Parei tudo e ela me encarou:
- Eu vou te matar quando te encontrar.
- Óóóóó! - Falei e dei uma leve dedada no programa, aumentando e diminuindo a velocidade do brinquedo duas vezes, enquanto ela me encarava com olhos arregalados e gemia.
Por fim, dei-me por satisfeito, apesar de não ter batido uma punhetinha sequer, o que acabou deixando a Nanda inconformada, mas, sinceramente, acho que nunca me diverti tanto fazendo a danada gozar. Após isso, despedimo-nos e aí sim, tomado por aquelas gostosas lembranças, rendi gostosas homenagens a minha onça branca, dormindo após.
[...]
[CONTINUANDO]
Quando o Mark me ligou naquela noite, quase chegando na madrugada, meu coração se acalmou, um pouquinho… Tivemos uma breve conversa que tinha a intenção de acalmar as nossas filhas. Feito isso, elas foram dormir em seus quartos, tranquilas de saberem que seu pai estava bem. Depois, eu e ele tivemos uma breve conversa a sós, essa para me tranquilizar e não adiantou nada, porque ele não me adiantou nada! Por fim, avisou que precisava sair para comer alguma coisa e desligamos.
Minha ansiedade não diminuía, ao contrário, só aumentava. Eu estava elétrica, chateada, brava, inconformada, triste, assustada, excitada, tudo junto e muito misturado. Minha cabeça estava uma verdadeira bagunça! Decidi fazer algo que poderia me aliviar um pouco esse estresse e fui mexer na minha “caixinha mágica”, uma caixa de madeira fechada a chaves onde eu guardo alguns PDF’s (“Petrechos” de Foda). Enquanto eu fuçava, procurando alguma companhia interessante, lembrei-me de um que sequer havia usado ainda, pois estava guardando para um momento especial com o meu mozão: um vibrador wi-fi:
- Esse mesmo! Já que não tem tu, mozão, vai tu mesmo, mozinho. - Falei para mim mesma, enquanto abria a embalagem do “brinquedinho”.
“Brinquedinho” é forma de dizer, porque ele tinha um bom tamanho, nada exagerado, mas também não deixava a desejar, tinha praticamente o mesmo tamanho do delicioso brinquedo do Mark e isso me deu uma ideia. Li rapidamente o manual de instruções e decidi ligar para ele no mesmo instante, mas antes lhe enviei um sugestivo e curto vídeo desta criatura de Deus, alisando sua própria intimidade. Há! Deu nem um minuto do envio e o meu marido retornou uma chamada de vídeo: o peixe havia fisgado forte o anzol:
- Sacanagem isso, hein! - Ele falava, sorrindo maliciosamente.
Brinquei um pouco mais com ele, falando de um jeito que sei que ele gosta bastante e depois fingi que havia me lembrado de algo, um algo que eu já havia até mesmo aberto e queria usar, aliás, eu precisava usar, com urgência, muita mesmo! Ele me olhava curioso, mas para potencializar essa sensação, deixei meu celular e fingi sair para buscar algo. Fiz questão de demorar alguns minutos para retornar e nesse meio tempo, ouvi o meu mozão me chamar umas três vezes, ansioso e curioso. Mandei um link para que ele baixasse um programa em seu celular:
- Programa? Que programa!?
Expliquei por cima, mas ele, astuto, entendeu de primeira. Baixou o programa, instalou e ativou a conexão. No ato, senti o vibrador dar um pulo na minha mão e ri toda boba, como uma criança que acaba de ganhar um brinquedo novo. Nem sei se ele me viu, mas eu não me cabia em mim! Eu não aguentava de ansiedade, então encapei o “mozinho” e o enfiei buraco adentro, aliás, racha adentro, só parando quando uma espécie de “rabinho” encostou em meu clítoris. Sem que eu esperasse, aquilo começou a vibrar e dançar dentro de mim, arrancando um grito rouco:
- Uh-uh-uh… Uiiiiii!
