Contratados: A Rendição - Capítulo 21

Um conto erótico de M.J. Mander
Categoria: Gay
Contém 3478 palavras
Data: 27/07/2024 23:14:35

CAPÍTULO 21

*** ANTHONY RODRIGUES ***

Oh, Deus! Eu não acredito! Não acredito que realmente admiti em voz alta coisas que eu não ousava reconhecer nem para mim mesmo. Puxo o ar, mas ele não vem. Ele simplesmente não vem e o tremor que atravessa meu corpo, de repente, parece se concentrar em minhas pernas. Não tenho coragem de procurar pelos olhos de Marcos, apavorada com a perspectiva do que posso encontrar.

Me esforço para continuar em pé, mas perco a batalha e meu corpo cede. Antes que meus joelhos alcancem o chão, braços envolvem minha cintura. Não levanto os olhos, não quero, não consigo, não posso lidar com o horror que deve estar estampado no rosto do meu marido e, ainda assim, seu toque derruba a última barreira que me mantinha inteiro. A sensação é a de ser atingido por uma rajada violenta de vento.

Não deveria ser tão impactante já que há muito tempo eu me sinto vivendo no olho do furacão, mas é. É, e balança todo o meu corpo em um choro descontrolado e dolorido demais. Sinto que abri a caixa de pandora e que todos os meus medos e culpas estão sendo liberados, mas ao invés de se dispersarem pelo mundo a fim de atormentá-lo, eles estão se concentrando ao meu redor e me orbitando, impedindo que o ar chegue aos meus pulmões, me sufocando.

Mãos estão deslizando por minha pele gelada, palavras estão sendo ditas, mas eu não consigo ouvi-las em meio ao meu próprio choro e eu sinto meu corpo atingir o chão. Não em uma queda, mas com um deslizar suave que me deixa sentado sobre algo macio e quente, tão quente quanto o lugar em que minha cabeça está apoiada. Marcos. Seu cheiro é a única coisa capaz de dividir espaço com o desespero em minha consciência nesse momento e eu me permito chorar e ser abraçado.

Não sei por que ele está fazendo isso, não sei por que ele ainda está aqui, por que não saiu batendo a porta e me dizendo que não quer mais me ver quando voltar para casa e não me importo, porque não sou capaz de pensar em nada. Então eu choro. Choro até que minha garganta esteja arranhando, que meus olhos estejam queimando e que a camisa em que meu rosto está escorado esteja completamente encharcada pelas minhas lágrimas.

Choro por todas as vezes que me senti sozinho. Por todos os pensamentos horrorosos que tive sem poder me controlar ao longo do tempo, choro por todas as vezes que fiquei em silêncio. Choro até me sentir oco. E mesmo quando não há mais uma lágrima sequer, continuo imóvel, com medo de me mexer e descobrir que esse amparo todo não passou de um surto da minha cabeça e outra vez, estou sozinho.

— Olha pra mim, Anthony? — Marcos pousa os dedos indicador e médio sobre o meu queixo e pede com a voz baixa, cuidadosa. Engulo com dificuldade e passo a língua seca sobre os lábios. Eu não quero olhar. Não quero. — Por favor, olha pra mim — repete o pedido e, apavorado, eu cedo. Ergo a cabeça para encontrar seus olhos e o que vejo volta a inundar os meus quando achei que isso não seria mais possível. Compreensão.

Não julgamento. Não repúdio. Não nojo. Mas compreensão. Pela primeira vez eu realmente entendo o que Marcos quer dizer sobre olhos escandalosos. Porque mesmo que suas cordas vocais gritassem, elas não falariam mais alto do que suas íris azuis nesse momento.

Marcos entende a minha dor e, de alguma forma, ele a sente. Ele sente muito, tanto ou mais do que eu por eu me sentir dessa maneira e ele não acredita, nem por um segundo que eu esteja certo. “Você não é covarde!” “Você não é uma fraude!” “Sentir medo, sentir cansaço, não saber o que fazer, nada disso te torna uma mãe ruim! “Está tudo bem, Anthony. Está tudo bem não ser sempre sua melhor versão, ninguém é!” Seus olhos me dizem no silêncio e a cada frase que ouço, minha alma parece se tornar cem quilos mais leve, porque ele me entende.

Ele me entende.

Ele me entende e eu preciso que ele saiba.

Não sei quanto tempo se passa dessa troca muda até que eu finalmente abra a boca. Mas eu abro.

