O fruto é mais que um alimento; é a promessa do novo, o nascimento de um ciclo interminável de vida e renovação. Ele carrega consigo o peso de expectativas e sonhos, de ciclos de vida que se fecham e se abrem, como um romance que se desdobra página por página.
Após o beijo me sentei ao lado de Fernanda e comecei a conversa que eu não queria adiar, pois tudo iria mudar.
Feh, eu preciso conversar com você, e essa conversa vai ser o ponto chave do que temos.
Tudo bem, mas estou com medo disso.
Não acho que precise ter medo. Bom, você sabe minha história e eu sei a sua. E acho que isso é um ponto importante. Eu sinto algo por você, isso é inegável, mas eu tenho alguns receios e queria falar disso contigo.
Tudo bem, eu também gostaria de falar algumas coisas com você.
Primeiro ponto, eu não quero me arriscar e ser arrancada da minha vida novamente, então queria evitar que meus pais saibam. Pelo menos até sairmos daqui e irmos pra universidade.
Eu tenho o mesmo medo, mas não sei se devemos manter isso em segredo.
Bom, minha tia talvez seja uma boa aliada, mas não sei se contaria para outras pessoas além dela.
Tudo bem, preciso digerir isso. Um dos meus receios é que nós não sabemos nada sobre nada. - Ela ri tirando gargalhadas de mim
Eu acho que teremos que descobrir juntas. Meu outro receio é que você se feche como fez duas vezes já, quando se sentir mal não me afasta da conversa comigo, eu sou sua amiga e quero poder te ouvir.
Já estamos descobrindo juntas? Tudo bem, eu irei tentar me abrir mais contigo.
Nesse momento a porta se abriu, nos assustamos, mas era o horário de checagem. Eu então troquei de roupa e me deitei, logo Fernanda me chamou para sua cama e ali conversamos mais um pouco. Antes de dormirmos eu beijei-a mais uma vez, e a proximidade fez meu corpo esquentar, esse calor me fez aumentar a intensidade do beijo, paramos para retomar o fôlego e ouvimos um barulho no corredor, corri para minha cama e a porta se abriu.
Bianca, está acordada? - Disse a diretora
Sim, ainda estou acordada. Aconteceu algo?
Sua tia está aqui e precisa falar com você, vista-se por favor, pois talvez tenha que sair.
Me troquei rapidamente, o que poderia ser minha tia havia me deixado ali a menos de três horas. Fernanda tentava me acalmar no processo. Ao sair e encontrar minha tia a vejo com os olhos vermelhos, porém com uma certa calma. Ela me olha e sorri.
Oi Bia, preciso te contar algo, vamos nos sentar no jardim?
Claro, tia. O que aconteceu?
Bianca, sua mãe me ligou a pouco, ela está no hospital. Eles estavam viajando e o ônibus em que eles estavam sofreu um acidente.
Eles estão bem? - eu já estava em lágrimas.
Seu pai faleceu no local devido a um fragmento de vidro que o atingiu perto do coração. Sua mãe está aguardando atendimento, ela conseguiu ligar mas não sei nada além disso.
Nesse ponto eu já estava em prantos, minha tia me abraçou e eu só consegui dizer uma coisa.
Fernanda, preciso dela.
Quem?
No meu quarto, por favor.
Minha tia pediu à diretora para chamá-la e logo ela estava ali me abraçando. Quando me acalmei percebi que minha tia estava distante ao telefone, nesse meio tempo contei para Fernanda o ocorrido e ela estava tão assustada quanto eu. Minha tia voltou para junto de nós com os olhos lacrimejando.
Bia, recebi uma ligação do hospital, sua mãe foi atendida, mas assim como seu pai, alguns pedaços do ônibus a atingiram, ela perdeu muito sangue e está na UTI. Estão procurando doadores do mesmo tipo sanguíneo, pois você e ela não são compatíveis, já que você é do tipo AB+ e ela é A+. Eu irei ao Brasil, mas não sinto que seja o momento de você ir. Pedirei a diretora para liberar seu celular para que eu consiga te manter informada.
Meu mundo estava desabando, dormi ao lado de Fernanda em lágrimas, acordei com a diretora nos chamando, e perguntando como eu estava. Ambas fomos liberadas das aulas pela manhã e Fernanda foi instruída a ficar ao meu lado nesse período e se necessário permanecer em descanso. Passamos a manhã deitadas na cama, na verdade eu deitada no colo de Fernanda que fazia carinho na minha cabeça e me deixava chorar. Pouco antes do almoço recebi uma ligação da minha tia.
Oi Bia, como você está?
Tia, você sabe como estou, e minha mãe?
Ela está bem, encontramos doadores e eu mesma doei, ela está estável. Acredito que não terá mais perigo. E sobre o funeral do seu pai, já estou organizando tudo e avisando o restante da família, vou reservar sua passagem para a tarde.
Que bom que ela está bem, irei organizar uma mala e te vejo logo mais - disse com um misto de alívio e dor no coração.
Ah, eu pensei em chamar Fernanda, mas não consegui contato com os familiares dela. Me desculpa Bia, mas sem a autorização não consigo que ela venha.
Tudo bem tia, eu entendo, mesmo querendo que ela estivesse comigo.