- Caralho! - Ouvi ele gritando do outro lado da chamada.
- Vai devagar, mor…
- Devagar o cacete! Gostei desse brinquedinho. Agora, você está fodida na minha mão, literalmente…
Daí por diante, ele usou e abusou da criatividade e das possibilidades com o brinquedo. O danadinho dava cabeçadas para os lados; ou a parte interna entrava e saía, simulando uma penetração; ou dava umas dançadas dentro de mim, como se fosse uma cobra. Além disso, o danadão do meu marido alternava as velocidades, me deixando perdida, até que, num átimo de segundo, sem saber se estava para gozar ou mijar, retirei aquele valente brinquedinho que saiu dando cabeçada para todo lado, bravo por eu ter finalizado sua audácia em mim:
- Ah… Sua filha da puta! Agora que eu estava me divertindo… - Ele falou, rindo da minha cara.
- “Ah”, digo eu, mor. Vai devagar com isso, caralho! Teve uma hora que esse negócio parecia que estava dando coice dentro de mim, seu grosso. - Falei e gargalhei em seguida.
Minha xaninha estava toda inchada e era só eu tocar para sentir um “choquinho” em minhas partes baixas. Mark pediu e eu mostrei o aparelho que ele começou a acionar à distância para ver o funcionamento, sorrindo a cada novo comando. Depois de um tempo, perguntou se eu queria continuar e, claro, eu queria. Introduzi novamente o mozinho e segurei meu celular de forma que ficasse de frente. Mark começou a dar os comandos e ao primeiro, o do vibrador de clítoris, fechei os joelhos e gemi alto.
Eu só o escutava rindo. Respirei fundo e abri novamente as pernas. Daí ele passou a alternar os modos e velocidades. Quando chegou no modo cobrinha, tive um choque novamente e fechei as pernas, novamente gemendo alto. Adicionou também o de penetração e em segundos, enfiei a cara num travesseiro, ou o travesseiro na cara e o mordi forte para não acordar nossas filhas. Gozei, forte mesmo.
Ele se compadeceu de mim e colocou o mozinho no mínimo, só deixando um leve tremorzinho. Quando me recuperei e sentei sobre as minhas pernas, para conversar com ele, senti um trem muito diferente dentro de mim enquanto o Mark me encarava, curioso. Meu mundo girou e tive um branco. Só sei que joguei o celular sobre a cama e sem ter onde me segurar, caí da cama, de joelhos e bunda no chão. Só aí ele parou tudo e perguntou por mim. Respirei fundo e expliquei o que havia acontecido, só para ouvir o meu marido gargalhar como um louco do outro lado da chamada:
- Eu… Ai! Caí da cama! Acho que eu quebrei esse negócio. Eu caí sentada sobre ele…
- Será?
Mark deu uma rápida acelerada no aparelho e gemi alto novamente, com os olhos fechados, boca aberta e tremendo igual uma vara verde:
- Não… Para! Tá funcionando, tá funcionando!
Logo depois, tirei o mozinho de dentro de mim, senão o Mark poderia ficar tentado em usá-lo novamente e conversamos brevemente. Quando desligamos, deitei na cama e do jeito que estava acordei na manhã do dia seguinte. Arrastei-me para o banheiro e tomei uma ducha, ainda sentindo tudo bastante sensível nos “países baixos”. Cuidei das meninas e as levei até a escola, saindo para o meu trabalho. Logo, o Mark avisou que já estava em seu escritório e que conversaríamos na hora do almoço. Não deu: um problema numa linha de produção precisou da minha atenção e não consegui fazer o que tanto queria. Coube a ele buscar e cuidar das meninas, sendo que só pude encontrá-los no final do dia. E que dia…
[...]
