Voltamos para casa num silêncio tumular e no dia seguinte eu praticamente a obriguei a ir na sua médica e confessar o inconfessável. A doutora Cristina, velha conhecida nossa e sua ginecologista, comeu-lhe o fígado com vinagre e sal, só parando quando a Amanda começou a chorar. Passou uma lista de exames absurda e uma receita com antirretrovirais, obrigando-a a tomar todos ainda naquele dia, o que ela fez a muito contragosto.
Os exames foram feitos, alguns no mesmo dia, outros no dia seguinte e vários tiveram que ser repetidos várias vezes para confirmar seus resultados. Nesse período que durou quase seis meses, só transamos de camisinha. Eu ainda recebia um boquetes, mas ela só me recebia com proteção, tudo sob orientação da doutora Cristina que acompanhou tudo de muito perto. Nesse período, só tivemos contato profissional com o Jurandir. Eu nunca fui de atendê-lo e ela parou de fazer isso também, delegando a função para o Pedrão, um faz tudo da minha empresa. Quando saiu o último resultado, felizmente negativo, não tivemos como não comemorar, novamente no motel, tentando continuar tudo de onde paramos.
Nesse dia, eu caí de boca em sua buceta, sem medo ou receio algum. Lambi, chupei, acarinhei aquela bucetinha tão branquinha e cheirosa até me fartar. Só depois dela gozar duas vezes é que aceitei sua ordem para eu me deitar de costas. Ela se sentou sobre o meu pau, penetrando-o em sua buceta e passou a cavalgar de uma forma diferente, fazendo caras e bocas, e me fazendo sentir sua buceta ainda mais forte, apertando bastante o meu pau:
- O que foi? - Ela perguntou ao ver que eu a encarava, surpreso.
- Então… Não sei! Só sei que você tá fazendo algo.
- Pompoarismo.
- Hein!?
- É um negócio que vi na internet e venho treinando. Dizem que ajuda a fortalecer a musculatura da xereca.
- Ah… - Resmunguei, gostando da brincadeira e depois de sentir uma apertada mais forte, brinquei: - Ôôôôô! E, ó, funciona, viu?
Transamos deliciosamente por um tempo, mas provavelmente o tal “pompoarismo” estava exigindo bem mais esforço dela, pois vi por suas expressões que estava se cansando rápido. Passamos a alternar as posições e logo gozamos, quando eu a penetrava num tradicional papai e mamãe, cadenciado e ainda recheados de beijos e “olhos nos olhos”. Depois ainda tive fogo para enrabá-la duas vezes, afinal, aquele buraco era meu e depois de gozar, quando nos recuperamos, fiz questão de confirmar:
- Sabia que eu vi que aquele filho da puta enfiando o dedo no que é meu…
- Isso eu não tive como evitar, amor, mas foi só o dedo. Minha promessa nunca foi quebrada. - Falou, já se aconchegando em meu peito: - E, por favor, vamos mais falar nele não, tá?
Aquilo era música para os meus ouvidos. Pernoitamos no motel. Na manhã do dia seguinte, fomos acordados pelo seu celular: Jurandir ligava. Ela estava de quatro e eu a comendo, e não parecia nada disposta em atendê-lo, mas, de uma hora para outra, mudou de ideia e atendeu, colocando a chamada no viva-voz inclusive:
- Ô, branquinha, tô com uma saudade do’cê… Ainda tá brava comigo?
- Brava!? Agora eu tô nas nuvens, Jurandir. Tô aqui curtindo um motelzinho com o meu marido. Estamos trepando praticamente desde ontem, sabia? E, olha, só no rabo eu já devo ter levado umas três vezes ou mais, né, amor? - Falou, olhando para a tela e depois me encarou por sobre os ombros, mexendo os lábios na sequência como se dissesse “soca forte!”
