O Vizinho - Capítulo XV

Da série O Vizinho
Um conto erótico de M.J. Mander
Categoria: Gay
Contém 5569 palavras
Data: 29/07/2024 00:10:56
Última revisão: 02/08/2024 00:15:18

CAPÍTULO XV

*** ERIC VIANA ***

— Viu, só? Você não perdeu nenhum pedaço... - Gustavo comenta assim que passamos pela porta do quarto, depois da festa, e da social com os amigos que ficaram. Viro o rosto, olhando-o por cima dos ombros, e um som de escárnio sai por minha garganta.

— Você diz isso, porque não era você o animal de circo...

— Animal de circo?

— Foi como todo mundo que te conhece me olhou, Gustavo... Como se eu fosse a porra de um animal exótico, raro, nunca antes visto...

Foi uma tarde e tanto. Desde o começo a ideia de ser apresentado como namorado de Gustavo à sua família era... Estranha... Quer dizer, para as meninas, enquanto estávamos sentados no chão do apartamento de Gustavo, montando quebra-cabeças, era uma coisa, afinal, elas são crianças, mas, para adultos, prontos para exercer juízo de valor sobre tudo o que se move e sobre o que não se move também, aí a situação é bem diferente.

E esse nem era o verdadeiro problema. Se me senti levemente deslocado estando em meio a tantas pessoas cujas carteiras superam minha poupança? Certamente, mas com isso, todo pobre, eventualmente, precisa aprender a lidar, mesmo que em uma escala diferente. O que realmente me preocupou, desde o momento em que fui convidado/intimado para o bendito aniversário, foram eles, os sentimentos não convidados.

Eu posso ser displicente, mas não sou burro. E, embora eu esteja fingindo não vê-los, reconheço que não são seres místicos. Aqueles a quem eu tenho feito um excelente trabalho em ignorar e negar a existência, mas que, a cada dia, parecem se arrastar para mais perto de mim, inconvenientes, como só eles sabem ser, existem e, sem a devida supervisão, chegam, se instalam, e Deus, eu, sabemos o quanto custam para ir embora.

E tratando-se de Gustavo, eles têm se tornado cada vez mais insistentes. Se minha mente tem portas, eles já não as estão esmurrando mais, agora, como em invasões à castelos e fortalezas na idade média, usam toras de madeira com a intenção de derrubar qualquer coisa que os impeça de alcançar o lugar que acreditam lhes ser de direito, meu coração.

E, se toda essa dificuldade existe quando somos só nós dois, eu seria extremamente estúpido se não me questionasse sobre a possibilidade de ela aumentar quando eu fosse inserido, de alguma forma, em sua família, exatamente da maneira que os tais sentimentos indesejados gostariam, como alguém que importa o suficiente para que eu sinta que é permitido me importar também.

Não é. E me lembrar que tudo não passa de uma grande brincadeira torna-se cada vez mais difícil. Tudo bem. Não, Gustavo não causou toda aquela situação com a compra do prédio por não se importar comigo e isso já ficou claro, mas não significa que eu possa me dar ao luxo de baixar a guarda para sentimentos que nenhum de nós dois quer.

Tudo bem, cérebro? Nós não queremos sentimentos! Não importa se a forma como ele me olha, às vezes, parece despertar muito mais do que meu corpo, ou, se ser tratado tão carinhosamente por sua mãe causou um verdadeiro rebuliço dentro de mim, nada disso importa, porque, ainda que toda essa apresentação não tenha sido feita em nome do jogo, como ele prometeu para mim que não seria, apesar de tudo isso, o jogo ainda existe.

E quanto mais penso sobre ele, mais estúpido sinto-me por tê-lo aceitado em primeiro lugar. Eu sabia que era uma péssima ideia. Gustavo sabia que eu sabia ser uma péssima ideia e, como ele mesmo disse em mais de uma ocasião, contou com minha impulsividade. Outro grande problema. Como é possível, que apesar de nos conhecermos há tão pouco tempo, a sensação de familiaridade seja tão grande e se confirme a cada conclusão correta que chegamos com facilidade, um a respeito do outro?

Eu disse que essa seria uma aposta falida se eu não pudesse me manter emocionalmente distante, ele disse que esse não era um problema dele e, ainda assim, aqui estamos. Deus, como eu posso ser estúpido... Logo eu, que me orgulho tanto da minha inteligência.

