Possesso de raiva e ciúmes, adentrei a sala disposto a acabar com aquela situação de uma vez por todas, mesmo que para isso eu tivesse que bater ou apanhar:
- Mas que porra está acontecendo aqui!? Amanda! - Falei num tom de voz mais elevado.
- Nada, amor, nada. - Respondeu Amanda, levantando-se do seu colo e ajeitando a barra do vestido.
- Isso! Nada que te interessa, mané. - Respondeu Jurandir em tom ainda mais agressivo já se levantando do sofá com ambos os punhos cerrados, pronto para revidar qualquer ataque.
[CONTINUANDO]
Não bastasse estarmos quase atravessando um ponto sem retorno, ainda fiz um ataque patético:
- Não sei o que a Amanda viu em um peão ignorante como você, Jurandir. Você não serve para lamber o chão em que ela pisa.
Tomado pela raiva e em resposta a ofensa, Jurandir tomou uma atitude ainda mais inesperada, excessiva e até mesmo ridícula, confirmando o seu baixo nível:
- Viu o que cê não pode dar pra ela, seu corno de merda. - Falou e ali mesmo, no meio da sala, desceu a calça juntamente com a cueca, revelando seu enorme pênis quase totalmente ereto.
Ali eu estava frente a frente com o causador de toda a discórdia no meu casamento. Seu pênis parecia ter vida própria. Com certeza já devia ser “de maior”, medindo entre vinte e cinco e trinta centímetros, além de ser bem grosso. O troglodita podia ser um parvo de conhecimento e cultura, mas sabia bem o que tinha e o que significava para uma mulher safada comia minha. Ele o segurou com mão direita e o batia como se fosse um bastão na esquerda, e ainda teve a pecha de dizer:
- Eu dô pra ela o que ocê não tem pra dá. Ó aqui, ó! Uma baita de uma pica grande, preta e bem dura. - Falou para mim e se voltou para a Amanda, ordenando num tom absurdamente autoritário: - Vem cá, minha putinha, dá uma mamada e mostra pra esse babaca como que ocê gosta desse pau. Vai ali e vem engatinhando, igual cê faz sempre quando brinca de sê minha cadelinha…
Amanda estava visivelmente constrangida e ficou transtornada. Não conseguia dizer nada nem esboçar reação alguma e ao ouvir essas últimas palavras do seu “amante”, ficou roxa, não sei se de vergonha ou raiva. Então, lágrimas brotaram de seu olhos e ela levou as mãos ao rosto, disparando numa corrida pelo corredor da casa em direção à nossa suíte:
- Viu o que cê me obrigou a fazer? - Falou o Jurandir, enquanto erguia novamente as calças.
- Vai se foder, seu animal! Eu faço o maior esforço para te receber bem na minha casa, você dá um show lamentável desses e ainda quer me culpar? Vá para a puta que te pariu! - Falei e lhe dei as costas, indo até a minha suíte.
Como eu já imaginava, a porta estava trancada. Bati insistentemente, mas a Amanda se recusava a abrir:
- Amanda, sou eu. Abra a porta. Conversa comigo.
- Não quero ver ninguém! - Ela retrucou, ainda em lágrimas.
Jurandir chegou pouco depois atrás de mim e bateu na porta também, naturalmente de uma forma bem mais rude:
- Abre, minha branquinha, quero falar com você.
- Já disse que não quero falar com ninguém.
- Será que além de burro, você também é surdo? Sai daqui, seu animal, já não ficou satisfeito em ter feito o que fez?
Ele me encarou com a pior cara possível e imaginei que fôssemos sair no braço, mas me surpreendendo, ele voltou a bater na porta, ainda mais forte:
- Não tô com paciência pra pirraça. Abre essa bosta, senão vou embora!
Houve um silêncio dentro da suíte. Então, Amanda, com os olhos vermelhos de chorar, abriu a porta. Jurandir já foi entrando sem sequer ser convidado. Quando fiz menção de também entrar, ela colocou gentilmente sua mão em meu peito:
- Amor, você não. Espere na sala só um pouquinho, por favor.
