Eu trabalhei a vida inteira na mesma agência de publicidade, até ela falir, e o meu mundo virar de cabeça para baixo. Desde então, tive que aprender a lidar com a rejeição, parecia que nenhuma empresa contrataria um cinquentão que não tinha nenhuma experiência com as novas tendências das tecnologias digitais.
A desgraça não podia chegar em pior hora. Minhas duas filhas, Priscila e Maíra, estavam nos primeiros anos das suas faculdades, e Marta, minha esposa, era dona de casa, então, eu sustentava quatro pessoas com uma renda total de zero reais. Desempregado, era desesperador ver toda a minha aposentadoria ser consumida, sem saber como eu sustentaria minha família.
Minha sorte parecia que ia mudar quando, depois de anos enviando currículos, finalmente uma oportunidade surgiu. Uma das primeiras campanhas publicitárias que eu toquei na vida foi para uma loja de departamento, que na época era insignificante no mercado. Só que a campanha deu tão certo, que de uma marca regional com algumas lojas, a empresa cresceu tanto, que abriu lojas em todos os continentes do globo, tornando seu dono, Sérgio, um dos homens mais ricos do Brasil.
“Boa tarde, Régis! Como você está? Aqui é o Sérgio, lembra de mim?”
Agora, imagine meu choque quando atendi meu celular e ele estava do outro lado da linha. Há anos não conversávamos. A empresa dele havia crescido tanto que não se encaixava mais nos serviços que a agência que eu trabalhava oferecia. Apesar de nossa relação ter sido ótima na época, e ele ser uma pessoa simpática e humilde, eu confesso que travei quando percebi quem era. “O-oi senhor. Co-co-como posso ser útil?”, respondi fazendo minha melhor imitação de um serviçal do século XIX.
“Não, não, Régis. Você entendeu totalmente errado. A pergunta de verdade é: como eu posso ajudar você? Se tem algum homem que eu devo tudo que eu tenho, é você Régis. Sem sua genialidade hoje eu estaria como muitos amigos meus, totalmente falido.”
Já era difícil acreditar que alguém em sua posição se lembrasse de mim, mas era surreal pensar que aquele homem achava que tinha alguma dívida comigo. Sem responder de forma direta, eu desabafei com ele sobre os problemas que passei nos últimos anos, e como era um desafio se recolocar no mercado de trabalho com minha idade, mesmo com todos os contatos e experiência.
“Eu não consigo acreditar nisso, Régis! Quando eu soube que a agência tinha falido, eu fiquei curioso e entrei no seu linkedin. Eu tinha certeza que você só havia esquecido de atualizar, e que já deveria estar empregado ou até mesmo aberto sua própria empresa.”
Apesar de ter sido chamado de genial, aquela conversa me doía. Não era a intenção de Sérgio, mas eu comparava nossas trajetórias e me sentia um fracassado, era como encarar o outro face da moeda, descobrir o que eu poderia ter sido caso a sorte tivesse sorrido para mim.
“Eu não posso deixar essa oportunidade passar. Eu nunca te fiz nenhuma proposta ao longo desses anos por puro respeito a empresa que você trabalhava e tudo que ela fez por mim. Mas, agora você é um homem livre. Quanto você quer ganhar e quando você quer começar?”
Parecia que eu tinha sido sugado para uma realidade paralela. Meu nome não era mais Régis, e sim, Aladdin, e estava pensando quais seriam meus três desejos. Não conseguia acreditar no que estava acontecendo, era bom demais para ser verdade. Sem saber o que responder, eu revelei a ele quanto eu ganhava na agência antes dela falir, e fui honesto, que quanto antes começasse melhor.
“Ótimo. Você começa amanhã. Vou te encaminhar por email a proposta. Tenha um bom dia Régis.”
Assim que desliguei o telefone, corri para contar a minha esposa sobre a novidade. Era um alívio ter finalmente uma boa notícia para compartilhar. O período de desemprego tinha sido árduo para nós. No início, Marta me apoiava incondicionalmente, mas conforme o tempo passava, a ansiedade pelo nosso futuro e uma crescente sensação de impotência começaram a pesar sobre ambos. No final, suporte dela parecia mais uma cobrança do que um encorajamento genuíno.
