VIII
Minha cabeça estava fervendo de dor na testa e na nuca. Uma sensação de morte no estomago. Eu seria capaz de confessar todos os meus pecados ao primeiro que aparecesse na minha frente.
"Você confessar pecados? Tá mais para mamar o coitado do padre!", eu escondi a cabeça no travesseiro lembrando nitidamente da verga dura de Duval na minha boca.
Não era a primeira vez que eu havia chupado Duval mas fazia anos que uma recaída não acontecia e eu sempre ficava constrangido depois.
- Cara você tá bem?
- Suave... - menti.
Betão estava passando a toalha debaixo dos braços e da virilha. "Eu ainda tenho que aguentar isso! É tortura!", pensei com a mão em cima do meu estomago. "Esse gostoso, e caralhudo ainda por cima!"
- Tá de ressaca né?
Ele jogou um saché do tamanho de um saco de suco em pó mas que lembrava uma embalagem de camisinha. Minha mente pervertida pensou logo no pau dele dentro da minha boca. Mas controlei a fera chupadora dentro de mim e respondi:
- Acho que é...
Desviei meus olhos para a parede ao lado e fiz um gesto com o polegar para esboçar um "obrigado". Betão saiu logo mas o perfume dele ficou no ambiente misturado ao pós barba e o desodorante.
- Vai ficar dormindo o dia todo? - Duval entrou no quarto.
- Sai daqui vai! - pedi.
- Quem mandou encher a cara?
- Você me levou para aquele lugar... nunca mais eu bebo na minha vida.
- Já ouvi isso antes - Duval disse e pegou o sachê da minha mão. - Vou fazer isso pra você. Mas levanta dessa cama.
Eu fiz o que ele disse e peguei meu celular também, haviam mensagens da minha mãe e de um número desconhecido, por achar que seria da universidade, eu abri:
"Oi Yuri, sou eu Maicon, salva"
A mensagem tinha chegado fazia horas. Eu tinha salvado o número dele no celular mas o nome não aparecia quando me mandava mensagem parecendo que estava anônimo.
"Oi Maicon, salvei"
Ele tinha mandado um link da casa dos contos eróticos "Eu e os três, A.B.O. que eu não sabia". Duval entrou mexendo com uma colher em um copo, cheirava a refrigerante mas sem o gás. Eu bebi de gute gute e voltei a deitar.
- Vou indo nessa, - Duval disse - e desencana do que rolou, você tem mania de ficar repensando o que faz. Fui!
Duval era um inconsequente e achava que podia dar lição de moral em alguém, eu só queria deitar e ler aquela história que parecia bem excitante e realmente o enredo de "republica de machos" era bem construído.
A escrita do autor "Hubrow" envolvia bastante. Eu li os primeiros capítulos ansiando por mais cenas de fodeção entre Otavio e Zeca, e quando chegou na trepada do Rodrigo com o Zeca, quase gozei sem tocar em mim mesmo.
"Carai Maicon, sou muito Zeca na vida, me faltam esses machos da história e essa coragem."
Ele não demorou a responder:
"Eu pensei o mesmo sobre mim hahaha"
Eu passei o dia trocando mensagens com o Maicon sobre outros contos como o maravilhoso "Adestrando Betão" e o clássico da casa dos contos "Apaixonado pelo brutamontes".
"É uma sacanagem não ter um final" mandei para Maicon.
"Dizem que o Matheus o autor morreu"
Eu não sabia disso e tomei até um susto porque ficava xingando o pobre do autor que não colocava a merda da continuação, adormeci e quando acordei ainda de ressaca saí do quarto apenas duas vezes e a casa estava em silêncio.
Anoitecia quando uma chuva forte derrubou a internet e teve até uns apagões durante a madrugada.
Betão acendeu a luz do quarto umas três horas da madrugada, estava coberto de água, a roupa deliciosamente colada ao corpo.
- Acho que vou gripar - ele disse e espirou.
Betão tentou retirar a calça e pendeu para a frente, caiu de joelhos entre as nossas camas e às gargalhadas tentou desabotoar as calças ainda de cara no chão.
"O cheiro de álcool faria vergonha a Petrobrás", exalava dos poros dele e assim de perto era ainda mais perceptível.
- Mano tu tá podre a cachaça - confessei sonolento.
- Aquela vaca... cachorra... uma puta...
Ele dizia isso a um palmo de distância do meu nariz. O cheiro da pinga, da cana brava não nublava o fato de Betão ser um baita gostoso. A chuva batia forte no telhado e a casinha velha parecia que gemia debaixo daquele temporal.
- Você precisa se secar... - eu sugeri.
Ele ficou de gatinhas com os joelhos e os braços apoiando-o mas sem firmeza, bamboleante.
- Eu quero é dormir... aquela puta...
Betão caiu no chão de cara e tudo e encolhendo os ombros largos tirou as calças ainda deitado de barriga para baixo. Eu sentei na cama vendo a cena e achando graça. A ressaca havia cedido em mim mas pelo visto tinha pegado Betão.
- Será que ressaca pega? - brinquei com ele antes de levantar para alcançar sua toalha estendida na cabeceira da cama.
Mas falhei miseravelmente na primeira tentativa de levantá-lo. Como era um homem grande os pés dele batiam na porta impedindo que eu a abrisse toda.
- Cachorra! Vaca! Cadela! - ele repetia. - Eu devia ter te fodido com mais força! Devia ter te dividido ao meio... Cachorra...
Eu suspirei, juntando as peças e depreendendo pelo que murmurava que não era qualquer ressaca, era a mais braba de todas, a ressaca de corno. Minha ideia era sair e buscar ajuda para levantar o Betão do chão e ajudá-lo a se secar.
Mas ao sair para o corredor a única pessoa que encontrei foi o Fabrício que estava segurando dois baldes em um braço e dois em outro reclamando das pingueiras do telhado em seus livros.
- Betão que se foda! - ele disse. - Deixa no chão mesmo.
Fabrício não quis mais conversa e se enfiou no próprio quarto fechando a porta na minha cara. Eu bati na de Juarez e Duval mas ninguém respondia e o de Pedro estava fechado.
Assim que entrei no meu quarto de volta. Betão estava sentado com as pernas estiradas e as costas apoiadas na própria cama. Ele tinha conseguido retirar metade da camisa mas o braço direito ainda estava preso a cabeça.
- Eu te ajudo...
Eu puxei a gola e consegui retirar mas após um trovão as luzes se apagaram e no susto eu fui para frente caindo praticamente no colo do homem que me olhava com cara de um completo fracassado. Deu pena.
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Valeu pelos comentários!