Noite abafada, prenúncio de chuva. Noite de arte e poesia, prenúncio de prazer. Fui convidado para um evento artístico difícil de se ver, numa universidade: uma exposição de quadros e esculturas de cunho erótico. Desvesti-me de todos os meus mínimos resquícios de pudores e viajei pra lá. Percorri as galerias, sem que o pau me desse sossego nem sossegasse, diante de tanto que o corpo humano pode oferecer em termos de arte erótica.
Os demais visitantes eram um espetáculo à parte: a sensualidade recobria o que os rasgos do pouco tecido das roupas expunha. Coxas, seios e falos acendiam o meu apetite e minha saudadesejo. Os sorrisos que nasciam de lábios convidativos, os requebros e dengos, as brincadeiras de se carinhar, tudo fazia com que ela se materializasse em quantas belas mulheres reinavam com sua presença naquele lugar mágico.
Eu a encontrava em cada pintura, em cada figura esculpida; seu entrepernas brotava nas bucetas ali representadas, seus seios afagavam-se entre meus dedos, nas imagináveis carícias com que eu afagava as encantadoras manifestações artísticas daquele salão. Ela estava ali comigo e eu a comia comendo com os olhos tanta beleza.
Quando finalmente a chuva se debruçou sobre a noite, estava começando o sarau erótico. Os poemas e as canções se sucedendo falavam de intimidades com que eu sonhava experimentar com ela. A água descia em gotas comportadas, lubrificando de mais tesão cada declamação, cada acorde, e parecia aumentar repentinamente quando os apupos elogiosos e aplausos acariciavam os números apresentados. Na minha solidão, estava com ela, sentindo toda a infinita magia daquela noite maravilhosa, noite de tesão artístico, que provocavam tão conhecidas sensações no meu corpo.
Depois a chuva amainou, só ficando o sereno como de um pós-orgasmo. Fui me afastando, envolto naquele clima inebriante da noite fria, ainda sentindo os afagos dos pingos em minha pele. Caminhei para o hotel em que me hospedara, e tonto de desejo como estava, desnudei-me, esticando-me sensualmente sobre a cama, mastro em riste, olhos fechados, ela em mim... e adormeci.
A manhã foi se esgueirando pelas frestas da cortina mal corrida nos trilhos e invadiu meu rosto, despertando-me aos poucos, como se ainda ouvisse as notas das canções, os versos ditos, os quadros e esculturas da noite anterior. Meu corpo rescendia a vontade e sensibilidade. O grande espelho ao lado da cama refletia meu corpo nu e destacava, contra os revoltos lençóis alvos, meu mastro rígido, pulsando. Ela estava mais presente ali do que estivera durante toda a noite anterior. Quis dizer-lhe e mostrar-lhe isso; recolhi o celular e registrei o momento, enviando-lhe em seguida a animação com que despertara.
Sua resposta revolveu minhas entranhas, liberou-me borboletas: “Aguei aqui!”
Fechei os olhos, e o cheiro de sua água fez-se abundante enquanto minha língua devassava cada recanto daquele espaço lúbrico. Eu sentia minha rigidez agora molhada e acariciando com sua cabeça toda a água que provocara. O escorregadio do perfumado néctar que inundava a sua caverna foi me engolindo, aos goles, e o ardente de suas paredes suaves acariciavam meu prazer infinitamente, capturando-me para seu mais recôndito interior...
Até que explodimos, chovemos torrencialmente toda a chuva guardada desde a noite anterior. Relâmpagos elétricos de gozo, trovões ruidosos de gemidos e obscenidades, quadros, esculturas, poemas e cânticos giravam a velocidade inimaginável, mesclando-se numa só matéria de prazer e erotismo.
Chuva amainando, respiração ofegante, um pau encharcado na minha mão lambuzada, uma buceta alagada ainda pinicando nos últimos movimentos do gozo, sorrisos inteiros nos nossos rostos juntinhos... e dois mil quilômetros a nos separar...