E, hoje, eu disse a ele que não queria fazer isso só pela aposta, mas o que eu não disse é que não era por ele, era por mim. Meu receio não era roubar-lhe a sensação de apresentar o primeiro namorado, era enganar-me sobre ser ele. Era, depois disso, não ser mais capaz de distinguir realidade e fantasia, quando a linha entre as duas coisas já está por conta própria, quase tornando-se invisível.

— Pra onde você foi? - Fala baixinho ao pé do meu ouvido, com o peito colado às minhas costas, e me dou conta de que, realmente, fui para longe. Já que ele se aproximou, me tocou e, nem assim, fui capaz de me libertar do verdadeiro caos em que se transformou minha própria cabeça.

— Desculpa, me distraí...

— E eu posso saber com o quê? -Sussurra em minha orelha, provocando a pele atrás dela com a ponta do nariz, antes de virar-me de frente.

— Com o dia... Com as pessoas... Com a sua mãe exigindo que você me desse um título como se isso me tornasse nobreza, com seu irmão achando tudo muito engraçado, com as meninas me apresentando como o tio príncipe, namorado do tio Gustavo... Foi um dia... Estranho... -Solto todas as informações de uma vez, pausadas e, ao mesmo tempo, atropeladas. O sorriso no canto dos lábios dele deixa claro que suas próximas palavras terão a intenção de me provocar.

— E depois eu é que sou o iniciante... E se minha mãe exigiu que eu te desse um título, não é porque isso te fazia da nobreza, mas porque te fazia da família.

Pisco, atordoado, atingido por suas palavras como se elas fossem tapas. Será que ele não sabe que simplesmente não pode dizer coisas como essas a um homem por quem não tem, nem está disposto a ter sentimentos? Pigarreio, distraindo-me, ou, pelo menos, tentando.

— Eu quero ver quando for a sua vez de ser apresentado à sua sogra e à sua cunhada... -Em minha tentativa de fuga, a provocação sai pela minha boca sem que eu tenha controle, afinal, a melhor defesa é o ataque, certo? Nesse caso, errado, pois essa defesa, especificamente, simplesmente fugiu da fila do filtro de pensamentos inadequados. Pensei, falei e, imediatamente, me arrependi.

No entanto, com nenhuma outra intenção além de me enlouquecer, Gustavo não desdenha, faz piada, ou desconversa. Muito pelo contrário. Seu sorriso é elevado à décima potência.

— Eu vou ser encantador, como sempre... E mal posso esperar... Sua boca está perto o suficiente da minha para que eu sinta o cheiro e o sabor do seu hálito. Café, como quase sempre. Olho para ele, querendo gritar que ele precisa parar de dizer esse tipo de coisa, que as linhas estão borradas e quase desaparecendo. Mas não digo nada, apenas fujo, pouco me importando se ele vai perceber ou não.

Viro-me em seus braços, e puta merda!

Ele ri alto, fazendo-me perceber que fiz mais do que pensar, disse as palavras.

— Meu Deus do céu, Gustavo! Porra! -Desvencilho-me de seu toque, agora, precisando andar pelo quarto, pois estou desconfiando dos meus próprios olhos. É quase como se eu estivesse em um filme, ou em uma das salas de exposição do museu imperial. O quarto imenso tem decoração provençal, com móveis de madeira escura e incrustrados trabalhos artesanais pintados em dourado.

Toco a cômoda, a penteadeira, deixo que meus dedos passeiem pelas reentrâncias dos detalhes, até chegar à imensa cama de dossel. É, obviamente um quarto masculino, mas lindo. Incrivelmente lindo com sua decoração clássica que eu jamais achei que veria fora de um museu. Satisfeito da observação de todos os móveis, paro a alguns passos da cama, observando-a. É tão bonita. Colunas grossas sustentam cortinas brancas e leves, a madeira escura é robusta e reluzente, e, assim como as cortinas, os lençóis, travesseiros, cobertores e edredons também não brancos.

Outra vez, o corpo quente de Gustavo para atrás de mim, seus braços envolvem-me e fico dividido entre virar-me em sua direção, ou continuar deixando que meu olhar vagueie pelo quarto.

Seu queixo se apoia em meu ombro, decidindo por mim.

— É tão bonito... -sussurro e seu nariz encaixa-se na curva entre meu ombro e pescoço, brincando com a pele ali. Sinto seu sorriso, mesmo que não o veja.