Minha tia me passou o nome do hospital e logo desligou, informei para Fernanda o acontecido e comecei a organizar minha mala. Em pouco tempo a diretora trouxe as informações sobre meu voo e me disse o mesmo que minha tia, não havia conseguido contato com os pais de Fernanda para a liberação.
Me organizei e fui para o aeroporto, algumas horas de viagem estou novamente na minha cidade, foi tudo muito turbulento e rápido, fui para o hospital ver minha mãe, depois para o funeral e para casa. Tudo durou um dia e meio, mas parece que foi poucas horas. Em casa com minha tia e minha mãe, pensei pela primeira vez desde que cheguei no Brasil em Fernanda, e logo mandei mensagem dizendo que estava tudo bem e que logo retornaria, recebi uma resposta de conforto e saudade. Adormeci com lágrimas e torcendo para tudo ser um sonho.
Acordei com o cheiro do café que minha mãe adorava fazer, mas sabia que era minha tia que estava cozinhando, minha mãe ainda não podia se esforçar. Me levantei, tomei um banho e fui ao encontro delas.
Bom dia.
Bom dia meu amor, como você está?
Estou bem mãe e senhora?
Estou bem também. Sua tia está fazendo o nosso café, e escolheu o meu favorito.
Eu senti o cheiro, espero que esteja tão bom quanto eu me lembro.
Bom dia Bia, eu também espero, faz tempo que não cozinho essas coisas.
Eu preciso fazer uma pergunta para vocês. Como será de agora em diante?
Bom filha, eu já conversei com sua tia, você continuará em Sintra. E eu irei passar o restante desse ano aqui organizando o inventário e a divisão de bens. Por sua tia ser a única parente viva do seu pai, além de nós, ela tem uma parte na empresa que era dos seus avós e isso que precisamos resolver. Não sei como será depois, mas sempre que possível eu irei te ver e você virá também.
Certo.
Eu queria dizer tanta coisa para minha mãe, falar de Fernanda, de como ela me faz sentir. Mas achei que não era o melhor momento. Passei o restante da semana no Brasil, retornei para o internato na sexta, quis passar o fim de semana lá e minha tia entendeu bem. Fui para meu quarto e Fernanda ainda não tinha voltado das aulas, desfiz minhas malas e decidi tomar um banho, enquanto estava no banheiro ouvi a porta do quarto abrir e meu nome ser chamado.
Espera só um pouquinho estou terminando o banho.
A minha surpresa foi Fernanda abrir a porta do banheiro e me abraçar ali mesmo, ela toda vestida e eu nua. Acho que ela não pensou nisso só queria me abraçar, o que eu queria também. Mas ao notar que eu estava nua vi o seu rosto ficar tão vermelho quanto um pimentão, eu não me contive e ri um pouco da situação, pedi pra ela se enxugar e tirar as roupas molhadas. E aconteceu a segunda surpresa, ela saiu do banheiro em direção ao quarto e logo voltou dizendo que tinha deixado a porta aberta e destrancada, entrou e se despiu se juntando a mim no banho, seu rosto que antes demonstrava vergonha agora estava me observando e sua expressão tinha mudado completamente. Era a primeira vez que alguém me via nua e que eu via alguém nu. Nos beijamos com calma e saudade, quando nos afastamos vi o corpo de Fernanda e entendi seu olhar, o desejo estava ali, eu a beijei novamente com a mesma calma. Quando nos afastamos a olhei, Fernanda estava com um sorriso lindo, uma mistura de desejo e felicidade.
Feh, eu sei o que nossos corpos estão pedindo. Mas eu quero terminar o banho e deitar no seu colo, preciso do seu carinho.
Eu sei, eu apenas não resisti quando te vi.
Tudo bem, vamos terminar esse banho.
Quando terminamos e nos vestimos, lembramos de destrancar a porta para a checagem, fomos para a cama, deitei no colo dela e contei tudo da semana. Quando a checagem aconteceu a diretora entrou e conversou um pouco comigo, me senti acolhida, mas ela chamou a nossa atenção por termos dormido na mesma cama no domingo e alertou para punições caso aconteça novamente. Entendemos o recado.
O que se passou no restante do ano foi um borrão pra mim. Lembro apenas de eu ter ficado com a maior parte das ações da empresa por ser a única filha do meu pai, e o restante foi dividido para minha mãe e minha tia. Minha mãe se manteve no Brasil cuidando da empresa e decidiu que eu terminaria o ano em Sintra e depois eu poderia decidir se voltaria ou não para o país. A dor da perda do meu pai ainda existia, mas estava me acostumando com sua ausência, mesmo que doesse. Minhas notas se mantiveram bastante altas, sendo uma das melhores da turma e óbvio que arrastei Fernanda comigo. Entre mim e Fernanda as coisas estavam boas, nos mantivemos apenas com beijos, acho que o que aconteceu no chuveiro foi coisa de momento, pois quando conversamos sobre ficou claro que queríamos mais tempo antes de algo acontecer. Nas férias decidi me manter no internato, e minha mãe entendeu e aceitou, mantive contato com Fernanda, mas pelo fuso horário as vezes tínhamos dificuldade. Agora eu queria me preparar para o próximo ano e tudo o que poderia acontecer, terminei um capítulo da minha vida com muitos altos e baixos, mas estou bem apesar de tudo.
