importância nesse processo de transformação.
Uma certa hora na festa, uma senhora, que pela semelhança julguei ser a mãe de Felipe, começou a chamar todos para que se aglomerassem junto a um pequeno palco que havia num canto do jardim.
Pensei que alguém iria cantar em homenagem ao aniversariante, mas me enganei. Ao me aproximar do palco pude perceber que o baterista, o baixista e o tecladista da banda eram nossos colegas de sala, os amigos do Felipe.
Tomei um susto quando o guitarrista se virou de frente para o público: era o próprio Felipe. Eu estava destinado a ter minha vida amorosa atrelada à música, o que era assustador e irônico ao mesmo tempo, e isso me fez rir sozinho.
A plateia ovacionou quando começaram a tocar os primeiros acordes. Eles tocaram umas três músicas de rock mais pesado. Não consegui distinguir as músicas, pois aquele nunca foi meu estilo favorito. O público também não parecia estar amando, mas aplaudia o aniversariante mesmo assim. E ele merecia, além de ter uma voz linda, tocava guitarra muito bem. Mesmo eu que não tinha um ouvido musical para instrumentos muito bem treinado conseguia perceber isso.
Eles então fizeram uma pausa e Felipe começou a falar:
- Bom, primeiro, obrigado pelos aplausos, seus falsos. - todos riram e aplaudiram mais. - Bom, a próxima música eu dedico a alguém muito especial que eu fiz questão de convidar, mas não quero revelar sua identidade secreta. A pessoa em questão vai saber que é dela de quem eu estou falando.
Ele olhou nos meus olhos e eu me envergonhei de verdade. Acho que devo ter ficado da cor de um tomate. Meu coração estava acelerado; lá vinha bomba. Eles então começaram a tocar uma música mais leve, diferente das anteriores, e com uma voz bem doce Felipe começou:
“Estranho seria se eu não me apaixonasse por você
O sal viria doce para os novos lábios
Colombo procurou as Índias, mas a Terra avistou em você
O som que eu ouço são as gírias do seu vocabulário
Estranho é gostar tanto do seu All-Star azul
Estranho é pensar que o bairro das Laranjeiras,
satisfeito sorri, quando chego ali e entro no elevador aperto o 12, que é o seu andar,
não vejo a hora de te encontrar
e continuar aquela conversa,
que não terminamos ontem, ficou pra hoje.
Estranho, mas já me sinto como um velho amigo seu
Seu All-Star azul combina com o meu, preto, de cano alto
Se o homem já pisou na Lua, como eu ainda não tenho seu endereço?
O tom que eu canto as minhas músicas para a tua voz parece exato
Estranho é gostar tanto do seu All-Star azul
Estranho é pensar que o bairro das Laranjeiras,
satisfeito sorri, quando chego ali e entro no elevador aperto o 12, que é o seu andar,
não vejo a hora de te encontrar
e continuar aquela conversa
que não terminamos ontem, ficou pra hoje.”
(All-Star – Nando Reis)
Eu achei que meu peito fosse explodir tamanha era a fúria com que meu coração batia.
Aquele garoto sabia como mexer comigo. Eu sorria largo feito um idiota, um idiota feliz.
Os convidados aplaudiram, e desta vez foram bem convincentes.
Ele sorria, mas parecia aflito procurando alguém no meio na multidão. Entendi que era a mim que ele estava procurando e me posicionei embaixo de um forte feixe de luz que vinha de um refletor.
Quando nossos olhares se cruzaram surgiu em mim uma emoção inédita. Eu não sabia o nome daquilo que eu estava sentindo, apenas sabia que era ótimo. Parecia que estávamos competindo um com outro para ver quem mostrava o sorriso mais largo.
Depois do show, subiram no palco com um bolo de aniversário em mãos, e de lá mesmo todos nós cantamos parabéns para ele.
A festa continuou e no meu grupinho o único assunto era “a menina” por quem Felipe estava apaixonado.
Fiquei com medo de Renata ter percebido tudo, mas ela não aparentou ter feito a ligação entre os fatos.
Eles estranharam minha alegria explícita, mas acreditaram quando expliquei que era só pela emoção de ser minha primeira grande festa.
De repente sinto alguém me puxando. Era Felipe.
- Vem comigo!
Me deixei ser levado por ele. Íamos desviando dos convidados que vinham lhe cumprimentar enquanto seguíamos para dentro da casa.
Subimos uma grande escadaria que dava num corredor de muitas portas e entramos num dos quartos.
O quarto estava escuro, mas velas o iluminavam e eu conseguia sentir o cheiro de rosas no ar. Percebi que ele tinha planejado aquilo com muito cuidado.
Ele trancou a porta, veio até mim, segurou minhas mãos e, de frente para mim, olhou bem fundo nos meus olhos. Eu me perdia naqueles olhos tão azuis. Eram lindos...
- Você entendeu que a música era para você, né?
- Sim, e espero que eu tenha sido o único.
Rimos um pouco, mas ambos continuávamos bastante nervosos.
- Bom, aqui eu estou, o que você queria falar comigo. - perguntei me enchendo de coragem.
- Eh... - ele parecia nervoso - eu queria dizer que eu não faço a mínima ideia do que está acontecendo, mas eu gosto muito de você. Quer dizer, eu sabia que era gay, sempre soube, mas nunca tinha sentido algo assim antes. Eu sei que fui muito apressado e te assustei no primeiro momento, e peço desculpas por isso, mas eu gostaria de tentar. Eu quero estar junto de você, sempre. Sua falta me faz mal. Me dá uma chance?
Meu coração batia depressa e meu cérebro trabalhava rapidamente, mas logo me acalmei. Eu pensei a noite toda sobre aquela resposta, mesmo sem antes ter ideia da pergunta.
Sem medo e sem dúvidas, eu queria dar uma chance para ele me fazer feliz.
- Sim. - sorri.
- Sim? - ele repetiu excitado.
- Sim!
Ele então me puxou forte e colou seus lábios nos meus. Devido à rapidez do movimento, o beijo começou desajeitado, mas foi melhorando. Ele ia acariciando minha língua com a sua enquanto seus braços acariciavam minhas costas. Eu sentia um misto de tesão e proteção. Eu me sentia como o cara mais sortudo do planeta por ter os lábios daquele gatinho junto aos meus. Se o mundo acabasse naquele instante, eu morreria feliz. Suas mãos foram descendo cada vez mais e me assustei, me soltando dele.
- Opa, vamos devagar.
- Desculpa, eu me animei demais. - ele parecia constrangido - Me desculpa mesmo, eu não queria ter ido com tanta sede ao pote, não fica bravo comigo...
Antes dele terminar a frase o calei com um beijo leve, carinhoso. Voltei a me afastar para admirar seus olhos. Ele sorria alegre.
- Você fala demais.
Rimos e ele voltou a me beijar com intensidade. Não sei por quanto tempo ficamos naquele quarto nos beijando. O tempo não parecia passar. Quando nos assustamos já era uma da manhã. Tínhamos passado quase uma hora ali!
Trocamos telefones com a promessa de nos falarmos no dia seguinte e descemos as escadas.
Renata logo veio falar comigo.
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