Desci a ripa na minha loirinha. Nossos corpos começaram a se chorar e o barulho de uma foda forte inundou a suíte. Se ela queria dar um show para o Jurandir, eu iria estrear em grande estilo. Ela começou a gemer alto e logo ficou transtornada, xingando e humilhando, mas a ele, não a mim, o que me surpreendeu:
- Fode, gostoso do caralho! Ai… Mete na tua putinha sem vergonha, vai! Mostra para esse bocoió do Jurandir que essa potranca tem dono. - Começou a rir do nada e complementou, em meio as risadas, falando pausadamente: - E que o dono não… é… ele! Vai, mete! Mete! Mete forte!
Eu, num misto de raiva, tesão e intenção de mostrar que poderia ser melhor que o tal Jurandir, mesmo tendo uma ferramenta de trabalho bem menor, passei a dar o que tinha e não tinha naquela trepada, mesmo correndo o risco de infartar. Logo ela começou a gozar, não uma, mas várias vezes, emendadas umas na outras. Além disso, pela primeira vez em minha vida, vi uma mulher se mijar de tanto gozar, o que vim a saber depois não ser urina, mas sim um tal de “squirt”. Caímos esgotados na cama, a ligação ainda estava ativa, mas o Jurandir nada falava, aliás, nem Amanda ou eu. Nós ficamos nos recuperando, com a respiração entrecortada e só depois de um bom tempo, ela se lembrou dele e encerrou a ligação, sem sequer se despedir.
Nossa vida daí para a frente se transformou numa nova lua de mel. Transávamos sempre que podíamos e o nosso tesão era uma coisa fora do normal. Além disso, vivíamos grudados, praticamente o dia todo, com exceção do horário da sua malhação, mas era coisa de duas horas no dia, nada que me preocupasse e esse foi o meu erro: não me preocupar…
Dois meses transcorreram desse dia no motel. Amanda, fugindo a sua rotina, se atrasou para retornar da academia. Entretanto, como não havia tido entrega do Jurandir nesse dia, não me preocupei. Quando perguntei o motivo do atraso, notei um certo constrangimento, mas ela logo me disse que uma professora nova estava lhe ensinando uma rotina diferente de exercícios e por isso o seu atraso. Como a resposta parecia sincera, aceitei.
Seu atraso começou a se tornar rotineiro. Não era muito, mas coisa de uma hora em um dia por semana, mas justamente em dias que o Jurandir não fazia entregas em nossa região e aquilo começou a me incomodar. Sempre que eu perguntava, a resposta era a mesma: “Comecei uma nova rotina de treinos com a professora nova. Eu te avisei, não avisei?”. Como havia regularidade no dia e hora de seu atraso, decidi que tentaria dar um flagra e se ela estivesse aprontando, eu tomaria uma atitude.
Lembro-me bem, quarta-feira, às 17:45, eu estava de plantão em frente a sua academia. Quando o relógio marcava 18:10, ela saiu sem olhar para os lados e andou poucos metros num caminho que tomava para retornar até a nossa casa. “Pronto! Olha eu fazendo mau juízo da Amanda.”, recriminei-me em silêncio. Mas eis que coisa de uns trinta metros adiante, perto de uma esquina, para uma caminhonete de uma marca americana bem famosa. Eles nem trocaram meia dúzia de palavras e ela já estava dentro. Aquilo estava estranho demais. Eles saíram e eu os seguia a uns cinco, seis carros de distância. Liguei para ela e nada, só sendo atendido na quarta tentativa:
- O que foi, amor? Aconteceu alguma coisa?
- Não, nada, é que eu estava querendo saber se você ainda vai demorar muito?
- Ah, querido, uma hora, talvez uma hora e meia. Estou bem no meio do treino. Inclusive, você está me atrapalhando, mocinho.
- Ah… Desculpa.
- Tudo bem. Vou desligar antes que a professora me dê uma chamada e já, já estou em casa. Te amo, viu, seu bobo.
- Também.
