Aquela noticia foi como um golpe no coração de Luis, ele havia sentido na pele o resultado de um ato impensado, e sabia que não poderia haver punição maior a ele, do que ter um filho com uma mulher que o odiava, mantê-lo separado desse filho seria a vingança de Laila, era certo que ela e Nando pretendiam usar essa criança para separar Luis e Mateus.
Luis ficou desacordado por um bom tempo, com dificuldade Kaio e o pai levaram-no para o seu quarto, aquela noite ele não acordou e foi preciso chamar um medico para saber o que se passava com ele, a principio nada foi detectado e o medico atribuiu o mal súbito ao cansaço e pediu que o deixassem descansar ate o dia seguinte, e caso o quadro não regredisse que o tornasse a chamá-lo.
Na manhã seguinte Luis acordou com uma terrível dor de cabeça, sentado na poltrona a sua frente estava Kaio adormecido, assustou-se inicialmente, mas não o acordou. Primeiro tentou-se lembrar do que aconteceu na noite anterior e como havia parado ali na sua cama, não encontrou muitas respostas, apenas se lembrava da conversa que teve com Leo por telefone e a noticia de que seria pai.
Ainda ficou ali na cama pensando em tudo que tinha acontecido, em como havia chegado até ali, e decidiu tomar uma atitude, não poderia fugir das responsabilidades provocadas por seus atos, teria que assumir aquele filho mesmo que para isso precisasse se desfazer de tudo que lhe era caro.
Levantou-se silenciosamente para não acordar Kaio, viu o celular do garoto sobre seu criado mudo e o pegou, desceu as escadas e seguiu para os fundos da casa, ainda respirou fundo tentando criar coragem para fazer aquilo, sentou-se na espreguiçadeira rosa ao lado da piscina e procurou na agenda do celular o numero que queria, ali estava “AMOR”, obvio demais ate para Kaio.
Apertou o botão discar e esperou que alguém atendesse o coração disparado agora batia ritmado com o som de chamando do aparelho, dez vezes chamou e ninguém atendeu, o desespero de Luis chegava ao extremo se não resolvesse aquilo logo teria problemas maiores a enfrentar ao longo do dia, como contar a Matheus que o irmão e a nova namorada estavam a um passo de vencê-los? Novamente colocou o telefone para chamar e ao som do terceiro toque uma voz feminina e sonolenta atendeu.
Vic: Meu amor espero que seja importante pra me ligar à uma hora destas!
Luis: Vic não é o Kaio, aqui quem fala é Luis!
Vic: Meu Deus aconteceu alguma coisa com o Kaio, por favor, fala!
Luis: Acalme-se não aconteceu nada, eu que te liguei por que preciso de uma informação sua, e não quero que o Mateus saiba entendeu?
Vic: Ainda bem, mais pode confiar em mim cunhadinho, no que posso te ajudar?
Luis: Diz-me uma coisa a Laila ainda esta na tua casa?
Vic: Graças a Deus não, ontem depois que viemos embora ela e o Nando ficaram implicando com o Mateus, ai ele disse umas boas pra ela, chamou ela de vadia que vivia atrás de um macho pra come-la bem comido, mas que ela jamais vai encontrar outro tão bom quanto você, por que você já tem dono e que ela nunca o teria nem mesmo um pedaço.
Luis: Meu o Mateus ficou doido, enfrentá-la junto do irmão?
Vic: Ele não fez nada, apenas riu e mandou ela se calar, ai a bruxa irritadinha resolveu ir embora ontem mesmo, pegou o carrinho dela e se mandou, mas por que quer saber dela?
Luis: Não é nada pra se preocupar, um assunto meu só não conte pro teu irmão que liguei ta, assim que tiver tudo bem eu mesmo conto!
Vic: Ta bom cunhadinho, agora deixa voltar pro meu soninho de beleza, ta ok?
Luis: Ta bem. Bons sonhos!
Luis desligou o telefone e ate se sentiu mais confiante, seria mais fácil encarar apenas um inimigo por vez, ter que ficar frente a frente com Laila e Nando não lhe parecia adequado para aquele momento, sem falar que correria o risco de ser visto por Mateus, e não queria que ele soubesse deste assunto, antes de confirmar tudo com a fonte certa.
Abriu a garagem e tirou o carro pra fora, novamente estava ali fugindo, não queria ter que se explicar pra ninguém, e como naquela madrugada fatídica acelerou o carro, mas agora em direção a capital.
Luis já estava na rodovia estadual quando o celular tocou, pensou em não atender, mas ao ver o nome de Marcola no visor do aparelho sentiu um arrepio percorrer toda a sua coluna, ele custava ligar e jamais ligaria uma hora daquelas, era cedo demais para que ele estivesse acordado.
Luis: Fala mano!
Marcola: Luis onde você ta mano, preciso de você aqui, por favor, me ajuda cara.
Luis: Maninho fica calmo e me diz o que ta acontecendo cara!
Marcola: Não dá vem aqui pra casa, por favor, eu to precisando de ti cara!
Luis: Marco eu estou chegando a Goiania agora, tenho que resolver um assunto que não pode ser adiado, mas pelo amor de Deus me conta o que ta acontecendo ai!
Marcola: Mano o pai do Pepeu descobriu tudo cara, ele pegou a gente dormindo juntos na cama do Pepeu agora a pouco, cara ele bateu no Pepeu mano, vai contar pro meu pai, e vai me matar cara, por favor, me ajuda eu não sei o que faço!
Luis: Mano faz o seguinte vai lá pra casa, conta tudo que ta acontecendo pro meu pai, e diz que fui eu que te mandei lá, ele vai saber o que fazer, ainda hoje estou de volta e ai posso te ajudar, mas agora serio não dá pra voltar, quando estiver ai te conto tudo, mas por favor se acalme, faz o que te disse e tudo vai dar certo!
Marcola: Valeu maninho, to indo lá, será que ele já ta de pé há essa hora?
Luis: Não sei mano, mas vai lá, to entrando na capital e tenho que desligar abraço e te cuida!
Marcola: Valeu mano, até mais!
Era somente o que faltava, alem de se preocupar com os seus problemas ainda havia mais isso, pensava em como era sua vida há uns meses atrás, não pensava em problemas ou dificuldades suas, muito menos de amigos, seu desejo era voltar imediatamente pra casa, mas tinha que resolver aquele assunto antes que ficasse louco de pensar que logo poderia ser pai.
Luis chegou à capital ainda bem cedo, seu estomago roncava de fome, mas sua cabeça apenas pensava em procurar Laila o mais rápido possível e resolver toda aquela situação. Estacionou o carro diante o prédio em que ela morava e imaginava como iniciar aquela conversa, já fora do carro olhava em direção a portaria do prédio, ainda era cedo pensava, ela deve estar dormindo, acho melhor esperar um pouco aqui, caminhava de um lado para o outro impaciente, no relógio os minutos passavam lentamente, caminhou até uma barraquinha de lanches ali próxima e comprou um café e um pão de queijo. Comer aquilo parecia como engolir uma pedra, sua boca estava com um gosto amargo, a barriga doía como se algo amarrasse seu intestino em um nó de marinheiro.
Fazia anos que Luis não usava aquilo, desde que sua mãe o havia pegado fumando e o feito jurar não fumar mais, Luis não havia levado um cigarro à boca, mas ali naquele momento, um cigarro nunca lhe pareceu tão saboroso, era como uma fuga de toda aquela situação. Comprou um maço de CARLTON e acendeu um cigarro, levá-lo a boca trouxe recordações de sua mãe lhe criticando e o condenando por tal ato, mas aspirar àquela fumaça trouxe tranquilidade, era como um anestésico sentia o corpo leve e toda a sua preocupação e ansiedade se tornou diminutos em uma fração de segundo.
Estava pronto para encarar Laila e esclarecer aquela história, atravessou a rua, e acenou para o porteiro que nada lhe disse ou tentou fazer. No elevador apertou o botão do quinto andar e preparou-se para enfrentar a ex-amiga.
Já diante a porta do apartamento 45 pensou em voltar pra casa e esquecer toda aquela loucura, mas antes mesmo de tomar uma atitude concreta, viu a porta se abrir e Laila surgir a sua frente, a surpresa era para ambos, ninguém dizia nada, apenas olhavam-se incrédulos, uma por que jamais imaginou possível ver o outro ali novamente, e este por que não acreditava que havia ido até ali apenas por causa de uma história contada por Leo que até pouco tempo era seu inimigo.
Laila: Luis?!
Luis: Laila precisamos conversar!
Laila: Não temos nada para conversar garoto, não quero nada que venha de você, eu te odeio como jamais odiei alguém, sua voz me irrita, sua imagem me irrita, por favor, saia daqui ou chamo a policia!
Luis: Nós temos assuntos para resolver e você não pode negar!
Laila: Estás louco ou o que? Não tenho nada com você garoto, e mesmo se tivesse seria um favor evitá-lo ou destruí-lo!
Luis: E isso inclui o filho que você esta esperando?
O silêncio reinou naquele corredor, Laila estava branca de susto, o sangue havia lhe fugido da face, e sentiu-se tonta, quando ensaiou um desmaio Luis a aparou e levou-a ate o sofá, a menina soava frio, e aquela reação foi a resposta que Luis não queria ouvir, era verdade, ela estava mesmo grávida, e ele logo seria pai. Preparou um copo de água com açúcar e levou a moça que o olhava apreensiva!
Laila: Quem inventou toda essa loucura pra você?
Luis: Você mesmo, aquele dia lá em casa, você fez questão de dizer que aquela noite que passamos juntos, havia lhe deixado um presente que jamais a deixaria me esquecer, foi só juntar dois mais dois e eu descobri, não precisei que alguém me contasse, diga é verdade não é?
Laila: É verdade que estou grávida, mas isso de você ser o pai é loucura, o pai do meu filho é o Fernando, eu jamais poderia ficar grávida de uma bicha escrota como você Luis!
Luis: Sem ofensas garota, eu sou o pai, é impossível que uma única noite que tenha passado com o Nando tenha te engravidado e você já esteja assim, como não percebi, olha sua barriga já está bem saliente, você esta grávida de cinco meses, mas como aquela noite eu te abracei e não senti ou vi barriga...
Laila: Tá certo, bom você descobriu, mas isso não importa, e não vem ao caso como escondi minha barriga de você e de seu namoradinho, o que importa é que você jamais será pai desse filho Luis. Não irei deixá-lo se aproximar dessa criança, eu e o Nando vamos nos casar em breve e criaremos o meu filho. Ele será o pai e não você!
Luis: Isso é o que veremos garota, nem que seja necessário levar ao conhecimento do judiciário, nem que seja preciso me assumir pra todos os meus amigos e família, mas este filho nunca será do Nando, eu vou ser homem o suficiente pra assumir o que fui capaz de fazer!
