T– Dário
Eu estava morrendo de medo. Meus pacientes, os funcionários da casa geriátrica, os internos de lá minha psicóloga, minhas duas filhas (17 e 13 anos), minha primeira ex mulher, se eu ainda tivesse pai e mãe – eles saberiam. Mas eu estava morrendo de medo de dizer aos meus irmãos que eu estava feliz, mas era uma felicidade nova ainda carente de que Jaime acredite que o amo, faz jaseis semanas, e eu tenho de admitir que amo as noites com Chico, posso passar a vida inteira com ele, do mesmo modo que é assim que me sinto com Artur também, mas quando o ruivinho chega perto de mim, eu só tenho olhos para ele.
Jaime estava com receio do que pudessem dizer, na verdade ele se sentia culpado por ter ficado casado com minha irmã mais nova tão pouco tempo, como se a viuvez fosse culpa dele, eu agora era o mais novo, tinha a minha irmã mais velha que todos nós e mais outros dois, o mais próximo em idade a mim, era meu mais querido, Mauro estava atrasado e os outros eram, sempre foram, formais, pontuais e chatos pra cacete. Mauro entra na call, eu já estava me atualizando das novidades dos mais velhos, filhos fazendo o quê, netos fazendo assim ou assado, Mauro pergunta quem era ela, diz que estou com sorriso de homem apaixonado, diz que só vou isso em meu rosto quando fico feliz, perto de minhas filhas ou apaixonado. Eu olho para os três atrás do laptop e vejo o meu vermelhinho ficando ainda mais vermelhinho, eu confirmo que é isso mesmo, digo que essa pessoa não acredita que eu a amo e que quero amar do jeito e na intensidade que ela julgar que devo amá-la, chamo Jaiminho com um aceno de cabeça e ele vem se sentar do meu lado, pra encurtar a conversa beijo seu nariz e ele me dá um selinho na boca.
Minha irmã simplesmente desliga, meu irmão diz que agora não faltava mais nada, um boêmio depravado sem estrutura e agora um pederasta pra macular a família. Mauro pede para que eu desliguei e diz que vai me ligar em breve. É Jaime quem desliga, Artur tira o computador de minha frente e pergunta se estou bem. Sinto que aquilo bateu forte neles, nenhum dos três teve qualquer contrariedade ao se assumirem gays, minhas filhas e todos com quem lido diariamente me apoiaram, e no máximo do preconceito foram indiferentes com educação. Mas meus irmãos... Ficamos em silêncio tentando ligar o foda-se, Jaime segurou minha mão, me chamou de ogro e disse que não ia conseguir fingir que não acreditava que eu o amava, até porque ele estava completamente apaixonado por mim. Ele encosta seu braço no meu e diz que me ama, mas acha Artur muito melhor, eu fico puto e olho na cara dele e ele está se segurando pra não rir, quer me beijar e eu não deixo, Artur me morde o pescoço por trás e diz que vai foder bastante comigo.
Meu telefone toca, antes de eu o pegar, Chico o agarra e diz que agora era com ele, diz que sou o mais fofo e ia quebrar os dentes de quem me fizesse me sentir daquele jeito, ele vai para a cozinha e eu quero ir junto, mas Artur não deixa, diz que Chico tem um jeito especial de convencer as pessoas. Chico volta dizendo que Mauro estava vindo, ele diz que Mauro rompeu com os outros dois e disse que queria sair da empresa. Aquilo era para mim um baque, a empresa era a vida de Mauro, desde que aprendeu a chegar lá de ônibus, fugia de casa para procurar nosso pai na construtora, ele vive por aquilo, com a morte de nossa irmã a parte dela veio para nós quatro, ele sabe que fazendo isso eu vou pular no barco onde ele estiver, e romper com a empresa era ter de dividir ela ao meio ou obrigar os outros dois a comprar as nossas partes. Mas a dondoca não sabe preencher um cadastro bancário e o otário lá é um perdulário que gasta o dobro do que tem. Mauro estava colocando a empresa à venda, só os imbecis lá ainda não devem ter percebido.
Artur disse que não sabia que Chico cresceu numa casa com piscina, nem que os amigos de Chico e Jaime eram ricos, disse que os dois juntam o sabonete velho no novo pra usar tudo até o finzinho, que eles aproveitam a salmoura da azeitona pra usar no macarrão e economizar o sal, ambos confirmavam com orgulho, Chico diz que depois conversaríamos sobre dinheiro. Queria continuar vivendo como médico preguiçoso e marido de um professor.
Mauro liga, diz que estava comprando vinho pergunta os que quero, pergunta se queremos uma mesa de frios ou se ainda sei fazer um espaguete que não envergonhe nós dois, eu digo que o amo, muito mais que o infinito de antes e ele diz que sabe, diz que vai chegar com duas putas dessas de rua, pergunta se ele precisava trazer um gigolô pra mim agora que mudei de time. Artur e eu nos entendemos como gays, não acredito que um dia vou voltar a gostar de transar com mulheres. Peço pra Mauro trazer palmito, salaminho, frutas secas, tomate cereja, queijos (dois), amendoim e azeitona sem caroço porque gosto dessas coisas de boteco também. Jaime pede pra ele trazer uma puta dos peitos grandes queria matar a saudade de comer boceta e sabia que um cu eu ia comer independente de quem fosse. Ouço a gargalhada de meu irmão, raro ele gargalhar.
Arrumamos a casa, peço para a farmácia mandar lubrificante e camisinha. Mauro chega com quase uma hora depois, de rua aquelas três não eram, elegantes, Mauro diz que eram prestadoras de serviços da construtora, sem esse tipo de expediente metade dos documentos de lá jamais teriam sido firmados, tem uma ruiva e pergunto se essa agradava Jaime, ele diz que não, vai até uma mais branquinha de cabelo castanho escuro e diz que aquela parecia mais comigo, arrumamos a mesa, as três cercam Artur, ele ri, derrama charme, desço com Mauro e Chico para pegar as garrafas vinho.
Meu irmão diz que era definitivo, sua mulher estava grávida do jardineiro, finalmente grávida, eu o abraço, ele estava arrasado, o fim do casamento e o divórcio haviam acontecido há quase dois anos, mas ele nutria esperanças... Mauro chupou boceta e comeu boceta, nenhum de nós fez sexo com homem, era a noite de Mauro, perto das dez eu pergunto o preço e elas dizem que Mauro sempre paga antes, elas vão embora, vamos tomar banho, recolher algumas taças, queremos beber no gargalo, a intenção era cair bêbado, só acordar no dia seguinte. Mauro pede para ver como os boiolas fodem, ele estava bêbado, estávamos todos, e nus também.
Artur respira fundo, Chico e Jaime se beijam, Mauro tem um choque, Artur o abraça por trás, segura o pau de Mauro e morde o pescoço dele, diz que era apenas aquela noite, que mesmo que ele peça ele não ia ser o quinto de nós, ele punheta o pau de Mauro e pede pra Chico chupar aquela rola enquanto Mauro assiste a mim dando a bunda pra meu marido. Era isso, somos dois casais, Mauro estava sentindo alegria em estar ali curtindo uma broderagem, a mão de Mauro procura a rola de Artur e os dois se beijam.