— Sim... Sempre adorei esse quarto, mesmo que não tivesse nada a ver com os dos meus amigos, ou com os da televisão. Eu me sentia um príncipe...

Isso faz com que eu queira ver seu rosto, e me viro, sorrindo.

— E quando foi que você deixou de se sentir um príncipe, Gustavo? Com todo mundo fazendo absolutamente tudo o que você quer o tempo inteiro?

— Você não faz tudo o que eu quero... Nunca fez... -comenta, com os lábios quase tocando os meus.

— Bem, alguém precisava te colocar no seu lugar, não precisava?

— E que lugar é esse, Eric? -desafia-me, e o brilho em seus olhos faz meu coração saltar no peito. Uma resposta, que eu me recuso a desvendar, entala em minha garganta, e eu beijo sua boca.

Tomo seus lábios para mim, lambendo, chupando e mordendo, querendo tudo, apenas para não precisar pensar, ou dizer uma resposta, seja ela verdadeira, falsa, espirituosa, ou fugitiva. Gustavo corresponde ao meu beijo com uma intensidade que vem se agigantando sobre cada um dos nossos toques desde aquela noite no elevador. Sua boca não só beija, ou devora a minha, ela, cuida, acaricia, de um jeito que não deveria ser tão bom, que não deveria fazer como que eu quisesse mais, mas é e faz.

Suas mãos infiltram-se nas raízes dos meus cabelos, puxando-as e, ao mesmo tempo, empurrando minha boca contra sua, tornando o beijo mais profundo, mais gostoso, até que o ar falte e precisemos parar. Não nos afastamos. Puxamos o ar com força, respirando o mesmo. Aquele que eu expiro se torna o que ele inspira e vice e versa.

— O que você acha de estrearmos a minha cama, amor? -Soa divertido, e eu não entendo bem a pergunta.

— Por que? É nova? -Abro os olhos, encontrando os seus com rugas laterais que delatariam seu sorriso mesmo se eu não pudesse ver seus lábios esticados.

— Não, lindo... Mas eu nunca transei nela...

É a minha vez de sorrir imenso, apesar da surpresa que a informação me causa.

— Um crime contra ela, com certeza... -puxo-o para mim.

— Não é? Tão grande... -Dá passos lentos para frente, forçando-me a dar outros para trás.

— E com esse dossel... -mais passos para trás.

— Perfeito pra você finalmente me dar meu presente de dia dos namorados, né, amor? -A parte de trás dos meus joelhos bate na ponta da cama, parando meus passos, e eu ergo minhas sobrancelhas, em desafio.

— Eu não sei se você percebeu, amor, mas você perdeu o direito ao seu presente quando fez merda...Eu não sei como você e seu irmão foram criados, mas lá em casa, nós tínhamos que fazer por merecer...

— Hum... Então, é melhor eu começar a trabalhar agora, talvez, assim, até o final da noite, eu já esteja merecendo... -Mordisca meu pescoço e infiltra as mãos sob as alças do meu macacão.

— Talvez... -Murmuro.

— Talvez é um excelente começo... -lambo seus lábios quando nossos olhos ficam frente a frente e com as palmas de suas mãos deslizando minha roupa para fora do corpo, batidas soam na porta do quarto.

Tumf, Tumf, Tumf...

— Tio Gustavo, Tio Eric! -As vozes de Alice e Alícia chamam do outro lado e nós dois rimos. Gustavo coloca minha roupa de volta no lugar, deixa um beijo em minha testa, um na ponta do meu nariz e, por último, um suave em meus lábios. Meu coração parece dar uma cambalhota no peito e eu me desequilibro, atingido pelo impacto da reação inesperada.

Seus braços me seguram firme e ele franze o cenho.

— Tudo bem?

Concordo e, ainda desconfiado, me solta. Me movo, mostrando que estou bem e, só então, ele se afasta para abrir a porta para as meninas.

As duas entram no quarto como furacões que vestem pijamas de unicórnio e fada e algo parece desapontá-las quando olham para nós dois com mais atenção.

— Vocês ainda não tomaram banho? -Alícia pergunta, parecendo indignada e eu dobro os lábios para dentro da boca, escondendo o sorriso.

— Ainda não, por quê? -Gustavo responde por nós dois.