Laila: Antes de essa criança ter você como pai, eu o mato, ta ouvindo eu o mato!
Luis: Você não teria coragem, ele também é seu filho porra!
Laila: Prefiro um filho morto a ser criado por um gay que se deita com um garoto e pratica atos abomináveis.
Luis: Não coloque o Mateus no meio disso, esse assunto é somente meu e seu!
Laila: Saia da minha casa agora!
Luis: Eu vou, mas pode acreditar, saindo daqui irei numa delegacia e registrarei queixa contra você, deve existir algo que a impeça de fazer uma maldade como abortar essa criança!
Laila: Não seja idiota, matá-lo será a ultima coisa que farei, tenho planos melhores, se você não deixar o Nando ser o pai eu o entregarei pra adoção e você jamais saberá onde ele estará!
Luis: Você é louca garota, como pode dizer uma coisa dessas a respeito de um filho seu? Antes de pensar em me punir, pense que dentro de você cresce uma vida, um dom de Deus...
Laila: Isso não é um dom é uma punição, é castigo, quisera eu deixar você passar por tudo que eu irei passar pra colocar esse demônio no mundo, você se quer imagina o que eu sinto ao saber que carrego essa criatura dentro de mim!
Luis chocado com tudo que ouvia de Laila saiu dali aos prantos, não conseguia acreditar que uma mãe poderia detestar tanto um filho, e que ainda poderia usá-lo como arma contra o pai, era duro pensar que aquele monstro que conheceu ali naquele apartamento era obra sua, seus atos a transformaram no ser repulsivo que agora demonstrava ser. Arrependido, Luis dirigiu sem rumo por quase uma hora, até não ter alternativa, dirigiu até a sua antiga casa. Voltar aquele apartamento lhe trazia dores maiores do que poderia imaginar, lembrava-se do reencontro com Leo, e da sua atitude com Laila, foi ali que ele iniciou todo o tormento que a garota vivia agora, ainda tinha a chave da porta da frente na carteira, abrir aquela porta não lhe trazia apenas dores e lembranças ruins, mas também lembranças das risadas trocadas com o padrasto e a mãe, o reencontro com a tia Emilia e tantas outras coisas que lhe parecia tão distante, mas tão importante.
Na sala Luis encontrou o irmão postiço Leonardo, o rapaz ao ver o olhar perdido do irmão, correu ao seu encontro, no abraço apertado de Leo, Luis chorou em silêncio, não conseguia dizer nada, mas aquele abraço que tanto o acalentou na infância agora tinha o mesmo efeito, era carinho puro, a certeza de que um caminho havia para todo aquele dilema, ali naquele ato Luis teve certeza que poderia confiar em Leo, olhar em seus olhos mareados diante do estado de melancolia que o abatia transformou a imagem de monstro que guardava na mente, sabia que ele era o seu irmão, o mesmo que afagou seus cabelos e o aconselhou quando criança.
Leo: Fala mano, põe tudo pra fora, eu prometo te ajudar em tudo que for capaz!
Luis: Leo eu não sei o que fazer cara, a Laila ta mesmo grávida, tu não tem idéia do que aquela louca me disse, nossa fico tenso só de lembrar, mano ela é louca, ameaçou abortar, dar a criança pra adoção, e até de registrá-lo como filho do Fernando, cara eu não sei o que fazer!
Leo: Luizinho meu maninho fica tranquilo, é justamente isso que eles querem que aconteça com você, eu ia te contar toda a história, mas você desligou antes, achei que tinha ficado com raiva de mim, ou pensado que era mentira minha.
Luis: Não pelo contrário, eu entrei em choque e desmaiei, acordei hoje cedo e vim direto pra cá!
Leo: Nossa, eu ia te falar Luis, o plano original dos dois é trazer essa criança ao mundo, e assim que ela nascer Nando vai registrar no nome dele, e só depois iriam te contar sobre a existência dela, e irão usá-lo pra te afastar do Mateus...
Luis: Mas eu sei da existência dessa criança e mesmo que ele registre o menino, posso exigir judicialmente o reconhecimento de paternidade e prová-la através de DNA, não há como contestar uma prova dessas!
Leo: Mas acontece que isso já foi pensado, antes os dois pretendem forjar um exame que prove que Nando é o pai!
Luis: Meu Deus, a cada dia penso que sou protagonista de algum seriado americano ou uma novela mexicana, por que não creio que existam pessoas tão mirabolantes e cruéis!
Leo: Sei que não é de rir, até por que sei que há contribuição minha nessas histórias novelescas. Olha Luis o que eu te aconselho e ficar quieto por enquanto, quando a criança nascer você procura os seus direitos na justiça, você pode virar toda essa situação a seu favor!
Luis: Não sei como te agradecer Leo, da forma que eu te tratei quando voltou, você deveria desejar a minha ruína, ate cheguei a pensar que você estava aliado aos dois para me destruir!
Leo: Aquela situação do passado foi um ato impensado de um adolescente que se achava ameaçado pelo irmão caçula que a meu ver tinha toda a atenção do meu pai, eu desejava receber todo aquele carinho dispensado a ti, achava que você estava tirando o meu lugar, aquela atitude foi muito errada, foi provocada pela fúria que senti depois de ter levado aquela surra, eu não mereço seu perdão pelo que eu fiz, mas quero conquistar o seu respeito, como te disse quero voltar a ser seu herói, e tudo que for a seu respeito também é de minha responsabilidade, por que eu te amo maninho e todos esses anos afastados de você, do papai e da mãe me destruíram, foi difícil superar toda a amargura que dominou meu peito, mas hoje eu sei que eu fui o culpado e por isso faço o que faço agora, por que tenho obrigação de suprimir todas as lembranças ruins que você tem de mim.
Novamente Luis estava chorando nos braços do irmão, não lhe disse nada, o choro era tanto e o cansaço era ainda maior que acabou adormecendo deitado no sofá da sala com a cabeça no colo do irmão enquanto este afagava seus cabelos, era como retornar a alguns anos atrás, quando Leo dormia no quarto de Luis durante as noites de tempestades para espantar-lhe os medos da chuva e dos trovões.
Quando Luis acordou com o seu celular tocando já era inicio da noite, no identificador viu o nome de Marcola, e a lembrança do compromisso que fez com o amigo, Leo estava na cozinha e viu o nervosismo do irmão, que apressado saiu juntando suas coisas.
Leo: O que aconteceu mano, quem era no telefone?
Luis: Ai eu nem atendi cara, mas eu tinha um compromisso agendado lá na minha cidade, e eu to super atrasado nossa, é um assunto serio com um amigo meu e eu aqui só me preocupando com os meus assuntos, cara eu vou lá, vê se aparece lá em casa qualquer hora tá, vai ser sempre bem vindo maninho, e obrigado por estar ao meu lado!
Leo: Tranquilo cara, to sempre aqui pra hora que precisar, gostaria que você voltasse a morar aqui com a gente, mas sei que agora há uma nova vida lá não é? Vai lá ajuda teus amigos e sempre que precisar cara to aqui!
Os dois se despediram com um abraço, e Luis saiu novamente pela porta que alguns meses antes lhe pareceram tão difícil de fechar, mas agora lhe era como a passagem para os melhores sentimentos que poderia sentir.
Luis chegou a sua casa já passavam das oito da noite, as luzes estavam todas apagadas e isso era mau sinal. Ao entrar em casa não encontrou ninguém, tentou falar com o pai, com Kaio e com o próprio Marcola, mas ninguém atendeu ao celular.
Era tarde da noite quando a porta da sala abriu e entrou um Luis carrancudo acompanhado por um Kaio deprimido e um Marcola ferido, o estado de espírito dos três era devastador. Era visível que o dia dos três não havia sido nada fácil e que o problema de Marcola era ainda pior.
O pai de Luis nada disse apenas subiu as escadas e fechou-se no quarto, Kaio também mudo seguiu para cozinha e Marcola sentou-se no sofá ao lado de Luis. Olhar em seu rosto triste e machucado trouxe angustia ao coração de Luis, sentiu-se o pior dos amigos por ter abandonado ele no momento em que mais precisou.
Luis: Meu amigo, eu nem sei o que te dizer, fiquei o dia todo fora preocupado apenas com os meus problemas e não estive presente quando você precisou de mim, você tem todo o direito de ter raiva de mim, mas, por favor, me conta o que aconteceu!
Marcola: Cara não se preocupa eu não tenho raiva de você, e alem do mais tu não me abandonaste, pelo contrário no momento em que recorri a ti, me deste o conselho certo, se não fosse a ajuda do seu pai, talvez esta hora eu estivesse morto, depois que te liguei eu vim até aqui, mas ainda todos dormiam e eu não quis incomodar, acabei voltando pra casa. Quando cheguei, o pai do Pepeu já estava lá, cara tu nem imagina como foi duro tudo o que ele disse ali na rua mesmo, ele gritava pra todo mundo ouvir que eu era viado e que tinha desviado o filho dele, que por minha culpa o Pepeu agora dava à bunda, cara foi a maior zona, deu policia e tudo. Assim que a policia pediu para que o louco do pai do Pepeu fosse embora, meu pai que até então parecia calmo e na dele, saiu e cara eu nunca o vi assim, ele bebeu e voltou já de tarde bêbado, minha mãe que não falava comigo desde o escândalo todo, ao ver ele saiu de casa, ai cara ele fez isso que você ta vendo ele me bateu, cara e nem é por que eu sou ou possa ser gay, ele me bateu por que graças a mim o nome dele ta na boca de todo mundo, segundo ele, eu acabei com a chance dele ser eleito vereador na próxima eleição, ele me expulsou de casa mano, foi quando eu liguei pra você novamente, eu não sabia pra onde ir nem o que fazer, cara juro que pensei em me matar, eu não sei nada do Pepeu, o celular dele dá só caixa postal, ta sinistra a situação. Eu já estava ficando louco, quando encontrei o Kaio e a Vic, eles já sabiam de tudo e quando me viram fizeram vir até aqui e contar pro seu pai, e ele quando ficou sabendo me fez ir até a Delegacia registrar uma queixa contra o meu pai, no inicio eu não queria, mas era a única forma de voltar pra casa, eu não tinha e não tenho pra onde ir.
Luis: Nossa Brow que coisa mais louca, mas como foi na delegacia?