- Amanda!? É minha casa, porra, nosso quarto, nossa cama! - Retruquei, irado e já imaginando que ela fosse transar com ele ali para fazer as pazes.
- Por favor… Serei rápida. Prometo!
- Amanda, não. Eu...
Ela entrou de fasto e fechou a porta na minha cara, trancando em seguida. Eu não acreditava naquilo, minha esposa e aquele ogro no nosso quarto, enquanto eu teria que esperar na sala! Como poderia suportar aquilo? Desobedecendo, óbvio. Fiquei ali com o ouvido colado na porta enquanto eles estavam lá dentro. Foi Jurandir quem puxou o assunto:
- Me desculpe, minha branquinha, mas o seu marido me provocou.
- Eu sei, mas ele está com ciúmes, é normal. Parece que você esqueceu que eu sou a mulher dele. Poxa, negão, é a primeira vez que você vem aqui e mostra a benga pro meu marido!? Fiquei morrendo de vergonha.
- Tá com vergonha de mim? Se quiser, eu vou embora.
- Cê que sabe. Quer ir, vai! - Ela falou e eu quase comemorei, quase: - Tá achando que é fácil pegar uma mulher como eu só porque tem um pau gostoso?
- Então fala que não me quer mais. Fala que não quer mais seu negão que eu vou embora pra sempre.
- Cê sabe que eu gosto de você, Jurandir, mas cê tem que tratar melhor o Maurício. Ele é o meu marido e merece respeito. Já basta o que ele passa para aceitar me deixar ficar com você.
Houve um certo silêncio e depois ouvi um som de beijo, seguido de novas falas:
- Vem cá, minha safadinha gostosa.
- Vô nada, negão, safado…
- Não vou fazer isso mais, minha branquinha. Acho que eu fiquei com ciúmes também. Num sei bem, mas quando vi sua casa, seu marido… Cê tem dinheiro, uma casa bonita…
- Pode parar, seu bobo! O que eu tenho de mais valioso não são essas coisas, mas o meu marido. Você pode até achar que não, mas eu o amo de verdade. Não vou mentir! Só que gosto demais de você também. Você é o meu homem, meu gostoso, meu macho pauzudo… - Falou e riu, certamente fazendo um charme para ele: - E eu sou a sua menininha travessa.
Nessa parte da conversa, ela começou a rir em um tom muito bem humorado, fazendo ele gargalhar junto. Logo após ouvi sons de beijos, respiração ofegante e me preparei para bater na porta, decidido a colocar os dois no meio da rua ou me matar tentando. Nesse momento, ouvi ele perguntar:
- Levanta o seu vestido, então. Fica de quatro aqui na cama. Sempre tive vontade de comer uma casada na cama do corno…
- Não! Não podemos fazer isso aqui, não. Bem, não hoje…
- Ahhhh… - Ele resmungou com sua voz grave e grossa.
- De jeito maneira! Você vem à nossa casa, briga com o meu marido e ainda acha que vai me comer na cama dele!? Mas não vai mesmo! Tá vendo por que é importante fazer amizade com ele? Se você tivesse sido bem bonzinho, quem sabe ele até não deixasse…
- Poxa!...
- Não! Hoje… não… mesmo! - Falou pausadamente, calando o Genivaldo: - Agora dá licença que eu vou até a sala conversar com ele.
- Amansá o corno? - Ele perguntou e riu na sequência.
- Para com essas brincadeirinhas bestas, Jura. Respeita o Maurício! - Falou seria, mas se traiu na seguida: - Se bem que é mais ou menos isso. Agora espera aqui.
Ouvindo que ela se aproximava da porta, corri e me joguei no sofá da sala, trabalhando a minha cara mais invocada e chateada possível, além de me fazer de desentendido e abalado. Quando ela se aproximou, tive uma ideia e decidi testá-la:
- Resolveu sair, é!? Já pensei que você fosse macular a nossa cama com aquele lá. Aliás, cadê aquele filho da puta? Quero ele fora da minha casa!