— Como por que, tio? É hora de abrir os presentes, vocês não vêm? -É Alice quem fala, não soando indignada, como sua irmã, mas triste com a perspectiva de não nos ter lá.

— É claro que vamos, meu amor! Nós só estávamos descansando um pouquinho... -Me vejo respondendo e o sorriso que ela me dá em resposta alivia meu peito de um peso que eu nem mesmo havia visto chegar.

— Então tá bom! Nós esperamos vocês lá embaixo! Alícia anuncia, agarra a mão da irmã, e nos dá as costas, saindo do quarto.

Gustavo continua parado na porta, com ela aberta e sua atenção se desviando entre o corredor, agora vazio, e eu. Sua expressão de desapontamento quase supera a das meninas ao acharem que não iríamos abrir os presentes com elas.

— É, garotão... Parece que não é hoje que você vai fazer por merecer....

— To começando a achar que o Rodrigo faz de propósito...

Não aguento, gargalho.

##############

— Gustavo, não deixe de levar Eric para conhecer a nascente! dona Cecília diz quando estamos todos sentados à mesa do café.

— Ah, mãe! De todos os lugares, a nascente, com certeza, é o último que ele esqueceria! -Rodrigo afirma, Gustavo lhe dirige um olhar assassino e Camilla ri.

— Papai, nós podemos ir à nascente como o tio Gustavo e o tio Eric? -A principal responsável pelo meu estado de cansaço pergunta.

Essas crianças lindas, fofas, e muito educadas, podem, oficialmente, receber o título de empata fodas, porque minha noite, ao invés de quente como estava prestes a se tornar quando elas bateram na porta do quarto de Gustavo ontem, foi fria, gelada, como só a cidade imperial sabe ser, Deus do céu! Que lugar frio da porra! Não há carioca que aguente.

Depois de tomarmos banho, separados, para que fosse rápido, descemos para o grande momento da abertura de presentes. O que ninguém me disse é que não eram dez, nem vinte, nem cem. Eram muitos, tantos que parei de contar quando cheguei a cento e oitenta. Alguns, tão absurdos, que precisei me esforçar para não deixar transparecer meu choque. Um exemplo? As meninas ganharam três iphones. Cada uma.

Os presentes eram tão luxuosos e caros que passei um bom tempo arquitetando uma forma de pegar meus embrulhos sem que ninguém visse, antes que pudessem ser abertos. Esquecendo-me de que não importa o quão ricas as meninas sejam, elas ainda são crianças e, para elas, no fim do dia, tudo o que importa, é que seja divertido. Por isso, quando finalmente chegou a hora de abrir as duas caixas de papel, uma com estampa de bailarina e a outra com estampa de super-heroína, as duas ficaram encantadas já com as embalagens, aliviando-me intensamente.

E quando descobriram os cadernos decorados em cores e estilos diferentes, pareceram mais felizes com eles do que com os vários aparelhos eletrônicos que já haviam desembrulhado até ali. Não pude evitar o suspiro que soltei e Gustavo beijou minha têmpora, me dizendo um “eu te avisei” silencioso, ao mesmo tempo, debochado e carinhoso, algo que só ele tem a capacidade de fazer.

Despois de esperar que a maioria dos presentes fossem abertos para descobrir o que o maravilhoso tio Gustavo havia dado em vão, pois nenhum dos presentes era dele, me vi obrigada a perguntar.

— Você já deu seu presente? -sussurrei em seu ouvido e ele apenas balançou a cabeça, concordando.

— E o que foi? -Ele sorriu, levantou-se do sofá em que estávamos sentados devagar e, com um olhar, me convidou a segui-lo até a janela. Lá, apontou para uma área um pouco distante no gramado, onde uma imensa casa na árvore se erguia sobre um tronco largo e alto.

— Puta que pariu... -murmurei, e ele riu. Quer dizer, eu sempre quis uma casa na árvore, na idade das meninas, eu teria trocado todos aqueles presentes que elas agora desembrulhavam por uma, e, sendo honesta, ainda hoje, eu seria capaz de trocar algumas coisas.

— Não é à toa que eu sou o melhor tio do mundo... -sussurrou em meu ouvido, e não apenas pelo presente, mas por toda a interação que já o vi ter com as meninas, fui obrigado a concordar.