— Eu te amo. — Mordo o lábio inferior, buscando o que dizer em seguida, porque eu não sei. Não sei qual deveria ser o próximo passo e se arrependimento matasse, eu estaria morto, estirado no chão por não ter dito isso antes, por não ter confiado mais nas ações de Marcos do que em minhas próprias dúvidas. — Eu te amo e eu sinto muito, muito mesmo, Marcos! Por ter magoado você! Eu vou passar o resto da minha vida te recompensando por isso, eu só... — Interrompo minhas palavras sem saber como usá-las par expressar o tamanho do meu arrependimento.

Os dedos de Marcos sobem pelo meu rosto e acariciam minha bochecha e o silêncio se estende entre nós como um tapete. Até que apesar de tudo o que seus olhos gritam, seus lábios desenham palavras completamente diferentes.

— Você precisa descansar... Foi... Foi um dia de merda, eu... Você consegue se levantar? Você consegue ficar de pé? — Balanço a cabeça, concordando e pisco os olhos algumas vezes. Com sua ajuda, me levanto e Marcos faz o mesmo logo em seguida. Nos olhamos, outra vez, em silêncio.

— No seu quarto ou no meu? — pergunto, em voz baixa, mesmo que a resposta esteja flutuando no olhar azul.

— Anthony, eu acho que agora é melhor você ir pro seu... — São palavras cuidadosas e não há nada além de receio no tom usado. Mas dói como qualquer rejeição doeria. Talvez até mais do que se ele estivesse gritando comigo. Porque saber que, mesmo magoado a ponto de negar os próprios sentimentos, Marcos ainda está cuidando de mim, é muito mais doloroso do que seu desprezo.

— Marcos. — Minha voz é um sussurro. — Eu pensei que...

— Eu sei o que você pensou, Anthony. Mas não é simples assim. Eu... — Desvia os olhos, virando o rosto e olhando para a parede por alguns segundos antes de voltar a olhar para mim. — Eu amo você, e cada palavra que eu disse, ou que eu não disse, é verdadeira. Você é um pai incrível e sentir medo não te faz covarde, mas, nesse momento, eu... — abaixa os olhos momentaneamente —, eu não sei se as minhas certezas são o suficiente. — Alguém está cortando meu suprimento de ar, mas eu apenas balanço a cabeça, concordando, mesmo que eu discorde. — Eu vou sair agora, só... Tenta descansar? Tudo bem? Talvez dormir um pouco e comer alguma coisa? — Balanço a cabeça mais uma vez e, tomando isso como a resposta que precisava, Marcos me dá as costas e eu nem mesmo pisco enquanto o vejo se afastar passo a passo, chamar o elevador, entrar nele e ser levado para longe de mim.

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*** MARCOS VALENTE ***

— Marcos? — Curiosamente, ou como um sinal de boa vontade do universo, é o próprio João Pedro quem atende a porta quando toco a campainha de sua casa.

Depois de dirigir sem rumo por horas, me vi chegando ao condomínio do meu amigo. A verdade é que eu tinha apenas duas opções. A primeira era meu pai e estava fora de cogitação, a segunda era o par de olhos destacados por sobrancelhas franzidas que me encara agora.

Ele sai da frente da porta, abrindo passagem para mim, que entro sem ter dito nem mesmo uma palavra.

— Escritório. — avisa e eu balanço a cabeça, concordando. Subimos as escadas, atravessamos corredores e finalmente nos isolamos no cômodo de trabalho. Me jogo em um sofá de couro marrom, apoio a cabeça em seu encosto e fecho os olhos.

Ouço a movimentação de João Pedro e somente quando sinto sua proximidade, levanto a cabeça e abro os olhos. Meu amigo tem um copo de Uísque estendido para mim e a garrafa na outra mão. Pego o copo e viro tudo de uma vez garganta abaixo antes de estendê-lo, pedindo mais. Ele serve mais uma dose generosa, senta-se ao meu lado e espera.

Derrubo a cabeça para trás e outra vez mergulho na escuridão das pálpebras fechadas. Ficamos em silêncio por tempo o suficiente para que ele se canse de esperar.

— Sabe, eu estava esperando sua visita, mas, definitivamente, essa não é a visita que eu esperava. Eu entenderia se você estivesse apavorado, surtando, se despedindo, porque estaria de partida pra uma longa estadia no triângulo das bermudas, mas essa cara de cu? Não... Isso não. Então estou supondo que isso não é sobre você ter descoberto que está apaixonado?

