Meu Desejo - Capítulo Doze

Da série Meu Desejo
Um conto erótico de M.J. Mander
Categoria: Gay
Contém 2722 palavras
Data: 27/07/2024 00:05:09

CAPÍTULO DOZE

*** PEDRO FERNANDES ***

O sol desce lentamente, sumindo atrás da linha do horizonte, sem pressa. Suspiro, admirando a beleza do momento enquanto o vento faz uma bagunça em meus cabelos e arrepia minha pele, apesar de não fazer nada para aplacar o calor se espalhando por ela que não tem a ver com o clima do fim de tarde. Não.

O responsável por isso é o homem sentado ao meu lado como eu não imaginei que um dia veria. Com areia infiltrada entre os dedos dos pés descalços, os braços esticados para trás do corpo, amassando a camisa branca de botões que tem as mangas dobradas até os cotovelos e o rosto, geralmente vestido por uma expressão grave, mais relaxado do que vi em qualquer outro momento desde que o conheci.

O cheiro de mar se mistura com o aroma âmbar característico de Hugo, entorpecendo meus sentidos e me fazendo inteiramente cativa do momento, intoxicado pelos segundos que correm no ponteiro do relógio.

Nenhum de nós fala nada por muito tempo, mas nossos corpos parecem cada vez mais envolvidos em uma interação provocativa, porque não é possível que eu seja o único a estar sentindo essas coisas. Resistir à atração que insiste em me puxar para os braços ao meu lado é um esforço genuíno.

Hugo se move suavemente em minha direção e a próxima coisa que eu estou sentindo é o quase roçar do seu nariz percorrendo a linha do meu braço, ombro, pescoço, quando um sopro um pouco menos suave afasta os meus cabelos para o outro lado. Fecho os olhos. Má ideia. Essa é uma ideia muito ruim mesmo.

Ele não me toca. Por que ele não me toca? Graças a Deus ele não me toca! Eu estou enlouquecendo, só pode! A ponta do seu nariz apenas resvala, fantasmagoricamente, por minha pele em chamas e eu acho que se sua pele entrar em contato com a minha de verdade, vou entrar em combustão espontânea.

— Hugo. — Seu nome deveria soar como uma repreensão, mas ele não parece mais do que um lamento quando deixa meus lábios.

Deus, o que eu estou fazendo? O pai da minha aluna! Ele é o pai da minha aluna! Repito em minha própria cabeça tentando lembrar ao meu cérebro de que ele não pode ceder. Principalmente, não tão facilmente, pelo amor de Deus! Ele nem está tentando.

— O seu cheiro é perturbadoramente gostoso — sussurra contra a minha pele e puxa uma inspiração profunda antes de se afastar.

O céu sobre nós escurece, como se fosse um reflexo dos nossos olhos e eu não tenho coragem de procurar os de Hugo por algum tempo. Mantenho os meus fechados enquanto luto para controlar minha respiração e as batidas do meu coração.

Todo o meu corpo está ansioso para atender ao chamado silencioso chegando até ele em ondas de desejo como eu jamais senti. Quero retribuir o favor, deslizar meu nariz por seu pescoço, por sua barba, quero tocar a sua pele com meus lábios. Seria justo, não seria? Olho por olho, dente por dente e cheiro por cheiro, mas não faço nada disso. Continuo imóvel, porque não acho que eu conseguiria parar se começasse. Hugo é o poço de autocontrole entre nós, não eu.

Quando ele estacionou o carro, desconfiei da gentileza. Eu realmente estava pensando que adoraria assistir ao pôr do sol com tempo. Sempre adorei ver as cores colorirem o céu até se desfazerem na escuridão, nenhuma metáfora nunca me pareceu mais apropriada para o desenvolvimento humano do que o pôr do sol, e bem, eu realmente gosto de metáforas.

Mas quando a chance me foi oferecida de bandeja sem que eu tivesse pedido por ela em voz alta, minha primeira preocupação foi ficar sozinho com Hugo, lembrando-me do que aconteceu da última vez. E a maneira como ele olhou para mim quando me virei para trás, a sua procura, depois de me sentar na areia, aquele olhar aqueceu e esfriou o meu estômago.

