O CHULÉ DO TÊNIS BRANCO DO VOVÔ – PARTE 2
Essa é a continuação do conto de mesmo nome. Depois de passados alguns dias da minha aventura com o Valtão, fui até a sua casa para acertar o pagamento pelo reparo que fez em minha casa.
Chegando lá, ele estava mexendo no jardim e assim que me aproximei ele foi logo falando:
- Boa tarde, Maurinho! Pensei que tivesse esquecido seu amigo!
- Não esqueci, não. Vim aqui justamente para lhe pagar pelo conserto da torneira daquele dia.
- O que é isso? Aquilo não foi nada!
E antes que eu o contestasse, ele disse:
- Se você me pagar uma cerveja já estamos quites. Hoje está um calor de matar!
- Só se for agora, respondi.
- Vamos lá, então. Deixe só eu dar uma limpada nesse bamba! Como eu estava mexendo na terra, não quero sair com ele sujo assim.
Esperei ele passar um pano naquele velho tênis já conhecido e que tanto prazer me proporcionou dias atrás. Mil pensamentos malucos já vieram à minha cabeça, mas logo tive de abandoná-los porque o vovô já estava vindo em minha direção.
- Vamos ao bar do Duda, que fica aqui perto. Assim você vai conhecendo melhor o pedaço.
- Beleza, falei.
Chegando lá, ele foi logo me apresentando:
- Fala aí, Duda! Tudo em cima? Este aqui é o Maurinho, que se mudou há pouco tempo para cá.
- Prazer, Maurinho! Seja bem-vindo! Tem muita gente boa no pedaço. Você vai gostar daqui!
Estendi a mão e agradeci. Ele continuou:
- Conhece o conga do Valtão? Apontando o olhar para baixo e fazendo um sinal com a cabeça.
- É bamba, corrigi.
Valtão não se conteve e falou:
- Tá vendo só, seu mané? Até o rapaz aqui que é jovem sabe a diferença entre conga e bamba!
- Conga, bamba... é tudo da família chulé. E soltou uma boa risada.
Duda se voltou para mim e perguntou:
- Ele te contou do carequinha que teve de cheirar esse conga? Você não faz ideia! O chulezão tomou conta do bar inteiro! Soltou outra risada.
- Ô, cara! Traz logo uma bem gelada para mim e para o meu amigo aqui e para de encher o saco! Respondeu o urso, já meio contrariado, mas logo percebi que aquela tiração de sarro já era praxe. Só para provocar um pouco mais, perguntei ao Duda:
- E o que aconteceu com o tal carequinha? Desmaiou? Arranquei outra risada do Duda e Valtão retrucou:
- Agora você também vai começar com esse papo?
- Rapaz! Esse carequinha nunca mais apareceu aqui, sabia, Valtão? Acho que o seu chulé espantou o cara de vez! Hahahaha!!!
- Ô, seu safado! Manda logo essa cerveja que eu estou com sede. E chega desse papo!
Fomos nos sentar em uma mesa mais afastada nos fundos do bar. Acho que assim poderíamos conversar mais sossegados. Depois que o Duda nos serviu e brindamos à nossa amizade, eu perguntei:
- Quero saber essa história do chulé que esse carequinha teve de cheirar. Foi aposta?
Reproduzo, a seguir, o relato do Valtão.
- Não foi bem uma aposta! Foi falando entre goles de cerveja. Era um sábado, mais ou menos uns dois, três meses atrás, eu tinha feito muito serviço em casa, lavei caixa d’água, arrumei minhas ferramentas, dei uma geral na oficina e fiquei bem suado e estava com esse bamba que tu já conhece. Como estava muito quente nesse dia, eu só lavei o rosto e vim prá cá tomar umas e espantar o calor. Alguns amigos foram chegando e fomos jogar bilhar nessa mesa aqui em frente.
Para variar, durante o jogo logo começaram os comentários sobre o meu tênis:
- E aí, Valtão? Como está o chulé dessa desgraça?
- Acho que quando o Valtão quer espantar os mosquitos, ele tira o conga e não fica nenhum!
- Troca esse tênis, Valtão! Esse conguinha já está muito gasto!
- Gasto está o rabo de vocês, seus viados, respondi! Não sei porque tanta encheção com meu tênis. Ele é leve, confortável e me leva prá todo lugar. Para que eu vou usar um Adidas ou outro de marca? Só para ficar na moda? Acha que eu preciso disso?
- Êêêê! Gritaram alguns. Esse é o Valtão!
Nesse momento, eu reparei num sujeito moreno de cavanhaque, estatura média e cabeça bem raspada. Ele estava encostado no balcão e olhava em direção ao nosso grupo e sorria com aquela tiração de sarro.