Sorrio tristemente.

— Você sabe...

— Qualquer um que tenha lido a matéria na revista sabe, Marcos. Aquelas fotos fedem a casal apaixonado! Então isso também não pode ser sobre Anthony ter rejeitado você. — A revista. Bom, parece que ela trouxe muitas verdades à tona.

— Não. Não é. Ele fez algo pior, meu amigo. Ele mentiu pra mim, de novo. — Ergo a cabeça e encaro João Pedro que com uma sobrancelha arqueada faz um pedido mudo para que eu explique. — Danillo Mendes de Carvalho também fez uma descoberta ao ler aquela matéria, ele descobriu que tem uma filha.

— Quê?

— É! O pai verdadeiro de Isabella! Ele viu uma foto dela na revista. Apesar de ela não ter participado da sessão de fotos na cobertura, você viu, também publicaram fotos do casamento. Danillo viu as fotos, leu o nome de Anthony pela primeira vez em cinco anos e fez as contas.

— Puta que pariu!

— É... — concordo lentamente. — Puta que pariu!

— Eu achei que Anthony era o pai dela. Nunca achei que tinha outro, porra!.

— Bem vindo ao clube! — Ergo o copo em um brinde solitário.

— Mas que porra, Marcos! — diz, mas, logo depois, olha para mim. João realmente olha para mim e enxerga toda a miséria em que eu me encontro. — Ah, caralho! Você o ama! Puta que me pariu! Você o ama! — Conclui sozinho e o sorriso triste parece ter se agarrado aos meus lábios, pois se recusa a deixá-los em paz, mesmo que eu não queira sorrir.

— Não é engraçado? De todos os caras do mundo todo...

— Marcos...

— Eu sei, fodido! Total e completamente fodido! — João solta o corpo no sofá e espelha minha posição, apoiando a cabeça no encosto.

— Mendes de Carvalho... Por que esse sobrenome não me é estranho?

— Porque mesmo que guarde na gaveta, você tem um diploma de direito e esse é o sobrenome de um dos maiores juristas da década de 80. Advinha qual é a profissão do avô paterno de Isabella?

— Um juiz?

— Bingo! — Movo os lábios dramaticamente e ergo o copo outra vez antes de levá-lo a boca e beber um gole generoso.

— Então por que ele escondeu a paternidade do Danillo? Se os pais dele foram filhos da puta o suficiente pra expulsá-lo de casa, por que ao invés de procurar pelo pai verdadeiro da criança, ele fugiu dele?

— Eu não perguntei, mas conhecendo Anthony como eu acho que conheço... Não é muito difícil adivinhar. Ele era um adolescente, com uma criança da melhor amiga, que implorou para ele cuidar da filha como se fosse sua e nunca contar a verdade para o pai nem para ninguém, sem teto. Se o Mendes de Carvalho quisesse tirar a criança dele, ele faria num piscar de olhos.

— Só piora!

— Não é incrível?

— Porra, Marcos... O que você vai fazer? — Rio baixo, pela primeira vez realmente achando graça de alguma coisa desde que o mundo decidiu desabar sobre a minha cabeça.

— Eu meio que esperava que você pudesse me ajudar com isso, conselho, sabe? Aquilo que a gente dá de graça pros amigos?

— Sinto muito, não tenho nenhum e, definitivamente, não queria estar na sua pele.

— Ah, mas que bom amigo você é! — É a vez de João de rir baixinho.

— Eu não faço a menor ideia do que fazer, meu amigo... Nenhuma mesmo! — admito, mesmo que isso faça com que eu me sinta derrotado.

— Pelo menos nisso você tá cumprindo as expectativas..

— Como assim? — viro o rosto em sua direção com a testa franzida.

— Bom... — Ergue as sobrancelhas — Numa situação dessas, eu esperava que você estivesse espumando de raiva, ao invés disso você só tá—

— Miserável. — O interrompo, completando a frase porque se é exatamente como eu me sinto, não tenho a menor duvida de que seja exatamente como eu me pareço. — Você não o viu, João. — Invocadas pelas palavras, imagens da agonia de Anthony enchem meus pensamentos e eu aperto os olhos, tendo tanta dificuldade para lidar com as lembranças quanto tive para lidar com a realidade. — Eu estava puto. Muito puto, beirando o descontrole, pra falar a verdade. Mas você não vê alguém se quebrar do jeito que Anthony quebrou e fica imune, não dá pra ficar inteiro.