Havia tantos conflitos nele que ao mesmo tempo em que eu me senti incrivelmente desejado, senti-me também perturbadoro da ordem que Hugo está tão habituado a ter em sua vida. Mas aí o homem sentou ao meu lado e eu achei que tudo não havia passado de coisa da minha cabeça. Eu só precisaria sobreviver a esse momento e tudo ficaria bem.

Nós tínhamos ficado sozinhos no carro e tudo deu certo, não havia motivo para me preocupar, eu disse para mim mesmo. Nós até conversamos civilizadamente. Até arranquei dele uma confissão sobre ser um noveleiro de primeira. Nós faríamos isso. Eu passaria por isso. Intacto.

Intacto é tudo o que eu não me sinto. Como é possível que eu esteja tão devastadoramente à flor da pele? Deus! Eu sei que sempre disse que queria um homem que incendiasse meu corpo, mas, poxa vida! Eu não quis dizer literalmente. E, convenhamos, Hugo Maldonado é o último homem na face da terra com quem eu teria um relacionamento, então do que adianta tudo isso?

Universo, você precisa maneirar nas mãos de cartas que me dá. Porque até esse momento, minhas opções foram só duas e extremamente opostas. Primeiro, Rafael, com quem eu poderia ter tido casamento, filhos, dois cachorros e uma cerca branca, mas que não me arrepiava nem os pelos da nuca. Agora, Hugo, que me deixa em brasas apenas com a sombra do seu toque, mas que é tão proibido para mim quanto voar perto do sol era para Ícaro. Podemos combinar um meio termo na próxima?

— Nós devíamos ir — digo, abrindo os olhos depois do que pareceu uma eternidade de silêncio. Hugo não responde, obrigando-me a olhar para ele apenas para me arrepender no instante seguinte.

Suas pupilas estão dilatadas ao extremo, deixando seus olhos impossivelmente mais escuros. As veias do seu pescoço musculoso estão saltadas, evidenciando o esforço que ele está fazendo, mas para quê? Se conter? E a expressão em seu rosto é a de um predador.

Hugo me devoraria, e o espaço entre as minhas pernas palpita sem pudor algum somente com esse pensamento. Puta merda, eu estou duro. Eu estou duro para Hugo Maldonado e a constatação me faz ofegar.

— Devíamos, não devíamos? — murmura e o som enrouquecido reverbera por cada centímetro de mim, dentro e fora, transformando a palpitação suave entre minhas pernas em contrações constantes.

O olhar escuro de Hugo cai para os meus lábios entreabertos e se fixam ali. Oi, Deus! Sou eu de novo...

Os ombros largos se movimentam, impulsionando o corpo para frente, trazendo sua boca para perto o suficiente da minha para que eu sinta o calor do seu hálito. Fecho os olhos. Atingido com tanta força por sua presença, pelo desejo fazendo miséria das minhas entranhas, pela necessidade de me manter são, que preciso fugir da realidade, nem que seja me impedindo de encarar a máscara de desejo me confrontando.

Mas isso não me ajuda. Muito pelo contrário, torna tudo ainda mais intenso. Privado de um dos sentidos, todos os outros se aguçam. O som das ondas quebrando a apenas alguns metros de distância se torna mais violento, o vento em minha pele e o calor que a domina se tornam mais impetuosos, o cheiro de mar misturado ao de Hugo me sobrepuja, e o desejo de que o toque fantasma dos lábios que me torturam com a proximidade insuficiente se transforme em algo tátil e real quase me enlouquece.

A primeira gota me assusta, a segunda me faz abrir os olhos e a terceira me arremessa para fora do torpor em que o meu corpo se encontrava. A chuva cai de repente, grossa, forte e rápida. Eu me levanto, como se só agora tivesse reassumido o controle sobre mim mesmo, e acho que de certa maneira, é isso.

Hugo ainda fica sentado, encarando-me, piscando os olhos enquanto sua camisa é atingida com golpes nada sutis de gotas gordas de água, tornando-se transparente e colando-se ao corpo. Como se eu precisasse de mais isso. Não digo nada antes de me virar e correr na direção do carro, mas no momento em que alcanço a SUV estacionada no meio fio, uma mão grande já está abrindo a porta para mim.