— Olha, o tio e o tio estão namorando... -Alicia, a pequena ousada, gritou, e, ao me virar em sua direção, vi seu dedo apontado para nós, assim como a atenção de todos os outros rostos na sala.

— Alicia, não aponta! É feio! -Alice repreendeu e eu teria rido, se não estivesse ocupado demais me sentindo constrangido sob os olhares atentos da minha suposta sogra, cunhada e cunhado.

Felizmente, a atenção durou pouco, somente até a abertura do próximo presente.

Me enganei ao pensar que, depois de toda a odisseia emocional e temporal que foi a abertura dos presentes, poderia finalmente voltar para o quarto, não pude. Porque era chegada a hora de montar o castelo das princesas Alicia e Alice, na sala.

As meninas tem camas em formato de castelos em seus quartos na casa da avó, mas, por só caberem as duas nelas, segundo me foi explicado, em todas as visitas, elas montam castelos de cobertores e lençóis na sala, fazendo uma verdadeira bagunça de roupas de cama, assim, cabem todos, seus pais, sua avó, o tio Gustavo e, agora, eu.

O resultado? Já passava das duas da manhã quando finalmente pudemos ir para a cama, e, embora tenham sido um dia e uma noite adoráveis, eu sentia-me moído, exausto, e não quis o corpo de Gustavo para nada além de me aquecer, ainda que ele tenha insinuado qualquer coisa sobre finalmente poder receber seu presente de dia dos namorados.

Por isso, agora, tomo café da manhã divididamo entre concentrar-me para não bocejar, ou para não tremer de frio, apesar das muitas roupas quentes vestidas. E a menção a uma nascente, embora tenha me causado curiosidade, também me causou verdadeiro pavor da ideia de ter que entrar na água gelada.

— Não filha, hoje nós vamos à loja de unicórnios, lembra? — Camilla explica e o sorriso que toma conta do rosto da menina deixa claro que, para ela, a loja de unicórnios é um passeio muito melhor do que a nascente, ou qualquer outra parte da propriedade.

O restante do café não tem quaisquer outros comentários ou situações curiosas. Exceto, é claro, pelos olhares que volta e meia, alguém dava para Gustavo e eu como se fôssemos seres míticos, e pela maneira excessivamente atenciosa de sua mãe tratar. Excessivamente, não por ser incômoda, mas porque diz o quando ela se importa com um potencial novo membro da família, coisa que eu não sou.

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*** GUSTAVO FORTUNA ***

— Amor, Gustavo? -A voz debochada de Rodrigo soa atrás de mim enquanto espero que Eric desça para conhecermos a propriedade da minha família. Estalo a língua, desdenhando de seu comentário, mas é claro que isso não o para.

— Por essa nem eu esperava, irmão... -Bufo, dispensando-o. Assim que a reação de minha mãe me fez perceber o que disse, tive certeza de que meu irmão também não deixaria passar em branco, no momento em que se visse livre da opressão de sua esposa, ele me confrontaria por nada além de diversão, e aqui estamos.

— Foi sem querer, porra!

— E essa é toda a graça da coisa! Você nem percebeu o que disse até mamãe te chamar atenção... -Gargalha. O filho da mãe ri escandalosamente como se alguém tivesse contado a piada do século e eu sei que não há nada que eu possa fazer para contornar isso, então, quando Eric aparece na porta, e franze o cenho para o escândalo que Rodrigo está protagonizando, eu apenas nego com a cabeça para ele, indicando que nem vale a pena perguntar, e estendo minha mão.

Ele aceita e o ajudo a subir na 4x4 da casa, dou a volta pela frente do carro, deixando um Rodrigo que ri sozinho para trás.

— Colocou a sunga? -pergunto e ele chia.

— Claro que não! Um frio desses... -Rio. Melhor para mim.

Ao longo da manhã, levo Eric para conhecer os principais pontos da propriedade, os estábulos, o lago cercado pela a área gramada, os balanços construídos quando Rodrigo e eu ainda éramos crianças, a piscina coberta, a casa na árvore das meninas, onde Eric faz questão absoluta de entrar, se encanta com o tamanho e com o fato de o espaço estar completamente mobiliado com coisas funcionais, e ter, até mesmo, um banheiro de verdade. Enquanto não explico como é possível ter um vaso sanitário e água encanada e quente ali, ele não sossega.