Marcola: Lá foi o pior de tudo, meu pai assumiu que me bateu para o delegado, e disse que não me aceitava em casa, e disse que até podiam prendê-lo, mas que naquela casa eu não pisava mais. Quando o delegado perguntou pra minha mãe se ela era a favor disso, se era capaz de apoiar o abandono de um incapaz ela respondeu, que se eu era capaz de me deitar com um homem eu era capaz de me sustentar sozinho, e que pra ela o filho estava morto, por que o que ela colocou no mundo foi um homem imagem e semelhança de Deus e não uma aberração obra do diabo. No fim o delegado não prendeu meu pai, ou foi averiguar o paradeiro do Pepeu, apenas encaminhou o caso pro Conselho Tutelar, e nada vai acontecer né, e ai teu pai me chamou pra ficar aqui até a poeira abaixar e eu decidir o que farei da minha vida. Mano eu não tenho mais lagrimas pra chorar, tu não sabe como dói cara só de lembrar tudo que os dois me disseram.
Luis: Não fica assim mano, vem comigo, vamos subir você dorme no meu quarto hoje tá, eu vou cuidar de você, posso?
Kaio: Claro que pode né mano, vamos mostrar pra Marcola que ele não precisa daqueles monstros lá, que nós somos a família dele!
Marcola: Pode crê mano eu já sei disso, mas não me chama mais de Marcola tá, esse apelido idiota foi meu pai que me deu por que não gostava do meu nome, que foi uma homenagem ao meu avô materno, então a partir de agora me chama de Marco, ta ok?
Kaio: Beleza meu querido, ta com fome, to pensando em fazer um lamen pra mim se quiser faço pra ti também!
Marco: Não to de boa, só quero tomar banho e dormir tranquilo.
Marcola agora Marco subiu as escadas com Luis, a situação dele era mais grave do que Luis imaginava, aconteceu com ele tudo que Luis imaginava que aconteceria quando seu pai o descobrisse, por sorte havia acontecido o contrario e ele havia se surpreendido com o carinho que o pai acolheu toda aquela notícia.
Os dias foram passando rápido. Devido a confusão envolvendo Marco e Pepeu, Mateus se quer teve conhecimento da ida de Luis a capital ou seu encontro com Laila, na casa da família de Kaio e Luis, tudo caminhava bem, o novo morador logo se adaptou a organização familiar e já se via como um membro da família, os únicos problemas que encontrava era na rua, ou quando saia de casa, como morador de cidade pequena, Marco virou noticia na boca de todos, e aqueles que não apontavam ou xingavam quando ele passava, olhavam estranho e cochichavam com quem ali estivesse.
Mateus e Luis estavam bem, mesmo tendo adiado as suas noites de amor, já que Marco dividia o quarto com Luis, não sobrava local para o casal namorar. De Pepeu os amigos apenas ficaram sabendo que ele havia ido morar com uma tia em outra cidade e que estava proibido de falar com quem quer que fosse daquela cidade.
A noite de natal se aproximava Luis havia decidido passar na casa do pai e viajar no ano novo pra casa da mãe. No dia vinte e três os preparativos para a ceia de natal haviam começado e cada membro da família tinha uma obrigação a fazer. Isso incluía os novos membros Marco, Vic e Mateus que passavam mais tempo na casa de Luis Carlos do que na deles.
Luis (pai): Olha só hoje é um grande dia para esta família e eu quero a participação de todos. Marcia e os menores vocês vão tomar conta do enfeite do interior da casa, Kaio e Marco vocês vão aparar a grama, limpar a piscina e lavar a churrasqueira, Vic você fica encarregada de organizar a fachada da casa, quero que monte o Papai Noel, as renas e as luzes dos pinheiros lá do portão, Mateus e Luis vocês vão ficar com as luzes do telhado, aqui tem umas fotos de como eu quero tudo, então mãos a obra e me façam feliz.
Kaio: E você coroa vai fazer o que?
Pai: Obvio que eu sou o coordenador né piralho, eu vou me sentar aqui na sombra, beber uma cervejinha gelada e coordenar vocês claro!
Todos sabiam que o senhor Luis não podia fazer metade daquelas tarefas e não reclamavam de vê-lo apenas sentado e gritando com todo mundo, no fim do dia a casa estava perfeita e a turma se reuniu na piscina, discutiam como seria o restante das férias.
Marco: Eu ia viajar pro Rio com os meus pais, mas agora nem sei quem sou direito!
Kaio: Larga de frescura ne Marcão, tu é da família vai ficar aqui comigo e com o Luis amargurando esses dias de sol forte e cidade vazia, ou pode viajar com o Kakau e Lucinha pra fazenda da minha vó!
Luis: É tenho certeza que você vai adorar uma fazenda nem deve ser muito diferente daqui, tem vaca andando por todo lado, cavalo, galo cantando, e meus irmãozinhos junto com todos os priminhos gritalhões imagina como deve ser ótimo!
Marco: Ta vendo Vic, e ainda dizem que sou irmão deles, tão é me querendo como babá dos pestinhas, mas sinto informar que daqui não saio, quer dizer não esse mês.
Vic: Como assim, mês que vem pretende ir pra algum lugar?
Marco: Claro tu acha mesmo que eu vou ficar atrapalhando essa família, eles já fizeram muito por mim, não quero ser um estorvo, então eu vou pra Goiania, ver se arrumo um trampo por lá...
Kaio: Não vai é nada, tu acha que meu pai vai deixar você sair assim, ainda mais ir pra Goiânia viver de que, e aonde?
Marco: Já to decidido fera, não há como ficar aqui, eu não suporto mais ser motivo de piadinha até das crianças mano!
Kaio: E a escola, maluco vai parar de estudar?
Marco: Cara pra escola não volto mesmo, acha que eu vou aguentar ser vitima de bullyng, não mesmo mano eu agradeço a vocês por tudo o que estão fazendo por mim, mas se for preciso morar debaixo de um viaduto eu moro, só não quero ficar nessa desgraça de cidade.
Luis ficou triste com a atitude de Marco, sabia como ele se sentia, e não fazia ideia de como deveria estar sendo difícil pra ele com apenas dezesseis anos suportar todas as provocações que recebia quando ia à rua, sabia que na escola seria ainda pior, era como se algo o impelisse a ajudar o amigo. De certa forma se sentia culpado por aquilo, foi vendo como o namoro dele e de Mateus era bonito que Marco e Pepeu resolveram lutar pelo que sentiam, mas agora isso nada significava ambos haviam perdido tudo que lhes era mais caro, não tinha mais o apoio e o amor da família e não tinham um ao outro. Naquele instante Luis decidiu que ajudaria o amigo, e nada o faria mudar de ideia.
Os dias foram passando rápido o natal chegou e com ele as festividades na casa de Luis, foi uma festa grande com direito a peru na ceia, e uma celebração ecumênica no jardim da família, estiveram presentes não só os membros da família que Luis conhecia, mas amigos do pai e da madrasta, a família de Marcia, e vários amigos do casal e das crianças que moravam ali na cidade, não houve grandes emoções, não que valham ser contadas. A troca de presentes foi deixada para o dia vinte cinco de dezembro, todos receberam presentes, mas Marco foi o centro das atenções, na tentativa de deixá-lo a vontade e mostrar que fazia parte da família todos deram-lhe presentes, e o garoto chorou por ser aquela a primeira vez que não passava uma data tão linda e importante com os pais, chorou mais ainda por não conseguir agradecer aquela família que tanto o acolhia.
Mateus e Vic foram outras que choraram muito naquela noite, os dois estavam acostumados a não comemorarem o natal, os pais geralmente viajavam nesta época, e os três irmãos sempre ficavam sozinhos, naquela noite não foi diferente, exceto por que dessa vez apenas Fernando estava em casa sozinho curtindo sua solidão auto imposta.
Na segunda feira dia vinte e sete, Luis se despediu de todos e partiu rumo à capital, iria passar o ano novo com a família materna, mas o que realmente o impelia a viajar era uma idéia fixa, estava na hora do passarinho deixar o ninho e ser livre para voar.
Assim que chegou em casa, não encontrou a mãe ou Raul, Leo ainda dormia e a tia Emilia fazia o almoço, quando Luis entrou a nostalgia lhe dominou, sentir o aroma dos temperos de tia Emilia era como regressar aos seus anos de menino quando ia ate a casa dos avos nos domingos após a missa e almoçava a comida maravilhosa da tia.
Emilia: Meu querido que bom que chegou!
Luis: Oi tia como vai a senhora? Cadê o resto do povo?
Emilia: Seu irmão ainda ta dormindo, agora o “povo” (fazendo sinal de aspas com as mãos) foram resolver algumas pendências do trabalho deles antes das férias de janeiro, mas vem cá me dá um abraço senti tanta saudade de você minha lagartixa albina de parede!
Luis: Tia eu preciso da sua ajuda!
A conversa entre os dois prosseguiu por longo tempo, Leonardo, Raul e até Laís acabaram também por participar dessa reunião em família, Luis estava decidido a mudar o rumo de sua historia, mas para que isso desse certo, muita coisa teria que ser feita, e a primeira ação a ser tomada era reatar amizades antigas, recorrer a pessoas que ficaram no passado não tão distante.
Naquela terça-feira Luis saiu junto com Leo dirigiram até o centro da cidade,
tinham uma reunião marcada em um escritório de advocacia, era o primeiro passo para solucionar os problemas de muitas pessoas ao mesmo tempo.
Luis: Bom dia gostaria de falar com o Dr. Marcus!
Recepcionista: O senhor tem hora marcada?
Luis: Tenho sim, meu nome é Luis Carlos Filho!
Recepcionista: Ah sim, o Dr. Marcus Alexandre vai atendê-lo em alguns minutos, por favor, aguardem na recepção que assim que ele desocupar eu os chamo!
Os dois sentaram-se em uma sala ampla, muito bonita por sinal, Luis estava nervoso, não queria ter que recorrer à ajuda do padrasto, queria poder caminhar com as próprias pernas, aceitava a ajuda que lhe davam, mas já era hora de crescer e voar mais alto.
Recepcionista: Por favor, Dr. Luis pode me acompanhar?
Luis: Posso sim obrigado!
Na sala do advogado Luis reviu o ex-colega de faculdade, fazia mais de dois anos que os dois não se viam, Luis sentia-se envergonhado por ter se afastado de um amigo que sempre esteve presente na sua vida, Marcus Alexandre era o mais inteligente da faculdade e sempre foi o melhor amigo de Luis. Na Faculdade o ajudava sempre que este demonstrava desinteresse ou dificuldade com algum conteúdo. E era nessas lembranças que Luis se apegava para pedir ajuda ao velho amigo.
Luis: Bom dia Dr. Marcus, lembra-se de mim?
Marcus: Porra como me esquecer do meu mano Gaieguinho, que porcaria de Doutor maluco, ta me tirando é?
Luis: Poh não mudou nada não é meu querido!
Marcus: Ora gaiego tu achas mesmo que só por que agora sou advogado eu mudaria minha forma de ser, posso até posar de bom moço na frente dos meus clientes ou no tribunal, mas com um amigo tão querido sumido que se esqueceu de mim, não ha protocolo a seguir.