###############

*** HUGO MALDONADO ***

O tecido molhado colado em meus braços, peito e tronco não ajuda com a sensação incômoda da minha própria pele. Porra, eu estive tão perto de perder o controle naquela praia que mal me reconheço. O que eu estava prestes a fazer? Beijá-lo. Definitivamente, beijá-lo. Minha boca saliva com a expectativa pelo seu gosto.

O silêncio no carro é quebrado apenas por nossas respirações. Dirijo com pressa, precisando acabar com o momento iniciado na areia, que parece se estender infinitamente, mesmo que a praia já tenha ficado para trás há algum tempo. Pedro mal se mexe. Noto, com o canto dos olhos. Ele parece preocupado que qualquer movimento possa desencadear o que quer que a chuva tenha interrompido e ele não está errado. Tenho a mesma sensação.

O desejo preenche as minhas veias, mandando todo o sangue do meu corpo direto para o meu pau, alimentando uma ereção dolorida que está me tornando cada vez mais irracional, deixando-me quente e rígido por inteiro. Piso fundo no acelerador, deslizando o carro pela avenida movimentada, ignorando os radares de velocidade, precisando chegar ao destino.

Dez minutos depois, eu estaciono na frente da vila onde aluguei uma casa para o Bela Armadilha e me viro para ele no mesmo momento em que ele se vira para mim.

O peito subindo e descendo num ritmo inconstante, os fios longos e escuros superficialmente molhados, os lábios rosados entreabertos, na tentativa de facilitar a respiração difícil e os olhos grandes parecendo ainda maiores, me implorando para que o deixe sair do carro antes que nós dois façamos uma besteira, são mais do que o suficiente para que eu saiba que isso não vai acontecer.

Me aproximo devagar, mesmo que cada nervo meu exija o contrário, exija pressa, urgência. Quero que ele tenha tempo de recuar, mesmo sabendo que ele não fará. Quero que ele saiba que pôde me impedir e não quis. Solto o meu cinto de segurança primeiro, depois, o dele.

Dessa vez, faço mais do que sugerir o toque. Roço a ponta do meu nariz por sua pele macia, contorno o seu maxilar de uma ponta à outra antes de infiltrar meus dedos pelo seu pescoço e pelas raízes dos cabelos em sua nuca. Isso é um erro.

Percorro um caminho lento. Exploro o pescoço, o queixo, afasto os cabelos da sua orelha, descubro-o e logo em seguida resvalo os lábios por ali também. Pedro geme baixinho, enviando ondas de prazer diretamente para a minha virilha e eu lambo o lóbulo antes de chupá-lo suavemente. O fogo que encontro em seus olhos, quando volto a colocar meu rosto diante do seu, poderia queimar mil Alexandrias inteiras.

— Ah, Bela Armadilha! — São minhas últimas palavras antes de lamber o seu lábio inferior e o beijo acontecer num borrão pintado por dois corpos irremediavelmente descontrolados.

Meus lábios cobrem os seus e imediatamente Pedro arrasta os dedos pelos fios de cabelo quase inexistentes em minha nuca, rodeando meu pescoço com seus braços, garantindo que eu não vá a lugar algum antes que ele arranque de mim tudo o que quer. Sua língua é voraz e determinada, dançando em minha boca, explorando cada canto, disputando comigo o controle do beijo em uma bagunça gostosa pra caralho.

Minha mão livre voa para sua cintura, apertando-a, e eu me arrependo de não ter feito isso na praia, onde eu poderia tê-lo puxado para o meu colo sem que houvesse um freio de mão e um console de câmbio entre nós. A boca descobrindo a minha é quente e seu gosto é a porra do paraíso. Melhor, muito melhor do que eu imaginei em qualquer momento das minhas fantasias e divagações.

Arrepios se espalham pelo meu corpo a cada movimento, a cada mudança de ângulo. Inclino a cabeça para trás, deslizando os lábios um pouco para baixo, arranhando os dentes pelo queixo de Pedro ao mesmo tempo em que minha mão desliza para cima, pela lateral do seu corpo até alcançar o contorno do peito e roçar o polegar sobre o mamilo duro por cima do tecido da camisa fina. Ele choraminga, eu gemo, perdido no momento.