- Vamos continuar o jogo! Alguém falou. Vamos organizar uma competição. Quem perder a rodada, paga a cerveja.
Todos toparam e o carequinha pediu para participar. Se apresentou como Zé Carlos e cumprimentou a todos. Acho que o cara fazia musculação, pois tinha um puta bração e barriga bem definida. Usava um short de malha meio apertado, daqueles que se usa em academias e que destacava seu bundão meio avantajado para um homem. Quando ele se apoiava de lado sobre a mesa não tinha como não reparar naquele traseiro. Até percebi outros caras se cutucando e trocando olhares como a dizer: - ‘Olha só esse para-choque! ’
Mas, fora isso, não tinha como negar que o cara jogava muito, tinha muita técnica, o que deixou a mim e o resto do pessoal impressionado.
Dali pelas tantas, depois de várias rodadas, a maioria com a cabeça cheia de cerveja, alguém grita:
- O próximo que perder a rodada, em vez de pagar a cerva, vai cheirar o conga do Valtão!
Foi aquela gargalhada geral! Aqueles caras não iriam desistir enquanto não tirassem meu tênis e naquele dia depois de tanto serviço pesado, não teria como disfarçar o chulezão. Bom, paciência, afinal, quem está na chuva é para se molhar, pensei, e nem foi minha aquela ideia. Entrei naquele jogo e arrematei:
- Só que não vai cheirar só um pé. Tem de ser os dois!
Mais assobios e risadas. A coisa estava crescendo. Meu olhar cruzou com o do carequinha, que sorria meio nervoso. Pareceu até que naquele momento eu já sabia o que iria acontecer.
Depois que a bagunça acalmou um pouco, o pessoal bem que tentou se concentrar no jogo, mas o clima estava mais para zoeira mesmo, e aí é claro que alguns gaiatos tentaram pular fora da jogada, mas eu sabia bem quem estava ali e fui logo falando:
- Olha aí! Agora ninguém sai daqui. Prometo que se o felizardo (tive de parar para rir um pouco!). Continuei:
- Se o felizardo conseguir cheirar o chulezão do papai aqui sem reclamar a rodada é por minha conta!
Pronto! Depois dessa, a galera veio abaixo!
- Aê, Valtão! Muito bem! Isso é que eu chamo de incentivo!
- Tudo em nome do chulé do Valtão!
- Tem álcool aí, Duda? Vai que alguém desmaia!
Mais gargalhadas, mas dessa vez o pessoal acalmou logo.
Começou comigo e não fui tão mal quanto pensei. Os outros foram se seguindo e quando chegou a vez do carequinha, aconteceu o que eu previ. O malandro começou a perder várias bolas e não conseguia encaçapar quase nenhuma, o que era bem estranho porque até bem pouco tempo atrás ele estava dando show naquela mesa. Logo começou a gozação:
- Xi... acho que o nosso amigo carequinha aqui vai ter de encarar o conga do Valtão!
- Alguém trouxe a máscara de gás?
- Rapaz! Você tem seguro de vida?
Alguns amigos agarraram o tal carequinha por trás dando-lhe uma chave de braço e abaixando ele um pouco em direção aos meus pés. Mas achei que o cara nem ofereceu muita resistência e olha que ele era do tipo fortão.
Nessa hora tive a visão dos meus tempos de piá quando a molecada cercava outro guri mais fraco para fazer sacanagens no meio do mato ou atrás de um muro. Quanto troca-troca eu fiz naqueles tempos! Meu pauzinho ficava até esfolado de tanto roçar no cuzinho dos moleques. Voltei rapidamente à realidade quando os caras começaram a entoar em coro aquela música conhecida da Gretchen:
- ‘Conga, la conga! Conga, é conga, é conga! ’
Aquela situação estava mexendo comigo. A simples ideia de que aquele sujeito em breve estaria cheirando o meu chulé fez meu pau subir quase instantaneamente. Por sorte minha bermuda era bem larga, o que escondia um pouco o volume. Nisso, reparo a mala do carequinha por baixo daquele short apertado. O cara estava de pau duro também! Ele estava curtindo a situação! – Que sacana, pensei!
- Vai, Valtão! Tira logo esse conga! Alguém falou.
O sujeito me encarava de um jeito meio desafiador e para não amarelar estendi bem um dos pés para frente quase tocando sua boca e perguntei:
- Quer que eu tire ou você tira?
Sem deixar de me fitar, ele responde:
- Pode tirar!
Num movimento rápido arranquei meu bamba e o encostei em sua cara, ordenando:
- Cheira aí!
Nessa hora o pessoal não se aguentou e logo apareceram os comentários:
- Que chulé da porra é esse, Valtão?