Eu achei que ela ficaria em êxtase, mas quando terminei de contar, Marta parecia confusa. “Onde você vai trabalhar?”, “O que você vai fazer?” e “Não teve nenhuma entrevista?” foram alguns dos questionamentos que recebi. Ela tinha razão, na minha animação eu tinha ignorado como aquilo era bizarro.
“08:00 Avenida Brasil, 1313”
Não tinha como o texto da mensagem do email ser mais curto. “08:00 Avenida Brasil, 1313”, apenas contendo as informações imprescindíveis, nem uma assinatura no final. O remetente era de uma empresa que eu nunca ouvi falar, e parecia não existir no Google. Junto com a lacônica comunicação, havia um arquivo anexado. Eram dezenas de páginas de um contrato de trabalho que parecia bastante convencional à primeira vista. No entanto, o que realmente capturou minha atenção foi o final do documento. O salário proposto superava em muito o valor que pedi a Sérgio, e, além disso, a empresa oferecia um programa de bônus bastante generoso. As cifras e condições apresentadas eram inacreditáveis. Para resumir, a cada dois anos de permanência na empresa, eu receberia um bônus com tantos zeros que, em se trabalhasse lá por uma década, nem as minhas netas precisariam se preocupar com dinheiro.
Não sabia o que fazer. Todos os meus instintos imploravam para que eu não saísse de casa no dia seguinte, e se não estivesse tão desesperado, eu provavelmente seguiria a recomendação deles. Os valores da proposta eram insanos, e eu não podia me dar o luxo de continuar desempregado. Seja o que Deus quiser. Oito da manhã, eu descobriria a verdade.
Passei a noite em claro, e cheguei com uma hora de antecedência. Eu olhava ao meu redor, buscando qualquer pista sobre o que a empresa fazia. O escritório tinha um design minimalista, dominado pelo branco e, apesar de estar quase vazio devido ao horário, era espaçoso o suficiente para acomodar uma centena de pessoas.
Me aproximei da recepção e aguardei por um tempinho, já que a recepcionista fazia um esforço excepcional para ignorar minha presença. Contudo, era difícil retribuir a indiferença, considerando que ela era uma das mulheres mais bonitas que eu já tinha visto na vida. Jovem, com maquiagem impecável e vestida para impressionar em um desfile de moda em Milão, ela não tinha um único fio de cabelo fora do lugar, personificando a perfeição. Eu não poderia estar no lugar certo, talvez tudo aquilo não passasse de uma pegadinha. Eu estava quase desistindo e indo embora.
"O senhor chegou cedo. Por favor, me acompanhe", disse ela de forma direta e formal, com um toque de rispidez em sua voz. Em completo silêncio, ela me conduziu até uma sala de reuniões e, depois saiu sem sequer oferecer água ou café. Sem ter outra alternativa, eu esperei.
Às nove em ponto, um menino com a idade das minhas filhas veio me dar boas vindas empresas, mostrou onde era minha estação de trabalho e como usava a máquina de café. Sem saber onde enfiar a cara, eu tive que perguntar o que a empresa fazia. Com a paciência característica dos jovens, me explicou que eles trabalhavam com pesquisas de mercado, prestando serviços principalmente para a empresa do Sérgio, antecipando tendências e propondo a criação de novos produtos.
Ok. Não parecia algo tão complexo assim, eu tinha experiência na área, e com algum tempo com certeza as coisas fariam mais sentido.”Mas qual será meu cargo?”, eu perguntei abusando da minúscula boa vontade do menino. Ele deu uma boa olhada na minha cara, avaliando se eu estava tendo um derrame ou sofria de demência. Incrédulo ele respondeu: “Você é o novo vice-presidente.”
<Continua>
Semana que vem eu posto a continuação, quem tiver curiosidade e quiser ver a parte 2, ela já está disponível no meu blog www.ouroerotico.com.br