— Como assim? — viro-me para João.

— Anthony carrega tanta culpa, tanto medo, tanta solidão, João. Tudo o que eu queria era poder tirar tudo isso dele, garantir que elame nunca mais sentisse qualquer uma dessas coisas. — Passo a mão pelo rosto, esfrego os olhos fechados e puxo meus próprios cabelos.

— Então por que é que você está aqui e não lá? Com ele? — A pergunta de um milhão de dólares. Porque não importa o quanto eu esteja confuso sobre todo o resto, o fato de que eu gostaria de nunca tê-lo deixado sozinho é claro como uma cristal. Eu gostaria de tê-lo colocado na cama, de tê-lamo abraçado e dito que ia ficar tudo bem. Mas eu não podia. Não quando eu não tenho essa certeza. Anthony precisa de cuidado, mas não de mentiras. Nenhum de nós dois precisa delas.

— Por que eu não sei se amor é o suficiente. — Expiro forte e mordo o lábio. Organizo as palavras o melhor que posso antes de voltar a falar. — Eu estou muito longe de ser um especialista na coisa, mas não sei se posso superar isso. João. Entender os motivos dele, odiar o sofrimento que o levou a esconder coisas de mim, nada disso me deixa menos magoado. Ele teve muitas chances, e eu teria entendido se ele tivesse me contado. Eu teria. Mesmo que tivesse sido ontem à noite, ou hoje de manhã, eu ainda odiaria, mas eu entenderia. Mas o fato é que ele não contou.

— Mas será que ele quis contar?

— Ele disse que sim.

— Ele disse ou ele tentou? — Penso sobre a pergunta. Anthony tentou me contar? Repasso os acontecimentos das últimas semanas. Nós dois na cama, depois do aniversário de Isabella e ele parecendo tomar uma decisão importante para, no fim, apenas me pedir que o beijasse.

A manhã seguinte, Anthony fugindo da minha cama, caindo no choro em meus braços e aquela sensação de que algo estava errado.

A noite no barco, a promessa de que me contaria o que havia de errado até o fim da noite, as coisas mudando de curso e ficando para o dia seguinte, a chegada de Isabella, nós dois sem podermos conversar. A relutância de Anthony em dizer as palavras, em deixar que Isabella soubesse de nós dois.

Pisco os olhos e revejo pelo menos dez vezes os mesmos fatos. Passo a língua sobre os lábios e o tempo parece parar enquanto eu entendo que sim, ele tentou. Anthony tentou me contar. Puta que pariu! Deixo o copo de uísque sobre a mesa, precisando das duas mãos para esfregar pelo rosto e puxar os cabelos.

Puta que pariu! Caralho! Ele tentou me contar. Isso faz todo sentido! Ele nos escondeu da filha, provavelmente, por medo de como as coisas ficariam depois que eu soubesse a verdade.

— Ah, porra! Ele realmente tentou me contar! — Dizer as palavras em voz alta parece tirar uma tonelada de cima dos meus ombros. Expulso todo o ar dos pulmões e olho para João Pedro enquanto pisco, alucinadamente.

— E isso muda alguma coisa?

— Isso muda muita coisa!

— Por que?

— Por que se um amor recíproco não pode vencer tudo, o unilateral muito menos, João. E eu teria muita dificuldade pra acreditar que ele me ama se ele conseguisse mentir pra mim tão descaradamente, não importam os motivos. — Meu amigo balança a cabeça, concordando.

— Olha só pra você! Todo adulto!

— Vai se foder! — Respondo rindo.

— Não... um por vez é o suficiente e você já está fodido por dois. — balanço a cabeça, me vendo obrigado a concordar com ele. — E isso muda as coisas no nível já sabe o que vai fazer ou só no nível não me sinto mais tão miserável?

— Você é muito bom em criar escalas, viu? — ironizo. — Mas, por enquanto, estou no nível não me sinto mais tão miserável!

— João! — Nós dois viramos o rosto na direção da porta quando a porta se abre e Eduardo passa por ela chamando pelo marido, mas se interrompe, ao descobrir minha presença. — Oh, desculpe! Eu não sabia que você estava aqui, Marcos! — pede e seu rosto sobe alguns tons de vermelho.