- Gorgonzola pura!
- Isso aqui está parecendo uma câmara de gás!
Não vou mentir que nesse dia nem eu estava aguentando o meu próprio chulé. Acho que poucas vezes ele tinha chegado a esse ponto.
O carequinha cheirava meu tênis sem mover um músculo. Nessa hora, os caras o soltaram e alguém puxa o bamba de sua mão e vão passando ele na roda, tipo aquele jogo da batata quente, onde ninguém aguenta segurar muito tempo. Cada um dava uma breve cheirada, fazia uma careta ou uma exclamação de nojo e rapidamente ia passando aos demais. O camarada não tirava os olhos de mim e aí lembrei:
- Ainda tem esse outro aqui. Esqueceu?
Tive uma ideia meio doida, mas como o clima era de zorra não tive dúvidas.
Desamarrei o cadarço, e tirei o outro pé mais devagar e fiz que iria colocar em frente ao seu rosto, mas me levantei e me posicionei por atrás dele que continuava agachado e amarrei o bamba em sua cara, dando um nó por trás de sua cabeça.
- Toma aqui! Sente esse chulezão! Ordenei mais uma vez.
Nessa posição eu fiquei quase montado sobre o cara, meio que cavalgando sobre suas costas e nessa hora meu pau endureceu mais ainda e roçava seu pescoço. Impossível ele não ter percebido.
A galera urrava com a cena. Era uma mistura de gritos, assobios e risadas. Eu estava no comando daquela farra e curtia aquele momento. A turma não se aguentava:
- Cuidado, Valtão! Assim você mata o coitado asfixiado!
- Esse aí pagou os pecados do ano todo!
Gargalhada geral. Mas o malandro estava gostando mesmo. Ele não dava o braço a torcer. Nessa hora não tinha mais ninguém o segurando, então, se ele quisesse, era só dar uma cheirada e cair fora. Em vez disso, ele ficou segurando o tênis e vi que até fechava os olhos devagar e abria um pouco a boca, aspirando todo aquele chulé, como quem estava sentindo prazer com aquilo e querendo prolongar aquele momento. Vendo aquela cena, comentei:
- Tu é marrento mesmo, hein, rapaz? E desamarrei o tênis por trás de sua cabeça.
- Você ainda não viu nada! Falou em voz baixa com um leve sorriso sacana nos lábios.
Aquele comentário só confirmava minhas suspeitas de que aquilo não iria acabar ali. Saí de trás dele e peguei aquele pé para calçar de novo. Gritei para os camaradas que queria meu tênis de volta, o que demorou um pouco para me atenderem. Enquanto não chegava, subi em uma cadeira e anunciei:
- Trato é trato! Como o companheiro aqui foi corajoso e aguentou o que eu achei que ninguém aguentaria, a rodada é por minha conta!
- Aê, Valtão! Valeu enfrentar o chulezão!
- Todo mundo continua vivo aqui?
Depois que o Duda trouxe a última rodada, calcei o outro pé que chegou meio zoado, mas tudo bem, pensei. Pior se eles tivessem jogado ele fora do bar. Brindamos àquela bagunça e até quis tirar um último sarro do carequinha, mas o tinha perdido de vista.
Algum tempo depois, boa parte do pessoal já tinha se mandado. Fui ao banheiro tirar a última água do joelho e quando estava entrando o dito cujo saiu meio apressado e nem me olhou. Estava dando aquela boa mijada no mictório quando um amigo entrou em seguida e se dirigiu à parte mais reservada, mas nem fechou a porta. Segundos depois, ouço um berro:
- Pô! Que nojo! Alguém esporrou no vaso! É mole?
Aquilo só poderia ter sido obra do carequinha! Quem mais além de mim ficou excitado com aquela situação? Disfarcei e falei:
- Cara! Hoje teve de tudo! A gozação foi além dos limites!
Me despedi dos poucos que ainda estavam no bar e me dirigi ao Duda para acertar a conta, ao que ele respondeu:
- O seu amigo carequinha já acertou a parte dele e a sua. Disse que tinha combinado com você.
- O quê? Respondi com certo espanto.
- Relaxa, Valtão! Você teve um dia cheio. Vai descansar que amanhã é outro dia!
Agradeci e saí do bar meio atônito com a situação. Por que cargas d’água aquele sujeito que eu tinha acabado de conhecer tinha acertado minha parte na conta? Já tinha anoitecido e ainda estava bem abafado na rua. Fui caminhando em direção de casa e quando estava quase abrindo o portão, ouço uma buzina em minha direção.
Era o tal. Eu nem ouvi o motor do carro e notei que ele estava com o farol desligado. Encostou perto de mim e falou:
- Podemos conversar?
A continuar...