Aquilo me enervou de uma tal forma… Quando vi, estava ultrapassando carros tentando alcançá-los, mas como era a hora da saída do trabalho, eu não conseguia me aproximar. Entretanto, pouco depois, vi que eles entraram num centro comercial da minha cidade. Estacionei pouco à frente e desci. Vi que ela estava sentada numa cafeteria, de prosa mole com um “mauricinho” (vejam a coincidência!) que eu nunca vi mais gordo na minha vida. Aquilo me incomodou de uma tal forma, aliás, de uma forma muito mais significativa do que quando ela ficava com o Jurandir, pois o novo pretendente era jovem, de boa aparência, aparentemente rico e certamente de boa lábia, tanto que ela se desmanchava em sorrisos para ele. Pela primeira vez, me senti realmente ameaçado, pois, quando ela estava com o Jurandir, pelo menos não mentia para mim, mas já agora…
Enquanto pensava no que fazer, meu instinto agiu por mim e quando me dei conta já estava de pé próximo à mesa em que eles estavam, mas às costas da minha esposa. Cheguei a encarar o talzinho, mas ele apenas correu o olho por mim, voltando rapidamente sua atenção para Amanda, certamente muito mais interessante que eu. Respirei fundo para não fazer nenhuma besteira e puxei uma cadeira, sentando-me à mesa deles. Só então, eles me encararam de vez: ele, surpreso e claramente contrariado; ela, branca igual uma folha de papel:
- Ma-Ma-Maurício!? O que você está fazendo aqui? - Amanda perguntou assim que o sangue voltou a circular em seu cérebro.
- É uma boa pergunta… O que eu estou fazendo aqui? O que ele está fazendo aqui? Aliás, o que a senhora está fazendo aqui, Amanda, porque, de acordo com a nossa última ligação de minutos atrás, você está no meio da sua nova aula de… de que mesmo? Acho que você nunca me falou que aula anda fazendo fora de hora, falou?
Ela só abaixou o rosto, agora vermelha igual um pimentão por ter sido pega no flagra. O tal mauricinho deve ter sacado de imediato quem eu era e preferiu ficar em silêncio. Eles não queriam ou não sabiam o que falar, mas eu pretendia falar muito:
- Então, não me apresenta o seu… amigo?
- Ah… - Suspirou por um instante e só então levantou o rosto, me encarando, triste, com os olhos marejados: - Esse é o Ricardo, amor. Ricardo Pinto, filho do José Maria Pinto, o deputado, conhece?...
- Ah sim… - Resmunguei e estendi a minha mão para o talzinho, que a pegou, todo sem jeito: - Ricardão Pinto, tudo o que Amanda gosta numa só pessoa…
- Amor, por favor, aqui não! - Ela pediu, roxa de vergonha.
- Uai, mas o que estamos fazendo demais? Só estamos conversando. Não é isso que vocês vieram fazer? Também gosto de conversar, me incluam nessa!
- Amanda, eu acho melhor eu ir embora e… - O tal Ricardo falou, já se levantando.
- Mas já!? - Segurei em seu braço, deixando-o de olhos arregalados: - Cedo ainda! Sem aí, moço, faz essa desfeita para mim, não, sô!
- Sabia que ela é casada? - Perguntei num tom bem sarcástico, mas eu mesmo respondi: - Sabia, né? Claro que sabia! Ela está de aliança, ó só! Pelo menos, nisso ela é honesta, não mentiu um segundo sequer que é casada…
- Maurício, para! Olha o vexame. - Amanda pediu novamente, olhando sutilmente para os lados.
- Vexame!? Posso dar também, quer ver? - Falei e me levantei, falando alto para quem quisesse ouvir: - Se alguém souber de algo pior que mulher infiel, por favor, se levante e me fale. Estou com uma situação dessa na minha mesa e não sei como resolver…
Nesse momento, ela segurou no meu braço e se levantou, encarando-me com ódio no olhar. Fiquei calado, encarando, mas pronto para a briga. Eu tinha decidido que não iria suportar uma traição novamente. Depois de respirar profundamente:
- Tá com o orçamento aí, Ricardo? Pode me passar? - Ela falou sem tirar os olhos de mim.