- Por favor, amor, não faz assim. Precisamos conversar.
- Uai! Fale…
- Juro que eu não queria que as coisas tivessem sido assim, de coração mesmo.
- Esse cara é um grosso, Amanda. Não consigo entender como você pode se envolver com alguém assim, tão… tão…
- Para, amor! Por favor… - Interrompeu-me e continuou: - O Jurandir é boa gente. Ele só é simples, não teve berço. Além do mais, ele me confessou que ficou com ciúmes de você e de tudo o que temos. Coitado… Acho que ele se tocou que eu nunca serei dele de verdade e ficou com o orgulho ferido, orgulho de macho, afinal, ele foi criado num meio diferente, conservador... Não foi criado como homem para dividir mulher.
- Há, há, há! - Forcei a mais falsa das risadas possível, sendo sarcástico, ácido ao extremo e continuei: - E você acha que eu fui criado assim, Amanda!? Caramba! Será que você não consegue entender o quanto essa situação está me fazendo mal?
- Amor, a gente já conversou…
- Já, eu sei! Mas isso não significa que eu concordei com a situação. Eu só aceitei porque te amo e... já estou arrependido dessa decisão! Além do mais, você é “minha” esposa. O terceiro aqui é ele. Ele que vá ficar ofendido na puta que o pariu! - Falei, quase gritando mesmo.
- Amor! Por... favor... - Ela pediu colocando suas mãos sobre o meu braço: - Eu sei disso e ele também, mas eu tive a sorte de ter você, um homem espetacular, bondoso e super compreensivo. É diferente, eu não sei explicar… Quando estou com ele, deixa ele achar que sou dele, deixa ele realizar a fantasia de ter uma branquinha só para ele…
- Você não entendeu que está me matando aos poucos, né?... - Resmunguei e virei a face, forçando uma lágrima que sequei em seguida:
- Quero ele fora da minha casa e nunca mais quero vê-lo aqui!
Amanda suspirou profundamente, chateada com toda a situação e me surpreender da pior forma possível:
- Eu vou sair e dormir com ele hoje, só para acalmar as coisas, tá bom?
- Só pode estar escrito palhaço na minha testa... Você está doida, Amanda!? Dormir fora de casa, justo hoje, depois de tudo o que ele me fez passar? Acha que vou permitir isso?
- Amor, eu… eu não estou pedindo, só estou avisando você. Eu vou porque quero conversar bastante com ele e fazê-lo entender o tamanho da burrada que ele fez discutindo com você.
- Você não vai, Amanda! Se você for, nosso casamento acaba.
Ela me encarou triste, mas não deu o braço a torcer. Levantou-se e olhou pela janela da nossa sala, respirando profundamente. Depois se virou para mim:
- Vou e pronto!
Amanda voltou ligeira para o quarto sem sequer me dar tempo de protestar novamente. Alguns minutos depois, retornou carregando numa mão uma pequena bolsa. Pelo tamanho, não havia roupa para mais do que uma noite mesmo, o que estranhamente me fez sentir um certo alívio. Na outra mão, ela trazia a reboque o tal Jurandir. Pararam então em frente ao sofá em que eu estava e ela me falou:
- Como te expliquei, acho melhor levá-lo embora. Estamos indo para o hotel na cidade vizinha. Vou chamar um táxi pra levar a gente até o posto onde Jurandir deixa o caminhão.
- Não! Eu levo vocês até o posto. - Falei, com palavras saindo amargas de minha boca, fazendo eles se surpreenderem.
Na verdade, a minha família era conhecida na cidade e eu não podia permitir que minha esposa fosse vista por qualquer um tomando um táxi com um homem estranho, ainda mais portanto uma bolsa e tão tarde da noite. Os comentários seriam a derradeira humilhação para mim:
- Assim aproveito e vou tomar umas no forró do Zé Pequeno.