Luis: Poxa mano tenho até vergonha de ti, sei que foi muita sacanagem minha, mas cara veja pelo meu lado, você o Diego, Jonas e o Maranhão tudo tava estudando pra prova da OAB, não tinham mais tempo pra sair, e eu tava morgando em casa. Depois vocês começaram a procurar trabalho, você e o Jonas montaram seus escritórios, e assim o tempo foi passando, vocês não me procuraram mais e eu acabei seguindo meu rumo.
Marcus: Não ti culpo moleque, foi exatamente assim, na verdade hoje só tenho contato mesmo com o Jonas, o resto do pessoal acabou voltando pras cidades de origem e a turma acabou por ai né. Mas me conta o que anda fazendo da vida, ta morando no mesmo lugar, ta trabalhando?
Luis: Bom Imperador é o seguinte desde que terminei a facu fiquei a toa na vida, sabe curtindo a boemia e tem um tempo que to morando com meu pai no interior, só que agora eu to querendo voltar pra capital, só que não quero voltar a morar com a minha mãe e essa a razão que me trouxe aqui, sei que é horrível isso, só te procurar pra pedir ajuda, mas não tenho outra escolha ou recorro a você ou acato a decisão do meu padrasto.
Marcus: Saquei aonde você quer chegar Gaiego, tu que um trampo aqui no meu escritório certo?
Luis: Isso mesmo meu amigo, eu preciso da sua ajuda, tem como me alocar.
Marcus: Olha Luis, assim eu não entendo o porquê de preferir trabalhar pra mim a para o seu padrasto, cara eu mesmo me sentiria realizado em trabalhar pro grande doutor Raul, mas se você prefere aqui, o que eu posso te dizer é seja bem vindo meu querido!
Luis não se conteve com a notícia abraçou o amigo advogado com força, sabia que poderia contar com ele, e isso era o primeiro passo para as mudanças que pretendia realizar na vida dele e de outras pessoas.
Marcus: Agora resta saber quando você pretende começar!
Luis: Preciso de alguns dias para resolver a minha mudança pra cá, e eu tenho outro problema e creio que você como advogado pode me ajudar, mas assim isso é um trabalho e eu quero pagar por ele, na verdade a duas situações que preciso sanar de uma vez.
Marcus: Estou ouvindo!
Luis narrou toda a situação para o amigo e obteve a melhor ajuda possível.
Três etapas estavam resolvidas agora restava apenas alugar um AP legal e trazer suas coisas, mas ainda havia um problema como dar esta noticia para Mateus e a família do interior.
O ano novo chegou rápido, Luis comemorou o inicio de 2011 com os pais em uma chácara próxima a capital, estavam ali alem de Laís e Raul, Luis, Leo, Manu, Jana e outros convidados dos pais dois rapazes, foi uma festa com grande agitação, ate por que grandes políticos do estado estavam presentes no local e usaram do momento para fazer seus belos e longos discursos. Faltavam quinze minutos para o ano novo quando Luis resolveu procurar um lugar mais calmo para ligar para os familiares, amigos e, é claro para o namorado.
Ligou para o pai e falou dez minutos com ele, sendo por diversas vezes interrompidos por Kaio e Marco. Vic e Mateus haviam ido para uma cidade vizinha passar o ano novo com os pais e a avó. Após os votos de um ano feliz e prospero com a família Luis tentou ligar para Mateus, mas o telefone do garoto estava desligado ou fora da área de cobertura, tentou ligar no da cunhada, mas Vic não atendeu, pensou que a garota poderia estar no telefone com Kaio e retornou a ligação para sua casa, mas o próprio Kaio atendeu e disse que também não havia conseguido falar com a namorada ou com Mateus.
Após diversas tentativas Luis acabou por desistir das ligações, e retornou para a festa, logo os fogos brilharam no céu, e a família junto comemorava o que pretendia ser um ano de mudanças e conquistas na vida de todos ali, Luis por que pretendia alcançar vôos mais altos, Leo por que estava de volta ao seio família e agora estava assumindo um compromisso serio com Manu, Dr. Raul que aproveitou o momento e anunciou a aposentadoria e Lais que pretendia comprar um novo apartamento. Os planos eram diversos e os brindes e orações a Deus para que todos os sonhos e planos se concretizassem naquele novo ano eram intensos.
A festa transcorreu até quase amanhecer o dia, Luis não conseguiu falar com o namorado para desejar-lhe feliz ano novo, e isso o magoou um pouco, mas preferiu pensar que isso havia ocorrido devido à localização em que se encontrava Mateus, afinal a cidade para onde ele foi, era ainda menor do que a que morava, e lá somente em propriedades com telefonia móvel via satélite havia sinal.
Eram umas oito horas da manhã quando Raul bateu a porta do quarto de Luis, chamando-o.
Raul: Filho acorda. Telefone pra você!
Luis: Quem é pai?
Raul: Não sei, mas deve ser importante, o rapaz que ligou esta em prantos e nem conseguiu dizer quem é ou o que queria...
Luis correu até a sala. Em sua cabeça somente uma pessoa poderia ligar assim chorando, pensava em Kaio e seu pai, a saúde do coroa andava abalada e eles esperavam por uma recaída a qualquer momento, mas para sua surpresa não era Kaio ao telefone, não foi preciso perguntar quem era somente o choro ouvido pelo fone foi suficiente para denunciar o autor da ligação era Mateus.
Luis: Mateus, meu o que aconteceu, por que você esta chorando?
Mateus: Luh, por favor, vem pra cá, eu preciso de você...
Luis: Onde você esta? O que aconteceu?
Mateus: Estou aqui no HUGO (Hospital de Urgências de Goiânia ou será Goiás?), o Nando... O meu irmão...
Luis: O que tem o seu irmão amor?
Mateus: Ele... Ele... Ele sofreu um acidente de moto, quando foi buscar a Laila lá pra casa... Amor ele ta morrendo... Por favor, vem pra cá... Meus pais ainda não chegaram e eu não sei o que fazer...
Luis: Ta amor to saindo agora, qualquer coisa me liga no celular!
Luis vestia-se apressado, pulando de um lado para o outro, foi em direção às escadas e ao tentar colocar o tênis acabou se desequilibrando e caindo escada abaixo, foi uma queda feia, o suficiente para deixá-lo inconsciente, Raul que estava na cozinha preparando um café ouviu o barulho e correu em socorro do enteado.
Raul: Luis meu filho, acorda, Luis... Leo... Leonardo acuda... Acuda Leonardo! Leonardo acordou assustado com os gritos do pai e correu ainda de cuecas até a sala, ver o irmão inconsciente no chão e com um corte na testa, deixou-o abalado, Luis estava imóvel no chão, sua face estava pálida, e não se via sinais de respiração, ainda abobado com a cena, não se moveu em auxilio do irmão, apenas começou a chorar.
Raul: Porra Leo, ele ta vivo, mas se você ficar ai com essa cara de boco isso pode mudar, chama a merda do SAMU!
Foram os quinze minutos mais aterrorizantes que Leonardo passou em toda sua vida, não poderia sentir maior medo do que o de perder o irmão, justamente agora que haviam feito às pazes e que começavam a construir uma nova historia juntos, o socorro demorou a retirar o rapaz de dentro do apartamento, e quando saiam em direção ao posto médico mais próximo, Laís a mãe de Luis chegou da padaria e ao ver o filho em uma maca imobilizado e banhado em sangue, acabou desmaiando também, preocupados com ataque súbito de Laís, a equipe de resgate optou por levá-la junto do filho para o hospital.
Na ambulância do SAMU, o celular de Luis que estava no bolso começou a tocar insistentemente, os paramédicos nada fizeram em relação a isto, estavam ocupados demais tentando estancar o corte na testa do rapaz e acordar a mãe desmaiada.
No hospital próximo a casa dos dois, dona Laís foi atendida e recuperou a consciência, mas foi sedada e internada após ver novamente o filho e entrar em choque. Luis continuava na mesma, os médicos tentaram reanimá-lo, mas acharam melhor encaminhar para o HUGO, já que era para ali que todas as vitimas de acidentes deveriam ir para os exames iniciais.
Leonardo o acompanhava na ambulância, Raul teve que ficar com a esposa, mas não deixou o filho ir antes de lhe encher de recomendações e orações, no trajeto até o tal hospital, o que levou uns quinze minutos, o celular de Luis tocou novamente, o barulho da sirene da ambulância quase não permitiu a Leo ouvi-lo tocar.
Enfermeiro: Rapaz tem um celular no bolso do teu irmão que já tocou diversas vezes, por favor, retira tudo de pessoal que esteja com ele, tipo corrente, anéis, carteira, celular, mas, por favor, não movimente o corpo.
Leonardo fez tudo conforme ordenado pelo enfermeiro, mas devido à cautela que tinha que conduzir o irmão, acabou deixando o celular que estava no bolso da calça por ultimo, e a chamada acabou sendo encerrada sozinha, após ter retirado tudo e colocado em seu próprio bolso, Leo tentou ver de quem era a chamada perdida, que já contabilizava doze chamadas, mas o telefone de Luis era bloqueado por senha, a qual Leo tinha total desconhecimento.
Já no hospital Luis foi enviado a sala de raio-x e Leonardo ficou na recepção preenchendo a papelada sobre Luis, foi ai que se tocou que sabia poucas coisas sobre o irmão, e precisou recorrer ao pai por telefone para que o ajudasse a preencher todos os dados.
Leo já terminava de preencher a ficha quando sentiu uma mão pousar em seu ombro, por um instante imaginou ser o medico que vinha tentar conformá-lo a aceitar a morte do irmão, mas afastou isso rapidamente da cabeça e resolveu virar e ver quem era que lhe tocava.
Mateus: Escuta você é o Leonardo irmão do Luis não é?
Era Mateus quem estava ali, Leo ficou surpreso ao ver o garoto ali, seu rosto estava vermelho devido à lagrimas constantes do rapaz, era impossível que ele tivesse ficado sabendo do acidente e já estivesse ali, Leo tinha certeza que o cunhado morava na mesma cidade que Luis, e isso o impossibilitava de ter chegado ali praticamente junto a eles.
Leo: Sou eu sim, você é o Mateus meu cunhado não é?
Mateus: Sou sim, cadê o Luis, ele disse que estava vindo pra cá, e eu já telefonei varias vezes pra ele, mas o celular dele só dá caixa postal...
Leo: Sei... Mas me diz o que você esta fazendo aqui e por que o Luh estava vindo pra cá?
Mateus: Eu estou aqui acompanhando o meu irmão Fernando, ele sofreu um acidente de moto junto com a namorada Laila, acho que você os conhece não é?
Leo: Conheço, somos amigos, mas eles estão bem?
