Foi numa tarde de domingo. Tarde nublada, pesada, cinzenta. Raul me convidou para uma viagem em seu ap. Maratona diferente. Sem maiores problemas. Fui.
No quarto, trancados os dois – vida seguindo no restante do lugar. Raul me apresentou um chá fumegante, cheiro estranho mas bom – gosto, nem tanto. Depois do terceiro ou quarto gole, um aditivo, para acelerar a “trip”: uma drágea de algum alucinógeno, que não identifiquei. O bilhete de passagem para o além. Ao final da xícara, a luz veloz – astros girando, sensação boa... ausência de gravidade (ri comigo mesmo do trocadilho)... Levitação... Tudo muito devagar e no tempo mesmo de ser.
Onde Raul? Não sei, não vejo! Mas vai aparecendo, materializando-se sobre a larga cama, entre os lençóis brancos de cetim, aquele corpo. Um homem perfeito – seu corpo nu sobressaía-se por entre nesgas do suave tecido que o envolvia. Parecia adormecido – mexia-se involuntariamente e mais pedaços revelavam-se, embora ainda enredados em embaçamento.
Logo entendi o barato: foco era o segredo. No que meu aquilino olhar parava, fazia-se nítido – quase desenho; o mais era borrão indecifrável. Ao movimentar meus olhos, movia-se também a limpidez do antes translúcido. Mas não havia pressa, afobação alguma. O tempo fora suspenso, colocado entre parênteses.
Foi assim que meu olhar se fixou no belo rosto entorpecido. Era jovem.. ralos pelos emolduravam sua boca e sua face; os negros cabelos, levemente desarranjados. Lábios grossos, entreabertos, expunham dentes brancos, como num sempre sorriso.
A nuca forte, os ombros largos, as costas algo musculosas, mas sem exagero. À medida que meus olhos desciam sua espinha dorsal, acidentado e reto caminho, foi chegando ao vale guarnecido por apetitosas nádegas – e nesse ponto eu já sentia a minha rigidez se pronunciar. A concentração no centro do vale abriu-se-me em rugosa e rósea caverna, por onde fiz penetrar meus mais recônditos desejos, materializados em platônicos suspiros.
Queria mais viajar e deixei, a custo, região tão desejada. As coxas quase sem pelos, roliças – uma das pernas dobradas, abria-me a visão de um cesto de pele enrugada, cesto de vida. Assim viajando, cheguei as pés e os envolvi em meu ambicionado percurso. Ele parece ter entendido, e, num espreguiçar indolente, virou-se lentamente – o cetim escorrendo suavemente e revelando toda a formosura do seu corpo.
Os fortes braços esticados para o alto, tensionando cada fibra, mostravam-me axilas lisas e claras, avizinhando-se a um peitoral definido com exatidão. Mamilos que pareciam rígidos, compunham maravilhoso quadro humano. Meus olhos seguiram a leve penugem que descia ao longo da barriga – esta subia e descia, ao sabor do respirar tranquilo – e eis que se aninham na também depilada região pubiana.
Potente cajado se erguia – não grande e grosso, nas exatas dimensões –, uma contrastante veia escura o percorria, sinuosa, a rodear aquele cilindro pulsante. A atrevida cabeça desafiava o ar, em palpitações constantes.
Meu corpo todo estava em brasa ardente. Eu sentia meu falo pronunciar-se avidamente, umedecendo-se, lubrificando-se. Minha pele era um só arrepio. Todos os meus orifícios ansiavam pela invasão daquele deus desnudo, semiadormecido-semiacordado. Tudo meu corpo queria penetrar aquela fortaleza de carne, músculos e lubricidade, e ali habitar pelo exato segundo de um sempre.
Flutuei ao leito. Minhas mãos puderam, enfim, juntar-se aos meus olhos, naquele roteiro paradisíaco. E o fizeram. Pelos deuses, quanto prazer! Ele se abria inteiro para me receber, entregava-se sem restrição. Eu quis beijar e beijei sua língua. Eu quis lamber seus mamilos e os engoli. Eu desejei experimentar o gosto daquele taco e o suguei com ânsia e leveza. Eu queria penetrar minha língua em seu cu e minha língua molhou tudo ao redor, antes de afundar-se em seu pontinho róseo. Minha rola quis acomodar-se e deslizou para dentro do prazer, num vaivém de quase não mais voltar.
Mas meu cu queria ser visitado-violado por aquele mastro, e todo o seu dono preparou meu corpo, com carícias e beijos intensos e ternos, até sentir-me pronto. Cada reentrância de mim agarrava o cacete invasor e o levava mais para o fundo, e o prendia mais em si – enquanto meu próprio pau babava abundantemente.
Movimentos cadenciados e as luzes foram se intensificando, brilhando, piscando, multifacetando-se em milhões de cores, miríade de estrelas espocando em jatos internos e externos. Laivos de gozo iam ficando impressos em nossos corpos pelos grunhidos que escapavam rebeldes de nossas gargantas, enquanto nossos corpos amalgamavam-se, nossas células se unificavam num só ser, nossas cabeças pareciam explodir de bem-querer e querer-mais.
E a tarde foi agonizando, virando noite chegante – chegando também a brisa que enfunava levemente a cortina de renda sobre a janela entreaberta. Quanto tempo levamos no espaço, não tenho ideia. Quando finalmente pude abrir meus olhos na semiescuridão do quarto, Raul descansava seu corpo nu atravessado sobre o meu, seu pau metido em mim, desfeito em leite, e, sob meu corpo, minha própria rola gozada e ainda rígida.
Num displicente movimento de desencaixe, ele desocupou-me, esticando-se sobre a cama. Meu corpo era todo energia. Meu rosto feito em um permanente sorriso idiota de quem estava se sentindo feliz. Ele também.
Regressávamos.