“Acorda Caco.”
Zonzo, eu tentava entender o que estava acontecendo. Eu lembrava de ver Vitória saindo do quarto sem se despedir de madrugada, fugindo do embaraço que seria conversar de manhã sobre o que tinha acontecido sem uma gota de álcool no seu sangue. Fernanda estava em cima de mim, tentando me tirar do meu sono pesado, enquanto seus olhos verdes me fitavam como flamas.
“Bom dia baby”, ela disse com seu tom jovial. Porém, depois dessa frase, ela fez uma pausa e mudou subitamente sua expressão. Agora olhando para baixo, evitando o meu olhar, Fernanda continou de uma forma séria: “Acho que nós dois temos que conversar, Caco.”
Eu ainda estava paralisado de sono e continuei quieto, até porque, eu queria ouvir o que ela tinha para dizer antes de despejar nela tudo que havia guardado nas últimas semanas. Fernanda, com seus olhos marejados, só conseguiu dizer uma palavra: “Desculpa.”
Parte de mim ainda se sentia injustiçado, e acreditava que agora seria a hora de fazer Fernanda pagar pelo jeito que me tratou. Mais que tudo, naquele momento, eu desejava ouvir ela confessando. Então, engrossando a minha voz, com um tom meio sádico, disse: “Desculpa pelo quê?”,
“Eu me sinto um lixo por tudo que eu fiz. A gente tava brigando tanto desde que eu mudei para cá, e eu me sentia abandonada, sei lá… as coisas aqui são tão diferentes, eu tô conhecendo tanta gente nova e surgiram tantas oportunidades para fazer coisas que eu nunca nem pensei em fazer na vida… eu acabei te traindo.”
Como se não soubesse de nada, eu exigi que ela me contasse cada detalhe do que tinha acontecido. E foi assim que eu ouvi da boca dela os eventos que eu já sabia, como o dia que ela ganhou o concurso de miss bichete e o dia na festa com as amigas. Mas, além desses casos, Fernanda revelou mais uma traição, que aconteceu no dia do trote dela.
Era um trote bem comum nas faculdades, os calouros tinham que ficar o dia inteiro pedindo dinheiro no farol para pagar as bebidas dos veteranos. Tudo regado a cachaça barata, que o mascote da faculdade insistia em dar de dez em dez minutos na boca de cada caloura.
Fernanda com toda sua simpatia e beleza, estava sendo um destaque na arrecadação de fundos. Por inveja, ou talvez pelo prazer de humilhar, uma veterana jogou bebida na minha namorada, deixando sua camiseta branca, quase transparente. Fernanda não pode nem reagir. Naquele ambiente a palavra e vontade dos veteranos era suprema.
Mas, para sorte da minha namorada, a atitude babaca da sua veterana acabou sendo uma estratégia de arrecadação genial. A blusa molhada da minha namorada parecia despertar a generosidade no coração de todos os seres do sexo masculino que paravam no semáfaro. Um cara foi tão generoso, que depois de encarar por quase trinta segundos o peito dela, deixou uma nota de cem reais.
Fernanda tinha conseguido tanto dinheiro, que as bebidas de todo mundo iriam ser pagas apenas com a sua arrecadação. Os veteranos sentiam necessidade de celebrar com ela. Amigavelmente eles a abraçavam, passavam a mão nela, e alguns mais animados chegavam até mesmo a roçar o corpo da minha namorada.
Toda aquela atenção e bebida, iam deixando Fernanda cada vez mais distante da realidade. Até que um dos veteranos percebeu o estado dela, e encontrou uma forma conveniente de “ajudar” minha namorada. Arrastando ela para o banheiro imundo daquele bar, ele posicionou Fernanda de costas para ele apoiada na parede, e começou a meter nela, enquanto ela lutava para não cair de bêbada no chão.
Fernanda disse que estava tão bêbada que não lembra cem por cento do que aconteceu, mas na hora ela voltou a si, percebeu que o rapaz esfregava o pênis no seu outro buraco, tentando desvirginar a última parte do seu corpo que nunca havia recepcionado um homem. Com medo, ela pediu para ele não fazer aquilo, mas, ele não a entendeu ou simplesmente não obedeceu.
“Ainda bem que ele não me ouviu”, Fernanda confessou para mim de uma forma ingênua. Segundo ela, usar a porta de trás foi a melhor sensação que ela já teve na vida, fazendo-a ter múltiplos orgasmos naquele lugar insalubre, até o seu veterano terminar aquela folia ejaculando dentro da bunda dela.
Só que, ela acabou fazendo muito barulho, atraindo um grupinho de curiosos que observava o show pendurado na cabine do banheiro. Possuída pelo tesão, ela pediu que eles formassem uma fila, e foi chupando um por um, até engolir o gozo dos cinco caras que estavam ali.
Se eu contasse essas histórias no meu julgamento de feminicídio, acho que o júri me declararia não culpado, alegando que nenhuma pessoa do mundo conseguiria suportar tamanha traição. Mas, era estranho ouvir a versão dela dos fatos, claramente nós dois estávamos vivíamos em duas realidades distintas. Aquelas orgias cabulosas que ela fazia, que tinha uma gravidade gigantesca para mim, para ela não passava de uma brincadeira, ou como ela chamava, uma nova experiência. Se fosse possível consertar nossa relação, um dos dois teria que viajar até o universo do outro.
E eu não sabia como consertar aquela relação, mas naquele momento, eu tive uma certa epifania. Os erros de Fernanda eram imperdoáveis, mas eu não era exatamente uma vítima indefesa da história. Eu achava que só porque ela havia me traído, tudo que eu tinha feito era justificado, mas agora eu via claramente como eu também tinha feito minha dose de cagadas. Eu havia alienado ela de afeto, duvidando da nossa relação, quando ela passou na faculdade. Eu escondi que sabia das traições. Eu voltei com ela simplesmente pelo sexo. Eu só havia ido na festa do dia anterior em busca de vingança. No final das contas, o júri declararia nós dois culpados, e eu gostaria que se possível nos colocassem na mesma cela.
“Fê, eu não sei o que fazer honestamente. A gente errou demais nos últimos tempos, acho que tem coisas que não tem concerto. O que você acha?”
“Eu amo você Caco. Eu não quero que a gente se afaste..”
“Tá, mas então você está disposta a daqui para frente resistir a todas as tentações dessa sua ‘vida nova’ para a gente continuar junto?”
“Caco, eu não consigo corrigir todas as cagadas que eu fiz. Eu te amo muito, você é o meu melhor amigo, nunca quis te magoar. Mas…”,
Como assim teria um mas? Eu achava que ela iria aceitar todas as condições que eu impus para a gente continuar sem pestanejar, não conseguia nem imaginar depois de jogar toda aquela merda no ventilador o que ela poderia exigir de mim naquele momento.
“A gente precisa mesmo desistir de todas as experiências que a gente poderia ter para ficar junto? Eu gostei tanto de ontem, eu senti que eu pude ser eu mesma, e você estava junto também sendo você mesmo. A gente é tão novo, e tem tanta coisa que a gente nunca fez na vida. Se eu te prometesse resistir a tudo, eu não sei se eu conseguiria cumprir essa promessa. Eu não posso voltar no tempo e mudar o que eu fiz, mas a única coisa que eu tenho certeza é que eu quero continuar junto de você, vivendo o máximo que pudermos das nossas vidas.”
<Continua>
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