Mateus: A Laila não se machucou muito, os pais dela já a levaram para outro hospital, e acho que esta bem sim, agora o meu irmão, ele se machucou feio, ele esta na sala de cirurgia agora, meu Deus ele se quebrou todo!
Leo: Olha Mateus você vai ter que ser forte... Eu estou aqui por que vim com o Luis...
Mateus: E cadê ele? Nossa eu estou com um aperto tão grande aqui no peito, achei que tivesse acontecido algo com ele?
Leo: Pois é Mateus, na verdade, aconteceu sim, o Luh quando saia pra cá, caiu da escada lá de casa e bateu feio a cabeça, ele está lá dentro agora fazendo alguns exames, mas ele esta inconsciente...
Mateus: Não, meu Deus, fala que é mentira...
Leo: Era o que eu mais queria, mas infelizmente é verdade!
Mateus tremia da cabeça aos pés, era visível o abalo emocional que ele passava naquele momento, ter o irmão e o namorado entre a vida e a morte parecia ser uma punição aos seus olhos, Leo o amparou e abraçados um chorava no ombro do outro, os dois compartilhavam a mesma dor, ter um irmão em estado desconhecido, nas mãos de estranhos sendo revirados pelo avesso.
Mateus estava em frangalhos e precisou ser atendido por uma enfermeira que lhe aplicou um sedativo, agora Leo estava ali incapacitado, não sabia com quem se preocupava se com o irmão que passava por exames médicos e estava inconsciente, se na madrasta que estava em outro hospital internada, ou se no cunhado que agora dormia em um banco de plástico na recepção do hospital, e havia ainda o amigo Fernando, que mesmo sendo inimigo mortal de seu irmão era o único amigo que tinha naquele estado.
Foi como um baque que uma ideia surgiu em sua cabeça, havia Laila ainda, a garota estava grávida do irmão, e era inevitável pensar na saúde do sobrinho, Leo começou a entrar em estado de choque, a visão estava embaçada, as mãos tremiam e o coração estava acelerado, era muita desgraça para um único inicio de ano, procurava forças sabe-se lá de onde para levantar e buscar informações, mas ele era o único em condições mentais ali para ajudar aquelas pessoas.
Levantou-se então e caminhou até o guichê da recepção do hospital precisava de informações do irmão e do amigo ou acabaria como o cunhado dopado em uma daquelas cadeiras azuis tão incomodas.
Leo: Por favor, moça, eu preciso de informação sobre dois rapazes que estão aqui...
Recepcionista: Olha senhor, por favor, espere aqui até que um médico ou uma enfermeira venha procurá-lo, por que hoje é inicio de ano, nos estamos operando com capacidade máxima e infelizmente eu não tenho ideia de quem está ou não neste hospital, isso aqui esta um tumulto só.
Leo se via cada vez mais incapacitado de ajudar quem quer que fosse, e entendeu o porquê de Mateus estar naquele estado tão deplorável, como era agonizante ficar ali no meio daquele tanto de gente e não saber se quer noticias do irmão.
O tempo passava e nada de surgir alguém por aquela grade para dar noticias do irmão, Leo estava em desespero e o pior de tudo é que Mateus ainda dormia e ele não podia deixá-lo ali sozinho para procurar informações, já se passavam do meio dia quando uma garota loira aproximou-se dos dois e abraçou Mateus que ainda dormia.
Vic: Graças a Deus eu te encontrei maninho, acorda meu filho!
Leo: Calma moça ele teve que ser sedado, ele entrou em choque após ficar aqui horas esperando por noticias do irmão dele!
Vic: E quem é você, parece-me familiar!
Leo: Você não se lembra de mim? Eu sou o Leo irmão do Luis teu cunhado!
Vic: Assim, lembro-me de ti agora tu é amigo do Nando, te vi na casa do Kaio o irmão caçula do Luis, mas me fala cadê o teu irmão, e por que você que esta aqui e não ele?
Leo: O Luis vinha pra cá quando sofreu um acidente, ele caiu da escada e ta ai dentro, nossa estou desesperado, eu estou aqui desde as nove da manhã e nada de informação...
Vic: Fica calmo, os meus pais foram lá dentro saber sobre o meu irmão, assim que eles retornarem a gente vê com eles onde tem que ir pra saber do Luis, ta ok?
Leo: Certo, obrigado. Nossa estava morrendo de medo deles mandarem meu irmão pra outro lugar e eu ter que deixar o Mateus assim dormindo aqui sozinho!
Vic: Por falar nisso, acho melhor acordá-lo, dormir nessa cadeira deve dar uma dor nas costas insuportável...
Foi com dificuldade que acordaram Mateus, ele ainda meio grogue custou reconhecer a irmã, mas assim que seus sentidos despertaram de vez, já assustado começou o inquérito.
Mateus: Vic? E o Nando? O Luis? Vocês têm alguma informação?
Vic: Calma maninho, nossos pais estão aqui e vão descobrir logo o que ta acontecendo com o Nando e com o Lu, fica calmo tá!
Demorou alguns minutos até que o senhor Senivaldo pai de Mateus aparecesse ali no saguão da recepção, pelo sorriso no rosto, as noticias eram boas, Mateus o viu sorrindo e caiu em choro abraçado ao pai.
Mateus: Pai, e o Nando pai, como ele ta?
Senivaldo: Fica calmo Rico teu irmão esta bem, ele quebrou o braço direito e perfurou o baço, mas já foi operado das duas coisas, ele já esta bem e daqui a pouco vai ser transferido pro hospital que a gente tem convenio, ele ta consciente e tua mãe ta lá com ele!
Mateus: E por que esses filhos da mãe não me disseram isso antes, eu já estava pensando no pior, ele estava coberto de sangue quando o vi...
Senivaldo: De certo eles não sabiam de você meu filho, e hoje ta tudo muito cheio aqui, tem muita gente nos corredores mais até do que o normal, a maioria vitima de acidentes de trânsito.
Mateus: Pai o meu amigo Luis, irmão do Kaio namorado da Vic também ta aqui, ele sofreu um acidente em casa, quando vinha pra cá e a gente ta sem noticias dele, por favor, veja o que pode descobrir. Este aqui é o Leo irmão dele!
Leo: Prazer Senhor!
Senivaldo: O prazer é meu, fiquem calmos que eu vou ver o que descubro ta? O pai de Mateus saiu em direção a salas da Coordenação do Hospital e os amigos ali ficaram um pouco aliviados em relação a Nando, pelo menos era um que já não transmitia preocupação.
Mateus: Tomara que ele esteja bem, jamais vou me perdoar se algo acontecer a ele foi minha culpa ele ter se machucado...
Leo: Cara não foi culpa sua, ele se machucaria com você ligando ou não, era o destino dele, e eu tenho certeza que ele vai ficar bem, aquele ali é cabeça dura, não vai se abalar assim tão fácil!
O trio ainda ficou um bom tempo ali no saguão esperando uma notícia do estado de Luis, o pai de Mateus havia entrado na sala da junta administrativa do hospital e ainda não havia retornado, Leo ficou se perguntando como ele conseguia acesso a uma área restrita do hospital, pelo que sabia Senivaldo era empresário do ramo alimentício, produtor de grãos e o escambal, agora influente no meio político isso não era de se conhecimento, ficou um pouco preocupado com o irmão, ter um sogro tão influente e poderoso poderia lhe causar dores de cabeça caso este fosse contra o relacionamento, mas essa preocupação desapareceu rápido dando lugar a uma inquietação, o sogro do irmão vinha caminhando acompanhado de uma enfermeira e Leo pensava o pior.
Leo: Iai doutor alguma notícia do estado do meu irmão?
Senivaldo: A enfermeira Sofia veio aqui para lhe explicar o que aconteceu com seu irmão.
Sofia: Senhor Leonardo, na ficha que acompanhava seu irmão não constava dados de um acompanhante então assim que foi diagnosticado o estado dele, o encaminhamos de volta ao hospital que sua família tem convenio, sinto muito pelo transtorno, mas tente entender, estamos operando com a capacidade acima do permitido, épocas festivas como ano novo sempre provoca inúmeros acidentes de trânsito provocados pela imprudência e bebida, seu irmão já deve estar no hospital de origem, novamente peço desculpas pelo transtorno, com licença!
Leo: Não acredito que eu estou aqui quase me matando de preocupação e o meu irmão já foi levado de volta, nossa serio nem sei o que pensar!
Vic: Fica calmo Leo, pelo menos você sabe onde encontrá-lo, com certeza lá você vai ter mais respostas do que aqui!
Leo: Você tem razão eu vou voltar pra lá agora, o estranho é que o meu pai não me ligou, a Laís esta internada lá nesse hospital, senhor obrigado pela ajuda e pessoal ate qualquer hora!
Mateus: Espera eu vou com você, meu trabalho aqui já acabou, agora que o Nando já esta bem e meus pais estão aqui ele não precisa mais de mim!
Leo: Então vamos logo, teremos que pegar um táxi!
Leo e Mateus saíram do hospital a passos largos, ambos estavam preocupados com Luis, já passava das quatro da tarde, nenhum deles havia comido nada naquele dia e a fome já apertava, achar um taxi é que foi elas, na central próxima ao hospital não havia nenhum disponível, e o jeito foi esperar, Leo estava cada segundo mais desesperado por noticias do irmão.
Mateus: Fica calmo Leo, ficar assim não vai resolver liga pro teu pai, você não disse que ele ta no mesmo hospital pra onde mandaram o Luh?
Leo: Verdade eu vou ligar agora!
Leo sacou o celular e procurou o numero do telefone do pai, torceu para que ele o houvesse levado, na primeira tentativa não obteve resposta e a chamada foi parar na caixa postal, na segunda tentativa um Raul ofegante atendeu o celular.
Raul: Fala Leo, nossa tava me roendo de preocupação o seu celular só dava caixa postal, tinha que ter desligado? E o Luis como ta?
Leo: Fica calmo pai, eu não desliguei o celular, ele esteve ligado o tempo todo, mas acho que no hospital o sinal não é bom, o senhor não acredita no que aqueles açougueiros fizeram, eles atenderam o Luh e o mandou na ambulância sozinho ai pro Santa Luzia, ele já deve estar ai, eu vou pegar um táxi, chego em seguida, mas vê se descobre alguma coisa do Luis e me liga tá?
Raul: Fica tranquilo, vou ver se o encontro!
Aquilo estava se tornando uma Odisseia sem fim, Leo ficou indignado com o atendimento dispensado ao irmão, depois de quinze minutos esperando um taxi os levou até o hospital, no caminho o silêncio era o que reinava no interior do veiculo, salvo apenas pelo som do trânsito do lado de fora, ou os anúncios falados das lojas ali próximas.