Eu não desviei o olhar, mas fiquei em silêncio, olhando enquanto ela recebia uma pastinha de papelão brilhante do tal Ricardo e abria sobre a mesa, pegando alguns folders, orçamentos e um pedido. Na sequência, os balançou em minha direção, quase esfregando-os esfregando na minha cara. Quando consegui segurar os papéis e afastá-los dos meus olhos para ler, ela começou a falar:
- Reconhece? Não é essa aquela caminhonete que você sempre quis comprar? O Ricardo tem uma concessionária e estava me ajudando nos trâmites, seu… seu... Ele é o dono e estava se virando nos trinta para me conseguir uma até o seu aniversário. Era para ser um presente, seu babaca!
Olhei para os documentos, na intenção de buscar algo que contrariasse sua versão, mas nada indicava isso. Voltei a encará-la e ela tinha sangue nos olhos. Acabei me sentando novamente à mesa e ela pegou um copo de água que lá estava e o bebeu todo de uma golada só, tremendo as mãos enquanto o fazia. Eu não sabia o que dizer, mas ela sabia:
- Eu errei com você sim, aliás, nem acho que era um erro, porque você sabia de tudo e nunca me proibiu de nada, resmungava mas não proibia, e, no final, eu acabei engolindo uma culpa que nem sabia se existia calada. Pois bem… Agora, meu querido, eu vou fazer porque eu quero e tô pouco me fudendo se você vai aceitar ou não!
- Amanda, fica calma. Eu só fiquei assustado com o que estava acontecendo… com o que achei que estava acontecendo. Me desculpa, não foi por mal…
- Ótimo, queridinho! Também não vou fazer por mal, vou fazer muito bem feito, mas vou fazer. - Disse e se levantou, pegando a sua bolsa e a colocando no ombro.
Ela então olhou para o tal Ricardo que parecia alheio a tudo, mesmo tendo ouvido bem de perto e não sabia para que lado olhar ou o que dizer. Ela foi novamente taxativa:
- Preciso de uma carona, Ricardo, pode me dar?
- Cla-Cla-Claro! Pos-Posso… - Disse e se levantou, dando um passo em sua direção, mas retornando e pegando as pastas, e indicando na direção das minhas mãos: - Éééé… Posso ficar com isso, senhor Maurício?
Entreguei-lhe os documentos e enquanto ele os guardava, ainda tentei acalmar a Amanda, mas sem efeito algum. Quando ele terminou de ajeitar toda a papelada e se aproximou dela, ouvi sua voz:
- Vou me atrasar, Maurício, melhor nem me esperar acordado.
- Amanda! Eu já falei que errei… Desculpa! Mas isso não é forma de resolvermos as coisas, só irá aumentar o problema…
- Mas me agredir, ofender, fazer eu passar uma puta vergonha em público é, né, Maurício!? Vou sair porque preciso pensar e é melhor não me seguir, porque não sei do que eu sou capaz hoje.
Ela começou a andar em direção ao estacionamento do centro comercial e o tal Ricardo só me fez um meneio de cabeça, despedindo-se constrangido e a seguiu. Eu me levantei e fui até a saída do estacionamento, só para vê-los saírem e tomarem uma das avenidas da nossa cidade. Em poucos segundos, os perdi de vista…
Fui até o meu carro e tentei ligar. Naturalmente, ela não me atendeu. Mandei várias mensagens de texto, pedindo desculpas. Obviamente, ela não respondeu, nem visualizou. Voltei para casa derrotado, sentindo-me um lixo. Eu não sabia o que fazer, a quem recorrer, aliás, não tinha com quem me abrir sem correr o risco daquilo virar cair na boca do povo. Então, fui me socorrer com a única pessoa que talvez pudesse me dar uma luz. Fiz a chamada e fui atendido de primeira:
- Quem!? - Perguntou uma voz grossa do outro lado.