— Gostoso — murmuro em sua orelha antes de lamber meu caminho de volta à sua boca e recomeçar o esforço de beijá-lo até que nós dois tenhamos sido completamente consumidos pelo desejo ou ele por nós. Não funciona.

Quando a necessidade de respirar nos obriga a interromper o beijo, o tesão incontrolável pelo homem em meus braços, ao invés de aplacado, se tornou apenas mais insuportável.

— Isso foi um erro — sussurra, com a boca ainda na minha.

— Isso, definitivamente, foi um erro — concordo, com a respiração tão ofegante quanto a sua e abro os olhos para cair diretamente no Bela Armadilha que são os seus.

Fecho meus lábios sobre o seu inferior e deslizo a minha língua devagar, de um lado para o outro, dessa vez, atento a todas as reações explícitas em seu olhar. Um erro gostoso pra caralho e que eu ainda não terminei de cometer.

— Eu vou me arrepender disso. — Liberta o lábio inferior para capturar o meu superior entre os seus.

— Vai. — Aproveito para lamber seu queixo. Pedro desce as unhas pela minha nuca. — Porra — resmungo baixinho, sentindo as minhas bolas doerem e ele ri, interpretando com perfeição o motivo da minha reclamação.

— Não vai passar disso — murmura, roçando o nariz por minha pele, contornando cada linha do meu rosto até alcançar o espaço entre meu ombro e pescoço e puxar uma inspiração profunda antes de plantarbeijo suave no exato lugar em que inspirou meu cheiro.

— Eu achei que você tivesse me dito pra não fazer promessas que eu não posso cumprir — respondo num sussurro e puxo seus cabelos, enredados entre os meus dedos, obrigando-o a levantar a cabeça e olhar para mim. Esfrego o polegar ainda posicionado sobre o seu mamilo para cima e para baixo, arrancando um gemido dos seus lábios. — E não costumo deixar assuntos inacabados para trás, Pedro. Se eu começo uma coisa, só paro depois de ter chegado ao fim. — Inclino sua cabeça, expondo seu pescoço e lambo sua garganta. — Eu só não vou te foder aqui e agora, porque eu não sou a porra de um homem das cavernas. Apesar de você ser um teste constante de autocontrole, eu ainda domino o meu pau, e não o contrário.

— Bastardo arrogante!

— E gostoso — o lembro, com a boca na sua outra vez e ele ri. A provocação permeada por toques aqui e ali é tão gostosa quanto o beijo. Pedro desce as mãos pelas minhas costas, pressionando-as contra o tecido molhado da camisa até encontrar a barra, contorná-la e tocar os dedos diretamente em minha pele.

— Isso foi um erro. Eu vou me arrepender. Não vai passar disso — me provoca com as palavras e com os toques.

— E eu posso saber como você pretende resistir pelos próximos seis meses? — Mordo sua boca.

— Não pretendo.

— E vai fazer o quê? — Ele afasta o rosto do meu o suficiente para que eu veja o sorriso safado se desenhando em seu rosto.

Suas mãos escorregam do meu corpo até que estejam soltas ao lado do próprio. Elale movimenta a cabeça, libertando os cabelos dos meus dedos antes de cobrir minha boca com a sua mais uma vez.

O segundo beijo é diferente do primeiro. Tão intenso quanto, tão delicioso quanto, no entanto, mais urgente, mais provocativo, mais consciente, mais irresistível.

— Fugir — diz, ofegante, quando arranca a boca da minha e antes que eu possa entender o que ele está fazendo, Pedro já abriu a porta e saltou para fora do carro com a agilidade de um bailarino. Levo dois segundos para me recuperar da surpresa e colocar um sorriso em meu rosto.

— Você não vai querer jogar esse jogo comigo, Pedro. — O brilho em seus olhos é de desafio.

— Eu não vou jogar jogo nenhum com você.

— Desafio aceito.

— Você é louco — acusa e eu dou de ombros.

— É você quem está começando isso, mas não tenha dúvidas, eu vou terminar — aviso. — Eu te disse, Pedro. Eu não sou homem de deixar negócios inacabados. — O Bela armadilha solta uma gargalhada gostosa.

— Boa sorte, então.

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