Já no hospital, Leo acertou com o motorista e saiu correndo pelos corredores, Mateus vinha atrás abobalhado com toda a preocupação que Leo imprimia naquele momento, não imaginava ser aquele o mesmo rapaz que anos antes fora o responsável por tamanha dor ao seu amado.
Leo não parou na portaria, e seguiu escada acima para o segundo andar do prédio, onde ficava os apartamentos dos conveniados, viu o pai parado na recepção conversando com uma enfermeira, e sentiu seu coração mais calmo ao ver um sorriso no rosto do progenitor.
Leo: Pai cadê ele?
Raul: Que bom que chegou meu filho, o seu irmão esta bem, graças a Deus ele teve apenas uma concussão leve, amanhã cedo ele já deve receber alta...
Leo: Eu quero vê-lo!
Raul: Ele esta sedado, por que teve algumas lesões cutâneas também leves e uma torção na perna direita, mas amanhã ele está ótimo, acho melhor não incomodá-lo agora Leo, vai pra casa e descansa.
Leo: Não mesmo, depois de tudo que passei hoje, eu não volto pra casa sem ver ele e a Lais e constatar com meus próprios olhos que eles estão bem!
Raul: Como quiser! Enfermeira tem como meu filho ver o irmão agora?
Mateus: Leo e eu?
Leo: Pai o Mateus também quer vê-lo!
Raul: Ok. E então enfermeira tem como o meu filho e o amigo visitarem o Luis?
Enfermeira: Podem sim, mas por cinco minutos e não podem fazer barulho, mesmo que a pancada tenha sido leve ele precisa descansar e amanhã fará novos exames antes de receber alta, para termos certeza de que não houve nenhuma ruptura encefálica, ou lesão no crânio!
Os dois rapazes entraram no quarto 205 e viram o outro rapaz deitado em uma cama, trazia alguns aparelhos ligados a ele, o soro no braço direito e curativos na testa onde havia sofrido maior impacto e cortado, os braços e pernas traziam hematomas de cor escura, mas mesmo assim a feição de seu rosto transmitia felicidade e contentamento, Leo se aproximou do irmão e beijou-lhe na testa, sentia-se aliviado em saber que o irmão estava bem e que logo deixaria aquele lugar, Leo saiu do quarto em seguida deixando o cunhado sozinho com o irmão. Mateus chorou vendo o namorado naquele estado sabia-se culpado por aquilo, e mesmo sem a ameaça de morte ou seqüelas culpava-se por ter sido tão desesperado e colocado o amor de sua vida em perigo.
Tocou-lhe as mãos e apertou-lhe os dedos, Luis mesmo que inconsciente comprimiu os dedos entorno da mão de Mateus, e as lagrimas brotaram nos olhos do moreno de olhos esmeraldas, abaixou sobre ele e lhe depositou um beijo terno e carinhoso nos lábios, no mesmo instante em que Raul entrou no quarto.
Raul: Ei o que você pensa que esta fazendo rapaz?
Mateus: Eu... hãm... Nada senhor, só estava vendo se... Ele respirava!
Raul: Sei né, essa é a função daquele aparelho ali meu querido, por favor, eu acho que você deve deixá-lo descansar não acha?
Mateus: Eu já estava de saída, com licença!
As faces de Mateus estavam coradas e nem sua pele bronzeada conseguiu esconder a timidez diante daquele constrangimento, aquilo lhe abriu os olhos, estava certo de que tanto ele como Luis deviam se assumir de uma vez aos pais, não queria sentir-se envergonhado diante da família que logo também seria a sua família.
Leo levou Mateus até a rodoviária onde se encontraria com Vic, tinham que voltar pra casa, pois agora com o irmão incapacitado seria os dois os responsáveis por tocar o supermercado da família, não que aquilo fosse o que desejassem, mas era necessário tomar uma atitude diante o patrimônio familiar.
Na rodoviária foram àqueles longos e constrangidos minutos de despedida, abraços daqui, beijos dali e demonstrações de carinho excessivas que sempre completam este momento, por fim Leo viu os dois entrarem no ônibus e então partiu pra casa, estava muito cansado e quase dormia na direção do carro de Luis. Em casa se jogou no sofá mesmo e dormiu o sono dos justos, em seus sonhos a certeza de que havia agido de forma correta com o irmão e a família.
Na manhã do dia seguinte, Leo foi acordado com alguém lhe puxando pelo pé, era claro que se tratava de Emilia, a louca tia Emilia sempre agia assim com qualquer pessoa que fosse não era nada intrometida.
Emilia: Acorda sugismundo, sai do sofá meu, vai dormir na tua cama rapah, aiai chego cansada desejando só assistir minha novela e encontro esse estrôncio dormindo ate uma hora dessas!
Leo: Que merda tia, que porra de novela passa uma hora dessas?
Emilia: A porra da novela chama Sete Pecados meu querido sobrinho e esta é a ultima semana, e que eu saiba, ela não esta nada adiantada por que desde que tu é vivo esse horário chama-se Vale a pena ver de novo!
Leo: Porra já é tão tarde assim... Ué será que meu pai ainda não chegou, mas o Luh ia receber alta hoje de manhã!
Emilia: Como é? O Luis ta no hospital?
Leo: Não só ele, minha mãe também, ontem ele sofreu um acidente, caiu da escada e a Laís ao vê-lo desmaiado e sangrando teve um ataque de nervos e foi internada também!
Emilia: Meu Deus e por que não me ligaram, eu teria voltado mais cedo, nossa e como eles estão!
Leo: Não foi nada grave, já era pra eles estarem aqui, ontem à noite quando os deixei no hospital a enfermeira disse que o Luis recebia alta hoje!
Emilia: Vou ligar pro teu pai!
Emilia telefonou a Raul e ficou mais tranquila após ter noticias dos dois, segundo Raul, tanto Luis como Laís estavam bem e já haviam recebido alta medica, ainda não haviam retornado porque teimoso como é Luis, assim que saiu do hospital telefonou para Mateus e o garoto havia lhe contado sobre o acidente do irmão e da cunhada, ao perceber que Laila e o filho que ela esperava corriam perigo preferiu ir ver como ela estava, e se o bebê estava bem, Raul ainda disse que já estavam chegando e em casa conversariam melhor!
Leo ficou-se perguntando o que teria acontecido com o bebê, se Laila o tivesse perdido seria muita sorte de Luis, ficou feliz por um momento, mas ao lembrar-se que poderia perder o único sobrinho que Luis poderia lhe dar na vida ficou um pouco triste, sempre gostou de crianças e sabia que Laís jamais ficaria contente se soubesse que o filho não iria lhe dar netos e que o único que por acaso veio a existir morreu antes mesmo de nascer.
Já era inicio de noite, Leo estava na mesa de jantar usando o notebook e Emilia preparava o jantar quando os pais e Luis chegaram em casa, foi aquele alarde, Emilia abraçava e beijava o sobrinho e a irmã. Pediu-lhes que contassem como tudo havia ocorrido, Raul após beijar a cabeça do filho subiu para descansar, demorou um pouco ate que Luis estivesse livre dos inquéritos da tia, com a ajuda de Leo subiu para o quarto já sabendo que seguiria outra sabatina de perguntas agora feitas por Leo.
Luis: Vai lá mano pode perguntar, sei que você esta morrendo de curiosidade!
Leo: (risos envergonhados) Conta então e Laila como está e o seu filho?
Luis: Fala baixo caramba, a mãe e o pai não sabem que o filho é meu, todos acham que era do Nando!
Leo: Era? Ele morreu?
Luis: Sim a Laila perdeu a criança, ela saiu praticamente ilesa do acidente, mas perdeu o bebê, sabe eu não sei se fico contente ou triste com isso.
Confesso que estou aliviado com fim de tudo isso, mas feliz e difícil ficar afinal era meu filho, e no caminho pra cá fiquei pensando, era o meu filho, talvez o único que eu teria na vida, você não sabe mais meu sonho sempre foi ter muitos filhos e com o Mateus isso se tornou impossível!
Leo: Mas você esta pensando em terminar com o Mateus?
Luis: Claro que não, eu o amo, e também a outras formas de ser pai, eu ele podemos adotar uma criança né?
Leo: Verdade, bom então eu vou deixar você descansar ok?
Luis: Espera Leo, antes quero te agradecer por tudo que fez por mim e pelo Mateus ontem, tanto o pai e o próprio Mateus me contaram o quanto você esteve preocupado comigo e toda a epopéia que foi o seu dia ontem, obrigado do fundo do coração mano!
Leo: Que isso, irmão é pra essas horas!
Os dois se abraçaram por um tempo, algumas lágrimas escorrem e beijos na face de ambos foram depositados, era ali o fim das duvidas, a última atitude de Leo havia eliminado qualquer suspeita que ainda pudesse existir na cabeça de Luis, agora tinha plena certeza que o irmão estava ao seu lado e que realmente havia mudado.
Os dias passaram rápido, já era dia quinze de janeiro. Luis e Emilia estavam em uma imobiliária fechando o contrato de locação do apartamento que os dois iriam alugar em conjunto, estava tudo indo como planejado por Luis, agora só faltava regressar a sua cidade e contar para Mateus e sua família, era o maior passo que Luis dava em toda sua vida, sairia da vida sedentária para a atividade trabalhista, iria se tornar independente e que mais precisava e queria naquele momento era o apoio daqueles que ele amava.
Luis após organizar tudo o necessário para se mudar com a tia para o novo apartamento e também para começar a trabalhar e naquele mesmo dia seguiu para a casa do pai no interior, não levava bagagem pretendia voltar logo, pois ainda havia coisas a ser preparada, principalmente a situação de pelo menos mais um morador do novo apê.
Já na cidade Luis preferiu passar primeiro em um local que daria certa dor de cabeça a ele, tinha que resolver a situação de um amigo que pretendia acautelar, Luis pretendia levar o jovem amigo Marco para morar com ele na capital, via no amigo a chance de provar que a homossexualidade não era o fim de uma vida descente e pacifica.
Diante a casa dos pais de Marco, Luis sentia-se acuado, com medo, não sabia o que encontraria ao entrar por aquela porta, mas sabia que não poderia abandonar o amigo, sabia que o rapaz ainda menor precisaria de ajuda para sobreviver longe do amor e proteção dos pais, e achava que poderia ser a pessoa certa para substituir esses itens tão necessários para o desenvolvimento humano. Tocou a campainha e esperou ser atendido, não conhecia os pais do adolescente, mas esperava contar com o fator surpresa para sair dali com êxito. Uma senhora de uns quarenta e dois anos bem trajada surgiu na porta e o chamou para dentro, Luis já era conhecido na cidade e a mãe de Marco sabia que seu pai havia acolhido o filho após ser expulso de casa.