Eu havia programado meu celular para despertar às 7:00, mas às 3:30, uma insônia me atingiu em cheio e despertei. Acho que o efeito do calmante havia passado e agora toda aquela conversa com o doutor Galeano me clamava uma análise e solução.
A princípio, estranhei toda a conversa e realmente cheguei a pensar que a Nanda pudesse estar de conluio para o doutor Galeano me convencer a ceder, mas instantes depois, conclui que essa hipótese era absurda, não somente porque a Nanda nunca faria isso, mas também porque o próprio doutor Galeano nada ganharia com aquilo. Restava-me analisar os fatos, argumentos e a própria conclusão do meu caríssimo analista.
Na verdade, a conclusão dele era algo que já me assombrava há algum tempo. Como liberal e preocupado com a situação que meu casamento enfrentava, procurei ler vários artigos relacionados em Fóruns e até mesmo de psicólogos especialistas no tema. A verdade é que não havia certo ou errado naquela situação: minha esposa havia se apaixonado sem querer pelo Rick; ela não procurou isso, simplesmente aconteceu, como acontece na maioria das vezes. Eu, por minha vez, também fiz o que qualquer marido na minha situação teria feito: protegi minha família, mesmo que, a princípio, fosse contra a vontade da minha própria esposa, que eu julgava fora de seu juízo perfeito.
Entretanto, em minhas leituras, eu já havia verificado que quem poderia estar com o juízo deturpado naquele momento, era eu, e as palavras fortes do doutor Galeano deram ainda mais força para essa conclusão. Não, eu não agi com maldade, nem ela, mas quando eu e ela decidimos ingressar no meio liberal, e criamos regras para isso, nunca estabelecemos que um poderia decidir pelo outro. A liberdade é uma premissa insuperável num relacionamento liberal e quando eu agi, proibindo a Nanda de solucionar ou vivenciar aquela relação com o Rick, eu, mesmo sem querer e na melhor das intenções, cometi um erro, um abuso contra ela e contra a forma que propus que nos relacionássemos com terceiros.
Se fôssemos conservadores e monogâmicos, não haveria qualquer erro na minha atitude, mas sendo liberais, quando eu a censurei, deixei de agir assim e isso possivelmente a transtornou. Ela não entendia o que acontecia, mas sentia que estava sendo tolhida em seus mais elementares direitos de se relacionar, por isso reagia daquela forma rebelde, irada e desproporcional com todos em casa.
A verdade é que a conclusão do doutor Galeano já era a minha há tempos, mas talvez por resquícios da criação conservadora, religiosa limitativa e machista enrustida que eu tive, não consegui confessá-la na sessão, envergonhado de mim e comigo mesmo.
Eu sabia o que deveria fazer, mas isso não tornava a minha tarefa mais fácil, pois o medo de perder uma parte significativa da minha história, o meu relacionamento e a minha família com a Nanda, estava em jogo: se eu a liberasse, ela poderia ir, viver o seu “sonho de verão” ao lado do Rick e voltar para mim, apenas se encontrando com ele às vezes, como eu faço com a Denise; mas ela também poderia ir e decidir que o verão é melhor que o inverno, encerrando um capítulo em nossa história de vida que, por si só, não se encerraria nunca, afinal, temos filhas em comum. Ah! E nossas filhas, como ficariam nisso tudo? Eram essas dúvidas que me martelavam forte a cabeça, como se fosse um piano sendo usado por um novato qualquer.
Praticamente fiz uma regressão, voltando à quando nos conhecemos, revisitando os mais variados momentos juntos e uma coisa não posso negar, sou mesmo apaixonado por aquela morena, aliás, apaixonado não, amo de todo o coração, desde sempre e para sempre.