- Oi!? - Amanda agora é quem perguntava, surpresa.
- Vou farrear um pouco, uai. Se depois de todo o problema que essezinho aí causou aqui hoje, você ainda tem fogo para abrir suas pernas para ele, deixando seu marido aqui, eu é que não vou me preocupar com você. Vou cair na gandaia!
- Espera aí! Não… Não é isso o que a gente conversou. Eu te falei que vou ficar com ele para con-ver-sar. - Falou pausadamente: - Quero explicar algumas coisas para ele. Só isso!
- Tô nem aí para o que você quer! Só estou retribuindo na mesma moeda a sua consideração comigo, ou falta de consideração, né? - Retruquei já me levantando do sofá e indo até a mesinha pegar minha carteira e chaves: - E vamos logo porque o forró já deve ter começado. Tô até sentindo que vou me dar bem hoje…
- Não mesmo! De jeito nenhum! Você não vai não! - Ela voltou a falar, alterando-se.
- Deixa o homi sê feliz, branquinha! - Jurandir me defendeu e ainda teve a pecha de pegar um bolo de notas do bolso de sua calça e sacar uma nota de R$ 100,00, esticando-a em minha direção: - Toma! Come uma puta por minha conta.
Aquilo era a gota d’água, a humilhação suprema, ele me pagar uma puta enquanto comia a minha esposa. Cheguei a pensar novamente em partir para cima dele, mas como uma lâmpada que se acende, tive uma ideia, pegando a nota e ainda agradecendo da maneira mais sarcástica possível:
- Grato, Jurandir. Já que você está comendo uma puta casada de graça, nada mais justo que você pague para eu comer outra na rua. Obrigado mesmo...
Olhei para Amanda e vi lágrimas contidas em seus olhos. Ela estava irada quase ao ponto de explodir, mas não podia reclamar, afinal, ela havia nos jogado naquela situação. Jurandir vendo que ela titubeava, a pegou pela cintura e seguiu rumo a porta da sala. Não abri a porta, porque não queria que a “visita” retornasse. Ele próprio abriu e a puxou para fora. Em meu carro, eu já imaginava que seria o chofer da noite para os dois pombinhos, mas que nada: Jurandir colocou Amanda no banco de trás e ele fez questão de sentar na frente. Fomos os três calados por todo o trajeto. Ao chegarmos no posto, Jurandir, fazendo-se de educado, apertou minha mão:
- Brigado, seu moço Maurício. Desculpe quarqué coisa.
Ignorei-o completamente, até mesmo virando o meu rosto para o lado contrário. Amanda desceu do carro e debruçou sobre a janela do meu lado com um semblante preocupado. Logo, tentou me dar um selinho que recusei, virando o rosto para o outro lado. Perguntou se eu iria mesmo para o forró, o que confirmei. Deu-me então um simples boa noite e saiu. Jurandir novamente a abraçou pela cintura e caminharam até o caminhão, ele apoiando sutilmente a mão sobre a sua bunda enquanto andavam. Ele abriu a porta do caminhão e a ajudou a subir. O vestido se erguia um pouco lhe dando uma visão privilegiada de sua intimidade e ele naturalmente apoiou a mão em sua bunda enquanto a empurrava para cima, tudo enquanto me olhava à distância, com um sorriso amigável, malicioso e provocador ao mesmo tempo:
- Filhos da putas! - Balbuciei para mim mesmo, baixo demais para que somente eu ouvisse.
Ele fechou então a porta e, seguro de que Amanda não nos via, olhou para mim, e tive a impressão de vê-lo erguer sutilmente o dedo médio, mas dada a distância, não tive a certeza. Então, deu a volta, entrando no caminhão. Só depois, ela me acenou da janela enquanto partiam. Minha noite só começava a ficar ruim…
OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO SÃO FICTÍCIOS, MAS OS FATOS MENCIONADOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL PODEM NAO SER MERA COINCIDÊNCIA.
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