Laura: Bom dia! Aconteceu alguma coisa com o garoto?
Luis: Bom dia, não senhora o Marco esta bem, na verdade não o vejo há alguns dias eu estava na capital resolvendo minha mudança pra lá, e eu estou aqui para falar com a senhora e o seu marido sobre o seu filho...
Laura: Meu marido esta no banho, se puder me adiantar o assunto, para ver se merece nossa atenção rapaz eu ficaria grata!
Luis: Senhora eu gostaria de saber qual a atitude que vocês irão tomar diante da situação do filho de vocês, quero saber se esta expulsão vai persistir e se realmente a senhora e o seu marido não pretendem trazer o filho de vocês pra casa!
Alvaro: Rapaz eu não sei o que você veio fazer aqui, mas fique sabendo que o filho que a gente tinha morreu no dia em que descobri que ele era uma aberração, então se você veio apenas para saber se o aceitaremos de volta, pode ir embora não quero aquele monstro nem na calçada da minha casa.
Alvaro havia surgido na porta ainda enrolado na toalha, os cabelos grisalhos ainda molhados não diminuía o erro que ele cometia contra o filho, Luis ficou chocado com o que ouviu, mas permaneceu calmo diante os olhos amargos do velho preconceituoso.
Luis: Bom senhor era o que imaginava, por isso estou aqui, como sabe meu pai acolheu Marco em sua casa, mas Marco não se sente a vontade lá ou em qualquer lugar nesta cidade devido aos mexericos e comentários ofensivos dirigidos a ele, e pretende deixar a cidade. Como o senhor já disse que não o vê mais como filho e não irá aceitá-lo de volta eu queria lhe pedir autorização para levá-lo para a capital e morar comigo...
Alvaro: Filho eu não sei o que um rapaz bom como você quer com um garoto transviado como aquele, mas se o quer leve-o não me interessa pra que diabos ele foi ou vá entendeu!
Luis: Entendo senhor, mas como sabe ele é menor de idade, e na capital não é tão fácil abrigar um menor sem documentação, portanto eu tratei de procurar um advogado e pedi-lhe que fizesse esse documento, nele o senhor declara que cede a tutela do Marco a mim, e que a partir de hoje sou o único responsável por ele, o senhor pode assinar?
Alvaro: Deixe-me ler isso, não posso assinar nada sem antes ter certeza do que se trata, mas muito me admira um rapaz tão novo queria assumir uma responsabilidade como essa de aceitar em sua casa um rapaz pervertido que no máximo irá tentar seduzi-lo!
Luis nada respondeu, apenas observou o pai de Marco ler todo o documento e passá-lo a mulher, os dois antes de responder ao pedido de Luis saíram para uma sala aparte e conversaram por quase quinze minutos, quando regressaram a senhora Laura chorava silenciosamente, via-se que ela era contra a atitude do marido, mas se prendia ao compromisso e apoiá-lo mesmo que assim ficasse sem o próprio filho. Depois que se sentaram com o documento em mãos o pai do adolescente disse:
Alvaro: Bom rapaz, nós conversamos e decidimos que não queremos nada com aquele rapaz, e se você quer cometer essa loucura, pois fique com ele, de hoje em diante é seu, faça o que desejar, e se for possível gostaríamos que você se retirasse da minha casa agora!
Luis sorriu para o anfitrião, sua polidez ao mandá-lo embora foi do elegante ao educado e de certa forma cômico. O documento entregue a Luis já estava assinado pelos dois, havia algumas gotas de água que Luis deduziu ser lágrimas da mãe de Marco, mas nada disse apenas se levantou meneou a cabeça em agradecimento e saiu, já do lado de fora virou-se para Álvaro e disse.
Luis: Olha senhor é um erro o que o senhor esta cometendo, mas fique tranquilo o Marco será bem resguardado e cuidado, até por que eu o entendo afinal sou como ele uma aberração, certo?
A cara do velho diante da revelação de Luis foi de longe a mais carregada de sentimentos que Luis já tinha visto até então, era ódio, raiva, surpresa e outros tantos que tornaram a cara amarga de Álvaro uma carranca digna de filme de terror.
Luis entrou no carro e dirigiu para a casa do pai, não havia comunicado que voltaria naquele dia, já havia dois dias não falava com ninguém da cidade, nem mesmo com Mateus, mas assim que chegou na casa do pai, antes mesmo de entrar enviou uma mensagem para o namorado pedindo que fosse ate sua casa, pois precisavam conversar, queria falar antes com o namorado e só depois comunicar a família que iria voltar pra capital.
Foi uma surpresa em todos, Kaio e os irmãos estavam na piscina junto a Vic, e o pai estava com a esposa na sala, pela cara do velho Luis sabia que alguma coisa havia acontecido durante o abraço de boas vindas Luis Carlos disse.
Pai: Eu já sei o que você vai fazer meu filho, por um lado fico orgulhoso de você dar este passo tão grande rumo ao seu desenvolvimento, mas esperava mais consideração sua, comunicar o fato somente na ultima hora é um desrespeito.
Luis: Desculpa pai, eu não tinha certeza de como agir, fiz tudo por impulso ai houve aquele acidente e acabei me esquecendo de comunicá-lo, mas não ache que agi por má fé, somente o pessoal da capital sabe disso, não falei nem para o Mateus, irei comunicá-lo daqui a pouco.
Mateus entrava naquele momento, quando ouviu o que Luis havia dito, já havia ficado preocupado após a mensagem de texto, Luis não era uma pessoa de enviar sms pelo contrário gostava de usar o bom dialogo como solução para tudo, e alem do mais a frase precisamos conversar o assustou, via que esta frase geralmente era usada quando um relacionamento estava prestes a terminar por decisão de uma das partes e agora ouvir que seria comunicado de uma decisão o deixou ainda mais temeroso.
Mateus: O que você vai me comunicar amor?
Luis: Oi Mateus veio rápido, vamos subir precisamos ter uma conversa seria!
Já no quarto Mateus sentou-se na cama de Luis e o observava andando de um lado para o outro a inquietação estampada em seu rosto, e isso deixava Mateus louco, não queria puxar aquela conversa estava com medo de ser jogado na rua, temia o rompimento do namoro ainda tão prematuro.
Luis: Mateus eu te peço, por favor, que fique calmo, eu não queria fazer isso, mas diante de tudo que vem acontecendo e de circunstâncias que você desconhece, acho que é o melhor pra mim, pra ti e pra todos!
Mateus: Olha Luis seja direto, você quer terminar é isso?
Luis: Não claro que não, de onde você tirou isso meu amor, eu te amo, não seria louco de perder você meu anjo de olhos esmeralda!
Mateus: Confesso que foi isso que pareceu, as suas últimas atitudes me deixaram apreensivo, primeiro você ficou sem falar comigo por esses dias, não atendia o telefone, não me ligava, ai quando você chega aqui apenas passa um SMS falando que precisávamos conversar, te escuto falando com o teu pai sobre uma notificação que pretende fazer a mim, isso não lhe parece um rompimento?
Luis: Realmente meu amor, foi um erro meu, sinto que tenha te provocado tantos pensamentos negativos, mas a conversa que quero ter com você não tem nada a ver com terminar nosso namoro, pelo contrário estou tomando uma atitude para preservá-lo e garantir estabilidade futura!
Mateus: Como assim meu amor?
Luis abriu a pasta que carrega e tirou uma folha de lá, olhou-a de relance e a entregou para o namorado, seu semblante era de preocupação enquanto Mateus lia o documento, era a autorização de tutela assinado pelos pais de Marco.
Mateus: Mais o que significa isso amor? Você vai adotar o Marco?
Luis: Não amor, não é bem adotá-lo, mas eu irei tutelá-lo, a partir de agora eu sou o responsável legal pelo rapaz, depois do que aconteceu com ele, e essa decisão de sair da cidade eu vi que precisava fazer alguma coisa, não estaria certo com os meus princípios se o deixasse perdido no mundo, sei o que ele sente e pensa, por que penso nisso também, tenho medo de ser motivo de fofoca, de ser perseguido por amar um homem, então resolvi pedir aos pais dele que me passassem a guarda dele, assim sendo tutor legal dele posso contribuir para o seu desenvolvimento.
Mateus: Mas amor você pretende forçá-lo a ficar aqui na cidade? Ele jamais vai aceitar isso!
Luis: É isso que quero lhe falar amor, ele não vai morar mais aqui com o meu pai!
Mateus: Mais então eu não entendi...
Luis: Simples amor, vou me mudar pra Goiânia e dividir um apartamento com minha tia Emilia, Marco vai morar com a gente!
Mateus: Pelo que entendo isso não é um pedido de opinião, e sim um comunicado de uma decisão já tomada não é?
Luis: É meu amor, por favor, procure entender já esta na hora de eu buscar um futuro pra mim, consegui um trabalho de auxiliar administrativo com um amigo advogado e pretendo galgar meu crescimento profissional, e outra é tão importante pra mim, quanto pra ti e para o próprio Marco, imagina irei morar com a minha tia que também é homossexual, nenhum de nós precisara sentir vergonha por expressar-se...
Mateus: Olha eu preciso pensar nisso, sei que nada que eu diga irá te impedir de concluir esse seu ideal, mas eu preciso ponderar todos os caminhos que essa sua decisão poderá levar o nosso relacionamento.
Mateus levantou-se e saiu do quarto de Luis, ele ainda ficou ali pensativo, sabia que a reação de Mateus não seria a melhor, entendia que havia dificuldades em um relacionamento a distância, até pensou em convidar o namorado para morar com ele, mas sabia que Mateus ainda não se sentia preparado para abandonar a irmã e família. Quando chegou ao primeiro piso da casa do pai Luis viu Vic e Kaio sentados na sala, Kaio estava deitado no colo da namorada e chorava enquanto recebia carinho na cabeça. Luis pressentia que vinha chumbo quente em sua direção, Kaio era o típico garoto estereotipado que acreditava piamente que homem de verdade não chorava ainda mais na presença de uma mulher, mas ali estava ele aos prantos no sofá da sala.
Luis: O que aconteceu Kaio?
Kaio: O que aconteceu? Faça-me o favor Luis vê se me erra garoto, tu é um trairá cara..
Luis: Vejo que você já sabe de tudo não é?
Kaio: Sei sim, não graças a você! Porra que consideração tem por mim hein irmão? Todos ficaram sabendo primeiro do que eu...
Luis: Mano tenta entender, isso será o melhor pra mim...
Kaio: Poupe-me Luis, cara agora que a gente teve a chance de se conhecer de ficar juntos como irmãos tu resolve simplesmente nos abandonar?
Luis: Olha Kaio não espero que você me compreenda, mas já está feito, foram muitas ponderações que tive que fazer para chegar a essa conclusão, acha que não pensei em ti, no papai, nos nossos irmãos e amigos?
