A vaga que eu consegui sem nenhuma entrevista e sem nem saber com o que eu trabalharia era de vice-presidente. Acima de mim no organograma, apenas Gabriel, filho de Sérgio. Eu já sabia da fama dele pelas aparições dele em jornais e revistas. O nome de anjo não fazia jus a pessoa. Baladeiro, playboy e sempre aparecendo em jornais em namoros curtos com sub-celebridades.
Eu achava que eventualmente me acostumaria ao novo cargo. Como dizem os americanos, “fake it until you make it”. Contudo, conforme as semanas passavam, nada mudava. Ninguém me passava tarefas, me convocava para reuniões ou sequer olhava na minha cara. Era como se eu tivesse morrido sem saber, vivendo na pele o enredo do "Sexto Sentido".
Não existia nenhuma forma de eu me sentir mais deslocado. Eu era o mais velho no escritório, e havia tirado minha carteira de motorista anos antes de qualquer um ali ter nascido. A empresa refletia o espírito "bon vivant" do seu presidente, com happy hours três vezes por semana, pessoas se pegando no banheiro e funcionários bebendo loucamente durante o expediente. Não parecia uma empresa, e sim uma rave interminável.
Provavelmente por um equívoco, recebi um convite por email para uma das confraternizações da empresa. O evento marcaria o lançamento de um novo produto, e a diretoria queria que todos os funcionários estivessem presentes, atuando como clientes entusiasmados. O convite sugeria que trouxéssemos nossos familiares e cônjuges para tornar a trapaça ainda mais efetiva. Para mim, seria uma oportunidade para conhecer melhor as pessoas, e tentar convencer que embora eu tenha caído de paraquedas na companhia, eu poderia ser útil.
Minha esposa e minha filha mais nova concordaram em me acompanhar ao evento, que aconteceu em um parque. Elas optaram por roupas de academia, pensando em aproveitar a ocasião para dar uma corrida. No entanto, para o meu desespero, elas demoraram tanto para se arrumar que acabamos sendo um dos últimos a chegar. Parecia um filme de terror, todos os meus colegas virando simultaneamente para encarar minha família. Mas, o verdadeiro pesadelo estava longe de começar.
Eu não conseguia acreditar. Pessoas que me ignoravam por completo no escritório, se aproximavam e falavam comigo como se fossem meus melhores amigos. Parecia que minha família era o novo produto, de tanta atenção que nós recebíamos. Demorei para entender o que realmente estava acontecendo, mas aos poucos fui identificando os sinais claros. Esses filhas da puta estavam cagando para mim, e apenas se aproximavam para falar com minha filha e minha mulher.
Minha esposa quando jovem chamava muita atenção, e mesmo depois do passar dos anos e ficar grávida duas vezes, ainda continuava maravilhosa. Ela é de uma estatura mediana, com os cabelos cacheado negros, possuindo os olhos azuis expressivos. Linda. Mas claramente isso são apenas os detalhes, porque com certeza o que atraía aquela multidão de vagabundos em volta dela eram os seios dela. Volumosos, com um formato de pêra e perfeitamente espaçados eram a loucura da minha vida.
Ter uma esposa tão bonita a ponto das pessoas questionarem o porquê ela está com um cara velho e mediano como eu já era um desafio, agora ter duas filhas que puxaram a mãe, era uma dor de cabeça constante na minha vida. A genética do lado de Marta era forte, as três eram quase cópias, apesar de ter algumas pequenas diferenças, como o fato de Maíra ter uma bunda um pouco maior e por ser mais jovem, um peito menor e mais firme que o da mãe. Morrendo de raiva, eu não tinha o que fazer, só assistir o show daquele bando de abutres.
A única pessoa que chegou ainda mais atrasada do que eu foi Gabriel, surgindo no parque com a aparência de quem não havia dormido nada. O cansaço era evidente no rosto do rapaz, ele bocejava frequentemente, mostrava desinteresse e, em alguns momentos, cochilava de pé. Nosso CEO demonstrava sinais claros de que tinha compromissos mais importantes do que participar daquele evento, como por exemplo, voltar para a balada de onde ele tinha passado a noite.
Curioso, eu acompanhava cada passo de Gabriel, tentando compreender como Sérgio considerou prudente confiar ao filho dele a gestão de uma parcela tão significativa dos seus investimentos. Embora fosse um dia importante para a empresa, o único momento em que Gabriel mostrou qualquer interesse pelo evento foi quando avistou minha família. Ele rapidamente removeu os óculos escuros para garantir que os filtros da lente não o enganavam e de fato existia duas mulheres daquele calibre no seu raio de ação. Depois de avistá-las, sem perder nenhum segundo, ele parou o que estava fazendo e veio em minha direção.
Depois de meses na empresa, aquela seria a primeira vez que eu, o vice-presidente, falaria com o presidente, e apesar de parecer uma grande oportunidade, eu não estava nada feliz. Com a simpatia característica dos lobos prestes a devorar os cordeiros, ele puxou assunto perguntando o que eu achei do evento. Eu poderia responder qualquer coisa, porque ele não prestava nenhuma atenção no que eu dizia, e aquele papinho era só um pretexto para se aproximar e se apresentar para minha mulher e minha filha.
Gabriel passou a próxima hora totalmente absorvido em conversar com as duas, canalizando todo o interesse que lhe faltava pela empresa para descobrir cada detalhe sobre minha família. Inocente, elas compartilharam tudo. Onde moravam, suas atividades cotidianas e seus interesses. Era quase surreal ver quão rápido meu chefe conquistou a confiança da minha filha e esposa.
Embora estivessem se divertindo e rindo durante a conversa, o horário que havíamos combinado para partir estava se aproximando. Então, decidiram seguir seus planos iniciais e saíram para correr. Antes de irem, vi Gabriel pegando o telefone de Maíra, e não pude dizer nada, mesmo ele sendo quinze anos mais velho que ela.
Eu só queria que aquele evento acabasse para ir para casa, exausto de tanta falsidade. Minha frustração deve ter sido evidente, porque antes de voltar a me ignorar, Gabriel olhou para mim com um sorriso cínico e disse num tom que talvez fosse sua tentativa de ser amigável, mas na verdade me pareceu uma ameaça: “Agora que somos todos amigos, vou passar bastante tempo em sua casa Régis!”
<Continua>
Quem quiser ler a parte 3, já postei no meu blog www.ouroerótico.com.br