- Maurício, o marido da Amanda…
- Oxi! Sei dela não, seu Maurício! - Ele já me interrompeu: - Exclusive, a gente não tem se falado há um tempão.
- Eu sei que ela não está aí, Jurandir, e o problema é esse, acho que ela pode estar com um outro cara e dessa vez é um que pode roubar ela da gente!
- Oxi, oxi, oxi… Explica mió esse negócio aí, seu moço!
A situação era tão inusitada que acabei me abrindo para o meu maior inimigo, a pessoa menos indicada, o meu nêmesis. Ele ouviu tudo atentamente e pareceu ficar indignado com a forma que ela me tratou e também muito preocupado, tanto quando eu, afinal, se o tal Ricardo fosse bom de cama e não aceitasse dividir, bala na agulha para brigar de igual para igual comigo ele tinha e provavelmente estaríamos fodidos:
- Amanhã memo tô aí! Tenho uma entrega pra fazer nos Irmão Almeida, mas dispois vô aí na empresa. Pode ser?
- Pode! Eu… Eu te aguardo.
Amanda não dormiu fora de casa, um dos meus maiores medos, mas retornou bem tarde, quase 2:00 da madrugada e chegou de táxi. Eu estava sentado no sofá da nossa sala quando ela chegou. Vi que estava mais calma, mas também notei que estava diferente, com os cabelos molhados e cara lavada. Não precisei perguntar:
- Sim, eu estava no motel. Sim, eu dei muito para o Ricardinho e vou te dizer, o apelido não é justo não, porque ele é um Ricardão, viu!? Não é igual o Jurandir, mas muiiiiito bem servido, muito mais que você! Ah, e trepei com gosto! Fiz tudo o que ele quis e dei tudo o que ele me pediu.
- Poxa, Amanda, não precisava disso. Eu só…
- Dei também! - Ela me interrompeu e falou quase gritando: - Sim! Eu… dei… o meu cu… para ele! Duas vezes… Tô toda assada.
Levantei-me e fui em sua direção, mas ela já esticou um dedo em minha direção e falou ainda irada:
- Não encosta em mim, nem pense em me agredir! E não fala comigo! Esquece que eu existo! Só voltei porque… porque… nem sei porque voltei. Eu devia ter dormido com ele… Taí! Por que não pensei em pernoitar no motel? Aposto que o Ricardão topava…
Pensei em várias formas diferentes de terminar com ela, desde pedir desculpas a sair no braço e acabar de vez com aquele martírio que estava o nosso casamento, mas da forma como ela estava, a segunda seria uma quase certeza. Então desisti de tentar qualquer coisa, pelo menos naquele momento. Ela viu que havia ganhado a batalha e se virou, dando dois passos em direção à nossa suíte:
- Durma na sala! Ah, e amanhã não vou trabalhar. Tenho uma reunião agendada com o senhor Ricardo. Mudei de planos e vou comprar um carro para mim agora…
Ela se trancou em nossa suíte. Ainda fui até lá tentar conversar, mas a ouvi chorando e preferi deixar as coisas se acalmarem. Fui para a sala e me deitei no sofá, refletindo sobre como a nossa vida havia chegado naquela situação. Eu havia errado sim, mas tudo levava a crer que ela estava tendo outro caso e acabei concluindo que a minha insegurança, decorrente da quebra de confiança que eu tinha nela por conta de seu caso com o Jurandir, fora o causador de tudo. No final, acabei relevando parte de sua culpa, porque, como ela mesma fez questão de me jogar na cara, eu nunca fui enfático, objetivo e disse em sua cara que não aceitava o seu caso com o Jurandir, sempre relevando, sempre cedendo. Muito abatido com tudo, extenuado mesmo, acabei dormindo no sofá da sala, altas horas da madrugada.