Nossa criação nos impôs um modo de vida, conservador e monogâmico. Entretanto, a rotina nos atingiu em cheio e nosso casamento passou por uma baixa, tanto em libido quanto em carinhos mesmo. A saída que encontrei foi tentar apimentar, entrando no meio liberal, o que ela aceitou, relutantemente. Demos várias cabeçadas, apanhamos, sofremos, mas também tivemos vários bons momentos que criaram deliciosas lembranças para nos embalar em noites quentes. Interessante é que depois que entramos nesse meio e começamos a nos relacionar com terceiros, nossas transas se tornaram mais quentes, mas não necessariamente porque nos relacionávamos com terceiros, mas sim porque queríamos compensar um ao outro quando tínhamos esses momentos de liberdade. Parece que há entre nós um pacto velado nesse sentido: voltar e ser mais para nós do que podemos ser para os outros. Mas será que ela voltaria dessa vez?
Foi embebido nesses pensamentos, dopado com conclusões certas mas dolorosas que o despertador do meu celular tocou ao meu lado. Levantei-me sem uma conclusão certa e fui me ajeitar para um merecido e necessário café. Tomei um bom pingado e um café preto, acompanhado de um pão de queijo meio bom. Depois, fiz o meu “check out” e retornei para a minha cidade. Como eu já imaginava, ninguém estava em casa. Tomei uma ducha, vesti-me e fui trabalhar, avisando a Nanda que eu havia chegado. Quase na hora do almoço, ela me mandou mensagem dizendo que não poderia sequer almoçar comigo e as meninas, pois um problema na empresa a prendeu.
Busquei e, com muito carinho, cuidei das meninas como sempre faço. Levei boas “comidas de toco” delas por causa da minha ausência na noite anterior e sem um argumento forte, acabei me resignando em pedir desculpas. O dia passou e a Nanda chegou atrasada, quase às 20:00, com cara de poucos amigos, irada com algum problema na empresa, passando rápido para nossa suíte e voltando quase uma hora depois, de banho tomado, mas semblante ainda carregado. As meninas sabem que em dias como esse, o melhor a se fazer é não enfrentar, nem mesmo ficar por perto, então foram cuidar de seus afazeres em seus quartos.
Ela se sentou na ilha da cozinha, com pensamento distante e olhando sem parar para seu celular. Avisei que a comida estava na geladeira, mas só recebi um “aham!” e nada de atenção. Preferi não insistir e fui me sentar no sofá da sala. Pouco depois, ouvi ela esquentar algo no micro-ondas, se alimentar e lavar sua louça. Seguiu então para nossa suíte e não saiu mais.
Por volta das 23:00 decidi me recolher para dormir. Ela estava sentada sobre a nossa cama, recostada na cabeceira, lendo atentamente alguma coisa na tela de seu celular. Fiz a minha higiene íntima e assim que me deitei em meu lado, ela repousou seu celular sobre o colo e, olhando para a televisão a sua frente, perguntou:
- Você ainda me ama?
- Oi!?
- Você entendeu, Mark. Sem gracinhas, por favor…
- Entendi! Eu só não entendi o porquê dessa pergunta agora, depois de termos nos divertido tanto ontem…
- Isso não quer dizer nada! Você é safado e se divertiria fácil com qualquer uma, né? - Retrucou, agora me encarando: - E então?
- É claro que eu te amo.
- E confia em mim, da mesma forma como era no começo?
Esse era o “x” da questão e ela me jogou na cara como se fosse um tijolo, deixando-me atordoado. Era chegada a hora e eu precisava ser honesto, com ela e comigo. Então, respondi:
- Não!
[...]
Aquele não me doeu fundo na alma, mas não era surpresa alguma. Virei-me para a frente, encarando a televisão desligada de nossa suíte, sem coragem de assumir o óbvio: que eu já sabia, já sentia e isso me machucava demais, como devia machucá-lo também. Eu não tinha o que dizer, não sabia mais como resolver e já não achava que o doutor Galeano fosse capaz de me ajudar. Só me cabia aceitar que eu havia acabado com o meu relacionamento e tentar, pelo menos, terminá-lo de uma forma digna com o único homem que amei e que certamente amaria de verdade nessa vida:
- A culpa não é sua. São os meus medos que fizeram eu perder a confiança em você. Acho que, de certa forma, eu deixei de confiar no meu próprio taco.