Kaio: Parece que não meu querido, por que não vejo o que lhe teria tanto peso assim para lhe fazer tomar a decisão de se mudar daqui!
Luis: Cara você não sabe as coisas que fervilham na minha cabeça, pra você saber meu irmão quando decidi tomar esse rumo na minha vida e seria pai...
Kaio: Pai? Como assim?
Luis: A Laila cara, ela tava grávida e perdeu o nosso filho naquele acidente de moto que ela e o teu cunhado sofreram!
Kaio olhava incrédulo para Luis, Vic que a tudo assistia nada disse, Luis estava chateado e saiu para a área da piscina ainda emburrado não pensava que aquela noticia seria recebida daquela forma como uma hecatombe total, na piscina Marco tomava banho de sol, Luis o observou por um tempo ate resolver se aproximar do rapaz.
Luis: Marco sai daí sobe arruma suas coisas tu vai embora hoje dessa casa!
Marco que estava sobre uma boia na piscina ao ouvir a voz de Luis se assustou e caiu dentro da piscina, demorou um pouco para retornar a superfície e saindo tossindo da água.
Marco: Cara desculpa se to parecendo folgado demais, mas teu pai disse que eu podia usar a piscina, cara, por favor, não me expulsa daqui serio, eu não tenho pra onde ir!
Marco estava com os olhos vermelhos, não se sabe dizer se por causa da água da piscina ou por que tencionava chorar, mas a expressão de sua face era de angustia ao quadrado, a experiência de ser expulso de casa ainda trazia-lhe lembranças e sentimentos desagradáveis e não havia como não associá-los as situações cotidianas.
Luis: Calma rapaz, não é só você que vai sair daqui... Iremos nós dois morar na capital!
Marco: Serio cara, tu tá me convidando pra morar contigo?
Luis: Não estou convidando Marco, como seu tutor legal eu estou ordenando que você suba e pegue tudo que é seu, pois iremos embora daqui a pouco!
Marco olhava assustado para Luis, ele falava de uma forma grossa, imperativa, transmitia ódio e assustava o rapaz a ponto de deixá-lo com o coração acelerado. Luis olhou o rapaz e toda a sua covardia diante dele e caiu na risada na frente do amigo.
Luis: Porra meu eu estou brincando, eu estou lhe pedindo que arrume suas coisas a partir de hoje você mora comigo e eu sou seu representante legal...
Marco: Cara como assim, eu não estou entendendo nada!
Luis: É o seguinte, os seus pais assinaram um documento declarando que a partir de hoje eu sou seu único responsável, e como eu pretendo dividir um apartamento com minha tia Emilia, acho que o melhor pra nós dois é você vir morar com a gente!
Marco: Mais mano eu fico grato de você se preocupar comigo a ponto de assumir essa responsabilidade, aceitar um adolescente expulso de casa sem um tostão no bolso... Eu nem sei que lhe dizer cara, mas fico meio sem jeito teu pai me aceitou aqui e agora eu sair assim, será que ele não vai ficar contrariado?
Luis: Claro que não, já ta tudo acertado mano, e outra pensa como vai ser mais fácil pra ti, tanto eu como minha tia somos homossexuais então você não terá problemas em ser quem você é e também numa cidade como Goiânia você vai ficar longe de qualquer preconceito ao que esta exposto aqui nessa cidade.
Marco abraçou Luis e chorou em seu ombro por algum tempo, depois saiu em direção a casa para organizar suas coisas, Luis estava contrariado com as atitudes tomadas por Mateus e Kaio, não imaginava que eles fossem tão contra, afinal ele não estava saindo do pais, estaria a quarenta minutos de casa, nada que fosse intransponível.
Marco estava feliz com a novidade, a chance que Luis lhe dava em poder construir uma nova vida, longe do preconceito e da humilhação era sem duvidas o melhor presente que poderia receber de um amigo, já no quarto de Luis onde ficava desde que chegou aquela casa, Marco deparou-se com Kaio sentado em sua cama e chorando.
Marco: Ué mano ta chorando por quê?
Kaio: Por sua causa mano, com se sente sabendo que esta roubando o meu irmão mais velho, hein cara diz ai como se sente sendo um ladrão de irmão?
Marco: Para né Kaio, tu sabes que eu não tenho nada a ver com essa ideia do Luis, ele decidiu tudo sozinho, e só fiquei sabendo disso agora, e tu sabes que eu não estou roubando ele de você...
Kaio: Como não cara, hoje você retirou de mim a pessoa que há muito tempo eu esperei surgir na minha vida, e logo agora que nós estávamos nos dando tão bem...
Marco: Maluco sério, não to nem ai pra tua crise de ciúmes, sabe bem que eu sou incapaz de lhe fazer mal, há quantos anos somos amigos hein Kaio?
Quantas vezes eu te defendi de brigas que você merecia? Eu sempre fui bem mais que teu amigo, eu te considero um irmão, mas isso não significa nada pra você não é?
Luis estava no corredor próximo à porta de seu quarto e ouvia a discussão de Kaio e Marco, não entendia a razão do garoto sempre tão marrento agora se apegar tanto ao fato de que eles iriam se separar.
Luis: Kaio me dê só um motivo que justifique todo esse dramalhão que você está criando, serio ficar contra teu amigo por tão pouca coisa é a atitude mais imatura que você poderia ter...
Kaio: Quer sabe mano tu se gostasse mesmo de mim teria pensado em como eu me sentiria com toda essa história... Sabe o que é você crescer com medo de uma pessoa que você nunca viu. Ouvir em todas as datas importantes para a família o pai falar como seria bom se o seu campeão estivesse junto a gente, sabe o que é crescer temendo encontrar uma pessoa que aos olhos de seu pai é melhor em tudo que você? Não você não sabe se quer se importou se tinha ou não irmãos, só que quando tu apareceste aqui na nossa porta e eu lhe conheci, eu vi que tudo que o pai falava era verdade, vi que o irmão que eu detestava era melhor do que eu poderia sonhar, e o tanto que essa pessoa acrescentou as nossas vidas, mas eu vejo que tu veio pra cá foi só para fugir dos problemas que tinha com o teu irmão, por que o Leo é que é o teu irmão de verdade, eu não sou ninguém, e agora que vocês estão de boa, nada mais sensato do que voltar pra lá né?
Luis: Kaio presta atenção no que você tá dizendo cara, você sabe bem que se antes não lhe procurei foi exatamente pelo mesmo motivo que você não me queria aqui, foi por imaturidade, por besteira. Admito que vim pra cá fugindo mesmo dos meus problemas e não foi somente por causa do Leo, e ele é sim meu irmão, o meu irmão mais velho, mas não o único, por que eu amo um pirralho que está me deixando triste agora com todas essas acusações, e se eu estou indo embora Kaio, é justamente pelos mesmos motivos que vim, tá certo que eles evoluíram uns para o bem outros para o mal, mas eles são a essência de toda a transformação que me trouxe aqui e são a razão de agora eu querer crescer na vida, Kaio você sabe que a porta da minha casa vai estar sempre aberta pra ti, vamos ficar apenas quarenta minutos no máximo uma hora longe do outro, e sempre que quiser você pode ir me visitar...
Kaio: Eu não quero ser só uma visita na sua casa, eu quero morar com você!
Luis: Kaio o pai nunca vai deixar você ir comigo!
Kaio: Ele já deixou mano, basta você dizer que eu posso ir!
Então era essa a razão de tudo, finalmente Luis entendeu todo aquele teatro de Kaio, ele sabia bem que não o levaria pra capital, o pai jamais lhe deixaria partir assim do nada, e Luis também não tencionava levá-lo, seria apenas mais uma carga para carregar, mesmo o amando tanto sabia que não seria fácil cuidar de dois adolescentes. Kaio também sabia disso e nada mais justo do que apelar para o sentimental de Luis, uma boa trama seria suficiente para deixar-lhe terrivelmente culpado a ponto de aceitá-lo em sua nova casa sem questionamentos. Agora Luis se via entre a cruz e a espada, não sabia o que fazer com o irmão, havia tanto que pensar e calcular, uma boca a mais para alimentar, uma pessoa a mais para se preocupar com Marco ele não via problemas, sabia da responsabilidade que o rapaz tinha e confiava em suas decisões, agora o irmão era teimoso, turrão, um perfeito adolescente rebelde, era uma decisão difícil a ser tomada, mas Luis coração mole como era não pensou duas vezes em dar seu veredicto final.
Luis: Se o pai apóia, quem sou eu pra negá-lo em minha humilde residência, vai arrumar tuas coisas daqui a pouco vamos embora.
Luis tinha que parabenizar o irmão sua atuação tinha sido perfeita e Marco também havia percebido a artimanha do amigo, pois ria muito da cara de Luis assim que viu o irmão já com as malas prontas na porta de seu quarto.
Se aproximava a fatídica hora da despedida, Vic chorava na varanda abraçada a Kaio, assim como Mateus a garota via a dificuldade que teriam em um relacionamento a distância, mas para Kaio quanto para Luis o amor era suficiente para mantê-los firmes e juntos a pessoa amada.
Luis enviou outra mensagem a Mateus na esperança que o garoto fosse até ele se despedir, mas o rapaz não apareceu, restando a Luis apenas o difícil trabalho de deixar para trás uma época que tanto lhe trouxe alegria e felicidade, era hora de crescer de abrir as asas e voar.
Os rapazes chegaram ao apartamento no centro da cidade já no fim de tarde, o porteiro os ajudou a subir com as malas e caixas da mudança, as coisas de Luis já estavam em seu quarto. Entrar no novo apartamento trouxe uma alegria incomparável a Luis, mesmo praticamente brigado com o namorado sentia-se irritantemente feliz, era mais um passo dado rumo a independência, agora lhe restava pouco a fazer até chegar a fatídica hora de se assumir gay a família, era tudo questão de tempo.
Os três rapazes estavam parados ainda diante a porta olhando o interior do apartamento não era o maior que já viram mais era confortável, Emilia já havia decorado todos os cômodos e tudo cheirava a novo, havia uma ampla sala conjugada com uma espécie de cozinha americana, quatro portas logo mais a frente, do outro lado da sala, era onde ficavam os quartos, três quartos para quatro pessoas, Luis entrou e mostrou o quarto dos rapazes, não era grande o suficiente para os dois, mas era confortável, um beliche em um dos cantos, um armário grande no outro e uma mesa para o computador. Todos os quartos eram praticamente iguais em tamanho e com os mesmos moveis, exceto o de Luis que tinha uma cama de casal no lugar do beliche, a casa ainda contava com uma micro varanda e uma menor ainda área de serviço.
Luis: Bom gente, é isso ai, sejam bem vindos ao nosso novo lar!
(18)