No dia seguinte, acordei bem cedo e fiz um café da manhã caprichado, pois queria me desculpar pelo vexame que dei na noite anterior. A porta da suíte estava trancada e pedi que abrisse, pois lhe trazia o café. Ela me xingou um tanto, mas depois abriu. Coloquei uma bela e farta bandeja de café da manhã sobre a nossa cama, enquanto ela se mantinha de pé ao lado da porta, batendo o pezinho com uma cara invocada. Pedi que ela se sentasse e aproveitasse o desjejum. Ela foi até a cama e se recostou junto a cabeceira. Começou a comer em silêncio, mas, dos males o menor, pelo menos não me mandou sair da suíte. Quando ela já havia comido um pouco, comecei:
- Amanda, a gente pode conversar?
Ela não negou, mas também não aceitou. Apenas ficou em silêncio me encarando. Entendi como uma abertura e não perdi a chance:
- Sobre ontem, eu queria novamente me desculpar com você. Eu errei feio mesmo e não tenho nada que justifique o que eu fiz.
- Errou, muito feio mesmo! Eu sei! - Ela resmungou e voltou a morder com raiva um pãozinho de queijo.
- Você tem sido perfeita nos últimos dias e eu não tinha o direito de duvidar de você, mas é que aconteceu tanta coisa na nossa vida que…
- Não tinha mesmo! - Concordou, me interrompendo: - Maurício, eu nunca menti para você! Bem, nunca menti em nada relevante. Às vezes, uma mentirinha até acontece, mas por besteirinha sem importância, nada demais...
- Eu sei! Nem mesmo naquela época do Jurandir, você mentiu.
- Isso! Foi tudo feito às claras… - Ela se recostou, fechou os olhos e respirou fundo: - Bem, não as duas primeiras vezes, que eu saí com ele sem você saber, mas depois foi tudo às claras.
- É, eu sei…
- Você não pode me culpar para sempre, não por uma coisa que você nunca me proibiu de fazer. Você só reclamava, reclamava, reclamava, mas nunca falou um não de verdade. Nunca! Eu queria sim fazer, mas se você tivesse negado, eu não… teria… ido!
- Eu sei… Pensei nisso também ontem à noite. - Concordei, consternado e pegando um pão de queijo que mordi antes de insistir: - Você me desculpa? Eu faço qualquer coisa pelo seu perdão…
- Não sei! Eu… Eu tô muito confusa. Preciso pensar direito. Realmente eu não gostei do que aconteceu ontem… - Disse e suspirou fundo, agora se lamentando: - E agora ainda envolvi o Ricardo nessa história toda. Meu Deus, o que foi que eu fiz?
Ela parecia realmente arrependida e isso me deu uma certeza dolorida, mas ainda assim precisei confirmar:
- Você… Você realmente ficou com ele ou só disse aquilo tudo ontem para me machucar?
Ela suspirou profundamente de olhos fechados, mordeu os lábios e me olhou na sequência, realmente arrependida, ou talvez nem tanto:
- Claro que eu não fiquei com ele, seu bocó! Só falei aquilo porque estava muito brava; ainda estou, na verdade. Mas querendo ou não, falei coisas na frente dele lá no centrinho e… Ah, meu Deus, e se ele abrir a boca?
- Calma, fica calma. Um problema de cada vez… - Falei respirando mais aliviado, mas ainda querendo entender aquela história: - Mas então por que você só voltou às 2:00 da madrugada?