Isso eu não esperava, nem concordava:
- Não! A culpa é minha, só minha.
- Não mesmo! Eu errei. Se eu tivesse agido de outra forma, nada disso estaria acontecendo com a gente.
Apesar de não concordar com ele, achei melhor deixá-lo falar. Talvez ainda houvesse uma chance para a gente e, se fosse esse o caso, eu a agarraria com garras e dentes. Olhei para ele que parecia bastante sereno, calmo e decidido. Então, virei meu corpo levemente em sua direção e pedi:
- Não… Não tô entendendo. Dá para explicar?
Ele se levantou de seu lugar e se sentou, de frente para mim. Respirou fundo, me olhando de uma forma quase paternal e sorriu com uma tranquilidade que não me convenceu, mas me fez sorrir também. Ele então segurou as minhas mãos e parecia disposto a falar algo que o afligia e que começou a me afligir também. Não conseguiu e seus olhos se encheram de lágrimas:
- Ah, Mark, fala comigo. - Pedi quase chorando também.
- Então… - Suspirou fundo, não deixando uma lágrima sequer rolar: - Eu errei com você e…
- Não errou! - O interrompi sem querer.
- Errei e… - Olhou-me invocado: - Posso falar, matraca!? Como vou explicar se você não me deixa?
- Tá, desculpa… Pode falar. - Falei, consternada, mas insistiu: - Mas a culpa é minha.
- Ó! Eu não vou continuar assim e…
- Não, não… Desculpa! Pode falar. Talvez eu ouvindo o seu ponto de vista, eu entenda melhor essa história e… - Calei-me e empurrada pela força da minha língua, perguntei antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa: - Foi o doutor Galeano que meteu minhoca na sua cabeça, não foi? Pode falar!
- Eu estou tentando falar! - Insistiu, já ficando chateado: - Posso?
- Só me responde: foi o doutor Galeano?
- Deixa eu explicar que você vai entender. O doutor Galeano não plantou minhoca alguma em mim e… Aliás, que papo ruim esse, hein!? - Disse e riu, emendando na sequência: - Eu já tinha um pensamento meio que… formado. O nosso querido bom velhinho só me ajudou a ver a verdade.
Agora eu o encarava e fiz como um zíper correndo em meus lábios. Ele sorriu, suspirou um “Ufa!” e explicou:
- Escuta só o meu ponto de vista e não me interrompe! - Pediu, olhando seriamente para mim e eu apenas sorri, concordando com um meneio de cabeça, brincando de forçar os lábios em vão, pois estavam fechados: - Você é uma mulher espetacular, a melhor das melhores, te amo de todo o meu coração e até o fundo da minha alma…
Nessa hora, ouvindo essa declaração, olhando no fundo dos meus olhos e com minhas mãos seguras por ele, quem encheu os olhos de lágrimas fui eu, e ele notou:
- Não chora! Estou dizendo porque é a verdade, é o que eu sinto. Pode acreditar!
Sorri e ele continuou:
- Você, ao contrário do que pensa, não fez nada errado. Lembro do dia em que você me ligou e falou do tal Rick, você parecia estar com medo e acho que sei exatamente o porquê. - Ele disse e fez uma pausa para aumentar o meu suspense, explicando: - Porque você já sentia algo diferente por ele. O Rick não era só um comedor, um safado, um amante eventual, você enxergou muito mais coisas ali sem sequer ter ficado com ele.