Já passa da metade do dia quando saímos em direção à nossa última parada, a nascente. Eric resmunga por boa parte do caminho que não sairá do carro, porque está frio demais para qualquer atividade que envolva água e eu ouço tudo pacientemente, aguardando ansioso pelo momento da reviravolta.

Depois de quinze minutos de estrada, o clima começa a mudar, tornando-se mais úmido e quente em função da proximidade da água. Tão próximo quando é possível, estaciono o carro, e, em meio a um chão cheio de mato, lama e folhas secas, ajudo Eric a descer. Depois de pegar algumas mantas, toalhas e cobertores no banco de trás do carro, segurando sua mão, guio-o pela trilha que leva até aquela que sempre foi minha parte preferida desse lugar e que teria muitas histórias para contar a meu respeito durante a adolescência, se tivesse uma boca, e falasse.

— Por que você não me disse que era uma fonte de água aquecida? -São as primeiras palavras de Eric ao chegarmos à margem da nascente, e eu rio.

— Eu te disse pra vestir uma sunga...

— Ah, claro... Porque significa exatamente a mesma coisa, certo? Olha... Sinceramente... - resmunga, cruzando os braços na frente do peito. O sorriso em meu rosto não se apaga. Depois de deixar o que carregava sobre uma pedra, abraço seu corpo por trás, puxando-o para mim, e enterro o nariz em seus cabelos.

— Ninguém mandou você ser tão teimoso! -sussurro em seu pescoço.

— E ninguém mandou você ser besta... Custava ter falado com todas as letras quais eram os planos, poxa?

— Eram? Quem foi que disse que eles mudaram?

— Eu não vesti a sunga, Gustavo!

— Isso só deixa tudo melhor, amor, porque vou poder segurar seu corpo gostoso e pelado. -Lambo seu pescoço e ele praticamente ronrona.

— Nadar nu, é?

— Unhum... todo peladinho... -Sopro sua pele, arrepiando-o inteiro.

— E se alguém aparecer aqui?

— Ninguém vai aparecer, lindo... Os únicos que poderiam, seriam Rodrigo e Camilla, e você ouviu, eles iam à loja de unicórnios... -Continuo brincando com seu pescoço e ombro por baixo de seus cabelos e seu corpo vai amolecendo em minhas mãos.

— E o que é uma loja de unicórnios, em? -a voz soa baixa, quase sussurrada, e eu sei que ele não vai resistir. Rio de sua pergunta, começando a desfazer os botões de seu casaco.

— É uma loja de bichinhos de pelúcia onde a criança pode fazer o bichinho do zero, escolher roupa, gravar voz, e ele sai de lá até com certidão de nascimento e teste do pezinho... Não tem no Rio, então toda vez que as meninas vêm pra cá, o que acontece a cada quinze dias, Rodrigo as leva até lá...

— Amor, eu realmente acho que a gente devia parar de falar de bichinhos de pelúcia agora...-puxo seu casaco para fora do corpo antes virá-lo para mim e beijar sua boca. Devagar, exploro cada cantinho, deixo que seu gosto se espalhe em minha língua e que o calor de seus lábios tome os meus.

Eric me toca com carícias lentas, sensuais, provocantes, as mãos pequenas se esgueira por baixo do tecido da blusa grossa de lã e acariciam devagar meu abdômen, peito, costas. Suas unhas brincam sobre a pele arrepiada, aranhando levemente enquanto sua boca provoca a minha, mordendo meu lábio inferior e puxando-o para si.

Desço as mãos pelas laterais do seu corpo até encontrar a barra de sua blusa e enrolá-la, subindo-a e passando pela sua cabeça.

Aperto sua cintura, ainda coberta por tecido, um gemido baixo sai de sua garganta, provocando meus ouvidos. Mordo seu queixo, lambo seu pescoço, aspiro o cheiro que me tira de órbita toda maldita vez, o seu.

Suas mãos começam a trabalhar em algo além de me eriçar. Tiram minha camisa, desfazem meu cinto e desabotoam minhas calças, mas depois de tirar a terceira blusa de Eric e encontrar uma quarta, abandono seus lábios.

– Porra, Eric! Quantas roupas você tá vestindo? -olho para seu corpo, levantando mais uma barreira de tecido e, finalmente, encontrando pele.

– Tá frio, ué! -se defende, e, bufando, arranca ele mesma aúltima blusa de manga de tecido.

– Nós estamos em Petrópolis, amor... Não na Rússia...