Ela bufou, mas eu já não sabia se para mim, para ela ou para a situação toda, e começou a se abrir:
- Depois que a gente saiu do centrinho, começamos a rodar e ele estava mais perdido que cego em tiroteio, sem saber o que fazer comigo. Depois de andarmos um pouco sem rumo, ele me perguntou onde queria que eu a levasse e eu falei para o motel, porque eu precisava descarregar a tensão. Ele me encarou com olhos arregalados e perguntou se eu tinha certeza, porque poderia dar uma grande merda. Daí comecei a chorar. Fomos até a pracinha do pau mole, aquela que vive cheia de aposentados. Ele estacionou e esperou eu me acalmar. Nós conversamos então umas duas horas ou mais.
- Conversaram!? Sobre o quê?
- Então… Essa é que foi a merda… Como eu estava irada, acabei falando que tivemos uma crise séria em nosso casamento, que eu me envolvi com outro, você com outra e…
- Espera aí! Eu nunca falei para você que tinha ficado com a Su. De onde você tirou isso?
- Maurício, nós… - Ela se calou e me encarou com olhos arregalados: - Quem é Su? Que história é essa!?
Engoli mais uma mordida de um pão de queijo que desceu como se fosse o pedaço de um tijolo. Ela voltava a ficar com os olhos injetados e antes que a coisa piorasse, decidi ser honesto:
- Eu fiquei com uma moça no Forró do Zé Pequeno… Naquele dia em que você se atrasou para chegar e depois me confessou que estava saindo com o Jurandir. Eu estava perdido, tinha acabado de descobrir que estava sendo traído pela minha esposa, então… bem… aconteceu.
Ela me olhava com ódio e vi lágrimas descerem de seus olhos marejados. Depois desviou seu olhar e assim ficou um tempo, pensativa, às vezes enxugando uma lágrima, mas em total e completo silêncio. Depois, voltou a me encarar com uma dor genuína no olhar:
- Foi só uma vez?
- Só! Eu nunca fiquei com mais ninguém depois disso e olha que eu tinha motivo.
- Tinha nada! Você nunca me proibiu de dar para o Jurandir. Eu já falei, se você tivesse proibido, sido o homem que eu esperava que fosse, eu nunca teria ido atrás dele. - Falou e se recostou de vez na cabeceira, olhando para o teto do aposento: - Tá! Tudo bem, eu mereci… Errei com você e você descontou: estamos quites! Mas não quero mais saber disso, chega de pulada de cerca, tudo bem?
- A regra serve para os dois lados? - Perguntei sem desviar o olhar dela e ela me encarou.
- Tudo bem, para os dois…
Acabamos nos perdoando ali e selamos a paz com um beijo comedido que, para mim, soou frio igual gelo no Monte Everest. Cheguei a pensar em avisar que o Jurandir estava vindo, mas decidi não fazer isso após ela dizer que não iria trabalhar naquele dia, pois queria colocar as ideias no lugar.
Fui trabalhar só e quase na hora do almoço, recebi uma ligação do Jurandir. Expliquei a situação e dispensei sua ajuda. Só que agora era ele que queria se certificar de que não havia mais risco nenhum dele perder uma chance de reencontrá-la:
- Jurandir, não precisa se preocupar. Foi tudo um grande mal-entendido. Ela me disse que não teve nada com o tal Ricardo e que disse o que me disse só para me atingir. Além disso, não teria o porquê de você vir aqui, já que ela tirou o dia para descansar depois da confusão de ontem.
- Oxi, moço! Pensei que a gente fosse se encontrar, só pra um cafezinho…
- Vai ficar para a próxima.
Ele lamentou e desligou. Fui almoçar com ela que pouco comeu e disse que iria tentar dormir um pouco, pois se sentia bastante abatida. Certamente queria esquecer o acontecido:
- Mas o seu presente dançou! Não tenho mais cara para negociar com o Ricardo. - Avisou-me.
Dei de ombros: dos males, esse seria o menor. Voltei para a empresa e trabalhei concentrado até a hora do café quando liguei para saber como ela estava. Ela não me atendeu, em nenhuma das três tentativas que eu fiz, certamente estava dormindo. Entretanto, pouco depois, me retornou. Só estranhei porque a achei um pouco esbaforida:
- É que eu estava estendendo um lençol para secar e a filha da puta da Luna (nossa cachorrinha), pulou nele com as patas sujas. Eu vou matar aquela infeliz quando a pegar, Maurício, melhor você dar um fim nessa cachorriiiinha!