Com a visão periférica, vejo o sorriso babão que se desenhou no rosto de João Pedro apenas em ver o esposo e mesmo em meio à minha tristeza, fico feliz de verdade por ele. Agora que conheço o sentimento, é impossível não desejar que todas as pessoas que eu conheço também tenham uma parte dele.

— Eduardo. — Chamo e recebo toda a sua atenção. — Posso fazer uma pergunta indiscreta? — O rosto dele fica ainda mais vermelho, mas ele concorda, balançando a cabeça.

— Você nunca fugiu do João Pedro. Mesmo quando as coisas ficaram muito difíceis, você não fugiu. Por que não? Você não teve medo? — As sobrancelhas do homem se erguem em surpresa. Definitivamente, não era esse o tipo de pergunta indiscreta que ele esperava e eu riria, se a situação não fosse uma merda. Eduardo morde o lábio inferior e inclina a cabeça para o lado, pensativo por algum tempo antes de me responder.

— Eu acho... Eu acho que nunca tive medo de perder o João... — diz e olha para meu amigo com o mesmíssimo olhar dedicado com que ele olha para ele. — Quer dizer, eu tinha muito medo da solidão, Marcos. Tinha medo de que ela fosse tudo o que eu conheceria. Tinha medo de me iludir com coisas que, na verdade, só existiam na minha cabeça. Mas quando eu superei esse medo, não haviam outros. Eu estava seguro. Não importava o quão ruim as coisas ficassem, eu sabia que o João estaria lá. — Balanço a cabeça, concordando com as palavras do homem que agora já está diante de mim, sentado sobre as pernas do meu amigo e recebendo um beijo na bochecha.

A resposta de Eduardo não solucionou magicamente todas as minhas dúvidas, mas me deu mais do que o suficiente para pensar. Anthony tem medo da solidão. Não só por ele, como pela filha também. E, diferente de Eduardo que já tinha confiança o suficiente em João para na fugir quando eles enfrentaram uma situação complicada, meu esposo ainda estava trilhando esse caminho.

— Eu vim chamar o João pra jantar. Por que você não fica com a gente?

E porque eu ainda não estou pronto para o que me espera em casa, eu aceito.

#############

Já passa da meia noite quando o elevador apita minha chegada em casa. Enrolei o máximo possível na rua na esperança de ao chegar em casa Anthony já estar dormindo.

No entanto, basta que eu atravesse o hall de entrada para perceber que meu plano falhou. O rosto vermelho e os olhos inchados de Anthony me fazem apertar os olhos com a culpa por tê-lo deixado sozinho. Mas eu não estava pronto para ter essa conversa antes e, com certeza, ainda não estou agora. As coisas estão mais claras, mas ainda não o suficiente.

Ele para de andar de um lado para o outro assim que seus olhos me alcançam e começa a caminhar na minha direção. Estranho o fato de ele estar completamente vestido a essa hora da noite, mas ignorando completamente as sirenes que isso dispara em meu cérebro, falo.

— Anthony... Eu estou cansado... Eu acho melhor a gente dormir e—

— Marcos. — Seu tom de voz coloca todo o meu corpo em alerta. Apenas por ele sei que suas próximas palavras não terão nada a ver com nós dois. Em passos largos corto a distância que nos separava e espalmo as mãos em suas bochechas.

— O que houve? Aconteceu alguma coisa com Isabella?

— Não! — É rápido em responder — Marcos... — Sua boca continua aberta, mas nenhuma palavra sai dela e seus olhos gritam desespero apesar do silêncio

— Anthony, o que houve? — Meu coração já está descompassado e minha mente correndo sobre todas as notícias ruins possíveis.

— Marcos, seu pai. — Paro de me mover, de pensar, de respirar. Tudo, absolutamente tudo para quando um medo gelado desce pela minha espinha e se espalha por cada centímetro de mim. E o mundo? Eu tenho certeza que ele também parou de girar.

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Comentários

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Cara, sensacional. Você usa e abusa do poder que vc tem de combinar as palavras nos prendendo na leitura. Só que o tempo que vc gasta com as situações é agoniante quase desesperador só sendo amenisado pela destreza, como já disse, com a riqueza de suas palavras e detalhes. Mas por favor desvenda logo esses mistérios, e agora mais um, o do pai. A ansiedade e quase mortal. Parabéns é pouco mas vale no momento.

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