Era sexta-feira. Terminou a aula e eu fazia algumas anotações, para não estragar meu final de semana pensando em coisas de trabalho. Cabeça baixa, eu apenas sentia a turma saindo, alguns mais apressados, para pegar o ônibus; outros tranquilamente, em duplas ou trios, combinando paradas... Registro intrincado o que eu estava fazendo, desliguei geral da turma. Concluindo as anotações, comecei a guardar os apetrechos, fazê-los adormecer até a segunda-feira, quando notei uma ainda presença na sala.
No canto da sala, absorto no celular, um tímido aluno, que mal falava. Será que ele se tocou que a aula acabou, que a turma toda já saiu? Esses jovens viciados em internet são foda! Desliguei-me igualmente dele e voltei a atenção para a arrumação da mesa e me preparando para também sair. Por mim, ele ficaria ali até a segunda-feira ou até que percebesse ser a hora de ir embora também. Ao colocar o último papel na pasta e puxar o zíper, me preparava para o impulso na cadeira e me levantar, quando ele finalmente se levanta do seu canto e vem até a mesa, chegando a minha frente quando eu já estava de pé.
– Desculpe, professor... queria lhe fazer uma pergunta... se não for incômodo...
Diabos! Era incômodo, sim. Com tanto tempo para fazer perguntas, e ele resolve fazer uma nos cinquenta minutos do segundo tempo. Mas tudo bem. Não vou criar caso por isso. Além do mais, ouvir o que aquele caladão tinha a perguntar, pela primeira vez, merecia minha atenção. Não sentei. Ficamos os dois, de pé, a mesa nos separando. Ele supernervoso, ansioso, não sabia onde colocava as mãos nem os olhos. Resolvi instigá-lo, senão não sairíamos dali aquela noite:
– E aí?
– Bem... é... o senhor não precisa responder se não quiser, viu? Também não fique com raiva de mim, por favor...
Eu comecei a me mexer entre a impaciência e a preocupação:
– Pode perguntar o que quiser, garoto. Fique tranquilo.
Então ele pareceu encher os pulmões e soltar de uma vez:
– O senhor curte homem?
Soco e borboletas no estômago. Cravei os olhos nele, enquanto imaginava um jeito de responder. Meu corpo já todo me pinicava de tesão. Devolvi:
– Você curte?
– Sim – a resposta foi um balbucio. Baixou a cabeça.
Dei a volta à mesa, me aproximei dele, toquei no seu queixo, fazendo-o olhar para mim e fui aproximando meu rosto. Eu sentia sua respiração ofegante, mas ele não resistiu. Apenas fechou os olhos e molhou os lábios com a língua. Encostei minha boca à sua, ele entreabriu a dele e minha língua encontrou a sua. Abraçamo-nos fortemente enquanto nos beijávamos com frenesi. Terminamos o beijo mas nos mantivemos agarrados, eu com a boca na sua orelha, sussurrei:
– Curto você.
Duas palavras que tiveram o impacto de uma chicotada, porque ele apertou mais fortemente meu corpo e eu pude sentir seu pau duro – ele, provavelmente, o meu também. Aí foi ele que teve a iniciativa de me beijar e novamente nos atracamos.
O senso de perigo, entretanto, falou mais alto, e, ante a possibilidade de aparecer alguém, descolei dele, sorri e ele estava sorrindo. Roubou-me um selinho e, sem dizer palavra, dirigiu-se apressadamente para a porta e saiu da sala. Eu ainda procurava organizar a polvorosa dos meus hormônios e, ao chegar à porta, divisei-o quase correndo, ao final do corredor. Sorri e minhas mãos apagaram a luz.