Ela não parecia muito a fim de conversa e deixei estar. Antes de desligarmos, notei que ela ainda respirava com um pouco de dificuldade, às vezes parecia arfar, mas isso eu resolveria depois. Acabei me ocupando do meu trabalho, pois tinha reunião com dois potenciais fornecedores de uma nova linha de revestimentos e só fui para casa quando já passava das 18:00. Entrei normalmente e não vi ninguém na sala, cozinha ou área de serviço. “Deve estar dormindo ainda”, pensei.
Bebi um copo de água e subi até minha suíte, intencionado em tomar um banho dos bons e talvez levá-la comigo, afinal, nada é melhor que uma trepadinha para fazer as pazes. Entretanto, quando comecei a subir os degraus da escada em direção a área dos quartos, comecei a ouvir sons de vozes, gemidos e conforme eu mais me aproximava da minha suíte, passei a ouvir também sussurros forçados e sons de ranger de cama. Gelei… Melhor dizer petrifiquei! Ela não podia estar fazendo isso. Não acreditava que a Amanda pudesse fazer algo que maculasse nosso lar, não por vingança, não depois da conversa que tivemos.
A porta da nossa suíte estava fechada, motivo pelo qual o som estava abafado. Então, o filho da puta devia ser muito bom de foda, porque eu consegui escutar quase do pé da escada. Ao me aproximar, notei que, na realidade, a porta estava só bem encostada. Segurei na maçaneta com a máxima cautela e empurrei lentamente a porta, sem fazer ruído algum. Para eles isso pouco importava, pois estavam concentrados numa foda animalesca, aliás, tanto que fui recebido com um grito da Amanda:
- Desgraçaaaaado! Ai meu cu, seu preto filho da puta! Você vai me rasgar, negão!
- Guenta, cadela, guenta! Cê num disse que eu podia, então tô fodendo…
- Cacete! Caralho… Aiiiii! Que arrependimento! Você bem que podi…
Nesse momento, abri a porta com tudo, batendo-a na parede e, sem ter algo melhor para falar, gritei:
- No cu, Amanda!? Porra! Eu já não falei que o cu era meu? Meu!
O Jurandir puxou a Amanda para si, praticamente enterrando todo o pau dentro do cu da minha esposa e parou as penetrações, os gemidos, os xingamentos, os “elogios”, aliás, pararam, porque só aí notei que, à frente dela, um outro mulato, bem molecote mesmo, estava sendo chupado pela minha esposa. Todos ficaram brancos e me encarando com os olhos arregalados. O quarto foi inundado por um silêncio absurdo no qual apenas eu fui premiado em ouvir os batimentos descompassados do meu coração. Os olhos da Amanda se encheram de lágrimas quando seu olhar cruzou com o meu e ela enfiou o rosto num travesseiro, balançando em negação sua própria cabeça. Não sei se ela havia se dado conta do que havia feito, não sei o porquê ela havia feito aquilo comigo e o pior, ali, em nosso quarto, nossa cama, em um local que ela se comprometera a nunca compartilhar com outro alguém. Não sei quanto tempo aquilo durou, mas me lembro bem do Jurandir falar:
- Moço, Maurício, num sei o que falar. É que… eu… nós… Oxi, oxi! Ocê tá bem, homi? Moço… Moço!
Não me lembro de mais nada além de uma gritaria e um atropelo de pés à minha frente e ao redor. Uma moleza, uma fraqueza me acometeu e apaguei, simplesmente apaguei…
OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO SÃO FICTÍCIOS, MAS OS FATOS MENCIONADOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL PODEM NAO SER MERA COINCIDÊNCIA.
FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.