– Deus me livre, não conte comigo pra ver neve, Gustavo! Não vai acontecer! -Sua negativa tão incisiva atiça a aquela parte de mim que adora provoca-lo e eu decido, imediatamente, que sim, haverá uma viagem para a Rússia! A parte mais fria que existir. Não consigo evitar e gargalho. Eric me encara desconfiada.

– O quê?

– Eu to pensando na minha agenda, em quando eu consigo encaixar uma viagem pra Rússia...

– Espero que faça uma boa viagem!

– Com você? Vai ser a melhor...

É a vez dele de gargalhar.

– Unhum... vai sonhando...

– Você disse que poderíamos fazer qualquer coisa que um casal de namorados faz... -Comento, saindo de dentro das botas, e Eric faz o mesmo com as suas, dando um gritinho ao tirar as meias e colocar o pé na terra úmida: ͞ Casais de namorados viajam...

– E nós estamos viajando... Casais de namorados fazem isso, tudo bem... O que casais de namorados não fazem, a menos que sejam sociopatas, é morrer juntos, e eu não quero morrer congelado, Gustavo! Deus me livre! Tenho horror! Se eu puder escolher, que seja no fogo!

– Morrer de hipotermia é muito menos doloroso do que morrer queimado, Eric... E vir do Rio pra Petrópolis? Isso nem pode ser chamado de viagem... -Tiro a calça, dobrando-a junto com as demais peças e deixando sobre a mesma pedra em que deixei as roupas de cama. Recolho as de Eric também enquanto ele continua o trabalho infinito de se despir das trocentas camadas de tecido que o cobrem. Me recosto, observando seu strip-tease não intencional que não é nada sensual, mas ainda é uma delícia de ver. – Não importa... O fogo é quente!

– Você é maluco! -rio baixo, e nego com a cabeça, sem poder acreditar que fomos de beijos e toques, para uma conversa sobre morrer queimado ou congelado.

Uma de suas sobrancelhas se ergue e um sorriso zombeteiro surge em seu rosto quando ele sai da calça jeans. Que homem friento, meu Deus!

– Eu nunca disse que não era... -atira contra mim minhas próprias palavras, fazendo-me gargalhar. Estendo o braço, convidando-o, ele se aproxima e me agacho, delicadamente, ajudoa a tirar a última peça de roupa além da cueca. Comigo praticamente aos seus pés, ele me olha de cima, ainda com o sorriso nos lábios.

– Gosto de você aí... -Sorrio, porque, estranhamente, eu acho que também gosto de estar aqui. Beijo suavemente suas coxas e engancho os dedos nas laterais de sua cueca. Seu olhar nunca me deixa enquanto a deixo nu da cintura para baixo e vou beijando sua pele com carinho.

Estreito os olhos, passo a língua sobre os lábios, fazendo exatamente o que ele quer, apreciando a visão aqui de baixo, porque, porra, não há nada que eu queira fazer mais do que isso. A pele clara, arrepiada pela brisa fria, os mamilos, duros, atiçados pela temperatura do ambiente, as curvas completamente expostas para os meus olhos, o pau gostoso na altura da minha boca.

Lindo, gostoso, safado! Quente como a porra do inferno. Roço meu rosto em sua perna, finalmente, quebrando nosso contato visual e, devagar, ergo meu corpo, arrastando a ponta dos dedos por onde posso em sua pele arrepiada até que minha boca encontre a sua.

– Você é tão gostoso, amor... Porra... Tão gostoso...

– Você também não é de se jogar fora... -Desdenha do meu tom fazendo-me rir.

– E terrível...Você é terrível... -Seus olhos estreitos me dizem que ele também poderia dizer algo sobre mim desse sentido, mas não lhe dou chance, ergo-o em meus braços e ele grita.

– Gustavo!!!

– O quê? -desconverso como se não a estivesse carregando nocolo.

– Da próxima vez avisa, caralho! -resmunga e puxo seu lábio inferior entre meus dentes. Eric envolve os braços ao redor do meu pescoço e passa a lamber minha boca, desconcentrando meus passos, já lentos, na direção da nascente.

O poço não é fundo, pelo contrário. Na verdade, há partes em que a água mal bate na metade das minhas panturrilhas. Caminho até onde ela ultrapassa a cintura e coloco os pés de Eric no chão. Seus olhos se fecham e um gemido de prazer deixa seus lábios quando a pele entra em contato com a água quente e me dou um segundo para admirar a cena antes de puxá-lo, chocando seu corpo com meu.