- Mas…
- Deixa eu falar! - Ele me interrompeu e mordi os lábios, silenciando-me: - Ééé… Então… Você se apaixonou pelo cara logo no começo. Foi uma questão de química, de pele, só aconteceu e ninguém tem culpa disso, ninguém mesmo, nem você. Talvez até seja por isso que você não conseguiu resolver sua questão com o Rick, porque você está apaixonada por ele e não queria perdê-lo. Então, o Mark, brincando de cavaleiro montado num cavalo alazão, aparece para salvar a mocinha indefesa e faz o quê? Toma ela e dá um pé no traseiro do outro!
Não consegui evitar e ri de sua comparação. Ele também riu, tamanha fora o fiasco da encenação enquanto ele falava. Quando nos acalmamos, ele continuou:
- Meu erro foi esse: você não era, nem nunca foi uma mocinha indefesa. Ao contrário, você é uma mulher madura, independente e que queria viver aquela aventura até o fim. - Explicou me olhando e me deixando encabulada: - Mas o bocó aqui teve que enfiar o bedelho no meio e estragar tudo, né?
- Mas você só estava me protegendo… - Balbuciei, mesmo com a boca selada.
- Não! E essa é a questão: no final, eu estava ME protegendo e talvez às NOSSAS filhas… - Fez questão de frisar e pausar a frase: - Mas ao fazer isso, eu não te protegi, você nem precisava de proteção: você só precisava ter vivido aquela experiência.
- Eu ainda não estou entendendo direito. - Falei e ele me ouviu pela primeira vez: - Você está querendo dizer que errou por que protegeu a nossa família, você, as meninas e eu também? Porque se for isso, eu não vejo erro algum.
- Eu errei por não ter confiado que você iria viver sua aventura e voltaria para mim. Eu, literalmente, não acreditei no meu taco, fraquejei mesmo, tive medo de te perder e… Deu no que deu… - Falou, desviando o olhar, agora triste, de mim.
Meu marido é o típico homem seguro, forte e determinado. Tirar uma confissão de fragilidade dele é quase impossível, mas ali eu o via se abrir de uma forma como nunca fizera antes. Talvez só na vez em que ele confessou suas fantasias, dada a intimidade necessária, é que o vi tão indefeso como o via agora. Inadvertidamente, acabei soltando suas mãos e as levando, ambas, até a minha boca, cobrindo-as com a surpresa do que havia ouvido. Seu olhar não era apenas de tristeza, mas de uma vulnerabilidade que eu nunca imaginaria sentir dele um dia.
Naquele momento, eu não tinha dúvida alguma e pulei em seu colo, virando seu rosto para mim e lhe dando o melhor beijo que eu poderia dar em alguém em vida. Não sei quanto tempo durou, mas quando terminou ele estava branco e apenas disse um simples:
- Porra!...
- Putz, que romantismo, hein, mor? - Falei e ri, beijando-o novamente na sequência.
Quando terminamos ficamos um tempo em silêncio, apenas nos encarando e acariciando nossos rostos:
- Obrigada por ser tão sincero assim comigo, mor. Eu juro que não esperava. Nunca, “nunquim mes”!
- Entendeu o meu ponto de vista?
- Entendi. - Suspirei fundo, olhando-o nos olhos: - Mas eu não concordo em você dizer que é o culpado. Acho que ninguém é culpado de nada. Talvez a gente só não tenha sabido lidar com a situação e isso é falha nossa, minha e sua, porque se a gente tivesse sentado e falado abertamente, tenho certeza de que poderíamos ter resolvido de outra forma.
- É!? Falado o que, exatamente, Nanda? Tem alguma coisa que você ainda não me contou? - Perguntou de uma forma serena, leve, olhando em meus olhos, literalmente me encorajando a também me abrir naquele momento.
Sorri e encostei minha testa na dele. Então, suspirei fundo e confessei:
- Acho que você já sabe… Eu ainda estou apaixonada pelo Rick.
[...]
OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO SÃO FICTÍCIOS, MAS OS FATOS MENCIONADOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL PODEM NAO SER MERA COINCIDÊNCIA.
FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.