Ele ofega imediatamente ao ter o peito imprensados contra mim, agarro sua bunda, apertando as bochechas redondas enquanto roço o nariz por seu rosto e pescoço. Seus dedos infiltram-se pelos fios de cabelo em minha nuca, puxando-os e passamos algum tempo assim, em uma troca de toques e carícias, silenciosos, apenas aproveitando o contato e o calor com a água e com o corpo quente.

– Quer nadar, amor? -Beijo sua têmpora, depois de perguntar eprocuro seus olhos.

– Não, amor... -a boca aproxima-se de minha e para bem emcima dela: ͞ Eu quero cavalgar...

– Porra, Eric...

Ele beija minha boca com fome, oficialmente, encerrando o momento de carícias suaves e silenciosas. Meu toque em sua pele vira aperto, seu puxão em meus cabelos torna-se mais firme, quase... Possessivo? E eu adoro, adoro para caralho.

Dou passos para frente, obrigando-o a dar passos para trás até que suas pernas batam em uma das muitas pedras que cercam a nascente. Viro nossos corpos, encostando-me na pedra para que ele não se machuque com a aspereza. Eric é rápido em enfiar a mão em minha sunga e massageia meu pau, já dolorosamente duro.

Paro de beijá-lo, buscando recuperar o controle que ele se empenha em me roubar com um toque firme, sensual, enlouquecedor além do que sou capaz de descrever, elevando a vontade me afundar nele a níveis incalculáveis.

– Porra, amor... Eu quero você...

– O quanto você me quer? - a voz é arrastada, sussurrada, provocativa e eu deslizo minhas mãos por sua bunda. Abrindo-a, rodeio seu cu com um único dedo, fazendo com que Eric estremeça. Seus peitos deslizam em minha pele já coberta por uma fina camada de suor, assim como sua, pelo calor da água ao nosso redor.

– Muito, lindo... Quero muito... - Grunho, perdido na sensação que me imaginar dentro dele me causa e decido que cansei de imaginar. Apoio-me melhor na pedra atrás de mim, afastando um pouco as pernas e espalmo as duas mãos na bunda dele, tirando-o do chão.

Ele entende imediatamente o que quero e cruza as pernas ao meu redor. A bunda esfrega-se em mim, fazendo-nos gemer. Trinco os dentes buscando controle e sinto uma carícia lenta em meu rosto. Encontro os olhos de Eric, que me encaram cheios de desejo e necessidade.

Ele me escala, subindo um pouco mais em meu corpo, com ele bem preso a mim, levo o pau a sua entrada. Eric desce, deslizando devagar, consumindo-me com uma lentidão devastadora e com um gemido gostoso para porra. Completamente encaixado em mim, pende a cabeça um pouco para trás e me olha em um pedido que se parece muito com uma ordem e é sexy como só ele consegue ser.

Impulsiono os quadris para frente em uma estocada curta e profunda, seu gemido em resposta é todo o incentivo que preciso para continuar. Meto rápido no cuzinho gostoso, quente, apertado, meu, completamente meu, apertando meu pau. Os sons da fricção ecoam ao nosso redor junto com o da correnteza, meus grunhidos e os gemidos de Eric.

Segurando firme em meus ombros, começa a se impulsionar para cima e para baixo, subindo e descendo em meu pau a medida em que estoco, entrando e saindo, enfiando e tirando o pau do cu apertado feito um punho, que me esmaga. A cada metida, sua bunda bate em minhas bolas em uma carícia rápida, forte, intensa, e eu me vejo querendo fechar os olhos, mas dividido, sem querer perder nenhum segundo da visão que é Eric completamente entregue.

Seus gemidos entram pelos meus ouvidos e impulsionam cada um dos meus movimentos, seus olhos excitados, bêbados de tesão prendem os meus, seu corpo quente, suado, arrepiado, macio, transporta-me para um lugar que é só nosso onde quer que estejamos, e quando ele grita, anunciando o gozo, eu me sinto perdido, completamente perdido em prazer antes mesmo que o orgasmo me atinja, porque o ápice é saber que ele é meu, que gemeu para mim, que gozou para mim e, só então, é esporrar dentro dele sem camisinha.

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